Quando me pus a publicar histórias de santos, beatos, veneráveis e servos de Deus neste blog, havia feito o propósito de publicar apenas sobre aqueles que são "quase desconhecidos" do grande público. No entanto, lendo a vida de são Benedito, o "Preto" ou "o Negro" ou ainda "o Mouro", percebi uma coisa: que ele não é desconhecido - muito pelo contrário - que é um santo até "famoso" e bastante popular, porém, tenho certeza, a história de sua vida é praticamente desconhecida. Realmente a achei muito bela e resolvi publicar em nosso blog para que quem quiser ter acesso, ler e aumentar ainda mais a devoção por esse santo cujas imagens abundam nas várias paróquias que o tem como padroeiro ou nas igrejas que trazem em seu interior sua imagem. Boa leitura!
BENEDITO, O SANTO NEGRO.
São Benedito, "o Mouro" ou "o Preto", religioso da Ordem Franciscana |
Humilde foi a origem do santo negro. Benedito era filho de Cristóvão Manasseri e Diana Larcan, descendentes de escravos trazidos da Etiópia, África, para a Sicília, Itália. O pai fora escravo de um rico senhor, Vicente Manasseri, e dele recebera o sobrenome. Diana, sua mãe, fora libertada por um cavalheiro da Casa de Lanza. E como os escravos tomavam o nome de seu senhor, veio a chamar-se Diana Larcan ou de Lanza.
Casados, Cristóvão e Diana
viviam como bons cristãos, fiéis à Lei do Senhor e humildes, numa vida de
oração e trabalho. Sua mãe, conforme consta no processo de beatificação de são
Benedito, era devota fervorosa do Santíssimo Sacramento e extremamente caridosa
para com os pobres, dons que Benedito herdaria por toda a vida. Cristóvão era
fervoroso, voltado para Deus, à família e ao trabalho. Recitava diariamente com
edificante piedade o Rosário de Maria e o ensinava a quantos com ele
trabalhava. Diante dele ninguém blasfemava ou dizia obscenidades. Tantas vezes
podia, aproximava-se da Mesa Eucarística. Mereceu a confiança dos patrões, pela
honestidade e retidão que o caracterizavam no trabalho. Por isso, foi nomeado
chefe dos trabalhadores. Dispunha os seus bens em favor dos mais pobres.
Um fato que chama a atenção
na vida do pai de Benedito: por ciúmes, alguns companheiros de trabalho o
caluniaram, dizendo que ele dilapidava os bens do patrão em nome da caridade. O
honesto feitor viu-se do dia para a noite deposto de seu cargo, sofrendo
vergonha e humilhação. Deus veio em seu socorro: os negócios de Manasseri não
iam bem e sua terras já não produziam como antes. Morriam seus animais e seus
campos eram vítimas de pragas. O patrão percebeu a injustiça que havia cometido
e mandou chamar Cristóvão e o reintegrou no cargo de ofício, com mais poder
e autoridade que antes. Fez ainda mais: deu ao escravo piedoso e fiel, toda a
liberdade para socorrer os pobres que o procurassem. Deu muitas esmolas e os
negócios de Manasseri prosperaram.
Outro fato que chama a
atenção nos pais de Benedito é de que fizeram voto de castidade ao contraírem
matrimônio, vivendo na penitência, no trabalho e na oração. Foi o patrão quem
persuadiu os pais a exercerem seus direitos de matrimônio, prometendo dar
liberdade aos seus descendentes. Assim o fizeram, assim nasceu Benedito, fruto
de uma bênção especial de Deus: Bendito! Bendito! Bendito! Era o ano de 1524.
Nasceu livre quanto à condição, e mais livre quanto à santa liberdade dos
remidos pelo Sangue do Cordeiro. Dele se dizia: negro e muito formoso, devido
os traços finos de seu rosto.
A formação cristã do pequeno
Benedito se deve à sua mãe, Diana, virtuosa e rica da graça do Senhor. Benedito
crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Cristóvão e
Diana, repartindo o tempo entre a oração, o trabalho e a educação de seu
primogênito, viviam santamente e Benedito era levado à Igreja pelas mãos
paternas. Tiveram outros filhos: Marcos, Baldassara e Fradella. Esta se casou com
um escravo chamado Antonio Nastasi, com o qual teve uma filha, Violante, que
mais tarde entrou para um convento da Ordem Terceira de São Francisco,
recebendo o hábito de seu tio Benedito. Chamou-se Sóror Benedita e viveu
santamente. Morreu em Palermo, e há testemunhas que atestam milagres operados
por Deus com a sua intercessão.
Benedito foi pastor de
ovelhas. Foi muito fiel ao seu dever. Enquanto pastoreava, rezava piedosamente
o Rosário. Procurava os lugares mais afastados, pelos altos montes, com boa
pastagem e água para seu rebanho, para poder também orar e meditar. Certa vez, o
encontraram escondido em uma gruta, num momento de folga, de joelhos, olhos
fixos no céu, todo arrebatado em
êxtase. A partir desse dia, nunca mais o ridicularizaram.
Aos dezoito anos, Benedito
se abrasou no amor do Senhor e demonstrou interesse em se dedicar totalmente a
Jesus. Com sacrifícios, conseguiu comprar uma junta de bois, e com eles passou
a ganhar alguns trocados e socorrer os pobres. Isso durou até completar vinte e
um anos de idade.
Frei Jerônimo Lanza, natural
de San Marco, abandonou o mundo e se recolheu com alguns companheiros num
eremitério de Santa Dominica, na região de Caronia. O Papa Júlio III autorizou
aos novos eremitas professarem a Regra Seráfica de São Francisco, juntando
ainda aos votos de pobreza, obediência e castidade, o voto de vida quaresmal,
que os levava a jejuar três dias por semana.
Numa de suas viagens,
Jerônimo conheceu Benedito, que num momento de descanso era injuriado e zombado
pelos companheiros de trabalho por causa da cor da pele. Frei Jerônimo ouviu e
repreendeu severamente os injustos e lhes disse em tom profético: "Ah! Hoje
fazeis caçoada e ridicularizais este pobre negrinho; mas daqui a poucos anos
vereis a sua fama correr todo o mundo!". Voltando-se para o
patrão lhe disse: “Eu vos recomendo muito este moço porque logo ele virá em
minha companhia e se há de tornar um santo religioso”!
Alguns dias depois, Frei
Jerônimo voltou àquele lugar e diz ao ver Benedito: “Que fazes aqui? Vamos!
Vende estes bois e vem comigo”. Benedito
não teve dúvidas e o seguiu. Seus pais, não obstante necessitassem da ajuda
monetária do filho, não se opuseram à vocação do filho.
Os irmãos Eremitas
Franciscanos levavam vida austera, em extrema pobreza. Mendigavam o pouco de
pão nas vizinhanças, e tinham algumas ervas e água para sustentar. A habitação
era paupérrima, estreita e sem conforto. Vestiam-se de grosseiro pano e
passavam longas horas em
oração. Depois da sua profissão solene, Benedito quis usar um
manto parecido com o de São Paulo Eremita, feito de folhas de palmeira, com um
capuz de lã muito velha protegendo a cabeça. Em 1562, contando o santo com 38
anos de idade, o Papa Pio IV, ouvindo os apelos de eremitas que não suportavam
os rigores do 4º voto, o de vida quaresmal, ordenou que os eremitas de frei
Jerônimo se recolhessem a qualquer dos conventos franciscanos regulares,
dispensando-os do 4º voto.
Benedito, indeciso quanto ao
convento em que se recolheria, foi orar na Catedral Metropolitana de Palermo,
diante da imagem de Nossa Senhora, sob o título de Madona di Libera Inferni e,
chorando, pediu a intercessão da Mãe para a sua escolha. Ouviu a voz da Mãe
falando no seu coração: “Meu filho, é
vontade de Deus que entres para a Ordem dos Frades Menores Reformados”: Sua
vocação estava resolvida! Agradecendo à Maria, foi imediatamente ao Convento de
Santa Maria di Gesú, a duas milhas de Palermo.
Fatos
importantes da vida de Benedito no Convento de Santa Maria di Gesú:
1. Foi recebido em
festa pelo Guardião dos Franciscanos, Frei Arcângelo de Scieli, que conhecia
sua fama de santidade.
2.
Depois de poucos
dias, foi enviado ao Convento de Sant'Ana di Giuliana, um dos mosteiros mais
fervorosos da Ordem;
3. Após três anos,
voltou ao Convento de Santa Maria di Gesú, onde ficaria até a morte;
4.
Seu primeiro
ofício foi o de cozinheiro, juntando
a atividade de Marta à contemplação de Maria (Lucas 10, 38-42). Fez da cozinha
um santuário de oração, vivendo sempre alegre e cheio de mansidão para com todos;
5.
Início dos
prodígios: o Capítulo da Ordem iria se realizar no Convento. Devido à neve, os
frades não poderiam mendigar conforme a Regra estabelecia. Por descuido, o
Superior não providenciou o necessário. Como a situação era grave, Benedito
chamou um de seus auxiliares e o mandou encher umas vasilhas de água. Diante do
espanto do Irmão, que sabia não haver carnes ou peixes para a refeição,
Benedito replicou: enche as vasilhas e cobre-as com tábuas. Recolheu-se aos
seus aposentos e pôs-se a rezar. Ao amanhecer, chama seu auxiliar e vão à
cozinha. Ali ocorreu o milagre: grandes peixes, suficientes para várias
refeições, estavam nas panelas;
6.
Certo dia a carne
chegou atrasada e os frades começaram a pedir a mesma. Benedito disse que a
mesma estava ao fogo há poucos minutos, mas iria ver o que fazer. Encontrou a
carne bem temperada, cozida e pronta;
7.
Trinta operários
prestavam serviços voluntários no convento. Certo dia, porque vieram sem prévio
aviso, encontraram as despensas do convento vazias. Benedito pôs-se em oração e
serviu farta refeição aos operários e ainda sobraram alimentos para a despensa;
8.
Sem lenha para o
fogão, Benedito subiu ao monte e encontrou uma grande árvore derrubada por
raio. Seriam necessários vários homens fortes para conduzirem a mesma. No
entanto Benedito a colocou no ombro sem nenhum esforço, causando espanto a
todos os que viam a cena;
9.
O Arcebispo de
Palermo, Dom Diogo d´abedo, gostava de se recolher uns dias para descansar e
rezar no Convento de Santa Maria di Gesú. Vindo para as festas do Natal, trouxe
consigo grande quantidade de víveres. Na missa da aurora do Natal, frei
Benedito, abrasado de santo amor, vai receber a Santa Comunhão. Sente o Menino
Jesus em seu coração como no presépio de Belém. Chora ao contemplar um quadro ao
lado do Altar. Caiu em êxtase, ficando ali várias horas arrebatado, sem pensar
nos trabalhos da cozinha. Quando estava para começara Missa solene Pontifical,
o Superior foi à cozinha e viu o fogo apagado. Clamou por Benedito, reclamando
o almoço para logo depois da Missa. O Convento ficou em polvorosa, para não
fazer feio diante do Arcebispo. Foi o turiferário quem encontrou Benedito a
contemplar o Menino Jesus, chamando sua atenção quanto ao almoço. A resposta de
Benedito o desconcertou: “Não se aflija, irmão”! Após a Missa, acendeu uma vela
e voltou a rezar. Os irmãos o injuriavam, revoltados com a preguiça e o descaso
do frade negro. Viam a vergonha diante dos olhos. Benedito calou-se e
calmamente acendeu o fogo. Quando chegou o horário da refeição e o Superior
ordenou a arrumação da mesa, viram dois belos "jovens" (eram anjos) acabando de preparar
suculento banquete para o Arcebispo e todos do convento. As injúrias se
transformaram em louvores e graças ao Senhor e ao humilde servo.
* Benedito era leigo e analfabeto. Mesmo assim, tornou-se Superior do Convento e modelo admirável no governo daquela casa.
* Em 1578, reuniu-se o Capítulo Provincial dos Franciscanos no Convento de Santa Maria dos Anjos,
Frei Benedito foi eleito Superior, por sua santidade e
servidão. Enquanto todos se alegravam, Benedito se entristeceu e procurou o
Padre Superior, rogando que o liberasse desse cargo, pois era analfabeto e
ignorante. Seu Superior não o liberou e, em nome da Santa Obediência declarou:
Doravante serás o Superior do Convento de Santa Maria di Gesú. A Benedito coube
somente obedecer;
* Sua firmeza e observância das Regras faziam com que o Convento tivesse uma vida ativa e cheia de graça; alguns autores dizem ter sido Frei Benedito Mestre de Noviços. Há autores que discordam, pois esse cargo era exercido somente por Presbíteros. Mas a dúvida continua, pois já havia acontecido a exceção quando Benedito foi indicado para o cargo de Superior, exercido também por um Presbítero; os noviços tinham grande admiração por Benedito e tinham nele um grande conselheiro;
* Benedito tinha o Dom da Ciência Infusa. Sem saber
ler ou escrever, conseguia dar aulas sobre todos os assuntos ligados à
Religião, à Ordem ou à Fé. Tinha muita clareza, espírito e unção. Teólogos e
Mestres ouviam atentamente o grande santo;
* Segundo Frei Giacomo di Pazza, uma das testemunhas
do processo de beatificação, não se passava um dia sem que acontecesse um
prodígio operado pela intercessão de São Benedito.
* Um dos milagres operado em vida: várias senhoras,
num carro puxado por cavalos, sofreram um grave acidente, no qual D. Eleonora
caiu sobre uma criança de cinco meses de idade, tendo a criança morrido
asfixiada. Diante do desespero de todos, Benedito tomou a
criança nos braços, põe a mão na testa gelada e recita algumas orações.
Entregando a criança, disse: a senhora já pode amamentar a criança. A criança
morta, em contato com o seio da mãe, adquire vida novamente e suavemente suga o
leite da mãe (na imagem tradicional, São
Benedito está carregando essa criança, e não o Menino Jesus, como muitos
acreditam).
* Uma criança morreu esmagada sob o peso do pai e do
carro puxado por cavalos em que estava. Pedindo confiança em Deus e em Nossa Senhora ,
Benedito toma nos braços a criança, enquanto inicia a oração. Ao fazer o
sinal da Cruz sobre a criança, esta abre os olhos e pôs-se a chorar e gritar.
Ressuscitara maravilhosamente
* Também um cego recupera a visão quando Benedito lhe
faz o sinal da Cruz sobre os olhos; outro cego, que perdera a visão há um ano,
sem conseguir resultados com os médicos, recupera a visão quando Benedito lhe
faz o sinal da Cruz sobre os olhos;
* Incrível! Até um cavalo é ressuscitado por Benedito,
o cavalo que era do serviço do Convento e que caíra num abismo;
* Após servir os pobres, Frei Vito vira chegar soldados espanhóis famintos e sedentos. Assustado, viu que havia poucos pães em seu cesto. Instado por Benedito a servir os soldados, percebeu que o cesto não se esvaziava e assim pôde alimentar grande contingente de soldados;
* um pescador pobre, pai de sete filhos, não conseguia
pescar um mísero peixe sequer. Vendo a aflição do pobre homem, Benedito orou e
o pescador viu quantidade inacreditável de peixes em sua rede;
* Muitas curas físicas foram realizadas por Deus sob a
intercessão de São Benedito, em vida e após a sua morte.
Em fevereiro de 1589 Benedito caiu gravemente enfermo.
Embora seu médico, de grande fama na região, previsse sua morte, Benedito o
alertou que ainda não havia chegado sua hora. Portanto, recuperou-se. Em março
tornou a adoecer, com uma febre muito alta. Nenhum remédio o aliviava. Previu
então sua morte e fez um pedido estranho: "enterrem logo o meu corpo para
que não tenham contrariedade".
Recebeu a Unção dos Enfermos e o Viático, preparando-se para o encontro com o Senhor. Não aceitou ainda a colocação das velas em suas mãos, pois avisaria quando chegasse a hora. Recebeu a visita de santa Úrsula e as onze mil virgens
A profecia de que era preciso
enterrar logo o seu corpo, cumpriu-se após o velório. Multidão invadiu o
Convento querendo relíquias ou lembranças do grande santo. Em 07 de maio de
1592, seu corpo foi transladado pela primeira vez. Do seu corpo exalava sublime
perfume, sendo seu corpo encontrado em
perfeito estado de conservação, sem uso de qualquer produto químico. Em 03
de outubro de 1611 foi feita a segunda transladação do corpo, colocado em urna
de cristal. Ainda hoje continua conservado, exposto em urna mortuária para
visitação pública, numa Capela lateral da Igreja de Santa Maria, em Palermo,
Itália.
(Fonte: São Benedito,
o Santo Negro - Monsenhor Ascânio)
Relíquias de são Benedito: o hábito que o santo usava em vida. |
Estátua "tradicional" de são Benedito, trazendo um "menino" ao colo. Conforme vimos, não se trata do Menino Jesus, mas, da criança ressuscitada através da oração do santo. |
São Benedito: outro modelo de iconografia do santo. |
3 comentários:
gratidão!!!!!! Bendito louvado seja!!! Salve São Benedito!!!!!!
Maravilhosa biografia! Que Benedito INTERCEDA por todos nós e abençoe o autor do blog. São Benedito, rogai por nós!
tenho uma pequena estátua desse Santo em casa...e como manda a tradição, coloco café pra ele todos os dias...Conhece o Professor Alessandro Dell Aira? escreveu livros sobre esse Santo...
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