Primeiro texto biográfico:
"Pelo
abandono total, se faz morrer a si mesma em Deus, não deseja conhecê-lo, nem
entendê-lo, nem experimentá-lo. Nada quer, nada sabe e nada deseja poder"
- essa é a via do "amor morto" pregada pela santa.
“Ó Amor, que não sois conhecido nem amado, como
estais ofendido!”...
Estas misteriosas e sublimes palavras ecoavam pelos muros do mosteiro carmelita
de São Fridiano, em Florença, naquela tarde de inverno de 1584. Uma noviça de
18 anos as havia pronunciado com lábios trêmulos, o rosto inflamado e banhado
em lágrimas.
Surpresas, as
irmãs não sabiam o que pensar: conheciam a piedade da sua jovem companheira,
mas nunca a tinham visto nesse estado de exaltação, prestes a desmaiar.
Tomaram-na nos braços, julgando-a acometida de súbita doença, e procuraram
acalmá-la; mas, durante duas horas, ela parecia nada ver, nem ouvir, dominada
tão somente por esta ideia: Deus é Amor, e não é amado! Tratava-se de Santa
Maria Madalena de Pazzi.
"Flor de contradição"
Deus, Senhor da
História, atende sempre às necessidades de cada era suscitando almas santas que
– pelo exemplo pessoal, pela sua pregação e escritos, ou ainda pela abertura de
uma nova via de perfeição – arrostam os erros de seu tempo, chamando as pessoas
extraviadas para a conversão.
No século XVI a península italiana se caracterizava por uma visualização antropológica do
universo onde o homem – com seus valores e qualidades, mas também com suas
deficiências – tomava o lugar principal. Para se contrapor a esse desvio,
"toda a espiritualidade italiana do século XVI está impregnada pelo tema
do amor total. Caminhos diversos unem-se no anseio comum do amor teocêntrico,
que parece brotar como flor de contradição do tronco do humanismo
renascentista".
Nesse contexto,
nascia na cidade de Florença, berço e âmago da Renascença italiana, em um
suntuoso palácio situado ao sul do histórico duomo, na esquina da Via del
Proconsolo com o Borgo degli Albizi, em 2 de abril de 1566, Catarina de Pazzi, filha única de Camillo
di Geri de' Pazzi e de Maria Lourenço Buondelmonti, ambos de ilustres famílias
da República.
Seus pais
educaram com esmero a menina de rara beleza, e nela depositavam as esperanças
de um futuro brilhante na vida social, na qual poderia sobressair-se graças a
seus dotes naturais e ao parentesco do pai com a prestigiosa casa dos Médici.
Catarina, de
fato, estava destinada a reluzir nos céus da História, mas não precisamente
segundo as ilusões de seus progenitores.
"Sinto o perfume de Jesus!"
Desde a
infância, Catarina deu mostras de ser uma alma eleita. Quando pequena,
encontrava maior prazer no silêncio, na oração e nas práticas de piedade do que
nas brincadeiras próprias à idade, e era para ela a recreação mais agradável
ensinar o Credo, o Pai Nosso e a Ave-Maria às crianças camponesas. Dotada de
grande força de vontade e de um temperamento ardoroso e veemente oriundo de seu
sangue toscano, mostrava-se, no entanto, sempre obediente e afável com seus
pais e superiores.
Antes mesmo de completar
a idade requerida naqueles tempos para receber a Eucaristia, nutria ela
excepcional devoção ao Santíssimo Sacramento. Certa vez, sua mãe, intrigada com
as atitudes da filha, interrogou-a sobre a razão pela qual passava alguns dias
inteiros a seu lado, sem separar-se sequer por um instante. Respondeu com
candura a pequena: "É que nos dias
em que comungais, sinto em vós o perfume de Jesus!".
Considerando o
fervor e a maturidade da menina, seu confessor consentiu em abrir uma exceção,
concedendo-lhe fazer a Primeira Comunhão em 25 de março de 1576, quando contava
apenas 10 anos. A consolação e o gozo de Catarina não conheceram limites. E,
tendo uma vez degustado o Pão dos Anjos, cresceu ainda mais em sua alma a
piedade eucarística, conforme a frase da Escritura: "Os que comem de mim
terão ainda fome" (Eclo 24, 29). Deste modo, obteve autorização de
comungar todos os domingos, para o que ela contava os dias e até mesmo as
horas.2
Adeus ao mundo e obediência à vontade de Deus
Três semanas
após sua Primeira Comunhão, na Quinta-Feira Santa, estando recolhida durante a
ação de graças, Catarina sentiu-se movida pelo amor divino a prometer a Deus
proceder de forma a agradá-Lo em tudo. Fez, então, o voto de virgindade
perpétua, voltando definitivamente as costas ao risonho porvir oferecido pelo
mundo, decidida a viver só para Deus e em Deus, para sempre.
Não pensavam
seus progenitores do mesmo modo e, apenas completou os 16 anos, manifestaram o
desejo de vê-la contrair matrimônio. Assim, para não pôr em risco a consagração
feita a Deus, a jovem optou por declarar abertamente ao pai que preferia ter a
cabeça cortada, a renunciar a seu voto e ao estado religioso pelo qual
almejava. Estupefato diante de tanta determinação, Camilo de Pazzi cedeu, sem
opor mais objeções.
Sua esposa,
entretanto, não se rendeu com a mesma facilidade. Apegada à filha por uma
afeição puramente natural, Maria Buondelmonti empregou todos os meios ao seu
alcance para desviá-la da vocação religiosa. Julgava, talvez, ser mera fantasia
de adolescente que não tardaria a esvanecer-se à vista de um futuro atraente.
Mas Catarina longe de abandonar seu propósito, fê-lo crescer em seu coração,
acrisolado pela espera e pela prova. Ao cabo de alguns meses, a Senhora de
Pazzi teve de se declarar derrotada.
Oceano de consolações
Vencida a
batalha e obtida a permissão para abraçar a vida religiosa, Catarina escolheu o
convento das carmelitas de Santa Maria dos Anjos, no bairro de São Fridiano,
pela simples razão de terem essas religiosas a prática da Comunhão diária. Após
ter passado nele quinze dias a título experiência, foi aceita de forma
definitiva em 1º de dezembro de 1582, recebendo, dois meses depois, o hábito de
noviça e o nome de Maria Madalena, por sua especial devoção a essa santa.
Uma nova
dimensão de vida iniciava-se para a jovem religiosa: de um lado, o Senhor ia
lhe conceder o tesouro de suas consolações, para torná-la um apóstolo de seu amor
entre os homens; de outro – e como consequência desse mesmo amor –,
pedir-lhe-ia uma participação nos sofrimentos da sua Paixão, oferecendo-os em
reparação pelos males de sua época e pela salvação dos pecadores.
Os dois
primeiros anos passados em São Fridiano foram para ela de uma contínua
consolação. Sentia-se arrebatada ao contemplar o amor de Deus pelos homens e
compreender, também, o horror e a malícia do pecado, e a ingratidão dos que o
cometem. Contudo, passado algum tempo, uma misteriosa doença a acometeu,
obrigando-a, durante três meses, a guardar o leito. Nessas condições fez sua
profissão religiosa, em 27 de maio de 1584.
A partir desse
dia, os êxtases passaram a ser contínuos,
sobretudo de manhã, após receber a Comunhão. "A vista de uma flor, de uma planta, o santo nome de Jesus ou
simplesmente a palavra amor pronunciada diante dela era suficiente para
arrebatá-la em Deus".3
"Não sabia se estava viva ou morta, fora do meu
corpo ou dentro",
relatou mais tarde a jovem carmelita, descrevendo esses místicos arroubos. "Mas via Deus só, glorioso em Si mesmo,
amando-Se a Si mesmo, conhecendo-Se intimamente e compreendendo-Se
infinitamente; amando as criaturas com um amor puro e infinito; e na união
única e indivisível, um só Deus subsistente, de amor infinito, de soberana
bondade, incompreensível, imperscrutável".4
Na Quaresma de
1585, os fenômenos extraordinários chegaram a um auge de intensidade. No dia 25
de março, apareceu-lhe Santo Agostinho que gravou em seu peito as palavras "Et Verbum caro factum
est". Na segunda-feira da Semana Santa, recebeu os sagrados
estigmas de Cristo, contudo não de forma visível.
Na Quinta-Feira
Santa, Irmã Maria Madalena entrou num êxtase
que durou vinte e seis horas. Ao
longo de todo o período no qual se comemora a Paixão do Divino Redentor, ela
sentiu em si, fisicamente, as mesmas dores, as mesmas angústias, os mesmos
tormentos de Jesus. Surpresas e maravilhadas, as demais religiosas puderam
contemplá-la percorrendo as diversas dependências do mosteiro, ora acompanhando
o Divino Mestre em sua agonia, ora em seu julgamento, ora ainda na dolorosa
coroação de espinhos. Por fim, viram-na entrar, com uma cruz aos ombros, na
sala do Capítulo onde se estendeu no chão para ser pregada no madeiro, depois se
recostou na parede e, de braços abertos, repetiu as sete últimas palavras do
Crucificado. Alguns dias depois, foi-lhe dado assistir à descida de Cristo aos
infernos, à sua Ressurreição e, finalmente, à sua gloriosa Ascensão.
Seguindo as pegadas do “Homem das dores”
A essas graças
tão insignes haveria de seguir-se uma era de grandes provações e lutas. Antes,
porém, o próprio Jesus Se dignou anunciar-lhe esse doloroso período, de maneira
a dar-lhe oportunidade de pronunciar seu “Fiat” e uni-la cada vez mais ao
Cristo obediente e sofredor. Ela, em sua simplicidade e confiança, limitou-se a
responder: "Senhor, basta-me a vossa graça!".5
De um momento
para outro, sentiu-se mergulhada nas trevas do espírito – verdadeira
"jaula de leões", segundo sua própria expressão –, das quais se
aproveitou o inimigo infernal para atentar contra o castelo de suas virtudes.
A terrível prova
iniciou-se na Solenidade da Santíssima Trindade de 1585. Irmã Maria Madalena
perdeu completamente o gosto pela oração e por qualquer exercício de piedade;
experimentou tentações contra a pureza, contra a fé, contra a humildade e até
contra a temperança no comer; o espírito maligno sugeriu-lhe pensamentos de
blasfêmia e de desespero, a ponto de inspirar-lhe a ideia de abandonar o hábito
religioso e fugir da comunidade.
|
Adicionar legenda |
Em outras
ocasiões, demônios lhe apareciam corporalmente e lançavam-se sobre ela para
espancá-la durante horas. A tantas tribulações, veio juntar-se mais uma
amargura: várias de suas irmãs, não compreendendo suas atitudes, criticavam-na,
acusando-a de faltas imaginárias.
Cinco longos anos se passaram em meio a tais lutas,
entremeadas de curtas intermitências de consolação. Por fim, no dia de
Pentecostes de 1590, entrou ela em êxtase durante o cântico das Matinas e
sentiu-se libertada. O demônio não pudera triunfar sobre essa alma. Apareceram-lhe, então, de uma só vez, os catorze santos de sua especial devoção, congratulando-se com ela
pela vitória alcançada.
A espiritualidade do amor total
Na trajetória
desta santa carmelita, chamam poderosamente a atenção os padecimentos que
acabamos de descrever, bem como seus contínuos êxtases, sua virtuosa atuação
como mestra de noviças e subpriora, e os grandes milagres por ela operados em
vida, como a cura de muitos doentes e a multiplicação de alimentos no mosteiro.
Durante cerca de
vinte anos suas irmãs de hábito do Convento de São Fridiano recolheram
cuidadosamente as palavras brotadas de seus lábios "com tal abundância,
que uma só pessoa não seria suficiente para escrever tudo quanto o Espírito
Santo lhe dizia". 6 Tornou-se necessário, então, escalar seis religiosas
para tal serviço, de maneira a não perder as preciosas revelações pronunciadas
por ela, quando era arrebatada. Tais anotações resultaram em numerosas obras de
profundo conteúdo teológico e místico.
Elevada de tal
maneira aos panoramas sobrenaturais, sua
alma entrevia os mistérios de Deus e dialogava com as Três Divinas Pessoas,
segundo narra um de seus confessores, padre Virgilio Cepari: "Quando
falava o nome do Pai eterno, dava à sua voz um timbre grave e majestoso, e a
seu discurso uma dignidade incomparável. Quando pronunciava o nome do Verbo ou
do Espírito Santo, mesclava não sei que doçuras à gravidade e majestade de sua
palavra. Enfim, quando falava em seu próprio nome, sua voz era mais baixa e
suas palavras mais delicadamente articuladas, e tornava-se patente que, no
sentimento de sua própria humildade, ela queria aniquilar-se diante de
Deus".7
A
espiritualidade de Santa Maria Madalena de Pazzi centrava-se no que ela chama
de "amor
morto". Último degrau na escala da perfeição por ela mesma
descrita, a alma que o possui "não
deseja, não quer, não anseia e não procura coisa alguma. [...] Pelo abandono total, se faz morrer a si
mesma em Deus, não deseja conhecê- lo, nem entendê-lo, nem experimentá-lo. Nada
quer, nada sabe e nada deseja poder. [...] O pesar não é pesar para ela e não busca a glória, mas vive em tudo
como morta".8
Consumação do amor
Este amor
traduzia-se numa sede insaciável de salvar os pecadores e conquistar almas para
o Céu. Do interior de seu convento, Maria Madalena sofria terrivelmente ao
receber notícias do progresso das heresias e da grande influência exercida por
estas na sociedade. Seu ardor pela conversão dos inimigos da Igreja a levava a
desejar permanecer na Terra por longo tempo, a fim de trabalhar e mortificar-se
mais e mais nessa intenção: "Sempre
sofrer, jamais morrer!", exclamava com frequência.
Jesus, porém, e
sua Mãe Santíssima não tardaram em chamar a Si esta filha predileta, para
conceder-lhe, por fim, a posse plena da união de amor, da qual ela já
experimentara aqui na Terra um antegozo. Os últimos cinco anos de sua vida
transcorreram sem consolações místicas, segundo seu próprio pedido, em meio aos
padecimentos inerentes à doença que lhe abreviou os dias: tosse, febres,
hemorragias, dores de cabeça. Padeceu, também, terrivelmente em sua alma,
experimentando a escuridão e aridez espiritual. Até que, no dia de Pentecostes,
a luz do êxtase voltou para a provação final: a da dor física. Seu corpo ficou
coberto de úlceras que provocavam dores terríveis. A tudo suportou sem uma
queixa sequer, entregando-se exclusivamente ao amor à Paixão de Jesus.
Por fim, em 25
de maio de 1607, aos 41 anos entregou sua bela alma a Deus, após ter recebido o
Santo Viático na véspera, e ter feito um solene pedido de perdão de suas faltas
a toda a comunidade. Faleceu no convento de Santa Maria dos Anjos, que hoje
leva o seu nome, em Florença.
Beatificada em
1626 pelo Papa Urbano VIII, foi inserida no catálogo dos Santos em 1669, pelo
Papa Clemente IX. Cinquenta e seis anos
depois de sua morte, em 1663, quando se lhe abriu o túmulo, foi-lhe encontrado
o corpo sem o menor sinal de decomposição, percebendo-se ainda o celeste
perfume. O corpo incorrupto de santa Maria Madalena de Pazzi repousa na igreja
do convento onde faleceu. Sua festa é celebrada no dia de seu trânsito.
Sua luminosa
trajetória e sua mensagem para a posteridade podem ser resumidas nestas
palavras, exaladas de seu amoroso coração: "Sem
Ti não posso viver nem estar alegre. [...] Se me desses toda a felicidade que se pode ter na Terra, com todos os
seus prazeres; se me desses toda a fortaleza de todos os fortes, a sabedoria de
todos os sábios e as graças e virtudes de todas as criaturas, sem Ti eu, o
estimaria como um inferno. E se me desses o próprio inferno com todas as suas
penas e tormentos, mas contigo, eu o consideraria um paraíso".
Notas:
1 YUBERO,
Alberto. Introducción. In: SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI. Éxtasis, amor y
renovación. Revelaciones e Inteligencias. Renovación de la Iglesia. Madrid:
BAC, 1999, p.XX.
2 VETTARD, Th.
Sainte Marie-Madeleine Pazzi. In: Un Saint pour chaque jour du mois. Paris:
Maison de la Bonne Presse, 1932, t.V, p.226.
3 CEPARI,
Virgile. Vie de la Sainte, apud BRANCACCIO, Laurent- Marie. Introduccion. In:
SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI. Oeuvres. Paris: Victor Palmé, 1837, t.I,
p.XIII.
4 SANTA MARIA
MAGDALENA DE PAZZI, Vita, c.II, n.22, apud ROHRBACHER. Vidas dos Santos. São
Paulo: Américas, 1960, v.IX, p.245.
5 VETTARD, op.
cit., p.230.
6 CEPARI, op.
cit., p.XIV.
7 Idem, ibidem.
8 SANTA MARIA
MAGDALENA DE PAZZI, Revelaciones e Inteligencias. In: Éxtasis, amor y renovación,
op. cit., p.158-159.
9 ROYO MARÍN,
OP, Antonio. Los grandes maestros de la vida espiritual. Madrid: BAC, 2002,
p.319.
Segunto texto biográfico:
Santa Maria Madalena
de Pazzi, filha de pais ilustres, modelo perfeito de vida e santidade, nasceu
em Florença no ano de 1566. No batismo foi chamada Catarina, nome que no dia
para a entrada no convento foi mudado para Maria Madalena. É uma das eleitas do Senhor, que desde a mais
tenra infância dera indícios indubitáveis de futura santidade.
Menina ainda, achava
maior prazer nas visitas à Igreja ou na leitura da vida dos Santos. Apenas
tinha sete anos de idade e já começava a fazer obras de mortificação.
Abstinha-se de frutas, tomava só duas refeições por dia, fugia dos
divertimentos, para ter mais tempo para ler os santos livros, principalmente os
que tratavam da sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Assim se explica o
grande amor a Jesus Cristo, que tantas coisas maravilhosas lhe operou na vida.
Não tendo ainda a idade exigida, não lhe era permitido receber a sagrada Comunhão.
O desejo,
entretanto, de receber a Jesus na sagrada Hóstia era-lhe tão grande, que os
olhos se enchiam de lágrimas, quando via outras pessoas aproximarem-se da santa
mesa. Com dez anos fez a primeira comunhão
foi indescritível alegria que recebeu, pela primeira vez, o Pão dos Anjos. Ela mesma afirmou muitas vezes que o dia da
Primeira Comunhão tinha sido o mais belo de sua vida. Logo depois da Primeira
Comunhão, se consagrou a Deus, pelo voto de castidade perpétua.
Quando contava doze
anos, nos seus exercícios de mortificações, chegou a usar um hábito grosseiro,
e dormir no chão, a por uma coroa de espinhos na cabeça e a castigar por muitos
modos o seu delicado corpo, manifestando assim o ardente desejo de tornar-se
cada vez mais semelhante ao Divino Esposo.
Quando diversos jovens se dirigiram aos pais de Maria, para obter-lhe a
mão, ela pode declarar-lhes: "Já
escolhi um Esposo mais nobre, mais rico, ao qual serei fiel até a morte". Vencidas muitas dificuldades, Maria conseguiu
entrada no convento das Carmelitas em Florença.
Após a vestição,
se prostrou aos pés da mestra do noviciado e pediu-lhe que não a poupasse em
coisa alguma, e a ajudasse a adquirir a verdadeira humildade. tendo recebido o
nome de Maria Madalena, tomou a resolução de seguir a grande Penitente no amor
a Jesus Cristo e na prática de heroicas virtudes.
No dia da
Santíssima Trindade fez a profissão religiosa com tanto amor, que durante duas
horas ficou arrebatada em êxtase. Estes arrebatamentos repetiram-se
extraordinariamente, e Deus se dignou de dar à sua serva instruções salutares e
o conhecimento de coisas futuras. O fogo do divino amor às vezes ardia com
tanta veemência que, para aliviá-la, era preciso que lavasse as mãos e o peito
com água fria. Em outras ocasiões, tomava o crucifixo nas mãos e exclamava em
voz alta: "Ó amor! Ó amor! Não
deixarei nunca de vos amar!" Na festa da Invenção da Santa Cruz
percorreu os corredores do convento, gritando com toda a força:” Ó amor! Quão pouco se vos conhece! Ah! Vinde, vinde ó almas e amai a vosso
Deus!" Desejava ter voz de uma força tal, que fosse ouvida até os
confins do mundo. Só uma coisa queria pregar aos homens: "Amai a
Deus!".
Maior sofrimento
não lhe podia ser causado, do que dando a notícia de Deus ter sido ofendido.
Todos os dias oferecia a Deus orações e penitências, pela conversão dos infiéis
e pecadores, e às Irmãs, pedia, que fizessem o mesmo.
Na ânsia de
salvar almas, oferecia-se a Deus para sofrer todas as enfermidades, a morte e ainda
os sofrimentos do inferno, se isto fosse realizável, sem precisar odiar e
amaldiçoar a Deus. Em certa ocasião
disse: "Se Deus, como a São Tomás de Aquino, me perguntasse qual prêmio
desejo como recompensa, eu responderia: 'Nada, a não ser a salvação das almas'“.
Os dias de Carnaval
eram para Maria Madalena dias de penitência, de oração e de lágrimas, para
aplacar a ira de Deus provocada pelos pecadores.
Para o corpo era
de uma dureza implacável; não só o castigava, impondo-lhe o cilício,
obrigando-o a vigílias, mas principalmente o sujeitava a um jejum
rigorosíssimo; durante vinte e dois anos teve por único alimento pão e água.
Não menos
provada foi sua alma; Deus houve por bem mandar-lhe grandes provações. Durante
cinco anos sofreu ininterruptamente os mais rudes ataques de pensamento contra
a fé, sem que por isso se tivesse deixado levar pelo desânimo. Muitas vezes se abraçava coma imagem do
crucifixo, implorando a assistência da graça Divina.
Nos últimos três
anos de vida, sofreu diversas enfermidades. Deus permitiu que nas dores ficasse
privada ainda de consolações espirituais. Impossibilitada de andar era forçada
a guardar o leito. Via-se então um fato extraordinário: quando era dado o sinal
para a Missa ou Comunhão, ela se levantava, ia ao coro e assistia a Missa toda.
De volta para a cela, caía de novo na prostração e imobilidade. Quando lhe aconselharam abster-se da Comunhão,
declarou ser-lhe impossível, sem o conforte deste Sacramento, suportar as
dores. No meio dos sofrimentos, o seu
único desejo era: "Sofrer, não morrer".
Ao confessor, que lhe falou da probabilidade de um fim próximo dos sofrimentos,
ela respondeu: "Não, meu padre, não
desejo ter este consolo, desejo poder sofrer até o fim de minha vida".
Quando os
médicos lhe comunicaram a proximidade da morte, Maria Madalena recebeu os sacramentos
da Extrema Unção e do Viático com uma fé, que comoveu a todos que estavam
presentes. como se fosse grande pecadora, pediu a todas as Irmãs perdão de suas
faltas. O dia 25 de maio de 1607
libertou-lhe a alma do cárcere do corpo. Deus glorificou-a logo, por um grande
milagre. O corpo macerado pelas contínuas
penitências, doenças, jejuns e disciplinas, rejuvenesceu, exalava um perfume
delicioso, que enchia toda a casa.
Cinquenta e seis
anos depois, em 1663, quando se lhe abriu o túmulo, foi-lhe encontrado o corpo
sem o menor sinal de decomposição, percebendo-se ainda o celeste perfume. Beatificada em 1626 pelo Papa Urbano VIII,
foi inserta no catálogo dos Santos em 1669, pelo Papa Clemente IX.
Reflexões:
Maria Madalena
sofreu durante cinco aos, as mais terríveis tentações de desespero, contra a fé
e a pureza; clamando a Deus por socorro, com a graça venceu todas as
dificuldades. Satanás costuma molestar
com tais tentações as pessoas que se dedicam ao serviço do Senhor. Diz São
Gregório: "Se sois perseguidos por tentações, não desanimeis. Pedi a Deus
a graça e Ele não vos deixará cair. Deus é fiel e não permite que sejais
tentados mais do que podem as vossas forças" (I Cor 10,13). Oferece-vos a graça, para que possais vencer
a tentação. Além disto, tendes a vossa vontade, que não pode ser forçada por
ninguém. "Eis a fraqueza do
inimigo" , diz São Bernardo, "que não poderá vencer senão àquele, que
o consentir. O inimigo pode excitar a tentação, mas de nós depende consenti-la
ou rejeitá-la".
(Fontes:
Revista Arautos do Evangelho, site das Paulinas e site Página Oriente)
PENSAMENTOS DE
SANTA MARIA MADALENA DE PAZZI
“Verdadeiramente
és admirável, ó Verbo de Deus, no Espírito Santo, fazendo com que ele se
infunda de tal modo na alma, que ela se una a Deus, conheça a Deus, e em nada
se alegre fora de Deus”.
“Ó almas criadas
de amor e por amor, porque não amais o Amor?”.
“Ó Amor não
amado, nem conhecido. Ó Amor, faz com que todas as criaturas te amem, Amor”
“Vem, Espírito
Santo. Venha a unidade do Pai e do bem-querer do Verbo. Tu, Espírito da
Verdade, és o prêmio dos santos, o refrigério dos corações, a luz das trevas, a
riqueza dos pobres, o tesouro dos que amam, a saciedade dos famintos, o alívio
dos peregrinos; tu és, enfim, Aquele que contém em si todos os tesouros. Vem,
tu que, descendo em Maria, realizaste a encarnação do Verbo, e realiza em nós,
pela graça, o que nela realizaste pela graça e pela natureza”.
“Vem, tu que és
o alimento de todo pensamento casto, a fonte de toda clemência, a plenitude de
toda pureza. Vem e transforma tudo o que em nós é obstáculo para sermos
plenamente transformados em Ti”.
“E parecia-me
que a plataforma deste templo foi a elevada mente e o alto entendimento da
Virgem Maria. Havia também um altar, e percebi que era a vontade da Virgem. E a
toalha do mesmo altar era a sua puríssima virgindade. E o cibório onde Jesus se
encontra é o coração da Virgem. E diante do altar vi sete lâmpadas que entendi
serem os sete dons do Espírito Santo que igual e perfeitamente se encontravam
na Virgem Maria. E sobre o altar encontravam-se doze formosíssimos candelabros
que eu percebi serem os doze frutos do Espírito Santo que a Virgem possuía”.
“A alma que
recebe o Sangue divino torna-se bela como se a vestissem preciosamente, e tão
brilhante e fulgurante que, se pudéssemos vê-la, seríamos tentados a adorá-la”.
“Quando ofereces
o precioso Sangue ao Pai celeste, lhe ofereces um dom tão agradável, que ele se
reconhece teu devedor”.
“O tempo mais
apropriado para crescer no amor de Deus é aquele que se segue após a comunhão”.
“A alma que
recebe a Eucaristia se torna bela, como que revestida de uma veste preciosa, e
tão resplandecente, que, se pudéssemos vê-la, ficaríamos tentados a adorá-la”
“Todas as nossas
orações não devem ter outra finalidade a não ser alcançar de Deus a graça de
seguir em tudo sua santa vontade”
“Com a
obediência estou segura de fazer a vontade de Deus, ao passo que não estou
segura dedicando-me a qualquer outra ocupação”
“A perfeita
obediência exige uma alma sem juízo próprio”
“Felizes os
religiosos que, desapegados de tudo por meio da pobreza, podem dizer: ‘Senhor,
sois a parte da minha herança’ (Sl 15,5)”
“Certas pessoas
querem o meu Espírito, mas querem-no como lhes agrada, tornam-se assim
incapazes de recebê-lo”.
“Meu Senhor
pensou em criar esta flor, desde toda eternidade por meu amor”.
“Sim, Jesus, vós
estais louco de amor!”
“Deus remunera
as nossas boas obras segundo a pureza de intenção”
“Quando pedimos
as graças a Deus, ele não só nos atende, mas de certo modo nos agradece”.
“A honra de uma
pessoa desejosa de vida espiritual está em ser colocada depois de todas as
outras e em ter horror a ser preferida aos outros”.
“Os olhos da
intenção reta inclinam a si os olhos do agrado divino”
“Para a
perfeição importa irmos não andando, mas correndo; não correndo, senão voando”
“Só de ouvir
nomear o pecado deveríamos morrer de espanto”
“Ai, ai, ai
daquele por quem na Religião se introduzir vaidade ou propriedade”.
“A estrada para
o Paraíso mais limpa, mais breve e mais segura é a Religião”.
“Ah! Bom Jesus!
Quanta doçura está encerrada nesta só palavra: Vontade de Deus!”
“Dar bom exemplo
ao próximo é uma das maiores honras que podemos dar a Deus”.
“Sobre o nada da
humildade funda Deus o mundo da perfeição”
“Que vergonha!
Nós entre rosas, Cristo entre espinhos!”
“A alma vestida
de caridade é quase onipotente”.
“O Espírito
Santo vem à alma, marcando-a com o precioso selo do sangue do Verbo, ou seja,
do Cordeiro imolado. Mais ainda, é esse mesmo sangue que O incita a vir, embora
o próprio Espírito já por Si tenha esse desejo”.