1. VIDA
São
Gregório nasceu de família nobre, em Arianzo, Capadócia, em 330. Sua mãe, Nona,
era uma mulher piedosa, que consagrou-o a Deus quando o concebeu. Ela também
obteve a conversão de seu marido, igualmente chamado Gregório, o qual alguns
anos mais tarde, em 325, foi sagrado
Bispo de Nazianzo. São Gregório estudou primeiramente na escola de Retórica de
Cesárea da Capadócia; depois foi para a escola cristã de Cesárea na Palestina.
Logo em seguida à Alexandria e finalmente para Atenas.[1] Teve por companheiros
de estudos a São Basílio e Juliano, o apóstata.
Depois
de brilhantes estudos literários, recebeu o batismo, por volta de 358, e tomou
a decisão de viver a “filosofia” monástica. Entretanto, não estava inteiramente
decidido, como havia prometido, a deixar a família para reunir-se a São
Basílio. No entanto, passou alguns breves períodos com este, na solidão do
ermo, durante os quais ambos se aplicaram ao aprofundamento teológico, estudando
os escritos de Orígenes.[2]
No
Natal de 361 foi ordenado sacerdote por seu próprio pai. Em 372, São
Basílio o obrigou, por necessidades de sua política religiosa, a aceitar o
episcopado na estação postal de Sásima, mas acabou não indo para esta cidade.
Depois da morte de seu pai, em 374, dirigiu por pouco tempo a igreja de
Nazianzo, mas logo se retira a Selêucia de Isáuria, onde ficou um tempo muito
breve, pois um grupo de cristãos de Constantinopla dirigiu-se a ele pedindo que
fosse àquela cidade, a fim de ajudar a reorganizar a igreja oprimida por uma
série de Imperadores filo-arianos, mas esperançosa de melhores dias por causa
da morte do Imperador Valente. São Gregório aceitou, passando dois anos em
Constantinopla, desenvolvendo ação muito benéfica para os católicos. Ao chegar
à cidade, encontrou todas as igrejas e prédios locais em mãos dos arianos,
conseguindo residência apenas pelo fato de ter um parente na região. Conseguiu
uma igreja que dedicou-a a Santa Anastácia. Seus sermões atraíam público sempre
mais numeroso e em consequência abundantes conversões.[3]
Em
380, no dia 24 de Dezembro, Teodósio foi aclamado Imperador. Este apoiou os
católicos e devolveu-lhes os bens que estavam em posse dos arianos. Em maio de
381 o I Concílio Geral de Constantinopla reconheceu São Gregório como Bispo da
capital. Aconteceu, porém, que os Bispos do Egito e da Macedônia impugnaram tal
designação. E São Gregório foi obrigado a retornar à Nazianzo, onde por mais ou
menos dois anos se dedicou à cura pastoral daquela comunidade cristã.
Finalmente retirou-se para Arianzo a fim de se dedicar aos estudos e levar uma
vida ascética. Em 390, Deus acolheu em seus braços este servo fiel, o qual, com
inteligência perspicaz, O tinha defendido nos escritos e cantado em suas poesias.[4]
2. OBRAS
“Fui criado para me elevar até
Deus com as minhas ações!”.[5] Assim concluía São
Gregório Nazianzeno, sua reflexão sobre a missão que Deus lhe tinha confiado.
De fato, ele colocou ao serviço de Deus e da Igreja o seu talento de escritor e
de orador. Compôs numerosos discursos, vários panegíricos e homilias, muitas
cartas e obras poéticas (quase 18.000 versos!): uma atividade verdadeiramente
prodigiosa.[6]
2.1. Os Discursos
As
melhores composições dele são os 45 Discursos que se conservaram até hoje. A
maior parte foi nos anos 379-381, o período mais importante de sua vida, quando
as atenções universais se voltavam para ele, por ser bispo de Constantinopla.
Eis o elenco dos mesmos:
a)
Os cinco discursos teológicos, pronunciados em Constantinopla no verão e outono
de 380. Por causa destes discursos ele recebeu o titulo de “o Teólogo”.
Defendia neles os dogmas da Igreja contra os eunomianos e macedonianos. Apesar
de sua intenção ser especificamente a de proteger a fé nicena das más
interpretações, representam o resultado maduro de um estudo prolongado e
intensivo da doutrina trinitária. Além de refutar com argumentos novos o
arianismo, no quinto discurso defende claramente a divindade do Espírito
Santo contra os macedonianos.[7]
b)
Sobre a Ordem e a Instituição dos Bispos e Sobre a Moderação e Propósito nas Controvérsias.
Denuncia a paixão dos constantinopolitanos pelas controvérsias e argumentos
dogmáticos. Novamente, oferece uma explicação detalhada sobre a doutrina
trinitária.
c)
Discurso Apologéticos. Consta das invectivas contra Juliano, o Apóstata, a quem
São Gregório havia conhecido pessoalmente em Atenas. Foram compostos depois da
morte do imperador.
d)
Discursos Panegíricos e Hagiográficos são sermões quotidianos.
e)
Os discursos de ocasião. Entre eles o mais importante de todos é o Apologeticus
de fuga, onde descreve o caráter e as responsabilidades do ofício sacerdotal.
3. ASPECTOS TEOLÓGICOS
Sua
teologia se encontra explicita ou implicitamente em seus discursos, poemas e
cartas, e não em comentários às Escrituras ou em algum tratado teológico.
Contudo, “São Gregório representa, na teologia, um progresso claro a respeito
de São Basílio, não só em terminologia e formas dogmáticas, que são melhores,
senão, também, a realização da teologia como ciência e um conhecimento mais
profundo de seus problemas.”[8]
Em
mais de uma ocasião, trata explicitamente da natureza da teologia. Discute as
fontes da teologia, as características dela, a ecclesia docens e a ecclesia
discens; seus objetivos, o espírito da teologia, fé e razão, a autoridade da
Igreja, a fim de precisar o máximo possível os termos, evitando ambiguidades.
Para São Gregório, ser teólogo é ser “Arauto de Deus”.
3.1. Doutrina Trinitária
Em
praticamente todos os seus discursos trata sobre a Santíssima Trindade.
Dentro
do discurso Sobre o Santo Batismo, apresenta um detalhado resumo de seus
ensinamentos trinitários:
“Dou-lhe esta profissão de fé
para que te sirva de companheira e protetora durante toda a vida: uma só
divindade e um só poder, que se encontram conjuntamente nos Três e compreende
aos Três separadamente; não é distinta em substância ou natureza, nem aumente
ou diminui por adições ou subtrações; é igual baixo todos os conceitos,
idêntica em tudo: a conjunção infinita de Três infinitos, sendo cada qual Deus
se se lhe considera aparte, tanto o Pai como o Filho como o Espírito Santo,
conservando a cada qual sua propriedade (ίδιότης
proprietas).”[9]
Seu grande mérito foi o de
oferecer pela primeira vez uma definição clara das caraterísticas distintivas
entre as Pessoas. Além disso, quando São Basílio
trata do relacionamento entre as Três Pessoas, só o faz na relação Pai e Filho,
ao passo que São Gregório já trata do Espírito Santo.[10]
Ademais,
foi São Gregório quem empregou o termo ‘processão’ para tratar da relação entre
o Espírito Santo e as Duas outras Pessoas Divinas. Assim explica ele: “O Espírito Santo é Espírito de verdade, que
procede do Pai, mas não à maneira de filiação, porque não procede por geração,
senão por processão.[11]
3.2. Espírito Santo
Em
372, São Gregório, em um sermão público, afirmou que o Espírito Santo é Deus.
Ele não titubeou – como fez São Basílio – em expressar clara e explicitamente a
divindade do Espírito Santo em público. Muito bela é esta sua afirmação:
“Até quando vamos ocultar a
lâmpada debaixo do alqueire e privar os demais do pleno conhecimento da
divindade do Espírito Santo? A lâmpada deveria ser colocada sobre o candelabro
para que ilumine todas as igrejas e todas as almas do mundo inteiro, não mais
com metáforas, senão com uma declaração (Orat. 12,6).”[12]
3.3. Cristologia
Tão
profunda quanto sua doutrina sobre a Trinidade e o Espírito Santo, é sua
cristologia, que mereceu à aprovação dos concílios de Éfeso (431) e de
Calcedônia (451). Suas famosas cartas a Cledônio servirão à Igreja de excelente
guia nos debates do século seguinte. Ele defende a doutrina essencial da
humanidade completa de Cristo, incluída uma alma humana, contra as
ensinamentos de Apolinário, o qual afirmava haver na humanidade de Nosso Senhor
um corpo e uma alma animal onde a divindade se fazia de alma humana superior. Afirma
claramente haver em Nosso Senhor as duas naturezas, humana e divina.
Entretanto,
não chegou a explicitar claramente a existência de uma única Hipóstasis em
Nosso Senhor, o que será afirmado no século seguinte.
3.4. Mariologia
Já
muito tempo antes do Concilio de Eféso (431), graças a São Gregório, o termo theotokos transformou-se em pedra
fundamental da ortodoxia. Em um trecho de suas obras demonstra o dogma da
maternidade divina de Maria que é o eixo da doutrina da Igreja acerca de Cristo
e da salvação. Chega a afirmar que quem não aceita a maternidade
divina de Nossa Senhora é um ateu e está fora da comunhão com a
Divindade.[13]
3.5. Doutrina Eucarística
São
Gregório de Nazianzo está firmemente convencido do carácter sacrifical da
Eucaristia. Em seu Apologetius de fuga descreve a Eucaristia como “o sacrifício externo, antítipo dos grandes
mistérios”.[14]
Enfim,
não é sem razão que o Papa Bento XVI comenta do Santo em uma audiência geral de
8 de agosto de 2007: “Teólogo ilustre,
orador e defensor da fé cristã no século IV, foi célebre pela sua eloquência, e
teve também, como poeta, uma alma requintada e sensível”.[15]
Por
Rodrigo Fujyama
BIBLIOGRAFIA
ALBERIGO, Giuseppe (org.). História dos Concílios
Ecumênicos. Tradução de José Maria de Almeida. São Paulo: Paulus, 1995.
ALTANER, Berthold; STUIBER, Alfred. Patrologia.
Tradução de Monjas Beneditinas. 3.ed. São Paulo: Paulinas, 2004.
S. BASÍLIO MAGNO. Homilia sobre Lucas 12; Homilias
sobre a origem do homem; Tratado sobre o Espírito Santo. Tradução de Roque
Frangiotti e Monjas Beneditinas. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.
BENEDETTO XVI. I Padri della Chiesa: da Clemente
Romano a Sant’Agostino. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2008.
BOGAZ, Antônio S.; COUTO, Márcio A.; HANSEN, João H.
Patrística: caminhos da Tradição Cristã. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2008.
COLOMBÁS, García M. El monacato primitivo. 2.ed. Madrid:
B.A.C, 2004.
Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs.
Tradução de Cristina Andrade. Petrópolis: Vozes, 2002.
DROBNER, Hubertus. Manual de patrologia. Tradução de
Orlando dos Reis e Carlos de Almeida. Petrópolis: Vozes, 2003.
LLORCA; G.ªVILLOSLADA; LABOA. Historia de la Iglesia
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LLORCA, Bernardino (S.J.). Manual de Historia
Eclesiástica. 3.ed. Barcelona: Labor, 1951.
MONDIN, Battista. Dizionario dei teologi. Bologna: ESD, 1992.
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Francisco Gomes. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
QUASTEN, Johannes. Patrología II: la edad de oro de la
literatura patrística griega. Tradução de Ignacio Oñatibia (org.). 7.ed.
Madrid: B.A.C., 2004.
RAMOS-LISSÓN, Domingo. Patrología. Navarra: EUNSA,
2005.
[1] Cf. BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Curso de Patrologia.
Rio de Janeiro: Paulus, 2003. p.93, 94.
[2] Cf. GRIBOMONT,
Jean et al. Dicionário Patrístico e de
Antiguidades Cristãs. Tradução de Cristina Andrade. São Paulo: Paulus, 2002. p.
653.
[3] Cf. QUASTEN, Johannes. Patrologia II. p. 261-263.
[4] Cf.
BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Op. cit. p. 94.
[5] Cf. Oratio 14, 6 de pauperum amore: PG: 35, 865.
[6] Cf. Cf. BENEDETTO XVI. I Padri delle Chiesa: da
Clemente Romano a Sant’Agostino. Roma: Vaticana, 2008. p. 99.
[7] Cf. QUSATEN,
Johannes. Op. cit. p. 264-270.
[8] Cf. QUSATEN,
Johannes. Op. cit. p. 275.
[9] Apud Idem, p.
276-277.
[10] Cf. QUSATEN,
Johannes. p. 278.
[11] Apud QUASTEN,
Johannes. p. 278.
[12] Idem, p. 278.
[13] Cf. QUSATEN,
Johannes. p. 281.
[14] Cf. QUSATEN,
Johannes. Op. cit. p. 281, 282.
[15] “Illustre teologo, oratore e difensore della fede
cristiana nel IV secolo, fu celebre per la sua eloquenza, ed ebbe anche, come
poeta, un’anima raffinata e sensibile”
(Cf. BENEDETTO XVI. Op. cit. p. 93.)
(Fonte: http://academico.arautos.org/2013/09/sao-gregorio-nazianzeno-teologo-ilustre-orador-e-defensor-da-fe-crista/)
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