A vida nas
montanhas: cercados por uma natureza incontaminada, um pouco selvagem, longe do
frenesi, mas, também, do conforto da vida urbana: estamos na Polônia, no final
do século XIX, em Siwcowka, diocese de Cracóvia. Ali há poucas casas apegadas à
montanha, onde se trabalha a terra para cultivar batatas... Um lugar simples e ermo, onde a
escola não existe e a igreja fica a três horas de distância. Isso, obviamente,
no verão, porque quando neva só é alcançada depois de quatro ou cinco horas. Aqui
nasceu, em 1876, a pequena Cunegunda, nona dos dez filhos da família Siwiec,
chamados por todos com o carinhoso diminutivo de Kundusia. Seus pais foram Victoria
e João Siwiec. Deles recebeu sólida educação humana e católica.
Sintamos agora a
serenidade da paisagem e de sua família, cujo pai, mesmo na velhice, ia
trabalhar no pasto assobiando e cantando e, à noite, ficava encantado ao
admirar as nuances do pôr-do-sol em frente à casa. Kundusia aprende a ler e assinar participando, nos meses de inverno,
de uma espécie de "escola noturna", na qual seus professores são os
habitantes mais educados da aldeia. Cunegunda cresce com um caráter
determinado, forte e profundamente religioso. Tem um namorado, com quem ela se
preocupa muito e com quem já faz planos de casamento.
O ponto de
virada em sua vida vem em 1896, participando da missão popular pregada por um
padre redentorista: Kundusia, já com
20 anos e um casamento à vista, de repente descobre sua vocação: "viver
no mundo, mas só para Cristo". Assim, ela reorganiza sua vida em
torno desse ideal, dando prioridade absoluta às coisas espirituais.
Começa por se
inscrever no Apostolado de Oração, depois participa de um curso de catequese
para preparar as meninas e crianças da montanha para a primeira comunhão e para
o matrimônio e, finalmente, une-se à Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Carmo e de Santa Teresa (atualmente, Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares,
OCDS), na fraternidade que se reunia em um salão cedido aos “terceiros” no
convento carmelitano de Wadowice (a 30 km de seu povoado).
Em sua aldeia,
seus concidadãos observam sua metamorfose: desde menina, "como
todos", até, paulatinamente, ela se transformar em uma alma cada vez mais
"de Jesus": não sabem, mas
conseguem adivinhar que, por trás de tudo isso, existe uma grande intimidade
com o paraíso, nascida e sustentada por longas horas de oração "de coração
a coração" com Jesus.
Em 1929, oferece
a terra que teria herdado para construir um "centro educacional": uma
escola regular, em suma, a que ela nunca poderia assistir, administrado e
conduzido por religiosas, que, cuidam da educação de crianças e de adultos.
Anexo ao Centro também é construída uma capela e, somente a partir daquele ano,
portanto, Kundusia tem a alegria e a oportunidade da Santa Missa diária. Tanto
o centro educacional quanto a capela são consagrados a Santa Teresinha do
Menino Jesus, recentemente canonizada (em 17 de maio de 1925) pelo Papa Pio XI.
A Sagrada Eucaristia
dá asas à sua espiritualidade e faz crescer a sua intimidade com Jesus. Não se
sabe exatamente quando, mas, na sua vida começam a ocorrer estranhos fenômenos,
particularmente após a santa comunhão. Os "estudiosos em mística” os
chamam de "locuções interiores", que são, basicamente, nada além de
revelações internas de Jesus, da Virgem Maria e dos Santos. Kundusia revelou
tais acontecimentos ao seu confessor apenas em 1942, com um pouco de vergonha,
admitindo que isso vem acontecendo há algum tempo.
Esta "linha
direta" com o paraíso gradualmente leva-a a amadurecer a decisão de oferecer sua vida em reparação pelos
pecados do mundo e fazê-la desenvolver uma oblação completa, em união com o
sacrifício de Jesus na cruz. Muitos passam a buscá-la: pessoas simples e
cultas, sacerdotes e religiosos, para conselhos, ajuda espiritual,
encorajamento ao bem: todos recebem dessa mulher analfabeta e “comum” o que
precisam para o bem de suas almas.
Entrando em sua
casa, eles a encontram envolvida com seus irmãos na leitura de obras místicas,
que ela comenta com uma profundidade e competência que surpreendem até mesmo os
mais sábios teólogos.
Sua união
completa com Jesus alcança seu clímax com a alegre aceitação do sofrimento: em
1948 ela foi atingido por câncer ósseo com metástases generalizadas. Um
sofrimento incalculável, escondido por trás de sua habitual atitude sorridente
e brincalhona. Tudo é oferecido em reparação pelos pecados do mundo, todos
vividos em união com o sacrifício da cruz. Em 1955, isto é, após sete anos de
atrozes sofrimentos, ela morre pacificamente, com dores excruciantes.
De imediato, já
era considerada “santa” por seus concidadãos. Nos anos 80 começaram a aparecer
artigos e livros dedicados a sua vida e se foi divulgando a fama de sua
santidade. Por último, em 21 de dezembro de 2007, o Cardeal Estanislao Dziwsz,
arcebispo de Cracóvia, abriu oficialmente seu processo de beatificação.
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