Clélia Barbieri
nasceu no dia 13 de fevereiro de 1847, no bairro popularmente chamado de
"Budrie", pertencente a São João in Persiceto, Arquidiocese de
Bolonha, filha de José Barbieri e Jacinta Nannetti.
Os pais eram de diferentes classes sociais:
José Barbieri veio das mais pobres famílias de "Budrie", enquanto
Jacinta era das mais proeminentes famílias; ele, criado do tio de Jacinta, o
médico local; ela, filha do abastado Pedro Nannetti. Jacinta, abastada, abraçou
a pobreza de um operário e, deixando uma casa rica, passou a viver na humilde
casa de Santo Barbieri, pai de José, mas eles construíram uma família sobre a
rocha da fé e da prática cristã.
O batismo foi administrado no mesmo dia de
seu nascimento, e segundo o desejo expresso da mãe, a criança recebeu o nome de
Clélia Rachel Maria.
Jacinta ensinou a pequena Clélia a amar a
Deus, a tal ponto que logo ela desejou ser santa. Um dia ela perguntou: "Mamãe, como posso ser santa"?
A seu tempo, Clélia aprendeu a arte de
costurar, de fiar e tecer o cânhamo, o produto característico da região.
Aos 8 anos, durante a epidemia de cólera
de 1855, Clélia perdeu o pai. Com a morte do pai, graças à generosidade do tio
médico, a mãe, a irmã mais nova de Clélia, Ernestina, e ela foram viver em uma
casa mais acolhedora, perto da igreja paroquial.
Para Clélia os dias se tornaram mais
santificados. Quem a quisesse encontrar, invariavelmente a achavam em casa
fiando ou cozinhando, ou na igreja rezando.
Foi por esta época, Domingo de Ramos de
1857, que a Divina Providência fez chegar ao povoado o Padre Gaetano Guidi, que
devia substituir o pároco falecido. Ele tomou para si o encargo de guiar Clélia
na estrada da santidade.
Embora fosse comum naquele tempo a pessoa
se aproximar da Comunhão quase adulta, Clélia, devido sua precoce preparação
eucarística e espiritual, foi admitida à Primeira Comunhão no dia 24 de junho
de 1858, com onze anos.
Foi o dia decisivo para o seu futuro,
porque viveu a sua primeira experiência
mística: uma contrição excepcional
de seus próprios pecados e dos pecados dos outros. Pesou sobre ela a
angústia do pecado que crucificou Jesus e fez sofrer Nossa Senhora. No dia da
Primeira Comunhão, o Crucificado e Nossa Senhora das Dores inspiraram sua
espiritualidade. Foi também daquele tempo uma intuição interior do seu futuro
na dúplice linha: contemplativa e ativa.
Diante do tabernáculo, em adoração,
parecia uma estátua imóvel, absorta em oração; em casa era a maior companheira
das jovens obrigadas a trabalhar. Com maturidade precoce, ela percebia ser o
trabalho o modo de se aproximar das jovens, pois no “Budrie” o trabalho,
especialmente no cânhamo, era a única fonte de sobrevivência.
O Padre Gaetano Guidi, vendo a
extraordinária capacidade de Clélia e sua maneira esplêndida de atrair as almas
para Deus, resolveu iniciar na paróquia um movimento da juventude feminina que
se difundia naqueles tempos na Itália: as Filhas de Maria. Em torno de Clélia,
em sua casa e sob o olhar maternalmente vigilante de Jacinta, as jovens da
paróquia se reuniam.
Clélia era a alma das orações em comum, a
guia na formação espiritual das jovens, a amiga e a confidente de todas, a
incansável animadora de um serviço ao próximo.
Acolhem as meninas ensinando-as a rezar, a
trabalhar: cozinhar e tecer, ler e estudar. Visitam os doentes pobres da região
e cuidam deles. Ensinam o catecismo e levam os pequenos à igreja para
freqüentar os Sacramentos. Promovem e animam a oração dos adultos na igreja
paroquial. Procuram, em particular, atrair a juventude fazendo-a desejar as
coisas santas.
Já eram quatro as amigas mais íntimas de
Clélia, e um dia ela manifesta às companheiras a sua idéia: “Por que não
fazemos nós o nosso convento? Nós já somos quatro! Depois, se outras jovens
pobres tiverem os mesmos desejos, nós as acolhemos!” Elas não têm dinheiro,
nada. Mas Clélia e Úrsula, Teodora e Violante voltam para casa com o olhar mais
brilhante diante de um futuro cheio de esperança.
Seria um núcleo de jovens voltadas para a
vida contemplativa e apostólica; um serviço que devia brotar da Eucaristia, se
consumar na Comunhão diária e sublimar-se na instrução dos camponeses e
operários do lugar.
A idéia não pode se concretizar logo
devido aos acontecimentos políticos depois da unidade da Itália de 1866-67.
Foi possível realizá-la no dia 1º de maio
de 1868; e após resolverem as questões burocráticas, Clélia com suas amigas
puderam ocupar a casa dita do mestre, onde até então se reuniam os Operários da
Doutrina Cristã. Foi o início humilde da família religiosa de Clélia Barbieri,
que os superiores chamaram de “Irmãs
Mínimas de Nossa Senhora das Dores”.
Mínimas, devido a grande devoção que
Clélia tinha por São Francisco de Paula, patrono e protetor da comunidade
nascente; de Nossa Senhora das Dores, porque Ela era muito venerada no “Budrie”
e porque era o título de Nossa Senhora preferido de Clélia.
Depois, na “Casa do mestre” aconteceram
fatos extraordinários que atestavam o favor da Providência pela pequena comunidade,
que de outra forma não teria perseverado. Clélia passou por sofrimentos físicos
e morais na noite escura do espírito e na humilhação mais incompreensível por
parte de pessoas que deveriam compreendê-la. A sua fé, porém era sempre
proverbial como seu recolhimento na oração.
Na pequena comunidade se respirava um
clima de fé, uma verdadeira fome e sede de Deus, um instinto missionário cheio
de criatividade e de fantasia. Clélia era a sua alma.
O grupo inicial aumentou e, ao seu redor,
também o número de pobres, de doentes, de moços e moças a catequizar e a
instruir.
Pouco a pouco as pessoas viram Clélia num
papel de guia, de mestra na fé. Apesar de seus 22 anos, começaram a chamá-la de
“Mãe”. A chamaram assim até a morte, que veio logo... A tuberculose, que a
acompanhava de forma incubada, explodiu violenta somente dois anos após a
fundação.
Clélia morreu profetizando: “Eu vou, mas não as abandonarei jamais.
Vede, quando lá, naquele campo de erva medicinal próximo da igreja, surgir a
nova casa, eu não estarei mais aqui. Vocês crescerão em número e se espalharão
na planície e pelo monte, a trabalhar na vinha do Senhor. Virá dia que aqui no
“Budrie” acorrerá tanta gente, com carroças e cavalos...”. E acrescenta: “Vou para o Paraíso e todas as Irmãs que
morrerem na nossa família terão a vida eterna”.
A morte a colheu no dia 13 de julho de
1870. Tinha 23 anos, 4 meses, 28
dias.
No dia 13 de julho de 1871, primeiro
aniversário de sua morte, Úrsula e as outras Irmãs estavam em oração no pequeno
aposento em que Madre Clélia expirara santamente. Têm no coração amor, gratidão
e saudades dela, e desejariam que estivesse entre elas como antes. Eis que durante a oração uma voz celeste, dulcíssima,
as acompanha e as enche de alegria. Úrsula de repente a reconhece: “É Madre Clélia! Está conosco como
havia prometido!”
Daquele
dia em diante,
até os dias atuais, a doce voz acompanha milagrosamente suas
filhas em oração em qualquer parte do mundo em que elas estejam. Sua voz é ouvida acompanhando as Irmãs nos
hinos, nas leituras religiosas, em suas conversas. Acompanha o sacerdote durante a celebração da Missa e é ouvida com
freqüência durante os sermões.
A obra de Santa Clélia foi aprovada por
Decreto Pontifício em 20 de março de 1934. Paulo VI a beatificou em 27 de
outubro de 1968; no dia 9 de abril de 1989 foi canonizada por João Paulo II.
Santa Clélia Barbieri pode ser considerada
a Fundadora mais jovem da Igreja. É
padroeira dos catequistas da região de Emilia - Romagna, Itália.
Santa Clélia na glória intercedendo pelos sofredores. |
A profecia de Clélia se realizou: a
Congregação das Irmãs Mínimas da Dolorosa está presente na Itália, na Índia, na
Tanzânia. No Brasil, em Salvador, Bahia, há uma Comunidade de quatro Irmãs que
se dedicam à educação cristã de crianças, jovens e mulheres, entre outras
atividades paroquiais.
As Irmãs que vivem à imitação de Santa
Clélia são hoje em torno de trezentas, distribuídas em 35 casas.
Um comentário:
História fantástica cheia de graças de Deus.
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