São Luís
Beltrão (Bertrand) era filho de um tabelião da mesma cidade e veio ao mundo em
1526. Nos primeiros anos da infância dava indícios indubitáveis de futura
santidade. Sete anos tinha, quando começou a recitar diariamente o ofício de
Nossa Senhora.
O
prazer do piedoso menino era ir à igreja. Às práticas de piedade aliava uma
obediência incondicional aos pais, amor às mortificações, ao estudo e à leitura
espiritual.
Sempre que podia, trocava a cama pelo soalho, procurando em tudo imitar o seu
santo parente Vicente Ferrer.
Mocinho, afastou-se clandestinamente da casa paterna, em demanda de uma solidão, onde pudesse mais desembaraçadamente se entregar a exercícios de piedade e de penitência. O pai descobriu o esconderijo e obrigou o filho a voltar para casa. Não podendo, entretanto, evitar mais tarde que entrasse para a Ordem Dominicana.
Os progressos de Luís na virtude e na perfeição religiosa foram tais, que sete
anos depois da entrada na Ordem, foi nomeado Mestre do Noviciado. Com grande
proficiência desempenhou-se por diversas vezes da missão de missionário, Além
de dispor de grandes recursos retóricos, possuía o dom de ler nas consciências
e de predizer cousas futuras. Passando certa vez por um campo onde um homem guardava
o rebanho, disse ao pastor: “Meu amigo, sei que o estado de sua alma não bom. Há
três anos já que não faz boa confissão. Se tem amor à sua alma, não deixe
de, quanto antes, por a confessar-se, porque a morte está à sua espera”.
O
pastor ao ouvir estas palavras assustou-se, mas
reconhecendo a graça de Deus, que tão inesperadamente se lhe oferecia, aceitou
o convite e confessou-se contrito. Três dias depois morreu.
No ano de 1557, a peste assolou a cidade de Valência. Luís aproveitou-se da ocasião, para praticar obras heroicas de caridade. A terrível epidemia poupou-lhe a pessoa; mas logo que as cousas se normalizaram, pediu aos superiores que o destinassem às missões entre os indígenas da América.
Como recompensa dos serviços prestados nos dias da peste, obteve o que pedira. Em 1562 partiu para as índias ocidentais, em companhia de outros sacerdotes da Ordem. Ardia-lhe no coração o desejo de salvar almas e de dar a vida em testemunho da fé que pregava. Grande foi o número de pagãos que ganhara para a religião de Cristo. Nos maiores perigos e dificuldades, aparentemente insuportáveis, a proteção divina era visível, e muitos foram os milagres que Deus se dignou de operar por intermédio de seu santo servo.
A biografia do Santo afirma que, apesar de ter ser fluente apenas no espanhol e no latim, todos os que o ouviam falar o compreendiam perfeitamente. Mais de uma vez, correu o perigo de ser envenenado por pagãos que o odiavam, como inimigos que eram da religião de Cristo; mas Deus estava com ele e nada puderam fazer que o prejudicassem.
Estava combinada sua morte por apedrejamento. Luís, porém, soube de tal maneira amainar o espírito dos inimigos, que estes, não só desistiram do plano, mas acabaram por aceitar a religião cristã e pediram o batismo. Numerosos são os fatos da vida deste Santo, que provam a assistência e proteção visíveis de que gozava da Divina Providência.
Poucos anos Luís trabalhara na seara das missões, quando os superiores lhe reclamaram os serviços na Europa. Na travessia do mar sobreveio uma tempestade, que pôs em risco de vida os passageiros, mas Luís tranquilizou-os, com o sinal da cruz. O resto da vida Luís passou-o no desempenho de diversas incumbências da Ordem.
Grande era sua humildade, que o fazia reconhecer em si
próprio o maior pecador do mundo. Tinha como regra de vida: “Desprezar a si
próprio, não desprezar a ninguém, desprezar o desprezo".
Como de uma serpente, fugia do elogio. Repreensões, censuras e críticas a seu respeito, a ouvia com toda a calma para depois dizer: “o que os senhores de mim afirmam é a pura verdade. Melhor do que eu mesmo, conhecem-me”. Certa vez, alguém fez referências elogiosas a Luís por causa dos milagres que fazia. “Pensa o senhor, respondeu-lhe o Santo, que fazer milagre é sinal de santidade? Fique certo de que não é nada menos que isso, mas única e exclusivamente efeito da fé. Poder incomparavelmente maior recebeu Lúcifer e perdeu-se”.
Luís Beltrão cultivou a virtude angélica com o maior esmero,
encontrando na oração e na penitência meios poderosos para conservar-se fiel ao
voto.
Era muito amigo da oração, que o aproximava o mais
possível de Deus.
Não impediu a prática dessas virtudes todas, que o santo
Servo de Deus vivesse num temor contínuo de não se salvar. Este temor arrancava-lhe
profundos gemidos e muitas vezes dizia: “Outros são muito mais perfeitos que
eu. Muito mais graças do que eu, receberam, Lúcifer e Judas, que, como muitos
outros foram condenados. Quem me dirá que não me possa acontecer a mesma cousa?
Oh miséria das misérias! Viver nesta incerteza terrível e não sentir
temor!"
Admirável foi a paciência com que sofreu as dores da
última doença. Quando o sofrimento chegava ao auge, se servia da palavra de
Santo Agostinho, que dizia: “Senhor, queimai, cortai enquanto eu tiver vida,
contanto que useis comigo de misericórdia na eternidade".
Pouco antes de expirar, virou-se para os irmãos de Ordem e
disse: “rezai por mim, meus irmãos, para que Deus não me condene”.
Foi justamente esse temor permanente que fez Luís Beltrão
proceder com muita cautela e fugir do perigo. Era ainda esse temor que, constantemente,
o animava a praticar boas obras.
Um dia, o enfermeiro descobriu que o enfermo conservava
escondido um tijolo que punha sobre o peito. Espantado por ver a pedra, disse a
Luís Beltrão: “Por
que V. Revma., se martiriza dessa maneira? Já não bastam as dores que a doença
lhe faz suportar? “O Santo respondeu: “que hei de fazer? A morte já está à
porta e o Reino dos Céus padece força”.
São Luís Beltrão faleceu em 9 de outubro de 1591, conforme
predisse.
Até o fim da vida
Luís Beltrão trabalhou, lutou e sofreu para ganhar o céu. Milagres sem conta e
número por ele praticados convenceram o mundo católico da grande glória de que
goza no céu. O Papa Clemente X celebrou a canonização em 1671
REFLEXÕES
“A morte está à porta e o reino do céu padece força", dizia S.
Luís Beltrão àqueles que o queriam afastar da penitência.
É a mesma cousa que Deus Nosso Senhor ensinava, em termos ainda mais
positivos, quando falava da necessidade da penitência, da mortificação dos
sentidos e da carne.
"Quem quer seguir-me, negue-se a si próprio, tome a sua cruz e
siga-me, - Quem não tomar sua cruz sobre si e não me seguir, não é digno de mim. Quem procura conservar a vida, perdê-la-á, mas aquele que perder, achá-la-á”.
São Paulo confessa de si mesmo dizendo: "Assim eu corro, não como
atrás de coisa incerta; pelejo da mesma maneira, mas não para açoitar ar; mas, castigo
meu corpo e reduzo-o à escravidão para que suceda que, havendo pregado a outros,
venha eu mesmo a ser condenado” (I. Cor. 9, 26. 27),
Os verdadeiros servidores de Cristo crucificam a carne com todas as
más inclinações e reduzem o corpo à escravidão, para um dia poderem dar conta a
Deus de sua administração.
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