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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

SÃO SILVESTRE I, Papa (o papa da "transição" do império romano do paganismo para o catolicismo)




No dia 31 de dezembro se comemora o dia de São Silvestre, motivo pelo qual em muitos países nesse dia acontece a “maratona de São Silvestre”. Quem foi São Silvestre e por qual motivo, muitos eventos, como maratonas e jantares são realizados em sua homenagem?

São Silvestre nasceu em data e local incertos morrendo em Roma no ano de 335 d.C. Quando o imperador Constatino decretou a liberdade de culto ao cristãos oficializando a religião cristã em todo o Império Romano, o cardeal Silvestre foi nomeado o primeiro papa do império de Constatino. O Martirológio Romano diz que foi o Papa Silvestre quem batizou Constantino, porém, a história dá outra versão, como se verá mais à frente...

O longo pontificado de são Silvestre (de 314 a 335) correu paralelo ao governo do imperador Constantino, numa época muito importante para a Igreja apenas saída da clandestinidade e das perseguições. Foi nesse período que se formou uma organização eclesiástica que duraria por vários séculos.

Nesta época teve lugar de destaque o imperador Constantino. Este, de fato, herdeiro da grande tradição imperial romana, considerava-se o legítimo representante da divindade (nunca renunciou ao título pagão de “Pontífice Máximo”), e, portanto, também, do Deus dos cristãos e, por isso, sentia-se “encarregado” de controlar a Igreja como qualquer outra organização religiosa.

Foi ele por isso, e não o papa Silvestre, que convocou no ano 314 d.C. um sínodo para sanar um cisma irrompido na África, e foi ele ainda que, em 325, convocou o primeiro concílio Ecumênico da história, em Niceia, na Bitínia, residência de verão do imperador. Silvestre, não podendo intervir por causa da sua idade avançada, enviou como seus representantes ao importante acontecimento o bispo Ósio de Córdoba e dois sacerdotes.

Assim fazendo, Constantino introduzia um método de intromissão do poder civil nas questões eclesiásticas que não será sem nefastas consequências. Mas, no momento, as consequências foram positivas, também pela boa harmonia que reinava entre o papa Silvestre e o imperador Constantino. Este, de fato, não poupou o seu apoio também financeiro para a vasta obra de construção de edifícios eclesiásticos, que caracterizou o pontificado de são Silvestre.

Em particular, foi precisamente Constantino que na qualidade de Pontífice Máximo pôde autorizar a construção de uma grande basílica em honra de são Pedro, na colina do Vaticano, após ter destruído ou parcialmente recoberto de terra um cemitério pagão, descoberto pelas escavações, feitas a pedido de Pio XII em 1939. Foi ainda a harmonia e colaboração entre o Papa Silvestre e Constantino que permitiram a construção de duas outras importantes basílicas romanas, uma em honra de São Paulo na via Ostiense e sobretudo a outra em honra de São João (São João do Latrão).

Constantino, aliás, quis até demonstrar a sua simpatia para com o Papa Silvestre dando-lhe o seu próprio Palácio Lateranense que foi desde então e por diversos séculos a morada dos papas. Não lhe deu, todavia, como afirma o Martirológio Romano, a satisfação de administrar-lhe o batismo (que Constantino recebeu só na hora da morte). São Silvestre morreu em 335.

São Silvestre não foi um papa ativo e independente, visto que o imperador Constantino detinha todo o poder de decisão e de comando, mas foi um personagem muito importante na história do Cristianismo, sendo que sob o seu pontificado, a Roma pagã se tornou cristã, mesmo conservando alguns ritos e cerimônias. Papa Silvestre morreu justamente no dia 31 de dezembro, foi o primeiro papa a ser beatificado sem ter sido martirizado e muitos eventos importantes em Roma e no cristianismo são ligados ao seu nome.


 
Lenda da "derrota do dragão" pelo Papa São Silvestre I

A lenda da derrota do dragão
Reza a lenda que São Silvestre derrotou um dragão, sinônimo do mal, enclausurando-o para sempre. Para derrotá-lo teve que descer 365 degraus para chegar até o dragão. Hoje, esses 365 degraus representam os 365 dias do ano, terminando com o dia da morte de São Silvestre.
Fazendo uma analogia com tal lenda, podemos dizer que assim como São Silvestre teve que descer 365 degraus para enfrentar o seu maior desafio, amedrontado, incerto de qual seria seu destino, sem saber se sairia vitorioso, a única certeza que levava consigo era a sua fé em Deus.
Assim é a nossa vida: descemos todos esses degraus nominados “dias” até chegarmos sobreviventes, vitoriosos ao último dia do ano, dia de São Silvestre, por esse motivo considerado o condutor que guia e transporta as almas e pessoas em direção ao Novo Ano.
Merecidamente no último dia do ano, o jantar, uma festa, uma maratona, entre outros eventos importantes são dedicados ao seu nome, aonde festejamos a vitória de termos chegado até o final e termos a possibilidade de recomeçarmos um novo ano!



Fontes:
O livro “Um santo para cada dia”, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
Site: https://tournatoscana.com/florenca/quem-foi-sao-silvestre/

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Venerável Serva de Deus Madre Verônica da Paixão, virgem carmelita descalça e fundadora.





A Venerável Madre Verônica da Paixão nasceu em Constantinopla (hoje, Istambul) em 01 de outubro de 1823. Seu pai era capelão anglicano da embaixada britânica.

Durante sua adolescência, uma mudança profunda ocorreu nela. Passava longas horas em oração e se sentia atraída por Deus, sem entender para onde estava sendo chamada ou o que ela mesma queria.

Sentia-se atraída pela Igreja Católica, especialmente a partir da vida sacramental: a Eucaristia e a Confissão. A mãe e outros membros de sua família, profundamente enraizados na tradição anglicana, ficaram incomodados com essa novidade. Mas, Sophie (era esse seu nome de batismo) sabia que Deus a estava levando por caminhos desconhecidos. Ela rompe o noivado que havia aceitado com um jovem oficial da marinha e se converte ao catolicismo em 02 de fevereiro de 1850, na ilha de Malta.

Pouco tempo depois, foi para a França (1851) e entrou para a Congregação das Irmãs de São José da Aparição. Em 14 de setembro de 1851, recebeu o nome religioso de Irmã Maria Verônica da Paixão. Em sua congregação, será mestra das noviças por alguns anos.

Em 1862, foi enviada à Índia. O bispo de Kanara do Sul, Dom Michael Antony, ocd, tinha apelado para a França para que fossem enviadas jovens irmãs para se dedicarem à educação de meninas e adolescentes e, como primeiro passo, tinha comprado uma casa em Calicute, em 1860, e já havia feito mudanças necessárias, adaptando-a para que tornasse um convento. A pedido da população local, a escola foi inaugurada em 01 de abril de 1862, com o nome de “Escola São José”.

Madre Verônica e Irmã Maria Josefina, após uma longa e fatigante viagem, e uma breve parada em Mangalore, chegou a Calicute em 27 de abril de 1862, assumindo o comando do convento de São José e da escola, tornando-se Madre Verônica a superiora. Passou dois anos entre Mangalore e Kozhikode.

No entanto, o bispo de Mangalore, Dom Lucien Garrelon – um carmelita francês – queria ter irmãs carmelitas para a educação das meninas em sua diocese. Sempre atraída pela vida contemplativa, madre Verônica aceitou o desafio. Para se preparar para esta difícil, partiu para a França e entrou no noviciado carmelita de clausura em Pau no dia 02 de julho de 1867. Após um ano, no dia 16 de julho de 1868, foi aberta uma casa em Bayonne (França) com o objetivo de preparar um grupo de jovens freiras para serem da Ordem Terceira Carmelita Regular, também conhecido como “Carmelo para missões”. Foi nessa época que a expressão “Carmelo Apostólico” começou a ser usada em sua correspondência. Através das irmãs que ela formou em Bayonne, fundou o Carmelo Apostólico em Mangalore (Karnataka) em 1868.

Devido às profundas diferenças de pontos de vista com o bispo de Mangalore, em parte causadas pela presença de jovem mística árabe: Mariam Baouardy (futura Santa Maria de Jesus Crucificado), entre as irmãs carmelitas descalças, várias irmãs tiveram de voltar para a França.

Desapontado com a decisão tomada pelo bispo de Mangalore, o bispo de Bayonne negou outra permissão para as freiras saírem para a Índia. Consequentemente, a casa carmelita de formação de Bayonne foi fechada (11 de Outubro, 1873) e Madre Verônica voltou para o Carmelo de Pau, onde fez o noviciado novamente. Ela tinha 51 anos quando pronunciou a profissão solene como carmelita de clausura, no dia 21 de novembro de 1874.

Quando o Carmelo de Pau recebeu um pedido para abrir uma casa na Terra Santa, a madre superiora confiada à Madre Verônica ser responsável por um grupo de 10 carmelitas (incluindo a Irmã Maria de Jesus Crucificado) para dar vida ao Carmelo de Belém, no dia 20 de agosto, 1875. O Carmelo de Belém adotou a versão mais estrita da Regra Carmelita. Espiritualmente, Madre Verônica atravessou momentos muito sombrios: tinha escrúpulos e se sentia em completo abandono por parte de Deus. Em 1887, aos 67 anos, ela pediu e obteve permissão para voltar a Pau.

Madre Verônica viveu mais 19 anos no Carmelo de Pau. Ela manteve contato com as irmãs do Carmelo Apostólico de Mangalore, encorajou-as nas suas dificuldades, e escreveu a história dos primórdios do Carmelo Apostólico. Ela também preparou uma breve biografia da jovem freira carmelita árabe (1903) a quem ela havia guiado e se encontrado muitas vezes.

Algumas consolações chegaram aos últimos anos de sua vida. Sua família voltou à fé católica – embora tenha sido fortemente anglicana – e a visitou em Pau, incluindo um jovem primo, que havia se tornado pastor anglicano.

Ela morreu no Carmelo de Pau, no dia 16 de novembro de 1906, com a idade de 83 anos, muito amada e respeitada pelas irmãs do Carmelo: tanto as de clausura, quanto as de vida apostólica.

O decreto sobre virtudes heroicas foi promulgado em 08 de julho de 2014 pelo Papa Francisco.


Fonte (texto em espanhol):
https://www.postocd.org/pt/biografia-veronica-della-passione

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Beato Leopoldo de Alpandeire, religioso capuchinho.



O Beato Leopoldo é um dos modelos da santidade capuchinha marcada por santos simples e do povo, vivendo com dedicação e devoção as tarefas ordinárias. Na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos encontram-se vários frades leigos, porteiros, cozinheiros, esmoleres. O personagem que procuramos conhecer não alcançou a santidade, que agora vem reconhecida pela Igreja, como missionário em outro país, nem fazendo pregações nos púlpitos, muito menos porque era douto. Mas, porque foi um testemunho no seu relacionamento com as pessoas e principalmente as mais necessitadas. O Beato se insere na escola capuchinha da simplicidade. Aqueles que aparentemente não são importantes é que Deus se serve para realizar a sua obra.
O Beato Leopoldo faz parte dessa grande fileira de frades mendicantes que encarnaram na minoridade a pergunta de quem procura, a pergunta pelo Bom Deus que busca o homem porque lhe quer bem. O humilde mendicante chegou à glória dos altares, alegramo-nos e ao mesmo tempo peçamos-lhe que acompanhe quem busca a Deus, que saibamos estar abertos à voz do Espírito para viver entre o povo na simplicidade, sem nada mais do que o júbilo e a alegria de saber-nos amados por Ele.



No centro da Serra de Ronda encontra-se Alpandeire, vilarejo minúsculo, escondido, como um ninho no coração da montanha, uma beleza natural. É a terra natal de nosso santo esmoler capuchinho, místico da humildade e do ocultamento, dom de Deus à humanidade que procura o seu destino.

Seus pais, Diego Márquez Ayala e Jerónima Sánchez Jiménez, eram agricultores, simples e laboriosos e, como a maior parte do povo, trabalhavam duro para tornar fértil aquela terra rochosa da qual deviam tirar o sustento para a família. Em 24 de Junho 1864 nasceu o primeiro filho, que no dia 29 de Junho na pia baptismal recebia o nome de Francisco Tomás de São João Batista, o nosso Frei Leopoldo. Diego e Jerónima tiveram a alegria do nascimento de outros três filhos, Diego, Juan Miguel e Maria Teresa.

No calor do amor familiar, alimentado pela prática das virtudes cristãs, cresceu a boa semente cristã de Francisco Tomás. De seu pai aprendeu as boas maneiras, os princípios cristãos e a prática do bem. Dos lábios da mãe, aprendeu a oração. Alegre, ajuizado, de boa companhia, trabalhador incansável, Francisco Tomás começava sua jornada assistindo à santa missa e visitando o Santíssimo Sacramento. Seu hábito de partilhar o pouco que tinha e a sua bondade natural, jamais forçada, eram expressão de uma profunda vida espiritual e de uma forte experiência de fé. Era "todo coração" no socorro dos pobres, nos dizem as testemunhas que o conheceram. Conta-se que dava suas ferramentas de agricultor a quem precisasse, ou doava o dinheiro ganho com a vindima aos pobres que encontrava no seu caminho voltando para casa.

Ele viveu assim, no trabalho dos campos e na vida familiar, os seus primeiros 35 anos de vida "escondida". Enquanto Deus o modelava lentamente esperando a ocasião de chamá-lo para seu serviço. Em 1894, escutando a pregação dos capuchinhos por ocasião da festa que se estava preparando em Ronda, para celebrar a beatificação do capuchinho Diogo José de Cádiz, o jovem Francisco Tomás, decide abraçar a vida religiosa fazendo-se capuchinho. "Peço para ser capuchinho como eles". Atraído por "sua vida retirada".

Só em 1899 ele foi acolhido entre os capuchinhos no convento de Sevilha. Um mês depois foi admitido ao noviciado com o parecer mais do que favorável, dos membros da comunidade que louvavam nele: o silêncio, o empenho, a oração e a bondade. Pela mão de frei Diego de Valencina, Superior e Mestre dos noviços, em 16 de Novembro do mesmo ano recebeu o hábito capuchinho e o nome de Frei Leopoldo de Alpandeire.

A decisão de fazer-se capuchinho não exigiu dele uma mudança radical de vida, pois já vivia uma profunda e intensa vida evangélica. Frei Leopoldo trabalhando no campo e na horta do convento transformava o seu humilde trabalho em oração constante e em generoso serviço. A mudança de nome, comentará anos mais tarde, o abalou "como uma ducha de água fria", inclusive porque aquele nome não era usual entre os membros da Ordem. A sua entrada no convento não era consequência da pobreza, nem refúgio para um coração angustiado, mas a manifestação do que já vivia e sentia vivo. O exemplo do beato Diogo José de Cádiz o tinha induzido a servir a Deus com todo o seu ser, até à imolação.

Sabendo que ele era agricultor, em Sevilha encarregaram-no de ajudar o irmão hortelão. Na horta além de verduras frei Leopoldo cultivava também seus dons espirituais. Quem o conheceu afirma que a sua santa alegria correspondia à sua profunda interioridade que os seus olhos e o seu rosto não podiam esconder. Qualquer gesto dele, mesmo o mais corriqueiro e repetitivo, nascia de uma profunda comunhão com Deus. O noviço frei Leopoldo experimentou a alegria de ter respondido ao chamado de Deus. Uma coisa era certa: ele tinha 36 anos de idade, porém sua juventude de espírito não era um facto somente interior, irrompia visivelmente em sensível alegria. A experiência do noviciado pôs as bases de seu caminho espiritual, pois o seu amor a Deus ia crescendo mediante o conhecimento da tradição e da espiritualidade da Ordem capuchinha.

Terminado o noviciado emitiu a primeira profissão, passando breves períodos nos conventos de Sevilha, Granada e Antequera. A enxada acompanhava-o constantemente, como uma fiel companheira, enquanto cultivava a horta dos frades. Ele transformava em oração, o trabalho manual e o serviço feito para os irmãos. Foi um "contemplativo entre a água dos canais de irrigação, as hortaliças, os frutos e as flores para o altar".

Frei Leopoldo foi destinado ao convento de Granada, pela primeira vez em 1903, sempre no ofício de hortelão. Seus últimos anos foram vividos em absoluto retiro entre os velhos muros conventuais e a horta. Foram anos de profunda experiência espiritual e de silêncio. Na horta cresceu o seu diálogo com Deus e nesse diálogo, as suas virtudes. Da horta passava à capela do Santíssimo onde por longas noites permanecia em profunda adoração. No velho convento de Granada, no dia 23 de Novembro de 1903, frei Leopoldo emitiu os votos perpétuos diante de frei Francisco de Mendieta, superior da fraternidade. Era a sua consagração definitiva a Deus pela qual tinha vivido e para a qual viverá o resto de sua vida.

Após breves estadias em Sevilha e em Anteguera, em 21 de Fevereiro de 1914, ele voltou a Granada onde permaneceu até o fim de seus dias. A cidade aos pés da Serra Nevada, será o cenário de meio século de sua vida. Hortelão, sacristão e pedinte, sempre unido a Deus e ao mesmo tempo sempre próximo ao povo. O ofício de esmoler o definiu e o caracterizou. Ele tinha-se tornado religioso para viver longe do "barulho do mundo", foi lançado pela obediência a combater a batalha decisiva de sua vida entre as ruas da cidade e o vozerio do povo. A partir de então, com passo decidido, as montanhas, os vales, as estradas poeirentas, as ruas, serão o seu claustro e a sua igreja. Frei Leopoldo, como outros santos capuchinhos, com forte inclinação à vida contemplativa, viveu constantemente em contato com o povo e isso em vez de distraí-lo, o ajudou a sair de si mesmo, a assumir o peso dos outros, compreender, ajudar, servir e amar. Era, como disse um fervoroso devoto seu: "separado, mas não distante".

A sua figura foi tão popular na cidade que todos o reconheciam. Sobretudo as crianças que ao vê-lo gritavam: “Olha, lá vem frei Nipordo”, e corriam ao seu encontro. Ele parava explicando a elas, alguma página do catecismo e com os adultos para escutar seus problemas e suas preocupações. Frei Leopoldo tinha descoberto o modo de manifestar a todos a bondade divina: recitar três ave-marias. Era a sua fórmula de ligar o humano ao divino.

Por meio século, dia após dia, frei Leopoldo percorreu Granada distribuindo a esmola do amor, dando cor aos dias tristes de muitos, criando unidade e harmonia, levando todos a encontrar Deus, dando dignidade às ações de todos os dias. Todas as suas ações e seus gestos para aproximar-se das pessoas, eram sempre novos.

Nem tudo porém foi fácil, nem sem dificuldade. Frei Leopoldo exerceu seu ofício de esmoler numa época em que na Espanha sopravam ventos anticlericais e quem era religioso era mal visto se não perseguido. Era o tempo das "Duas Espanhas", da Segunda República antes da guerra civil e depois. Sete mil religiosos e sacerdotes foram mortos só por serem da Igreja Católica. Na sua faina diária de esmoler frei Leopoldo sofreu muito e não poucas vezes foi insultado: “Preguiçoso, ainda te vamos enforcar com este teu cordão!”. “Vagabundo, vai trabalhar em vez de andar pedindo esmola!”. “Prepara-te que vamos cortar teu pescoço!”. “Experimentou este clima hostil e parafraseando o Evangelho, dizia: “Pobrezinhos, só posso ter compaixão deles pois não sabem o que dizem”!”.

Será que existia, pergunto-me, algum segredo na vida de nosso irmão pedinte? Sim, o segredo de sua vida era a sua oração, a sua união com Deus e o seu trabalho. Ele transformava tudo em oração e a sua oração era o seu trabalho mais precioso. A sua vida não foi uma vida de grandes gestos ou de eventos notáveis, a não ser o que normalmente de pede a quem abraça a vida religiosa.

A santidade de frei Leopoldo tinha como suporte a humanidade do velho Francisco Tomás. Ele manteve a identidade do camponês de Alpandeire que já incluía o seu caminho de santidade.

Frei Pascoal Riwalski, Ministro Geral da Ordem, falando dele disse: “Encontrando Frei Leopoldo, ficamos subitamente fascinados pelo seu modo de ser simples, natural, sem artifícios, sincero e ricto, evangelicamente pobre. Um pobre que tem fé, cândido, simples e discreto, que sempre soube pôr-se em segundo plano, servindo no anonimato e na humildade. Um homem com um coração de menino, nobre e franco, cortês e sóbrio, de camponês honesto... Um homem extremamente reservado e modesto, quanto a tudo aquilo que de bom o Senhor operava por meio dele, que se perturbava diante dos louvores dos homens, que se alegrava com as humilhações e que mantinha uma consciência viva de seus limites e de seus pecados. Frequentemente repetia. “Sou um grande pecador”!” A verdadeira centelha evangélica é fruto da estima que temos por nossos semelhantes e pelas criaturas na perspectiva de Deus. Frei Leopoldo conhecia bem o famoso dito de São Francisco: “porque, quanto é o homem diante de Deus, tanto é e não mais”» (Admoestações, XIX).

Não era fácil ver os seus olhos. Frei Leopoldo, tomou como modelo São Félix de Cantalício, em ter os olhos voltados para a terra e o coração para o céu. Tinha olhos de criança, puros e penetrantes, serenos e límpidos. Transmitia serenidade, pureza e doçura de coração, fruto da paz interior que o invadia.
Ele tinha uma influência particular sobre todos aqueles que encontrava por causa de sua humildade e disponibilidade. A sua figura não era daquelas que impressionam e chamam a atenção. Mais do que “andar entre o povo, frei Leopoldo, passava entre o povo”, mais do que olhar, ele via no coração das pessoas que o cercavam.

Considerando a sua vida podemos dizer que ele aderiu ao Evangelho de Cristo sine glossa seguindo o exemplo de São Francisco. O extraordinário encontra-se na sua limpidez, clareza e silêncio. Num clima de incerteza e falta de referências, a figura do Servo de Deus frei Leopoldo apresenta-se como a de quem escutou com atenção a voz de Deus e se deixou transformar na imagem do Filho Unigênito.

Certo dia, aos 89 anos de idade, enquanto recolhia, como de costume, a esmola da caridade, ele caiu e fraturou o fémur. Foi levado ao hospital, mas por sorte ficou curado sem operação cirúrgica. Recebendo alta, ele retornou a pé ao convento, com a ajuda apenas de seu bastão, mas, não teve mais condição andar pelas estradas. Pôde assim dedicar-se totalmente a Deus, o grande amor de sua vida. Absorto em Deus, ele passou os últimos três anos de sua vida consumindo-se pouco a pouco, “qual chama de amor”.


A “irmã morte” veio ao seu encontro...
A chamazinha se extinguiu em 09 de Fevereiro de 1956, quando ele tinha 92 anos de idade. O humilde esmoler das Três Ave-Marias, uniu-se definitivamente ao Senhor. A notícia de sua morte correu por toda a cidade de Granada, comovendo-a. Seu corpo repousa na cripta do convento de Granada, um lugar de peregrinação constante, especialmente em 9 de cada mês.

Um rio de gente de todas as idades e condições se dirigiu ao convento dos capuchinhos. A fama de santidade que já o acompanhava em vida, cresceu após a sua morte. Todo dia, mas sobretudo no dia 9 de cada mês, uma insólita afluência de pessoas, de todo o mundo, visita a sua tumba. Muitas são as graças que Deus concede por intercessão de seu servo fiel.

O processo de beatificação começou em 1961 e terminou em 1976. Em 1982 foi-lhe dada autorização da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, para a introdução do processo.

Nos anos 1983 a 1984 foi assinado o processo apostólico sobre as virtudes heroicas.  A positio super virtutibus foi entregue 09 de março de 1994.

Bento XVI no dia 15 de marco de 2008 declarou a heroicidade de suas virtudes e no dia 12 de Setembro de 2010 foi declarado Beato. Na beatificação, à qual assistiram espanhóis de várias dioceses vizinhas de Granada, estava presente Ileana Martínez, 50 anos, de Porto Rico, a mulher que foi curada de maneira cientificamente inexplicável de Lúpus, patologia degenerativa que não tem cura. Este milagre, atribuído à intercessão do novo beato, foi decisivo para sua elevação aos altares no processo canônico.

Painel de sua beatificação
A cerimônia foi presidida por Dom Ângelo Amato, Cardeal Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que na homilia realçou os aspectos principais da personalidade do Beato:

“Caridade, humildade e devoção mariana são os traços distintivos da sua santidade. Todas as testemunhas afirmam que Leopoldo tinha um coração de ouro. Desde a infância demonstrou-se generoso e caridoso. Costumava partilhar a merenda com os outros pastorinhos mais pobres. Um dia estava a distribuir aos mendigos todo o dinheiro recebido com fadiga nos difíceis meses da vindima em Jerez. Ao ver isso, o irmão mais velho repreendeu-o e tirou-lhe o dinheiro das mãos. Então, o jovem Francisco Tomás doou as suas botas a um pobre descalço”.
A vida do beato foi inteiramente dedicada ao serviço de Deus e do próximo com a oração e o trabalho. Depois da entrada no convento, desempenhou vários encargos: hortelão, porteiro, sacristão, medicante e, quando era necessário, enfermeiro para servir os doentes e os idosos. “Mas o seu apostolado — evidenciou o arcebispo — foi, sobretudo, a coleta para o seu convento. Como frade mendicante, colocava o alforje às costas, como Jesus a Cruz, e caminhava a pedir esmolas. Fazia-se pobre para o sustento dos irmãos”.
Ao receber as esmolas, oferecia a caridade da sua bondade, a sua serenidade e os seus conselhos. Contudo, com frequência recebia também insultos, pedradas e uma vez até correu o risco de ser linchado. D. Amato recordou alguns episódios da vida de frei Leopoldo. “Certo dia, um grupo de agricultores gritou-lhe: ‘Vagabundo, trabalha em vez de andar por aí. Poderias ajudar-nos’. Frei Leopoldo aproximou-se e começou a trabalhar com eles, superando-os com a sua habilidade camponesa. Revelou que fora trabalhador como eles e que no convento cultivava a horta: “Irmãos, sou como vós”. Isto lhe permitiu obter respeito, consentindo-lhe fazer assim um pouco de catequese”. Uma vez, entrou numa loja da Plaza de Bib-Rambla. Naquele, dia o proprietário tinha vendido pouco e não só não lhe deu esmolas mas chegou a insultá-lo fortemente. O beato ouviu tudo com paciência e afastou-se. No dia seguinte voltou e disse: “Irmão, oremos à Virgem com três Ave-Marias”. Comovido, o homem recitou as orações e durante algum tempo frei Leopoldo visitou-o para recitar com ele as três Ave-Marias.
Depois, iniciou o período da perseguição religiosa, nos anos da guerra civil. Nessa época, os capuchinhos perderam uma centena de irmãos de hábito e Frei Leopoldo sabia que arriscava a vida todas as vezes que saía pelas ruas de Granada para pedir esmola, mas, era poupado porque os pobres o defendiam, reconhecendo: “É mais pobre do que nós”. Até os anticlericais mais inflamados admiravam a sua mansidão, exclamando: “Se todos fossem como ele!”. Era caridoso inclusive nos julgamentos, desculpando e justificando todos. Dizia a verdade, mas com caridade. Um dia perguntaram-lhe se julgava santo um seu irmão de hábito, que não era nada exemplar. Frei Leopoldo respondeu: “sim, a seu modo”.
A sua caridade foi incansável e sempre acompanhada de uma grande humildade. Um dia — narrou o prelado — o Beato entrou no Café Suíço e aproximou-se de uma mesa. Recebeu só insultos e pancadas. Caiu no chão. Levantou-se e disse com humildade: “Agredistes-me e deitastes-me ao chão; agora, por favor, oferecei uma esmola por amor de Deus”. Toda Granada pedia orações e conforto a Frei Leopoldo. As pessoas piedosas diziam-lhe com frequência: “Frei Leopoldo, reza por mim, porque tu és santo”. Imediatamente ele respondia: “santo não, não sou santo. Santo é o hábito”.

As pessoas não se aproximavam dele só pela sua caridade, pela fama de milagres, pelos seus conselhos, mas procuravam-no sobretudo pela sua humildade, viam-no como um verdadeiro amigo de Deus e do próximo. Na comunidade — recordou o prefeito — procurava retirar-se sempre no canto mais escondido. Quando celebrou o cinquentenário de profissão, a 16 de Novembro de 1956, um jornal de Granada escreveu artigos cheios de apreço e louvor. Frei Leopoldo sofreu muito por isso: “que problema, fazemo-nos religiosos para servir o Senhor no escondimento e vejo que nos colocam até nos jornais”. Não gostava de ser fotografado. Só aceitava quando lhe ordenava o superior”.
A humildade permitia-lhe também corrigir o próximo, sobretudo os blasfemadores. Um dia, um operário — disse o arcebispo — ao vê-lo, começou a blasfemar. Frei Leopoldo aproximou-se dele e disse: “Se quiseres ofender o frade, fá-lo, mas não ofendas o Senhor”. O homem ouviu-o com muito respeito e envergonhou-se do que tinha feito. Noutra vez, um leiteiro blasfemava perto do convento da Encarnação porque tinha derramado o leite contido num recipiente. Frei Leopoldo aproximou-se do pobrezinho e disse-lhe que o nome de Deus devia ser invocado só para ser louvado. O leiteiro desculpou-se dizendo que tinha perdido o lucro de um dia. O Beato ofereceu-lhe o dinheiro que tinha obtido através da caridade, recomendando-lhe que louvasse sempre o nome do Senhor.


Fontes: