Servo de Deus José Ottone |
(*) Por mais incrível que possa ser, o processo de beatificação e canonização de uma criança ou de um adolescente não é nada fácil. A curta vida, a praticamente ausência de escritos, a comprovação da veracidade de testemunhos idôneos, torna muito difícil o processo de uma criança ou de um adolescente.
Não basta que seja provado que era um menino "bonzinho" ou uma menina "boazinha". É necessário provar que viveu as virtudes teologais: fé, esperança e caridade, bem como as virtudes cardeais: fortaleza, justiça, prudência e temperança em grau heroico. É necessário que testemunhos sentimentalistas de parentes próximos sejam praticamente dispensados e sejam ouvidas outras testemunhas que não se deixem levar pelo fervor das emoções, mas, que analisem de forma pragmática a vida do (a) candidato (a).
Graças a Deus que, apesar das dificuldades, tem surgido alguns nomes de santos meninos e de santas meninas que, certamente, já adornam o Trono da Trindade com suas belíssimas almas e que, pouco a pouco, adornam e adornarão os altares de nossas igrejas com suas imagens, à semelhança de um São Domingos Sávio, de uma Santa Maria Goretti ou dos Beatos (futuros santos) Jacinta e Francisco Marto.
Abandonado na infância
Nasceu em 18 de
março de 1928, em Castelpagano, na província de Benevento, de pais
desconhecidos. Uma jovem parteira, que o
encontrou abandonado, resolveu registrá-lo à estância competente, no dia 23 do
mesmo mês, com o nome de Giuseppe (José). No dia anterior, havia sido batizado
na Igreja do Santíssimo Salvador, em Castelpagano. Foi internado no Hospital
Municipal de Benevento, com os poucos objetos que tinham sido encontrados sobre
ele.
Mais tarde, soube-se
que José era o fruto do caso extraconjugal de uma mulher Castelpagano, cujo
marido havia emigrado para a Argentina. A mulher, da qual omitiu-se o nome,
queria fazer um aborto, mas, um amigo da família a convenceu a continuar a
gravidez; O mesmo amigo encontrou uma madrinha de batismo para o recém-nascido.
José não
permaneceu por muito tempo no Hospital de Benevento, porque em 22 de novembro
daquele ano de 1928, foi confiado a dois cônjuges: Domenico Otto e Maria
Capria, também de Benevento. Eles não tinham filhos e queriam muito criar uma
criança com todo amor, de acordo com os princípios cristãos.
O casal decidiu
mudar-se para Nápolis. José foi criado com muito carinho por seus pais
adotivos. A mãe, especialmente religiosa, educou-se de forma primorosa nos
caminhos de Deus.
Após algum
tempo, a família mudou-se de forma permanente para a localidade de “Torre
Annunziata”, uma terra próxima ao mar, localizada próxima às encostas do
Vesúvio.
Uma criança boa em casa, na igreja e na escola
Peppino, como
foi logo apelidado, cresceu um menino sincero, educado, doce, meigo e cheio de
virtudes. Desde o primeiro dia, foi muito feliz para a escola, sem mostrar
nenhum desagrado. Nunca foi indisciplinado e era harmonioso com todos:
professores e colegas.
Antes de entrar
na sala de aula, diariamente, sem a necessidade de que alguém lhe pedisse ou
mandasse, fazia sempre uma breve visita a Jesus Sacramentado, no tabernáculo da
capela do colégio.
De 1934 a 1939,
frequentou a escola primária e, em seguida, foi admitido no Instituto Técnico
Comercial “Ernesto Cesáro”. Na escola, sempre foi o primeiro da classe, pois
era aplicadíssimo nos estudos.
Seus pais
adotivos tinham vida modesta. O pai era um simples garçom. Infelizmente, porém,
devido à bebida, muitas vezes tinha um comportamento colérico, irritável, sendo
por vezes agressivo à esposa. José, então, tentou muitas vezes ajudar a mãe a
suportar seus gestos violentos. Secretamente, sem que o pai o soubesse, levava
esmolas frequentes aos pobres, usando para isso suas parcas poupanças e, por
vezes, dando seus próprios lanches.
Religiosidade de Peppino
Com grande
fervor, no dia 26 de maio de 1935, na Igreja da Arquiconfraria do Santíssimo
Rosário, recebeu sua Primeira Comunhão. Desde então, aproximou-se ainda mais da
Eucaristia, recebendo-a com frequência e, movido por um profundo amor, por uma
intensa paixão, levando uma vida santa.
Assiduamente,
observou as práticas de piedade das Nove Primeiras Sextas-Feiras e dos 15
Sábados em honra de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. Cada primeira sexta
feira do mês, comparecia à igreja às 5h e 30min, ignorando o frio, sempre
sorrindo, entre alguns trabalhadores da fábrica “Fuse”, de cunho militar, que
era naquela localidade uma grande oportunidade de trabalho para os homens.
Muitas vezes, ele foi de bicicleta para Pompéia, para rezar diante da Virgem do
Rosário, da qual era muito devoto, no Santuário fundado pelo Beato Bartolo
Longo.
Hobbies e desejos
Embora fosse um
menino sério, estudioso, religioso e obediente, foi especialmente um garoto que
possuía os gostos e que praticava as habituais e sadias atividades de lazer de
sua idade. Por exemplo: gostava de quadrinhos de histórias de aventura. Leu
“centenas” delas, obviamente após cumprir os deveres com os estudos, trocando
as revistas com outras crianças. Gostava de brincar ao ar livre.
A adoção final
Depois de onze
anos de custódia, no dia 26 de junho de 1940, o juiz de tutela do Tribunal de
Torre Annunziata, concedia oficialmente a filiação de José a sua família
adotiva.
Em plena Guerra Mundial,
com a mudança dos acontecimentos políticos, o que criou um clima de incertezas
e de miséria, seu pai ganhou o apelido de “fascista”. Além disso, sobreveio à
família uma grande tribulação: sua mãe, Maria Capria, teve que ser
hospitalizada em Nápoles para se submeter a uma cirurgia muito delicada,
especialmente para aqueles tempos. José estava muito chocado e angustiado, pelo
carinho filial que verdadeiramente sentia por ela.
Oferta da vida
No dia 03 de
fevereiro de 1941, no dia da cirurgia na clínica, enquanto vinha caminhando com
um grupo de amigos, encontrou no chão uma imagem de Nossa Senhora de Pompéia.
Ele devotamente a pegou e a beijou, exclamando: “minha Senhora, se minha mãe
deve morrer, peço que me mate no lugar dela”.
Minutos mais
tarde, tornou-se pálido e caiu inconsciente no chão. Amigos e um policial o
socorreram. Ele foi transportado para o hospital mais próximo onde foi recebido
às 15h e 30min, sendo colocado na sala de emergência em estado de
inconsciência, com pulso e respiração muito rápidos.
A mãe,
sentindo-se já bem melhor, sem ter sido submetida à cirurgia, veio às pressas
ao hospital napolitano. Ela fez companhia a ele durante toda a noite, rezando o
rosário, enquanto dispunha-se a aceitar a vontade de Deus para com ele, seu filho
tão amado.
Peppino não
recuperou mais a consciência. Faleceu às quatro da manhã do dia 04 de fevereiro
de 1941, com quase 13 anos de idade. Seu sacrifício, oferecido pela mãe que
tanto amou, foi aceito pelo Senhor: a mulher foi curada instantaneamente e
continuou a viver com boa saúde até 1983, quando morreu aos 88 anos. O marido,
no entanto, faleceu em 1975.
A fama de santidade e o processo de beatificação
A boa fama que
José já gozava em vida junto aos colegas, aos pais, ao diretor espiritual e aos
professores foi aumentando cada vez mais ao longo dos anos ao ponto de se
transformar em fama de santidade. O processo diocesano para investigação da
heroicidade de suas virtudes teve início em 06 de abril de 1962, vindo a ser
concluído em 04 de março de 1975.
Seus restos
mortais, originalmente enterrados no cemitério da cidade, foram transferidos em
25 de outubro de 1964 para uma capela lateral do Santuário da paróquia do
Espírito Santo, comumente chamado de “Carmine”. No dia do translado,
participaram do evento um grande número de autoridades civis e eclesiásticas,
bem como muitos fiéis, tanto de Torre Annunciata quanto de Castelpagano.
Fonte: site
santiebeati.it
(*) Comentário do autor do Blog Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus.