Conheça
dez pais santos que, em várias partes do mundo, viveram a santidade
– a comunhão com Deus – não apenas através da vida
profissional, mas também através da paternidade.
Beato
Peter To Rot (1912-1945)
Peter
To Rot nasceu e passou toda a sua vida na Nova Bretanha, uma das
ilhas que formam a atual Papua-Nova Guiné. Seu pai era o chefe da
tribo Gunantuna, estabelecida em Rakunai, no norte da ilha, e foi o
responsável por difundir a fé católica no povoado. To Rot foi
batizado ainda bebê e se engajou desde cedo com a ação
evangelizadora da Igreja. Era catequista, orientando pequenos grupos
na fé. Casou-se em 1936 com uma católica do vilarejo vizinho que
havia sido sua catequizanda, Paula Ja Varpit, com quem teve três
filhos. Com a ocupação japonesa da ilha, durante a II Guerra
Mundial, os missionários europeus foram levados a um campo de
concentração. To Rot ficou então responsável por presidir a
assembleia, batizar e, quando possível, dar a comunhão, mandada
clandestinamente pelos padres. Denunciado por um policial nativo a
serviço dos japoneses, que desejava ter mais de uma esposa e era
contrariado pela pregação de To Rot, o jovem foi preso em 1945,
sendo morto depois de dois meses em cativeiro. Como testemunhou seu
tio, To Rot era “um homem totalmente bom, que nunca decepcionou
ninguém. Suas palavras eram tão boas quanto suas ações. Somente
pensava na sua família, no seu povo e na religião.”
São
Thomas More (1478-1535)
O
advogado e humanista inglês Thomas More tinha 27 anos quando se
casou com Jane Colt, depois de ter discernido seriamente sobre a
vocação leiga. O casal teve quatro filhos, mas Jane morreu depois
de seis anos de casamento. More casou-se depois com Alice Middleton,
que também era viúva e tinha uma filha. Ele foi parlamentar, juiz
e, de 1529 a 1532, chanceler do rei Henrique VIII. Ele se opôs ao
segundo casamento do monarca e ao Ato de Supremacia que separou a
Igreja da Inglaterra de Roma. Foi, por isso, condenado à morte em
1534. “Ao longo de toda a sua vida, foi um marido e pai afetuoso e
fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e
intelectual dos filhos. A sua casa acolhia genros, noras e netos, e
permanecia aberta a muitos jovens amigos que andavam à procura da
verdade ou da própria vocação. Além disso, na vida de família
dava-se largo espaço à oração comum e à lectio divina, e também
a sadias formas de recreação doméstica”, disse sobre ele São
João Paulo II, quando o proclamou padroeiro dos governantes e
políticos.
São
Luís Martin (1823-1894)
O
relojoeiro Luís Martin tinha 35 anos quando conheceu Zélia, a dona
de uma confecção de rendas, que tinha 27 anos. Casados depois de
três meses, em Alençon, na França, eles estavam dispostos a viver
em continência, mas o conselho de um padre os reorientou para o
sentido autêntico da vocação matrimonial: sua abertura à doação
ao outro e assim à vida. Tiveram então nove filhos, quatro dos
quais falecidos quando pequenos. Ficaram cinco meninas, que ficaram
sob o cuidado de Luís, já que Zélia morreu aos 46 anos, com um
câncer de mama. A família se mudou, após a morte da mãe, para
Lisieux, onde as cinco garotas entraram para a vida religiosa. A
caçula se tornou a grande doutora da Igreja Santa Teresa do Menino
Jesus, que tinha uma relação de imensa ternura com o seu pai, que
considerava, com a mãe, “mais dignos do céu que da terra”. Luís
morreu aos 71 anos, algum tempo depois de sofrer a perda das
faculdades mentais.
Beato
Benedict Daswa (1946-1990)
O
sul-africano Tshimangadzo Samuel Daswa conheceu a fé católica
através de um amigo, quando vivia em Johanesburgo, e foi batizado
aos 17 anos, depois de dois anos de catequese. No batismo, tomou o
nome de Benedict, em honra a São Bento. Aos 27, se tornou professor.
Além disso, era catequista e assistia famílias em situações de
vulnerabilidade. Aos 28, casou-se com Shadi Eveline Monyai, com quem
teve oito filhos. Daswa construiu com as próprias mãos a casa da
família e dividia as tarefas domésticas com a esposa. Participava
ativamente da vida política de sua localidade e chegou a fundar um
time de futebol. Em 1989, o vilarejo foi assolado por chuvas e
tempestades assustadoras, o que fez com que os anciãos locais
decidissem realizar um ritual para afastar esse mal. Eles pediram a
todos os residentes que pagassem uma taxa para custear o trabalho,
mas Daswa se recusou a pagar, dizendo que eram apenas fenômenos
naturais. Pela recusa, ele foi espancado e morto dias depois. Conheça mais desse Beato clicando aqui.
Beato
Josef Mayr-Nusser (1910-1945)
Antes
dos 30 anos, Josef Mayr-Nusser, nascido em Bolzano, na Itália, já
era líder da Sociedade de São Vicente de Paulo e da Ação Católica
em sua região, além de trabalhar como contador. Aos 31, casou-se
com Hildegard Straub, que conheceu no trabalho. Tiveram um filho. A
II Guerra já se desenrolava havia quatro anos e desde o começo do
conflito Josef participava de um grupo secreto antinazista. Em 1944,
ele foi obrigado a se alistar nas SS, as forças nazistas, e foi
levado à Prússia para o treinamento. Lá, precisou prestar o
juramento de fidelidade a Hitler, mas se recusou, gritando de sua
fileira: “Senhor major-general, em nome de Deus eu não posso fazer
o juramento a Hitler. Não posso porque minha fé e minha consciência
não o permitem”. Os oficiais, impressionados, pediram que ele
pusesse isso por escrito – seria a sua sentença de morte. Um amigo
tentou dissuadi-lo, dizendo que sua recusa não mudaria nada e que,
ainda por cima, deixaria sua mulher e seu bebê sozinhos. “Se
ninguém nunca tiver coragem de dizer a eles que não concorda com as
suas ideias nazistas, as coisas não mudarão nunca”, respondeu
Josef. Acusado de traição, ele seria fuzilado no campo de
concentração de Dachau. Josef morreu, porém, durante a viagem,
doente. Da prisão, tinha escrito a Hildegard: “Você não teria se
tornado minha esposa se esperasse algo diferente de mim”.
São
Manuel Morales (1898-1926)
Manuel
Morales chegou a ser seminarista, mas deixou esse caminho para ajudar
a sua família, que estava em uma situação financeira difícil.
Tornou-se padeiro, casou-se e teve três filhos. Era membro da Ação
Católica, secretário local da União Operária Católica e chegou a
ser presidente da Liga Nacional pela Defesa da Liberdade Religiosa,
uma organização instituída para combater o anticatolicismo vigente
no México a partir da constituição de 1917. Em julho de 1926,
Morales, de apenas 28 anos, liderou um encontro da organização que
reuniu 600 pessoas. “A liga deve ser pacífica e não interferir na
política. Nosso projeto é implorar ao governo que remova os artigos
da constituição que atentam contra a liberdade religiosa”,
determinou. Logo depois, um padre próximo ao grupo foi preso pelo
exército e, dias depois, Morales, o vice-presidente e o secretário
da liga também foram detidos. Eles foram espancados, torturados e
instados a declarar legítimas as leis anti-religiosas do governo
mexicano. Os quatro se recusaram e foram fuzilados. O padre chegou a
pedir que os soldados libertassem Morales, porque ele tinha filhos,
mas o padeiro disse: “Estou morrendo por Deus e Deus vai tomar
conta dos meus filhos”.
Santo
Agostinho (354-430)
Sempre
é bom lembrar que um dos maiores bispos e doutores da história da
Igreja viveu a experiência da paternidade de um modo muito
significativo, durante os 16 anos da vida de seu filho, Adeodato.
Agostinho vivia em Cartago e tinha apenas 17 anos quando foi morar
com a namorada, com quem viveu por 15 anos. Adeodato nasceu nos
primeiros anos do relacionamento, que nunca virou casamento porque a
família de Agostinho esperava que ele se casasse com alguém de sua
classe social. Com a separação – cujas razões não são bem
conhecidas, visto que Agostinho fala com muita consideração a
respeito da moça –, Adeodato ficou com o pai. O jovem acompanhou a
busca de Agostinho pela verdade, sendo considerado um rapaz
inteligentíssimo – tal pai, tal filho – pelas pessoas que
conviviam com os dois e pelo próprio pai, que chegou a escrever que
“a grandeza da sua mente me encheu de uma espécie de terror”. Os
dois foram batizados juntos, o pai com 32 e o filho com 15 anos, por
Santo Ambrósio. Adeodato, porém, morreu um ano depois.
Beato
Frederico Ozanam (1813-1853)
Ozanam
é o fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, uma organização
de leigos que, a exemplo do santo homônimo, desenvolvem ações a
serviço dos pobres. Era doutor em Direito e em Letras e professor de
Direito Comercial em Lyon e de Literatura Estrangeira na Sorbonne,
além de historiador, ativista social e jornalista. Era amigo de
Ampère, Chateaubriand, Lacordaire e outros intelectuais de sua
época. Defendia a conciliação entre o catolicismo e a democracia,
lutando para que a Igreja se adaptasse às novas condições sociais
e políticas da França. Tendo discernido a sua vocação, casou-se
aos 28 anos com Amélie Soulacroix, com quem teve uma filha, Marie,
quatro anos depois. Ozanam morreu com problemas renais aos 40 anos.
Sua esposa viveu mais 41 anos, mas nunca se casou novamente e
empenhou-se também em causas sociais e pastorais.