No dia 25 de
maio de 1802, os ossos de uma mulher entre 13 e 15 anos foi descoberto no
cemitério de Santa Priscila, nas escavações das catacumbas em Roma. Uma
inscrição próxima ao túmulo dizia “A paz seja contigo, Filomena”, junto
com inscrições de uma âncora, três flechas e uma palma. Próximo aos ossos foi
descoberto um vaso de vidro com um depósito de sangue ressequido. Por ser
costume dos primeiros mártires deixar símbolos e sinais como estes, foi
facilmente determinado que Santa Filomena havia sido uma virgem mártir.
No reinado do
Papa Pio VII, quando foram encontradas essas relíquias, o padre Francisco de
Lúcia, da cidade de Mugnano delle Cardinale (Itália), desejou levar as
relíquias de um santo para sua paróquia e foi à Santa Sé em Roma para solicitá-las.
Quando estava na
Capela do Tesouro (onde ficavam as sagradas relíquias), dentre tantas apenas
três possuíam nomes: um adulto, uma criança e Santa Filomena. Quando
ajoelhou-se diante das relíquias de Santa Filomena, sentiu-se possuído de uma
alegria espiritual jamais experimentada. Sentiu também um incontrolável desejo
de levar aquelas Sagradas Relíquias para sua igreja em Mugnano.
Terminada essa
visita, dirigiu-se ao Sr. Bispo de Potenza e ficou sabendo então que precisaria
de uma graça muito especial, ou talvez um milagre. Não havia precedentes de a
Santa Sé haver confiado tão preciosos tesouros à guarda de um simples
sacerdote. E nesse caso seria praticamente impossível, por se tratar das
relíquias de uma virgem mártir cujo nome era conhecido.
Tendo caído
gravemente enfermo, padre Francisco recorreu ao auxílio de Santa Filomena, prometendo
tomá-la como especial padroeira e levar suas relíquias para Mugnano, caso
obtivesse autorização para tanto. Curado milagrosamente, retornou então à Santa
Sé narrando a graça alcançada e obteve o pedido, levando triunfalmente as
relíquias para sua paróquia. Assim que lá chegou começaram a acontecer tantos
milagres que ia gente de toda a Itália e Europa a pedir e agradecer graças
alcançadas.
Santos e santas que foram devotos (as) de Santa Filomena |
A popularidade
da Santa logo se espalhou, sendo seus mais memoráveis devotos São João Vianney
(o Cura D’Ars), Santa Madalena Sofia Barat, São Pedro Julião Eymard, e São
Pedro Chanel.
Muitos Papas
foram devotos de Sa nta Filomena. Entre eles, Pio IX, que no dia 07 de novembro
de 1849 celebrou a Santa Missa no altar onde estão as Santas Relíquias e, no
dia 15 de janeiro de 1857, concedeu ofício próprio com Missa. São Pio X, que em
peregrinação a Mugnano doou à imagem da Virgem Mártir um riquíssimo anel. Leão
XIII, que peregrinou ao Santuário de Mugnano duas vezes, e em 1884 aprovou,
consagrou e indulgenciou o cordão de Santa Filomena.
Depois de ser
curada milagrosamente, a Venerável Pauline Jaricot insistiu para que o Papa
Gregório XVI iniciasse o exame para a canonização de Santa Filomena, que já
estava sendo conhecida como grande taumaturga.
Gregório XVI,
tendo recebido o parecer favorável da Sagrada Congregação dos Ritos à
canonização de Santa Filomena, elevou-a à honra dos altares, instituindo ofício
próprio para o culto e a festa, proclamando-a a grande taumaturga do Século
XIX, padroeira do Rosário Vivo e padroeira dos Filhos de Maria.
As relíquias de
Santa Filomena ainda são preservadas em Mugnano, na Itália.
A vida de Santa Filomena Santa Filomena
O que sabemos
historicamente sobre Santa Filomena, resume-se ao que foi descoberto nas
catacumbas de Roma: uma jovem entre 13 e 15 anos, que morreu mártir pela fé.
A revelação de sua vida foi feita de maneira
extraordinária,
tendo a Santa aparecido de maneira particular a três pessoas. Essa narrativa
recebeu o “imprimatur” (autorização) da Congregação do Santo Ofício para
divulgação. O relato mais detalhado, aqui reproduzido, foi concedido à Irmã Maria Luísa de Jesus:
“Santa Filomena
era filha de um rei da Grécia, e sua mãe era também de sangue real; como não
lhes vinham filhos, ofereciam sacrifícios e preces constantemente a seus falsos
deuses para consegui-los. Providencialmente, o médico do palácio, de nome
Públio, era cristão.
Penalizado pela
cegueira espiritual de seus soberanos e inspirado pelo Divino Espírito Santo,
falou-lhes da nossa Fé, garantindo-lhes que suas orações seriam ouvidas se
abandonassem os falsos deuses e abraçassem a Religião Cristã.
Impressionados
com o que ouviram, e tocados pela Graça, resolveram receber o Batismo, após o
qual lhes nasceu uma linda filhinha no dia 10 de janeiro do ano seguinte. Imediatamente,
chamaram-na de Lumena ou luz, por ter nascido à luz da fé. Na pia batismal
deram-lhe o nome de Filomena, isto é, Filha da Luz, da Luz Divina que lhe iluminou
a alma por meio desse Augusto Sacramento.
Aos cinco anos
de idade recebeu pela primeira vez a Sagrada Comunhão e desde então lhe
aumentavam os desejos de íntima união com o Divino Redentor, até que, na idade
de 11 anos, a Ele se consagrou por voto de virgindade perpétua.
Contava 13 anos
quando seu pai foi ameaçado de uma injusta guerra pelo Imperador Diocleciano,
obrigando-o a ir a Roma numa tentativa de paz. Acompanharam-no na viagem a
esposa e a filha, que era, de ambos, inseparável. O Imperador os admitiu
imediatamente à sua presença, para impor, sem dúvida, seus cruéis objetivos em
relação à soberania da pequena Grécia. Mas ao ver a Princesa, tudo se mudou em
sua mente doentia. A beleza da menina-moça o encantou e de pronto concordou,
não só com uma paz duradoura, mas com uma sincera amizade complementada com
privilégios políticos e econômicos, desde que lhe fosse dada a mão da linda
princesinha por esposa. Seus pais sentiram-se aliviados e de imediato
concordaram com a interessante proposta imperial.
De regresso à
Grécia, em lágrimas, declarou Santa Filomena, que tudo fizera para convencer
seus pais a retirarem a aprovação dada a Diocleciano, que seu coração já
pertencia a outro Senhor, o único Soberano, o Rei dos Reis, Nosso Senhor Jesus
Cristo, a quem se consagrara por voto de virgindade quando completara 11 anos
de idade. E que nada deste mundo, nem mesmo a morte, a impediria de cumprir sua
promessa.
Seus pais
ficaram arrasados. Amavam-na demasiadamente e sabiam que tal recusa ao
Imperador trar-lhes-ia, no mínimo, a morte da sua única e adorada filhinha, dor
que certamente não teriam forças para suportar. Então, seu pai, com doçura,
procurou convencê-la que seu voto, aos 11 anos, não tinha nenhum valor, porque
nessa idade não podia dispor de si. Era um voto nulo.
Fora esta,
talvez, a parte mais difícil do seu martírio. Enquanto seu pai esforçava-se por
dissuadi-la, sua mãe com o rosto encostado ao seu, banhava-o com abundantes
lágrimas… Mas que fazer? Seu coração ansiava por encontrar-se com seu Celeste
Esposo e, depois, era também por amor a eles – seus pais – que fazia aquele
sacrifício, pois queria recebê-los, um dia, no Céu.
Entretanto, seu
pai, vendo esgotados todos os seus argumentos, aplicou o último recurso.
Valeu-se de sua autoridade moral e legal. Disse que a forçaria a obedecer-lhe.
Mas o bom Jesus não abandona quem a Ele se consagra de verdade. Dera-lhe forças
para, sem ferir a susceptibilidade dos pais, permanecer irredutível.
O Imperador
considerou a recusa da jovem princesa como um pretexto de deslealdade ao
Império e ordenou que a trouxessem a sua presença. Seus pais, antes de levá-la,
atiraram-se aos seus pés e suplicaram-lhe que se apiedasse deles e do seu
reino. Respondeu-lhes que o único reino pelo qual deveriam lutar era o Reino
dos Céus, e que lá os esperaria. Encerrara aqui a primeira batalha do seu
martírio.
Chegada à
presença do Imperador, este usou a mesma tática do seu pai. Primeiramente,
empregou todos os recursos possíveis para convencê-la a ser Imperatriz de Roma.
Fez-lhe mil lisonjas e promessas, mas como seu esforço foi inútil,
enfureceu-se, e ordenou que a encarcerassem nos subterrâneos do palácio.
Todavia, ia visitá-la diariamente na prisão, na esperança de, galanteando-a,
conseguir quebrar sua resistência. Durante tais visitas, permitia que a
aliviassem das correntes e lhe dessem um pouco de água e pão, Mas sem nada
conseguir, retirava-se, cada vez mais enfurecido e ordenando que se lhe
aumentassem as torturas.
Impossível era
que, uma frágil menina de apenas 13 anos, que vivera sempre cercada do máximo
conforto e desvelo no Palácio de seus pais, resistir a tantas torturas, não
fora a proteção especial que lhe dispensavam seu Divino Esposo e a Virgem
Santíssima, os quais visivelmente encorajavam-na com frequentes aparições.
Decorridos 37
dias em que se encontrava em tão lastimável estado, a Rainha do Céu lhe
apareceu aureolada por uma deslumbrante luz, trazendo desta vez, em seus
braços, o Deus-Menino, e disse-lhe que, depois de mais três dias, iria ser
retirada daquele cárcere, quando então teria que sofrer cruéis tormentos por
amor ao seu Divino Filho. Tal aviso deixou a “Princesinha do Paraíso”
apavorada. Mas a Celeste Rainha encorajou-a com as seguintes palavras:
‘Minha filha, tu me és mais querida acima de todas,
porque trazes o meu nome e o do meu Filho. Tu te chamas Lumena. Meu Filho, teu
Esposo, chama-se Luz, Estrela, Sol. E eu me chamo Aurora, Estrela, Luz, Sol.
Serei o teu amparo. Agora é o momento transitório da fraqueza e da humilhação
humanas; quando chegar, porém, a hora extrema do teu julgamento, da tua decisão
ante os horríveis tormentos que te serão impostos, receberás a graça da divina
força. Além do teu Anjo da Guarda, terás a teu lado o Arcanjo São Gabriel, cujo
nome significa ‘a Força do Senho’. Quando eu estava na terra era ele o meu
protetor. Mandá-lo-ei agora àquela que é a minha mais querida filha’.
Após tão
maravilhosa visita, a Rainha dos Céus desapareceu deixando a jovem prisioneira
reanimada, disposta mesmo a sofrer os maiores tormentos por amor ao Divino
Filho de Maria que por ela dera a vida no madeiro da Cruz.
Ao enlevo em que
ficara pela presença da Mãe de Deus, juntara-se um celeste perfume com o qual a
Excelsa Senhora a inebriara e que permaneceu no cárcere enquanto lá esteve
prisioneira.
Anjos aparecem à Santa no cárcere e curam-lhe as feridas... |
Passados os três
dias, cumpriu-se o que a Celeste Rainha anunciara. O Imperador vendo-se
irremediavelmente derrotado pela firmeza da princesa, resolveu mandá-la
torturar publicamente. O primeiro dos suplícios foi o dos açoites, acompanhado por horrorosas blasfêmias. O corpo da menina
ficou reduzido a uma única chaga e, já agonizante, foi a mesma atirada na
escura prisão onde deveria exalar os últimos suspiros. Mas quando julgava haver
chegado o momento de se apresentar ante seu Celeste Esposo, dois formosos Anjos
lhe apareceram, ungiram seu dilacerado corpo com um bálsamo celeste e deixaram-na
completamente curada.
Na manhã
seguinte, o Imperador, ao tomar conhecimento da assombrosa notícia, ordenou que
a levassem à sua presença. Ao vê-la mais encantadora que nunca, desmanchou-se
em lisonjas procurando convencê-la de que fora o deus Júpiter que a havia
curado por destiná-la a ser Imperatriz de Roma.
Iluminada pelo
Divino Espírito Santo, a Princesa Mártir repeliu firmemente o sofisma e respondeu
ao tirano que seus deuses coisa alguma poderiam fazer. Eram simples estátuas de
matéria inerte, cujos ilusórios trunfos não passavam de frutos da imaginação
doentia dos homens que os criaram. Advertiu-o que se despertasse e procurasse
ver o único Deus existente, Criador do Universo, dos Anjos e dos homens, o Deus
que os cristãos adoram e diante do qual também ele, Imperador, teria de
comparecer um dia para prestar contas dos seus atos.
Diocleciano,
vendo-se mais uma vez derrotado, louco de raiva por não poder responder aos
argumentos sensatos da princesinha cristã face à impotência dos deuses do
Império, ordenou que lhe amarrassem uma âncora no pescoço e a lançassem no rio
Tibre. Entretanto, o Divino Redentor veio em socorro da sua consagrada, confundindo
seus inimigos e convertendo a muitos: no exato momento em que a mesma estava
sendo atirada no rio Tibre, dois Anjos apareceram, cortaram a corda que prendia
a âncora, e a transportaram para a outra margem, sem que as águas lhe tocassem
sequer as vestes.
Esse grandioso
milagre foi presenciado por centenas de pessoas, das quais muitas se
converteram, inclusive os soldados que a lançaram no Tibre. O Imperador, porém,
mais obstinado que Faraó, atribuiu o maravilhoso prodígio a algum poder mágico
da menina, declarou-a feiticeira e ordenou que fosse arrastada pelas principais
ruas da cidade e depois transpassada por setas. Mortalmente ferida, foi
abandonada no cárcere como se já estivesse morta. Mas seu Celeste Esposo fê-la
cair num sono reparador, despertando-a mais tarde completamente curada e mais
formosa que nunca.
O Imperador, no
entanto, ao invés de se curvar ante a evidência do indiscutível poder do Deus
único e verdadeiro, enfureceu-se ainda mais e ordenou que a flechassem
ininterruptamente até ficar comprovadamente morta. Mas, que maravilha! Por mais
que se esforçassem os arqueiros, nenhuma seta saiu dos respectivos arcos.
Julgou ainda o Imperador, que tal fato se verificara em razão do forte poder
mágico de que era possuidora a princesa, o qual só poderia ser vencido pelo
fogo. Determinou então que todas as setas fossem colocadas numa fornalha até
ficarem totalmente rubras. Mas o Divino Esposo da sua eleita fez com que as
setas em brasa se voltassem contra os que as haviam lançado, seis dos quais
tiveram morte instantânea.
Esse
extraordinário prodígio foi causa de numerosas conversões, passando o povo a
reverenciar a fé e a reconhecer o ilimitado poder do Deus dos cristãos que tão
bem protegia a sua mártir.
Temendo o
Imperador maiores consequências, e já bastante confuso, ordenou que a Princesa
fosse imediatamente decapitada. Mas ainda desta vez nenhum poder teria o
tirano, não fora a vontade do Altíssimo permitir a consumação do martírio, a
fim de que a ‘Princesinha do Céu’ – conforme a chamara a Virgem Santíssima –
pudesse receber na Glória o prêmio eterno da sua incondicional fidelidade a
Cristo Jesus.
Assim, a Virgem
Mártir doou sua vida por amor ao divino Filho da Virgem Santíssima,
transformando seu precioso sangue virginal em semente fecunda que haveria de
gerar milhões de almas para o eterno serviço de Deus. Colheu a palma do
martírio numa sexta-feira, às três horas da tarde, sendo 10 de agosto o dia”.
A poderosa intercessão de Santa Filomena
Irmã Maria Luísa
teve a ventura de receber várias vezes a visita de Santa Filomena. Contemplou
certa vez, em belíssima visão, um trono de nuvens muito alvas no Céu, no qual
estava sentada a Santíssima Virgem Maria, com vestes de ouro que resplandeciam
como os raios do Sol, e com um celeste manto recamado de vivas estrelas que
giravam por si mesmas. Ornava-lhe a fronte uma coroa de ouro cravejada de
pedras preciosas. Do semblante irradiava tal beleza, que de pronto se podia identificá-la
como sendo a Mãe de Deus. Viu, a seguir, aproximar-se da Excelsa Rainha do Céu,
como dama de honra, Santa Filomena, que, retirando da sua cabeça uma coroa de
ouro, ajoelhou-se e suplicou: “Senhora do
Céu e da terra, venho pedir-Vos graças”. E apresentou-lhe algumas dezenas
para diversas pessoas.
Estendendo-lhe
as mãos, sorrindo, a Rainha dos Anjos e dos Santos lhe respondeu:
“A Filomena, nada se nega; sejam-lhe concedidas
todas as graças.”
A Irmã viu,
também, ao lado da Celeste Rainha, o Arcanjo São Gabriel, que com uma pena de
ouro e em letras igualmente de ouro, escreveu: “Sejam concedidas as súplicas apresentadas por Filomena”.
A seguir, Santa
Filomena, sob o encanto do sorriso maternal da Rainha do Céu, ergueu-se com
reverência e, dirigindo-se à Irmã, disse-lhe: “Vês, peço as graças a Maria e por Ela me são concedidas”.
Padre Vianney, o
Santo Cura d’Ars, dizia de Santa Filomena: “É
ela a ‘Princesa do Paraíso’, a quem nada é negado. É grande seu poder junto dos
Tronos de Jesus e Maria. Tenham confiança nela”. O próprio santo foi
contemplado algumas vezes com aparições da gloriosa santa.