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domingo, 2 de novembro de 2025

O PURGATÓRIO: uma realidade pouco falada na Igreja hoje em dia... (02 de novembro de 2025)

  O Purgatório é uma realidade pouco falada na Igreja hoje em dia. Observem bem homilias no Dia de Finados: fala-se em: "eles estão em paz", "estão com Deus", "nossos familiares e entes queridos que já estão na páscoa definitiva", "nossos familiares e amigos que já se encontram na luz do paraíso", etc. Quase nenhum padre usa literalmente a palavra purgatório. Parece até um “tabu”.

Que pena! Ir para o Céu direto, meus irmãos, é para poucos, muito poucos! Somente os santos e santas, já completamente purificados de seus defeitos, que passaram pela noite escura e já gozavam em vida da plena união com Deus, bem como os mártires da fé, foram direto para o Céu. Todos os demais (até mesmo alguns santos e beatos), após a morte, possivelmente passaram algum tempo no purgatório, nem que sejam algumas "horas" ou "dias" (se bem que o tempo lá não é igual ao nosso).

Não podemos descuidar desse ato de caridade e boa obra: "rezar pelos vivos e falecidos". Mesmo que sua vovó, seu vovô, sua mãezinha, seu paizinho, um tio, uma tia, um amigo ou uma amiga, um irmão ou irmã de comunidade tenha sido muito virtuoso, pode ser que ainda esteja no purgatório, pois, como disse o próprio Jesus: "Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo" (Mateus 5, 26).

Lembrando que centavo é centavo, é pouquíssima coisa. A misericórdia divina é infinita e tudo perdoa? Sim! Claro! Porém, o pecado, mesmo perdoado, deixa uma "nódoa", um "defeito" na alma que precisa ser curado, que precisa ser apagado e reparado.



Quando somos perdoados por Deus, a culpa é extinta, no entanto, a alma fica com a "tendência a pecar de novo" renovada. Uma espécie de "cicatriz". Sem falar nas consequências do erro que cometemos, tanto em nós mesmos, quanto no próximo, em minha família, na sociedade, etc. No Céu só se entra livre de tudo isso!

Por mais que eu ame meu pai, minha mãe, minhas irmãs, meus filhos, minha esposa e demais parentes, Deus me livre que eu venha a passar a eternidade com eles convivendo com os mesmos defeitos que eles tinham ou tem na terra, por menores que sejam! E eu também: Deus me livre, que tenha na outra vida os mesmo defeitos que tenho agora! Por isso, graças à Misericórdia Divina, Deus "inventou" o purgatório: para que possamos ir para o Céu limpos, curados, sanados, aperfeiçoados e verdadeiramente santos, livres não somente do pecado, mas, também, dos efeitos e consequências que eles nos deixaram ou deixam em nossas almas.

Em assim sendo, apesar de ser um lugar onde, por justiça, são expiadas as consequências de nossos pecados, mesmos os perdoados, o Purgatório também é um lugar da misericórdia de divina. É um lugar de cura, de libertação e transformação. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5,8). Essa foi a condição imposta por Jesus nessa bem-aventurança. Somente os puros, isto é, os limpos de “coração” ou de alma, poderão ver a Deus.

Em Deus não há o menor traço de impureza ou pecado. É perfeitíssimo e santíssimo. A bem-aventurança eterna no Céu outra coisa não é do que estar “mergulhado plenamente em Deus”. O Céu é a contemplação, o gozo e a participação plenas da alma, dentro de suas capacidades, do Ser de Deus. Estar no Céu é estar com Deus e em Deus. Sendo assim, como podemos pensar que uma alma possa estar no Céu nem que seja com a menor mancha de pecado? Impossível!

Muitos, então, poderiam dizer: “mas, Deus nos purifica”. Sim, Deus nos purifica de todo pecado, pelo Sangue redentor de Jesus. Deus nos ama e nos perdoa, porém, o pecado não consiste apenas na “culpa”: todo pecado abrange dois aspectos: a culpa e o dano. Mesmo com o perdão de Deus, ainda permanecem as consequências do (s) pecado (s) cometido (s). O pecado é a doença da alma. Deus, em sua misericórdia, nos perdoa, no entanto, quando pecamos – e quanto mais o fazemos – nos tornamos cada vez mais doentes na alma. A culpa é apagada pelo perdão de Deus, por pura misericórdia de sua infinita bondade, no entanto, após o pecado, nossa alma fica como que mais “tendenciosa” a cair na mesma falha. Além disso, muitas vezes nossos pecados afetam a vida dos outros: de familiares, de amigos, de conhecidos ou mesmo de pessoas que nem conhecemos, prejudicando material ou espiritualmente. Tudo isso também é dano que precisa ser reparado, que precisa ser purificado.

Daí que graças a Deus existe o purgatório: para que as consequências do pecado ou o dano sejam reparados. Não seria justo ou correto que uma alma pudesse ir para a glória eterna do Céu com defeitos e pecados a serem ainda purificados ou reparados.




Como as almas são purificadas no Purgatório?

Existem dois meios ou formas básicos: o meio ordinário e o extraordinário (não significa aqui que seja raro):

O meio ordinário é através do fogo purificante do amor por Deus e do arrependimento. No momento do juízo particular, a alma conhece de forma perfeita e clara todos os pecados (os veniais e os graves perdoados), defeitos e danos que precisa ainda reparar. Quem se “condena” ao purgatório é a própria alma, não Deus. Deus é Amor, é Amor infinito. Não é Ele quem diz: “saia da minha frente e vá para o purgatório”. Não. Diante da Santidade infinita de Deus, diante do Amor puríssimo de Deus, que é perfeitíssimo, é a alma mesma quem diz para si: “não podes ainda ir para Deus”! Então, é ela mesma quem se lança ao purgatório, para ali expiar os pecados e danos que cometeu em vida.

No Purgatório, o fogo é de amor ardente. É um fogo purificante, que vai limpando a alma pouco a pouco, tornando-a cada vez mais apta a partir para o Céu. Quanto “tempo” leva isso? Depende da gravidade e número de pecados e danos que a alma precisa expiar. No Purgatório o “tempo” não é como o nosso. O que seria um “dia” lá pode parecer “100 anos”, dependendo do grau de sofrimento pelo qual a alma está passando.


O meio extraordinário e – graças a Deus que ele existe – comum é o efeito dos SUFRÁGIOS que a Igreja Militante oferece a Deus, bem como a INTERCESSÃO DOS SANTOS do Paraíso (Igreja Triunfante). Os Santos do Paraíso podem também, juntamente com as súplicas da Igreja Militante, oferecer a Jesus e Maria seus méritos e preces em favor das almas do Purgatório.

Mas, parece que o bom Deus, em sua Sabedoria e Providência quer que seja a Igreja Militante, com suas orações, especialmente o oferecimento dos méritos da Santa Missa, quem alcance para essas almas os sufrágios que tanto necessitam. Posso “arriscar” aqui uma explicação lógica para isso: dentro da chamada “Economia da Salvação”, o “lucro” que também nossas almas ganham a sufragarmos as benditas almas do Purgatório. Sim! As orações da Igreja Militante ou Peregrina, especialmente a Santa Missa, pelos méritos infinitos da Paixão e Morte de Jesus, purificam as almas do Purgatório, anulando ou diminuindo as penas temporais ali devidas.

Além do mais, há os méritos das orações dos fiéis da Igreja: terços, rosários, vias sacras, orações indulgenciadas, o mérito das boas obras, os sacrifícios, os jejuns, as renúncias e os oferecimentos de nossos sofrimentos e doenças, unidos aos méritos de Cristo e da Virgem Maria, podem também sufragar muitas almas do purgatório.

Deus, em sua Providência e Misericórdia, concede a quem reza ou faz rezar (mandar celebrar Missas, por exemplo) pelas almas do Purgatório, muitas indulgências e graças que beneficiarão a essas pessoas, quando estiverem também, um dia, naquele no lugar de expiação. Que coisa maravilhosa, não é? Os Santos e eleitos do Paraíso, apesar de se comprazerem em nova e acidental felicidade, em poderem sufragar almas, nada mais lucram com isso, pois, já estão “fixados” em seus respectivos graus de glória e de alegria no Céu, que não mais aumentarão e nem, claro, diminuirão. Já nós, pobres peregrinos neste “vale de lágrimas” (vide a oração da Salve Rainha), nos beneficiamos sim (e muito!) em termos atenção, consideração e caridade pelas almas do Purgatório e por elas oferecermos sufrágios e indulgências.



Por Giovani Carvalho Mendes (Ir. João Maria da Encarnação, OCDS)