Dom
Bosco, pai e mestre da
juventude e dos salesianos,
cativou e auxiliou muitos homens e mulheres na descoberta e vivência
de suas vocações através do carisma de sua Congregação
Salesiana. Dentre estes muitos seguidores de sua obra, destacamos
Luís Guanella, o qual foi declarado pelo Papa Paulo VI venerável em
6 de abril de 1962 e beatificado em 25 de outubro de 1964. Foi
canonizado pelo atual Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.
Nascido
em 19 de dezembro de 1842, na aldeia alpina de Francisco di
Campodolcino em
Val San Giacomo,
na
província de Sondrio, Itália, Luís foi o nono dos
treze filhos de uma família montanhesa dotada de sólidos princípios
cristãos. Possuía
um caráter forte, no qual a firmeza, temperança e espírito de
sacrifício eram marcas de destaque. Era
mais ainda
possuidor de uma forte fé, enriquecida e alimentada pela piedade
popular adquirida na convivência com os pobres e povo simples. Fez
seus estudos no Colégio Gallio de Como e em vários seminários
diocesanos.
São Luís Guanella e os primeiros membros de sua congregação. |
Sinais
precoces da vocação
Desde
muito cedo, numerosos indícios, premonições e acontecimentos
extraordinários iam indicando ao pequeno Luís as vias traçadas
para ele pela Providência Divina.
Um
destes fatos ocorreu no dia de sua Primeira Comunhão, aos nove anos.
Por ser Quinta-Feira Santa, não houve festa e, regressando a casa,
mandaram-no cuidar das ovelhas, como em qualquer dia comum. Ainda
tocado pela graça, sentou-se em um dos gramados da colina Motto,
parecido a um sofá, onde costumava descansar enquanto pastava o
rebanho, e pôs-se a rezar a Nossa Senhora, agradecendo-Lhe a ventura
de haver recebido Jesus em seu coração.
Sentia-se
tomado por uma suave doçura que o impelia a fazer generosos bons
propósitos. Contudo, a certa altura caiu no sono com seu livrinho de
orações nas mãos e foi acordado por uma voz feminina que o chamava
pelo nome. Não vendo ninguém ao redor, julgou tratar-se de um
sonho. Retomou a leitura e adormeceu novamente.
Mais
uma vez, o fato se repetiu. E, como aconteceu com Samuel (cf. II Sm
3, 8), ainda houve uma terceira vez, na qual a voz se fez ouvir mais
forte e nítida: “Luís, Luís”. Nesse momento, narra o santo,
“eis que vejo uma Senhora estendendo seu braço direito como a
indicar alguma coisa. Ela me disse: ‘Quando você for adulto, fará
tudo isso em prol dos pobres’. E como num telão, vi tudo o que
deveria fazer”.
Forjando
o temperamento
Aos
doze anos Luís recebeu uma bolsa de estudos e matriculou-se no
Colégio Gálio, em Como. Fortalecido pela frequência aos
Sacramentos e sua ardorosa devoção a Maria, ali cultivou os germens
da vocação, manteve-se firme em seus princípios e inabalável no
grande apreço às virtudes da castidade e da modéstia, apesar dos
ventos revolucionários e liberais que sopravam na Itália e no
mundo. Após seis anos de colégio, ingressou no seminário diocesano
Santo Abôndio, onde ficou ainda mais vincada a vocação específica
que a Providência lhe dera desde a infância. Ao retornar, durante
as férias, à sua aldeia natal, empenhava-se em ajudar os pobres e
enfermos da região, sobretudo os mais desamparados.
Equilíbrio
entre firmeza e doçura
O
pai, Lorenzo di Tomaso Guanella, corpulento, robusto e de rija
personalidade, inspirava confiança pela sua simples presença. Assim
o descreverá o filho, em sua Autobiografia: “Esbanjava saúde e
seu caráter era firme e decidido, à semelhança do monte
Calcagnolo, logo acima de Fraciscio”.
A
mãe, Maria Antonieta Bianchi, piedosa e dedicada ao trabalho, como o
marido, contrastava com este por sua notável doçura de trato. A seu
respeito escreveu o padre Luís Guanella: “O peso da autoridade
paterna, no tocante aos filhos, era contrabalançado,
providencialmente, pela mãe […] uma mulher criativa e muito
amorosa; um tesouro da Providência!”.
Entre
os irmãos, todos se relacionavam bem. Mas Catarina, apenas um ano
mais velha, foi sua predileta. Ainda crianças, conversavam sobre as
peripécias dos santos e aprenderam a ver nos pobres a figura de
Jesus. Perto de sua casa, havia uma rocha com cavidades que pareciam
panelas. Ali, as inocentes crianças misturavam água e terra, e
mexiam aquela mescla dizendo: “Quando formos adultos, faremos assim
a sopa dos pobres”.
“Uma
espada de fogo no ministério santo”
Em
um ambiente de ressentimento e raiva, marcado pelas profanações de
igrejas realizadas em Como pelos seguidores de Garibaldi, Luís foi
ordenado presbítero, em 26 de maio de 1866. Naquele dia, com a alma
transbordante de júbilo, o novo sacerdote fez uma promessa a Deus e
a seus irmãos: “Quero ser uma espada de fogo no ministério
santo!”.
Três anos de “aprendizagem” com Dom Bosco
Mais
tarde, atraído pela pessoa de São João Bosco, optou por se dirigir
a Turim. Ali passou três anos (1875-1878) em “aprendizagem”,
como diria depois, seguindo os passos do fundador dos salesianos no
caminho da santidade e colaborando com sua obra pedagógica em favor
da juventude. Nesta mesma ocasião, conheceu a obra caritativa de São
José de Cottolengo, a qual também deixou profundas impressões em
sua alma.
Convocado
por seu Bispo, regressou à Diocese de Como. Sair de Turim,
separar-se dos salesianos e principalmente de Dom Bosco, foi-lhe
muito doloroso. “Não senti tamanha dor nem mesmo quando faleceram
meus pais, tendo-os em meus braços”, afirma em sua Autobiografia.
Primeira casa da Divina Providência
Na
paróquia de Traona, para onde foi enviado em 1878, com a missão de
ajudar o pároco enfermo, tentou transformar um antigo convento em
escola para jovens pobres aspirantes ao sacerdócio, no estilo
salesiano. Poucos meses depois, recebeu ordem de ir para Pianello.
Ali um orfanato e um asilo fundados por seu predecessor
recém-falecido, o padre Carlos Coppini, postos sob os cuidados de
algumas jovens aspirantes à vida religiosa. Foi a partir deste
empreendimento que se originou, em 1886, sua primeira fundação, a
Congregação das Filhas de Santa Maria da Providência. Abriu por
fim, em Como, a primeira Casa da Divina Providência – mesmo nome
utilizado por São José de Cottolengo -, com o objetivo de atender
os pobres e necessitados. A instituição começou a crescer e não
faltaram generosos benfeitores nem almas dispostas a se dedicarem
àquela obra de caridade.
Numa
viagem a Turim, pediu orientação a Dom Bosco sobre seu desejo de
fundar também um instituto masculino. Este lhe mostrou a
conveniência de tal empresa e nasceu, assim, sob as bênçãos do
Arcebispo de Milão, Beato André Carlos Ferrari – que até 1874
fora Bispo de Como – a Congregação dos Servos da Caridade.
Mais necessário é morrer bem…
Depois
de passar inúmeras vicissitudes e provas, Dom Guanella viu, no fim
de sua existência, sua obra expandir-se por quatro continentes.
Convencido de que os homens são meros instrumentos, pois “è Dio
che fa” – quem faz é Deus – o fundador estimulava o ardor
missionário dos seus filhos e filhas dizendo-lhes: “Vossa pátria
é o mundo”. Ele próprio acompanhou a fundação de novas casas em
outros países, como a dos Estados Unidos, em 1912.
Em
meio a tantas atividades, ainda encontrou tempo para escrever
numerosas obras de formação cristã, além de mais de três mil
cartas nas quais transparecem suas virtudes, seu senso profético e
seu particular amor aos pobres e abandonados.
Coroando
uma vida santa, essa boa morte chegou também para Dom Guanella, em
24 de outubro de 1915, aos 73 anos de idade. Seu
corpo é venerado no Santuário do Sagrado Coração, em Como. Possa
sua elevação à honra dos altares desvelar ao mundo de hoje, tão
confiante em si mesmo, o segredo de sua santidade como modelo a ser
seguido: abandonar-se nas mãos da Providência Divina, certo de que,
por mais que os homens atuem, “è Dio che fa”!
Sobre
seus escritos
Nos
dois últimos anos Guanella editou o texto “Os caminhos da
Providência”, uma espécie de autobiografia na qual expõe as
vicissitudes da sua missão caritativa. No texto abre seu coração
para explicar aos coirmãos a insistência obstinada no tocante às
suas opções, não obstante as inúmeras contrariedades. Para ele
tratava-se de uma missão que se fundamentava no chamado de Deus e na
sua Providência. A obra é fundamental para entender a vida e a
missão de Luís Guanella.
São
Guanella redigiu muitos textos. Quando trabalhava nas Paróquias
publicou 41 obras divididas em 45 opúsculos com diversos conteúdos:
pastoral, histórico para a edificação do povo. Quando iniciou sua
obra caritativa, redigiu regulamentos, estatutos, regras,
constituições e cartas circulares para a formação de seus
discípulos, sacerdotes e irmãs. Conservam-se, até hoje, 3.200
cartas escritas por ele. Publicou a revista mensal “A Divina
Providência”, redigindo numerosos artigos.
O
carisma de São Luís Guanella
No
tocante a estes escritos procedeu-se a um estudo do carisma e da
espiritualidade do bem-aventurado. Diversos escritores se dedicaram a
esta tarefa (Leonardo Mazzucchi, Attilio Beria, Pietro Pasquali). Seu
carisma é o anúncio bíblico da paternidade de Deus. Essa
paternidade divina, constitui, para Guanella, uma profunda
experiência pessoal, com uma conotação mística e profética. Isso
faz com que sua santidade e missão tenham uma dimensão típica e
qualificada. Uma experiência que tem em vista comunicar,
particularmente aos mais pobres e abandonados que Deus é Pai de
todos, um Pai que não esquece e não marginaliza nenhum de seus
filhos. Em semelhante perspectiva são valiosos seus dois livros
“Andiamo al Padre” (“Vamos ao Pai” – 1880) e “Il
Fondamento” – “O Fundamento” – 1885). Suas casas se
organizam de modo coerente com base nas necessidades das pessoas, com
estilo de família e adotam um método específico, o assim chamado
“método preventivo” (cf. Regulamento dos Servos da Caridade,
1905), confiadas à paternidade de Deus. A orientação e a condução
são confiados a Ele: “É Deus quem faz”.
A
santidade de Luís Guanella encontra-se não somente na perfeição
moral, mas também na ontológica, em consonância com a experiência
da paternidade de Deus. Sempre procurou, desde a juventude, uma
coerência entre o pensar, o crer e o agir. Seu professor de religião
consegue notá-lo desde o tempo de ginásio: “procura aprofundar,
com particular diligência, tudo o que se ensina. Sente e ama o que
aprende, transformando-o em vida” (Registros escolares, arquivo do
Colégio Gallio em Como). Na condição de sacerdote, ministro do
Senhor, seu encontro com Deus Pai consistiu numa participação à
sua imensa caridade, à onipotência criativa e providente, à
misericórdia encarnada e redentora; e tornou-se um caminho para o
encontro dos homens com Deus, através e mediante a caridade do santo
para os irmãos necessitados (cf. G.L. “Il montanaro”, 1885, pág.
32-34).
Acrescente-se
a tudo isso o específico daquela época: a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus, à Virgem Imaculada e uma ascese austera de
penitências, de oração, de severidade e observância, de trabalho
e sacrifício para a missão caritativa. Mas havia um modo específico
para a ação, dando espaço a algumas características:
simplicidade, tolerância, misericórdia, esperança alegre,
características essas que praticamente contrastavam com o seu
caráter enérgico, voluntarioso, decidido para enfrentar obstáculos,
algumas vezes impulsivo e irascível. Neste caminho rumo à
santidade, Guanella conduziu sua discípula, Irmã Clara Bosatta,
obra-prima da sua arte de educador e de diretor espiritual.
ORAÇÃO
A SÃO LUÍS GUANELLA
Senhor
Jesus, Tu vieste sobre a terra para oferecer a todos o amor do Pai e
para ser sustento e conforto aos pequeninos e sofredores.
Agradecemos-te por ter nos dado o teu servo fiel, São Luís
Guanella, como sinal do grande amor de Deus.
Faz
com que o exemplo da sua vida possa resplandecer em todo o mundo para
a glória de Deus Pai e para o auxílio do povo cristão.
Pela
sua intercessão, concede-nos a graça que neste momento te pedimos…
e faz com que possamos imitar suas virtudes:
A ardente piedade
para com a Eucaristia, a confiança serena na providência, a
caridade terna para com os mais pobres, a paixão pastoral pelo teu
povo, a fim de que, junto com ele, possamos receber o prêmio da
alegria que preparaste para nós na casa do Pai.
Amém!
*Com
a aprovação do cardeal Ângelo Comastri.
Relíquia de São Luís Guanella nas mãos do agraciado pelo milagre que o elevou aos altares. |
Fontes:
auxiliadoracampinas.org.br/especiais/santos-salesianos
santidadefs.blogspot.com/2012/10/sao-luis-guanella-o-servo-da-caridade.html+&cd=15&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
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