O
capuchinho polonês Frei Honorato de Biala, no batismo Vencesalu Kozminki,
fundador de 17 congregações religiosas ainda atuantes, e mais oito, ou talvez
dez que foram extintas, nasceu em Biala Podlaska (Polônia) aos 16 de outubro de
1829. Estevão e Laexandrina Kalh foram seus pais. Frei Honorato faleceu aos 16
de dezembro de 1916 em Nowe-Miasto.
Da família
recebeu educação profundamente cristã, e após a escola básica, em sua cidade,
fez os estudos ginasiais em Plock. Em 1844 inscreveu-se na Escola Superior de
Belas Artes em Varsóvia, onde, influenciado por ideologias iluministas e pelo
ambiente ateu, perdeu a fé. Em 1846, suspeito de pertencer a uma organização
política duvidosa, foi encarcerado em Varsóvia pela polícia do Czar, onde
contraiu tifo e viveu sob o terror da condenação à pena de morte até 27 de
março de 1847, quando, contra toda esperança, foi libertado. Contudo, aos 15 de
agosto de 1846, festa da Assunção, retornou a fé. Aos 21 de dezembro de 1948,
após ter lutado contra ele mesmo em deixar sua mãe queridíssima enferma, entrou
no noviciado dos capuchinhos de Luabartow.
Apenas ordenado
presbítero, dia 27 de dezembro de 1852, foi feito professor de sacra eloqüência
e de teologia dos clérigos capuchinhos, penitenciário dos hereges convertidos,
conselheiro na Província, por um ano superior no convento de Varsóvia e, nos
anos 1895 a 1916, comissário geral dos capuchinhos colocados sob a dominação
russa. Distinguiu-se, de maneira especial, como pregador e iluminado diretor de
espíritos, desde seu tempo de jovem sacerdote, quando, nos anos de 1853-1864,
estava empenhado em pregações nas diversas igrejas de Varsóvia. Responsável
pelos membros da Ordem Franciscana Secular, não se limitou a promover a vida
devocional, mas os quis empenhados numa fervorosa atividade caritativa e
social.
Nesse tempo
conheceu Sofia Truszkowska, da qual foi seu diretor espiritual. Não foi apenas
alguém responsável de formar e manter grupos de homens e mulheres dedicados a
rezar o rosário, mas os estimulou à atividade caritativa. Após a insurreição
contra os russos, em janeiro de 1863, terminada desastrosamente, tendo sido
condenadas à extinção todas as ordens religiosas pelo governo, Frei Honorato
foi confinado primeiro no convento de Zakroczym, onde permaneceu até 1892, e
depois no de Nowe-Miasto. Ele procurou salvar a fé católica e o espírito patriótico
de seu povo contra as perseguições czaristas que queriam separar a igreja
polonesa da igreja de Roma para inseri-la na instrumentalizada igreja ortodoxa.
Os meios, por
ele escolhidos para realização de seu projeto, foram: a devoção Mariana e a Ordem
Franciscana Secular que, com a autorização do Ministro Geral dos
capuchinhos, submeteu a uma reformulação radical. Uma vez que a lei civil
impedia de fazer apostolado e de receber noviços (assim as congregações
religiosas iriam morrendo aos poucos), e quem desejasse ser religioso deveria
buscar o exílio em outros países, fr. Honorato proibia de deixar o país a quem
lhe pedisse conselho, e orientava a viver os conselhos evangélicos na Ordem
Franciscana Secular, assim como se encontravam na vida civil, sem hábito, sem
convento, disfarçadamente.
Enquanto isso,
Frei Honorato estudava o Evangelho, do qual não só alimentava o espírito, mas, buscava
também formas de vida religiosa. Tomou como modelo a Sagrada Família de Nazaré.
O seu referencial básico, neste modelo, era a vida escondida (aos freis fora
vetado a saída do convento) e ele procurou passar esse ideal aos que o
procuravam e viviam no mundo. Com termos precisos, prescreveu esse projeto de
vida em todas as constituições e nos diretórios dos institutos de vida
consagrada que ele ia fundando para viverem no mundo. Para ele, a vida
escondida não é exigência contingente imposta pelas particulares contingências
sócio-políticas em que vivia a Polônia, naquele momento, mas sim um postulado
do Evangelho. Por isso, escreveu: Nestas congregações é observada a vida
escondida aos olhos do mundo. Esse modo de viver a vida religiosa não é
sugerida somente por motivos de prudência ou de necessidade, mas pelo empenho
de imitar a vida escondida da Virgem. Esta forma, que não está sujeitada às
vicissitudes das circunstâncias externas sociais e políticas, é voluntariamente
escolhida por cada um porque ela é amável em si mesma, porque permite maior
glória de Deus, mais fácil progresso espiritual e mais segura salvação.
No confessionário
de Zakroczim nasceram numerosos institutos ou congregações, cada uma delas,
buscando atingir aspectos particulares da vida: os intelectuais, os jovens, os
operários de construção e mercados, operárias das fábricas, às domésticas, as
crianças, os doentes, os artesãos, os agricultores, e os lugares e atividades
com as quais se podia ajudar ao próximo e influir numa vasta rede de pessoas,
como as pensões e restaurantes, as livrarias e bibliotecas, as escolas, as
salas de costura e as lojas de compras.
Pela irradiação
do apostolado dos seus religiosos, quis que cada congregação fosse formada por
três tipos diversos de membros: o primeiro, formado por religiosos que, vivendo
em comum, tinham a tarefa de acolher e dirigir os outros; o segundo, constituído
por religiosos com votos temporários que viviam junto às próprias famílias ou
em pequenos grupos, chamados os “unidos” e as “unidas”, sendo este o elemento
mais dinâmico de cada congregação por ele fundada, que tinham maior
possibilidade de influir sobre os demais com o apostolado ativo e com o
exemplo; o terceiro grupo acolhia pessoas da OFS particularmente empenhados na
colaboração apostólica.
Todos estes
religiosos viviam em trajes civis, e seu modo de vida foi confirmado pela Santa
Sé com o decreto Ecclesia catholica, de 21 de junho de 1889. Seja por
circunstâncias históricas particulares, seja pela intuição dos sinais dos
tempos que um apóstolo dos tempos modernos teve, uma dezena de institutos
seculares encontraram na Igreja espaço, de direito e de fato, dos quais Frei
Honorato foi o pioneiro. Mas a experiência teve duração breve, porque, por
causa das recriminações e denúncias contra esta novidade na vida religiosa,
fora das tradicionais formas canônicas, em 1907 foram impostas restrições que eliminaram
os “unidos” e as “unidas”. O velho fundador não deixou de defender a forma de
vida e de apostolado religioso que, imposta pelas circunstâncias
histórico-ambientais particulares, tinham produzido muitos frutos.
Quando, em 1905,
não estava mais em condições de receber pessoas no seu confessionário por
motivo de surdez, Frei Honorato aplicou-se ao estudo, dedicando- se a intensa
atividade epistolar com seus filhos espirituais. As cartas manuscritas – quase
4.000 – foram conservadas em Varsóvia, no arquivo da vice-postulação, onde
formam 21 volumes. No mesmo arquivo estão guardados numerosos discursos
seus e vasta quantidade de obras, em
grande parte manuscritas, que ele vinha escrevendo desde sua juventude. Estas
se referem à ascese, à mariologia, à hagiografia, à história, à homilética, à
regra da OFS e às constituições das diversas congregações, traduções para o
polonês etc. Digna de menção, autêntica enciclopédia mariana, é a obra
intitulada: “Quem é Maria?”, organizada em 52 tomos e 76 volumes, dos quais
somente o primeiro foi publicado em diversas edições. Interessante, ainda, para
o conhecimento da vida espiritual e do empenho apostólico de Frei Honorato, é o
seu Diário Espiritual no qual lemos: “Desde o meu primeiro momento no ingresso
da Ordem, sempre busquei isso: fazer conhecer aos homens o amor de Deus”.
Das quase cem
obras escritas por Frei Honorato, 41 ainda permanecem inéditas. Frei Honorato
morreu em conceito de santidade aos 16 de dezembro de 1916, com 87 anos de
idade. Sepultado na cripta do convento de Nowe-Miasto, de onde, aos 10 de
dezembro de 1975, após o “reconhecimento”, foi transladado para a igreja
superior. Finalmente, aos 16 de outubro de 1988, o papa João Paulo II o
proclamou bem-aventurado.
Fonte: “Santos
Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
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