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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Santos e pais: 8 homens que alcançaram a santidade através da paternidade





Conheça dez pais santos que, em várias partes do mundo, viveram a santidade – a comunhão com Deus – não apenas através da vida profissional, mas também através da paternidade.



Beato Peter To Rot (1912-1945)




Peter To Rot nasceu e passou toda a sua vida na Nova Bretanha, uma das ilhas que formam a atual Papua-Nova Guiné. Seu pai era o chefe da tribo Gunantuna, estabelecida em Rakunai, no norte da ilha, e foi o responsável por difundir a fé católica no povoado. To Rot foi batizado ainda bebê e se engajou desde cedo com a ação evangelizadora da Igreja. Era catequista, orientando pequenos grupos na fé. Casou-se em 1936 com uma católica do vilarejo vizinho que havia sido sua catequizanda, Paula Ja Varpit, com quem teve três filhos. Com a ocupação japonesa da ilha, durante a II Guerra Mundial, os missionários europeus foram levados a um campo de concentração. To Rot ficou então responsável por presidir a assembleia, batizar e, quando possível, dar a comunhão, mandada clandestinamente pelos padres. Denunciado por um policial nativo a serviço dos japoneses, que desejava ter mais de uma esposa e era contrariado pela pregação de To Rot, o jovem foi preso em 1945, sendo morto depois de dois meses em cativeiro. Como testemunhou seu tio, To Rot era “um homem totalmente bom, que nunca decepcionou ninguém. Suas palavras eram tão boas quanto suas ações. Somente pensava na sua família, no seu povo e na religião.”


São Thomas More (1478-1535)




O advogado e humanista inglês Thomas More tinha 27 anos quando se casou com Jane Colt, depois de ter discernido seriamente sobre a vocação leiga. O casal teve quatro filhos, mas Jane morreu depois de seis anos de casamento. More casou-se depois com Alice Middleton, que também era viúva e tinha uma filha. Ele foi parlamentar, juiz e, de 1529 a 1532, chanceler do rei Henrique VIII. Ele se opôs ao segundo casamento do monarca e ao Ato de Supremacia que separou a Igreja da Inglaterra de Roma. Foi, por isso, condenado à morte em 1534. “Ao longo de toda a sua vida, foi um marido e pai afetuoso e fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e intelectual dos filhos. A sua casa acolhia genros, noras e netos, e permanecia aberta a muitos jovens amigos que andavam à procura da verdade ou da própria vocação. Além disso, na vida de família dava-se largo espaço à oração comum e à lectio divina, e também a sadias formas de recreação doméstica”, disse sobre ele São João Paulo II, quando o proclamou padroeiro dos governantes e políticos.

São Luís Martin (1823-1894)



O relojoeiro Luís Martin tinha 35 anos quando conheceu Zélia, a dona de uma confecção de rendas, que tinha 27 anos. Casados depois de três meses, em Alençon, na França, eles estavam dispostos a viver em continência, mas o conselho de um padre os reorientou para o sentido autêntico da vocação matrimonial: sua abertura à doação ao outro e assim à vida. Tiveram então nove filhos, quatro dos quais falecidos quando pequenos. Ficaram cinco meninas, que ficaram sob o cuidado de Luís, já que Zélia morreu aos 46 anos, com um câncer de mama. A família se mudou, após a morte da mãe, para Lisieux, onde as cinco garotas entraram para a vida religiosa. A caçula se tornou a grande doutora da Igreja Santa Teresa do Menino Jesus, que tinha uma relação de imensa ternura com o seu pai, que considerava, com a mãe, “mais dignos do céu que da terra”. Luís morreu aos 71 anos, algum tempo depois de sofrer a perda das faculdades mentais.

Beato Benedict Daswa (1946-1990)




O sul-africano Tshimangadzo Samuel Daswa conheceu a fé católica através de um amigo, quando vivia em Johanesburgo, e foi batizado aos 17 anos, depois de dois anos de catequese. No batismo, tomou o nome de Benedict, em honra a São Bento. Aos 27, se tornou professor. Além disso, era catequista e assistia famílias em situações de vulnerabilidade. Aos 28, casou-se com Shadi Eveline Monyai, com quem teve oito filhos. Daswa construiu com as próprias mãos a casa da família e dividia as tarefas domésticas com a esposa. Participava ativamente da vida política de sua localidade e chegou a fundar um time de futebol. Em 1989, o vilarejo foi assolado por chuvas e tempestades assustadoras, o que fez com que os anciãos locais decidissem realizar um ritual para afastar esse mal. Eles pediram a todos os residentes que pagassem uma taxa para custear o trabalho, mas Daswa se recusou a pagar, dizendo que eram apenas fenômenos naturais. Pela recusa, ele foi espancado e morto dias depois. Conheça mais desse Beato clicando aqui.

Beato Josef Mayr-Nusser (1910-1945)



Antes dos 30 anos, Josef Mayr-Nusser, nascido em Bolzano, na Itália, já era líder da Sociedade de São Vicente de Paulo e da Ação Católica em sua região, além de trabalhar como contador. Aos 31, casou-se com Hildegard Straub, que conheceu no trabalho. Tiveram um filho. A II Guerra já se desenrolava havia quatro anos e desde o começo do conflito Josef participava de um grupo secreto antinazista. Em 1944, ele foi obrigado a se alistar nas SS, as forças nazistas, e foi levado à Prússia para o treinamento. Lá, precisou prestar o juramento de fidelidade a Hitler, mas se recusou, gritando de sua fileira: “Senhor major-general, em nome de Deus eu não posso fazer o juramento a Hitler. Não posso porque minha fé e minha consciência não o permitem”. Os oficiais, impressionados, pediram que ele pusesse isso por escrito – seria a sua sentença de morte. Um amigo tentou dissuadi-lo, dizendo que sua recusa não mudaria nada e que, ainda por cima, deixaria sua mulher e seu bebê sozinhos. “Se ninguém nunca tiver coragem de dizer a eles que não concorda com as suas ideias nazistas, as coisas não mudarão nunca”, respondeu Josef. Acusado de traição, ele seria fuzilado no campo de concentração de Dachau. Josef morreu, porém, durante a viagem, doente. Da prisão, tinha escrito a Hildegard: “Você não teria se tornado minha esposa se esperasse algo diferente de mim”.

São Manuel Morales (1898-1926)



Manuel Morales chegou a ser seminarista, mas deixou esse caminho para ajudar a sua família, que estava em uma situação financeira difícil. Tornou-se padeiro, casou-se e teve três filhos. Era membro da Ação Católica, secretário local da União Operária Católica e chegou a ser presidente da Liga Nacional pela Defesa da Liberdade Religiosa, uma organização instituída para combater o anticatolicismo vigente no México a partir da constituição de 1917. Em julho de 1926, Morales, de apenas 28 anos, liderou um encontro da organização que reuniu 600 pessoas. “A liga deve ser pacífica e não interferir na política. Nosso projeto é implorar ao governo que remova os artigos da constituição que atentam contra a liberdade religiosa”, determinou. Logo depois, um padre próximo ao grupo foi preso pelo exército e, dias depois, Morales, o vice-presidente e o secretário da liga também foram detidos. Eles foram espancados, torturados e instados a declarar legítimas as leis anti-religiosas do governo mexicano. Os quatro se recusaram e foram fuzilados. O padre chegou a pedir que os soldados libertassem Morales, porque ele tinha filhos, mas o padeiro disse: “Estou morrendo por Deus e Deus vai tomar conta dos meus filhos”.

Santo Agostinho (354-430)



Sempre é bom lembrar que um dos maiores bispos e doutores da história da Igreja viveu a experiência da paternidade de um modo muito significativo, durante os 16 anos da vida de seu filho, Adeodato. Agostinho vivia em Cartago e tinha apenas 17 anos quando foi morar com a namorada, com quem viveu por 15 anos. Adeodato nasceu nos primeiros anos do relacionamento, que nunca virou casamento porque a família de Agostinho esperava que ele se casasse com alguém de sua classe social. Com a separação – cujas razões não são bem conhecidas, visto que Agostinho fala com muita consideração a respeito da moça –, Adeodato ficou com o pai. O jovem acompanhou a busca de Agostinho pela verdade, sendo considerado um rapaz inteligentíssimo – tal pai, tal filho – pelas pessoas que conviviam com os dois e pelo próprio pai, que chegou a escrever que “a grandeza da sua mente me encheu de uma espécie de terror”. Os dois foram batizados juntos, o pai com 32 e o filho com 15 anos, por Santo Ambrósio. Adeodato, porém, morreu um ano depois.

Beato Frederico Ozanam (1813-1853)



Ozanam é o fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, uma organização de leigos que, a exemplo do santo homônimo, desenvolvem ações a serviço dos pobres. Era doutor em Direito e em Letras e professor de Direito Comercial em Lyon e de Literatura Estrangeira na Sorbonne, além de historiador, ativista social e jornalista. Era amigo de Ampère, Chateaubriand, Lacordaire e outros intelectuais de sua época. Defendia a conciliação entre o catolicismo e a democracia, lutando para que a Igreja se adaptasse às novas condições sociais e políticas da França. Tendo discernido a sua vocação, casou-se aos 28 anos com Amélie Soulacroix, com quem teve uma filha, Marie, quatro anos depois. Ozanam morreu com problemas renais aos 40 anos. Sua esposa viveu mais 41 anos, mas nunca se casou novamente e empenhou-se também em causas sociais e pastorais.


segunda-feira, 14 de maio de 2018

SANTA MARIA EUFRÁSIA PELLETIER, Virgem e Fundadora





Nada do que significa formosura lhe faltou na mocidade: a correção dos traços, a beleza dos olhos e da cútis, a distinção da fisionomia, a nobreza do porte, o viço e a graça da juventude. Mais: o esplendor de uma alma clara, lógica, vigorosa, pura, se exprimia fortemente em sua face. É o tipo magnífico da donzela cristã.

Santa Maria Eufrásia Pelletier nasceu a 31 de julho de 1796, na Ilha de Noirmoutier, próxima à costa da Bretanha, onde seus pais se haviam refugiado durante a contrarrevolução da Vendeia. Era a última de oito filhos do piedoso e caritativo médico Juliano Pelletier e de Ana Amada Mourain. No Batismo, recebeu o nome de Rosa Virgínia.

Rosa ficava muito impressionada com a fé profunda de seus pais em meio a terrível Revolução Francesa. Cresceu na atmosfera criada pelas histórias contadas sobre lutas heroicas do catolicismo da Vendeia contra os desmandos da Revolução Francesa, o que talvez explique em parte a sua fé robusta e conquistadora.

Ela desfrutava das belezas de sua ilha-prisão, mas o viver numa família carinhosa não ocultava o lado sério da vida: traficantes de escravos na costa, morte inesperada do pai quando tinha 10 anos, ida para um internato fora da ilha e perda de sua mãe quando era uma jovenzinha. Educada pelas Ursulinas de Chavagne, frequentou também o Instituto da Associação Cristã de Tours.
Na escola de Tours, Rosa ouviu falar do Convento do Refúgio, pertencente a uma Congregação que São João Eudes havia fundado em 1641, para resgatar mulheres decaídas e proteger meninas e jovens órfãs. A Congregação se chamava Instituto de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio ou do Bom Pastor.
Rosa sentiu-se atraída pela Congregação, entrou no noviciado em 1814 e tomou o nome de Maria de Santa Eufrásia. A sua generosidade e a sua confiança em Deus cresceram. Logo lhe deram a responsabilidade de cuidar de um grupo de meninas. Seu fervor não tinha limites.
Em 1825, quando foi eleita superiora, fundou a Obra das Madalenas, distinta das Penitentes e das Preservadas, constituindo verdadeira Congregação para as jovens reconduzidas ao caminho reto poderem aderir à vida religiosa, segundo o modelo carmelitano, com regra e hábito, morando em uma ala própria do convento. A vida de oração, proposta por ela às “madalenas”, “valia mais que mil belas palavras das irmãs, destinadas a converter essas pobres raparigas”.
O empenho da Santa como superiora não excluía a busca de melhorias no vestuário, na alimentação e nas instalações do seu rebanho. Em 1830, havia na casa 70 penitentes, 12 “madalenas” e 80 órfãs.

Em 1829, a cidade de Angers pediu uma nova fundação. Há vários anos a cidade contava com uma Casa do Refúgio, chamada “O Bom Pastor”, mas que estava em decadência. Madre Santa Eufrásia (como era conhecida) para lá se dirigiu a fim de tomar posse da casa. O êxito que ela obteve ali foi tão grande, que a população da cidade não queria deixá-la voltar para a comunidade de Tours. Após longas negociações, Madre Pelletier foi nomeada superiora da nova fundação.
Em 1830, novas desordens causadas pelos revolucionários resultaram na partida de muitas noviças.
Em 1831, Madre Maria Eufrásia fundou uma comunidade contemplativa no convento de Angers. Conhecidas hoje como Irmãs Contemplativas do Bom Pastor, têm a missão de rezar pelas pessoas com quem as Irmãs Ativas exercem seu trabalho apostólico e pela salvação das pessoas do mundo inteiro.
O princípio em Angers foi muito custoso: sem móveis, sem cobertores, sem vestuários, por vezes sem alimentação, ficamos um ano sem Missa, fora do domingo e da quinta-feira. O Senhor Bispo tinha o ar de não saber da nossa existência, e outras pessoas, que desejavam fazer-nos bem, julgavam que nós éramos riquíssimas! Mas o santo fervor não desfaleceu nunca”. A Madre escrevia depois das espoliações e perseguições de 1848: “As lágrimas correm às torrentes, mas a paz mantém-se... O Pai de família vem semear entre nós cruzes bem pesadas: é para que, desenvolvendo-se em nós mais profundamente as raízes da humildade, nos possamos desenvolver e elevar-nos mais e mais”.
O estímulo de trabalhar sempre mais para a redenção de tantas transviadas a levou a transformar a casa de Angers na casa mãe de uma organização paralela ao Instituto de Nossa Senhora da Caridade, com a finalidade específica de centralização organizativa, já que o Instituto tinha conventos autônomos.

Sem perder nada de sua humildade e de seu respeito pela autoridade, a jovem superiora (de quem uma de suas admiradoras disse que “tinha madeira para governar um reino”), conseguiu, com a ajuda da Providência, fundar em Angers um novo Instituto, o Instituto do Bom Pastor, do qual se tornou Superiora Geral. Vislumbrando o papel mundial do seu Instituto, a fundadora pretendia colocá-lo sob a proteção da Santa Sé e, para isto, ligá-lo diretamente a Roma, de maneira que nenhum bispo pudesse fazer mudanças nas constituições. Apoiada no Bispo de Angers, Madre Pelletier conseguiu obter do Papa Gregório XVI que desse à Congregação um cardeal protetor.
Ela encontrou muita resistência a esta divisão do Instituto, seja da parte da autoridade religiosa, seja dos conventos, que pretendiam conservar sua autonomia. A sua coragem e o seu zelo foram apoiados pelo Papa Gregório XVI, que aprovou o Instituto em 3 de abril de 1835.
O progresso da Congregação foi muito rápido e a sua Obra se difundiu no mundo todo, fazendo um bem imenso na reeducação feminina. A formação de uma centena de noviças exigia de Madre Santa Eufrásia uma solicitude maternal. Além disto, as fundações na Europa, na África e na América, deviam ser acompanhadas por seus cuidados.
Os resultados obtidos pela força da bondade e da sensibilidade pedagógica das religiosas suscitam ainda hoje a admiração das autoridades civis. As jovens que atingem a maioridade não são abandonadas: elas podem escolher permanecer no Instituto do Bom Pastor ou são encaminhadas a outras obras católicas. Além da assistência, da educação religiosa e moral, é-lhes garantida uma instrução intelectual e técnica tornando possível sua inserção na vida social.
Santa Maria Eufrásia fundou 110 casas durante sua vida. Quando morreu, em Angers, a 24 de abril de 1868, a Congregação existia em vários países e contava com 2.760 religiosas, 960 “madalenas” e 15 mil jovens e meninas órfãs.
Em suas múltiplas provas e dificuldades, que também incluíram os ataques dos traficantes da inocência feminina, bem como as acusações de espírito de inovação, ambição e desejo de autoridade, a Santa deu provas de fortaleza heroica e absoluta confiança em Deus.

Madre Santa Eufrásia foi beatificada a 30 de abril de 1933 por Pio XI e canonizada por Pio XII a 2 de maio de 1940. Uma imagem sua, feita pelo escultor G. Nicolini, foi colocada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, entre os grandes fundadores de Ordens Religiosas. Os seus despojos estão em Angers, na Capela do Instituto.
Tendo concebido todas minhas Filhas na Cruz”, disse em certa ocasião, “amo-as mais que a minha própria vida; depois, este amor tem suas raízes em Deus e no conhecimento de minha miséria, pois reconheço que, se tivesse tanto tempo de profissão como elas, não suportaria nem as privações nem os trabalhos que elas suportam”.
A espiritualidade de São João Eudes é o ponto central do espírito religioso de Santa Maria Eufrásia Pelletier. Para São João Eudes, o núcleo de nossa fé como cristãos batizados consiste em formar Jesus em nós. “A vida cristã - escrevia São João Eudes - é uma continuação e um complemento da vida de Jesus. Formar Jesus em nós mesmos deve ser nosso desejo, nossa preocupação e nossa principal ocupação”.
Jesus, Deus feito carne, nos ama intensamente e nos mostrou como viver e servir. Ele oferece o dom de seu próprio Coração a cada um de nós, para com Ele podermos amar especialmente os mais necessitados de seu Amor Misericordioso.
Para Santa Maria Eufrásia, a imagem do Bom Pastor é a que melhor expressa o amor misericordioso de Deus para conosco. “Jesus, o Bom Pastor - dizia ela a suas irmãs - é o verdadeiro modelo que temos que imitar. Vós não fareis nenhum bem se não tiverdes os pensamentos e os afetos do Bom Pastor, de Quem vós tendes que ser imagens vivas”.
A Santa plasmou realmente para suas Irmãs a ternura e a solicitude do Bom Pastor, que deixa as 99 ovelhas para buscar a que se perdeu. Inspirada por seu exemplo, cada Irmã busca viver e servir com o coração do pastor, recordando sempre a filosofia da fundadora: “uma pessoa vale mais que o mundo todo”.

A atividade incansável de Santa Maria Eufrásia não impedia uma vida de contemplação, elevada a um alto grau de união mística. “Quando não tiverdes senão Deus, minhas queridas Filhas, a vossa oração será mais pura, a vossa prece mais fervorosa. Eu consentiria em estar muito tempo privada da felicidade do Céu, contanto que na terra tivesse Nosso Senhor para amar na Eucaristia e almas para salvar. Ah! minhas Filhas, quanta fé nos dão as cruzes!”
A glória de Deus e a salvação das pessoas – esta é minha vida”.
Devemos ter os pensamentos, os sentimentos e os afetos de Jesus Bom Pastor”.
Eu não tinha grandes talentos, nem tampouco riquezas. Só amei. Porém amei com todas as forças de minha alma.”
Minhas Filhas queridas, deixo-vos como meu testamento o amor à cruz e o zelo pela salvação das almas”.
Se vos amardes sempre e vos ajudardes mutuamente, podereis realizar maravilhas”.
Duas coisas são essencialmente necessárias, amadas Filhas: o espírito interior e o amor ao sofrimento”.
Não quero que se diga de mim que sou francesa. Sou de todos os países onde há almas para salvar”.




Considerações sobre Santa Maria Eufrásia Pelletier: 

Nada do que significa formosura lhe faltou na mocidade: a correção dos traços, a beleza dos olhos e da cútis, a distinção da fisionomia, a nobreza do porte, o viço e a graça da juventude. Mais: o esplendor de uma alma clara, lógica, vigorosa, pura, se exprimia fortemente em sua face. É o tipo magnífico da donzela cristã.




Ei-la em sua ancianidade. Do encanto dos antigos dias resta apenas um vago perfume. Mas outra formosura mais alta brilha neste semblante admirável.
O olhar ganhou em profundeza; uma serenidade nobre e imperturbável parece prenunciar nele algo da nobreza transcendente e definitiva dos bem-aventurados na glória celeste!
O rosto conserva o vestígio das batalhas árduas da vida interior e apostólica dos Santos. Atingiu algo de forte, de completo, de imutável: é a maturidade no mais belo sentido da palavra.
A boca é um traço retilíneo, fino, expressivo, que traz a nota típica de uma têmpera de ferro. Uma grande paz, uma bondade sem romantismo nem ilusão, com algum resto da antiga beleza, esplende ainda nesta fisionomia.
O corpo decaiu, mas a alma cresceu tanto, que já está toda em Deus, e faz pensar na palavra de Santo Agostinho: nosso coração, Senhor, foi criado para Vós, e só está em paz quando repousa em Vós.
Quem ousaria afirmar que para Santa Maria Eufrásia, envelhecer foi mesmo decair?




Aspirações de Santa Maria Eufrásia

Ó meu Deus, fazei que cada batida de meu coração seja uma súplica para alcançar graça e perdão para os pecadores.
Que cada uma de minhas respirações seja um apelo à Tua infinita misericórdia, que cada olhar meu, atraia para Vós as pessoas que eu fitar e lhes revele o Teu amor.
Que o alimento de minha vida seja trabalhar sem descanso pela Tua glória e pela salvação das almas. Amém.





terça-feira, 8 de maio de 2018

SANTA VIRGÍNIA CENTURIONE BRACELLI, Viúva, Fundadora e Religiosa. Memória em 15 de dezembro.



“Virginia viveu seu serviço a Deus perfeitamente, nunca pensou em sua própria satisfação, inteiramente dedicada a Deus e ao seu próximo” relata a hagiografia da jovem Virgínia Centurione nascida em 2 de abril de 1587 e filha de Jorge Centurione e Lélia Spínola. Seus pais, Jorge Centurione, doge da República no biênio 1621-1622, e Lélia Spínola, eram ambos descendentes de família da antiga nobreza.
Sua família era muito rica e piedosa e desde a mais tenra idade foi educada na fé e valores cristãos. Virginia foi batizada dois dias após o nascimento, obteve a primeira formação religiosa e literária da mãe e de um mestre domiciliar. A mãe era uma dama da sociedade, católica fervorosa e atuante nas obras de caridade aos pobres. Propiciou à filha uma infância reservada, pia e voltada para os estudos.
Mesmo manifestando desde a infância inclinação para a vida claustral, teve que aceitar a decisão do pai que aos 10 de dezembro de 1602 a fez desposar Gaspar Bracelli, jovem e rico herdeiro de ilustre família, inclinado a uma vida desregrada e ao vício do jogo. Da união nasceram duas meninas: Lélia e Isabella.
A vida conjugal de Virgínia foi de breve período. Gaspar Bracelli, de fato, apesar do matrimônio e da paternidade, não abandonou o estilo de vida alegre, vivia desregradamente e contraiu uma doença nos pulmões que lhe tirou a vida no ano 1607. Virgínia, com silenciosa paciência, oração e amável atenção, tentara convencer o marido a adquirir uma conduta de melhores costumes.  Durante o período de sua doença, Virgínia o acompanhou piedosamente dedicando-lhe todos os cuidados. Gaspar faleceu cristãmente em 13 de junho de 1607.

Após sua morte a jovem de apenas 20 anos fez o voto de castidade perpétua, recusando as ocasiões de segundas núpcias propostas pelo pai e vivendo retirada na casa da sogra, ocupando-se da educação e da administração dos bens das filhas e dedicando-se à oração e à beneficência.
Certa noite, enquanto orava diante do crucifixo, ouviu claramente: "Virgínia, a minha vontade é que tu me sirvas nos pobres". Acolheu o convite Divino com humildade e, seguindo o exemplo de Maria Santíssima, respondeu: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
 Por volta do ano 1610 sentiu o ardor missionário em acolher os pobres e a eles dedicar-se. Assim o fez, não negligenciando os afazeres de casa e a responsabilidade de mãe. Mesmo sendo controlada severamente pelo pai e sem jamais descuidar de seus deveres para com a família, começou a empenhar-se em favor dos necessitados. Ajudava-os diretamente, seja distribuindo em esmolas a metade de sua renda dotal, ou por meio das instituições beneficentes do tempo.
Desenvolvia e promovia as "Obras das Paróquias Pobres" das regiões rurais conseguindo doações em dinheiro e roupas.
Após suas filhas casarem-se decidiu dedicar-se inteiramente aos pobres promovendo a fundação de escolas com recursos próprios no intuito de acolher os pobres.
A guerra entre a República da Ligúria e o Duque de Savoia, auxiliado pela França, disseminando a desocupação e a fome, induziu Virgínia, no inverno de 1624-1625, a acolher, inicialmente em casa, cerca quinze jovens abandonadas e em seguida, com o aumento do número dos prófugos na cidade, quantos pobres, especialmente mulheres, que conseguiu, providenciando em tudo, para atender às necessidades deles.
Com a morte da sogra em agosto de 1625, começou a receber não somente as jovens que chegavam espontaneamente, mas ela mesma saia pela cidade indo aos quarteirões mal afamados em busca daquelas mais necessitadas e em perigo de corrupção.
Apesar das inúmeras provações, humilhações e ofensas recebidas de alguns nobres da cidade e até mesmo de seus parentes, Virgínia continuava percorrendo os bairros mais pobres de Gênova para auxiliar os menos favorecidos. No coração de Virgínia, tinha espaço para todas as classes sociais. Por isso, foi chamada de "a apóstola de Gênova" e "mártir da caridade".
Para auxiliar as crescentes misérias, instituiu as Cem Damas da Misericórdia, protetoras dos pobres de Jesus Cristo, que aproximando da organização cívica das “Oito Damas da Misericórdia” tinha o dever específico de verificar diretamente, através de visitas a domicílio, as necessidades dos pobres, especialmente daqueles que eram envergonhados.
Ao intensificar a iniciativa de acolhida das jovens, sobretudo no tempo das pestes e da carestia de 1629-1630, Virgínia foi obrigada a alugar o convento vazio do Monte Calvário, para onde se transferiu aos 14 de abril de 1631 com as 40 jovens assistidas que colocou sob a proteção de Nossa Senhora do Refúgio. Este convento, embora tenha sofrido as consequências das guerras, foi restaurado e existem partes que são da época de Virgínia, inclusive na capela.
Após três anos, a Obra já possuía três casas, com cerca de trezentas internas. Virgínia então julgou oportuno pedir o reconhecimento oficial ao Senado da República, que o concedeu aos 13 de dezembro de 1635.
As assistidas de Nossa Senhora do Refúgio tornaram-se para a Santa as suas “filhas” por excelência, com as quais dividia a alimentação e as vestes, as instruía com o catecismo e as ensinava a trabalhar para que ganhassem o próprio sustento.
Desejando dar à obra uma sede própria, após ter renunciado a compra do Monte Calvário por exigir um preço muito alto, comprou duas casas vizinhas sobre o morro de Carignano que, com a construção de uma nova ala e da igreja dedicada a Nossa Senhora do Refúgio, tornou-se a Casa Madre da Obra.
O espírito que animava a Instituição fundada por Virginia era largamente presente na Regra redigida nos anos 1644-1650. Nela é decretado que todas as casas constituem a única Obra de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, sob a direção e a administração dos protetores (leigos nobres, designados pelo Senado da República); é também confirmada a distinção entre as “filhas” com hábito e as “filhas” sem hábito; todas, porém, devem viver – mesmo sem votos – como as monjas mais observantes, em obediência e pobreza, trabalhando e rezando; devem por outro lado, serem prontas para prestarem serviços nos hospitais públicos, como se tivessem votos.
Com o tempo a Obra se desenvolveu em duas Congregações religiosas: as Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, e as Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, estas últimas por vontade do Papa vieram para Roma em 1927.
Após a nomeação dos Protetores (03 de julho de 1641), que passaram a ser considerados os verdadeiros superiores da Obra, Virginia não se ocupou mais do governo da casa: era submissa à vontade deles e se conformava segundo o parecer deles até mesmo na aceitação de jovens necessitadas. Vivia como a última das “filhas”, dedicada ao serviço da casa: saía de manhã e também à tarde para mendigar o sustento para a convivência. Interessava-se por todas como uma mãe, especialmente pelas doentes, dedicando a elas os mais humildes serviços.
Já nos anos precedentes, havia iniciado uma ação social saneadora, destinada a cuidar das raízes do mal e a prevenir as recaídas: os doentes e os inábeis eram internados em Institutos especiais; os homens válidos eram encaminhados para o trabalho; as mulheres deviam exercitar-se em tecelagem; as crianças deviam empenhar-se em frequentar as escolas.
Com o crescer das atividades e dos esforços, Virgínia viu decrescer ao seu redor o número das colaboradoras, particularmente as senhoras burguesas e aristocráticas que temiam comprometer a sua reputação ao tratar com gente corrupta e seguindo uma guia, embora tão nobre e santa, um pouco temerária nas empresas.
Abandonada pelas Auxiliadoras, desautorizada pelos Protetores no governo de sua Obra, ocupando o último lugar entre as irmãs na casa de Carignano, enquanto a sua saúde física declinava rapidamente, Virgínia atingia nova força da solidão moral.
Aos 25 de março obteve da República a acolhida da Virgem como protetora. Providenciou, juntamente com o Arcebispo da cidade, a instituição das Quarenta Horas, que se iniciaram em Gênova no final de 1642, e a pregação das missões populares (1643). Interferiu para esclarecer as frequentes e sanguinárias rivalidades que surgiam por fúteis motivos entre as nobres famílias. Em 1647 obteve a reconciliação entre a Cúria Episcopal e o Governo da República – também entre eles havia lutas por meras questões de prestígio. Sem jamais perder de vista os mais abandonados, era sempre disponível a todos os que a ela se dirigiam para receber ajuda, independentemente da proveniência social.

Agraciada pelo Senhor com êxtases, visões, locuções interiores e outros dons místicos especiais, morreu aos 15 de dezembro de 1651, com 64 anos de idade. Seu corpo permaneceu enterrado no Convento de Santa Clara, em Gênova, até 1801, por exatos 150 anos. Após essa data, seu corpo foi retirado intacto e transportado novamente para o Convento das Filhas de Nossa Senhora do Refúgio do Monte Calvário, onde permanece até hoje.
Foi beatificada em 22 de setembro de 1985 pelo Papa São João Paulo II, que também a canonizou no dia 18 de maio de 2003.


      Oração de Santa Virgínia
     Ó Deus, fonte de todo bem, que nos fazeis participantes do Vosso Espírito de vida, nós Vos agradecemos por terdes concedido a Santa Virgínia a chama viva do amor por Vós e pelos irmãos, sobretudo pelos pobres e indefesos, imagem do Vosso Filho crucificado.
     Concedei-nos viver a sua experiência na prática da misericórdia, da acolhida e do perdão, e, por sua intercessão a graça que agora Vos pedimos. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
     Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai




Segundo texto biográfico


Mesmo manifestando desde a infância inclinação para a vida claustral, teve que aceitar a decisão do pai que a quis esposa, aos 10 de dezembro de 1602, de Gaspar Bracelli, jovem e rico herdeiro de ilustre família, inclinado a uma vida desregrada e ao vício do jogo. Da união nasceram duas meninas: Lélia e Isabella.

A vida conjugal de Virgínia foi de breve período. Gaspar Bracelli, de fato, apesar do matrimônio e da paternidade, não abandonou o estile de vida alegre, ao ponto de reduzir-se em fim de vida. Virgínia, com silenciosa paciência, oração e amável atenção, tentou convencer o marido em adquirir uma conduta de melhores costumes. Infelizmente, Gaspar adoeceu, mas faleceu, de forma muito cristã e piedosa, aos 13 de junho de 1607 em Alessandria, assistido pela esposa que o havia alcançado para cuidar dele.

Enviuvando-se com apenas 20 anos, Virgínia fez voto de castidade perpétua, recusando as ocasiões de segundas núpcias propostas pelo pai e vivendo retirada na casa da sogra, ocupando-se da educação e da administração dos bens das filhas e dedicando-se à oração e à beneficência.

Em 1610, sentiu mais claramente a particular vocação de “servir Deus nos seus pobres”. Mesmo sendo controlada severamente pelo pai e sem jamais descuidar de seus deveres para com a família, começou a empenhar-se em favor dos necessitados. A eles ajudava diretamente, seja distribuindo em esmolas, a metade de sua renda dotal, ou por meio das instituições beneficentes do tempo.

Colocadas, convenientemente, as filhas em matrimônio, Virgínia dedicou-se em tempo integral, ao cuidado das crianças abandonadas, dos velhos, dos doentes e da promoção dos emarginados.

A guerra entre a República Ligure e o Duque de Savoia, auxiliado pela França, semeando a desocupação e a fome, induziu Virgínia, no inverno de 1624-1625, a acolher, inicialmente em casa, cerca quinze jovens abandonadas e em seguida, com o aumento do número dos prófugos na cidade, quantos pobres, especialmente mulheres, que conseguiu, providenciando em tudo, para atender às necessidades deles.

Com a morte da sogra em agosto de 1625, começou a receber, não somente as jovens que chegavam espontaneamente, mas ela mesma, saiu pela cidade, indo aos quarteirões mal afamados, em busca daquelas mais necessitadas e em perigo de corrupção.

Para auxiliar as crescentes misérias, instituiu as Cem Damas da Misericórdia, protetoras dos pobres de Jesus Cristo, que aproximando da organização cívica das “Oito Damas da Misericórdia” tinha o dever específico de verificar diretamente, através de visitas a domicílio, as necessidades dos pobres, especialmente daqueles que eram vergonhosos.

Ao intensificar a iniciativa de acolhida das jovens, sobretudo no tempo das pestes e da carestia de 1629-1630, Virgínia foi obrigada a alugar o convento vazio do Monte Calvário, para onde se transferiu aos 14 de abril de 1631 com as assistidas que colocou sob a proteção de Nossa Senhora do Refúgio. Após três anos, a Obra já possuía três casas, com cerca trezentas internas. Virgínia então, julgou oportuno, pedir o reconhecimento oficial ao Senado da República que o concedeu aos 13 de dezembro de 1635.


As assistidas de Nossa Senhora do Refúgio, tornaram-se para a Santa, as suas “filhas” por excelência, com as quais dividia a alimentação e as vestes, as instruía com o catecismo e as ensinava a trabalhar para que ganhassem o próprio sustento.

Desejando dar à Obra, uma sede própria, após ter renunciado a compra do Monte Calvário por exigir um preço muito alto, comprou duas casas vizinhas sobre o morro de Carignano que, com a construção de uma nova ala e da igreja dedicada a Nossa Senhora do Refúgio, tornou-se a Casa Madre da Obra.

O espírito que animava a Instituição fundada pela Bracelli, era largamente presente na Regra redigida nos anos 1644-1650. Nessa é decretado que todas as casas constituem a única Obra de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, sobre a direção e a administração dos protetores (leigos nobres, designados pelo Senado da República); é também confirmada a distinção entre as “filhas” com hábito e as “filhas” sem hábito; todas porém, devem viver – mesmo sem votos – como as monjas mais observantes, em obediência e pobreza, trabalhando e rezando; devem por outro lado, serem prontas para prestarem serviços nos hospitais públicos, como se tivessem votos.

Com o tempo a Obra se desenvolveu em duas Congregações religiosas: as Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, e as Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, estas últimas por vontade do Papa vieram em Roma em 1927.

Após a nomeação dos Protetores (3 de julho de 1641), que passaram a ser considerados os verdadeiros superiores da Obra, a Bracelli não se ocupou mais do governo da casa: era submissa à vontade deles e se conformava segundo o parecer deles, até mesmo na aceitação de jovens necessitadas. Vivia como a última das “filhas”, dedicada ao serviço de casa: saía de manhã e também à tarde, para mendigar o sustento para a convivência. Interessava-se por todas como uma mãe, especialmente pelas doentes, dedicando a elas os mais humildes serviços.

Já nos anos precedentes, havia iniciado uma ação social saneadora, destinada a cuidar das raízes do mal e a prevenir as recaídas: os doentes e os inábeis eram internados em Institutos especiais; os homens válidos eram encaminhados para o trabalho; as mulheres deviam exercitar-se em tecelagem; as crianças deviam empenhar-se em frequentar as escolas.

Com o crescer das atividades e dos esforços, Virgínia viu decrescer ao seu redor, o número das colaboradoras, particularmente as senhoras burguesas e aristocráticas que temiam comprometer a sua reputação ao tratar com gente corrupta e seguindo uma guia, embora tão nobre e santa, um pouco temerária nas empresas.

Abandonada pelas Auxiliadoras, exautorada realmente pelos Protetores no governo de sua Obra, ocupando o último lugar entre as irmãs na casa de Carignano, enquanto a sua saúde física declinava rapidamente, Virgínia atingia nova força da solidão moral.

Aos 25 de março, obteve da República a acolhida da Virgem como protetora. Providenciou, juntamente com o Arcebispo da cidade a instituição das Quarenta Horas, que se iniciaram em Gênova, no final de 1642, e a pregação das missões populares (1643). Interferiu para esclarecer as freqüentes e sanguinárias rivalidades que surgiam por fúteis motivos, entre as nobres famílias e os cavalheiros. Em 1647 obteve a reconciliação entre a Cúria Episcopal e o Governo da República; também entre eles, lutas por meras questões de prestígio. Sem jamais perder de vista os mais abandonados, era sempre disponível a todos os que a ela se dirigiam para receber ajuda, independentemente da proveniência social.

Agraciada pelo Senhor com êxtases, visões, locuções interiores e outros dons místicos especiais, morreu aos 15 de dezembro de 1651, com 64 anos de idade. Foi beatificada em 22 de setembro de 1985 pelo Papa São João Paulo II, que também a canonizou no dia 18 de maio de 2003.



Fontes:
Blog  “Heroínas da Cristandade”: www.heroinasdacristandade.blogspot.com.br
Site do Vaticano: www.vatican.va

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Serva de Deus Teresa Juliana Chikaba, Virgem dominicana.



Na vida da pequena princesa negra Chikaba, exemplo admirável e patente de como uma alma fiel à Lei natural impressa em seu coração pode chegar ao conhecimento de Deus.
É doutrina corrente que Deus sempre dá às suas criaturas — inclusive às que vivem em condições muito adversas como a heresia e o paganismo — as condições necessárias para a salvação. Ele o faz por meio da lei natural, que é impressa em todos os corações. Sendo fiel a essa lei, uma alma reta pode chegar ao conhecimento de Deus.
Disso temos exemplo num caso de uma menina nascida na África de pais adoradores do sol, que desde os albores da vida se punha a questão: “Quem criou o mundo e tudo o que existe?” Por meio dessa lei que habitava no fundo do seu coração, ela praticava uma religião natural, e chegou ao conhecimento de Deus antes de chegar à luz da fé sobrenatural.
Trata-se da princesa Chikaba, nascida nos finais do século XVII e princípios do XVIII na Costa do Ouro, na África, e falecida como freira contemplativa na Espanha.



Filha de pequenos reis africanos
Nascida em 1676 no pequeno reino da Costa do Ouro, ela era a caçula e a mais inteligente dos quatro filhos dos soberanos da Mina Baixa de Ouro, pelo que todos julgavam que sucederia ao pai no governo do país.

O Evangelho não havia ainda penetrado naquela região e, no entanto, desde o uso da razão a princesa Chikaba deu mostras de uma religiosidade natural fora do comum. Vendo os campos, as flores, os pássaros, ela se perguntava, como fazia Santo Tomás de Aquino aos cinco anos de idade, abismado diante da grandeza da Criação: “Quem rega a terra, mantém a erva fresca, e dá colorido às flores?”.

Certo dia, um de seus irmãos levou-a a um rito do culto ao sol, adorado por sua tribo. Mostrando-lhe o astro-rei em todo o seu esplendor matutino, disse-lhe: “Vês ali o deus por quem perguntas, e a quem toda terra reverencia?”. Não convencida, a menina respondeu sagazmente: “Mas, quem pôs ali essa estrela? Como é pequena para ser autora de tanta grandeza!”.

Deslumbrados por sua prematura sabedoria, os súditos de seu pai começaram a considerá-la uma espécie de oráculo divino, e a consultá-la em suas dúvidas. Contudo, Chikaba fugia para a solidão, a fim de meditar em todas essas coisas e, de certo modo, prestar ao seu modo um culto ao verdadeiro Deus, que ainda não conhecia.


Aparece-lhe a Virgem Santíssima
Aos nove anos, chegando junto a uma fonte natural, Chikaba se perguntou: “Quem a pôs aí?”. Ao levantar os olhos, viu diante de si uma Senhora branca e formosa, que levava nos braços um Menino branco. Este sujeitava numa das mãos uma longa fita, e acariciava a cabeça da menina com a outra. Essa visão a marcou para sempre.

Certo dia, quando seu irmão mais velho lhe expressou o temor de que seria ela, e não ele, a suceder ao pai, ela o tranquilizou dizendo: “Sabes que eu não hei de casar nesta terra com homem algum, mas, com um Menino muito branco que conheço?”. Ela já estava enamorada do Menino Deus.



Reviravolta trágica, mas providencial
Foi então que a vida de Chikaba teve uma reviravolta trágica, embora providencial. Concentrada em suas elucubrações, ela se afastou um dia até uma praia desconhecida. Nesse momento, aportava uma barca proveniente de um navio espanhol. Um dos seus ocupantes, vendo a menina, capturou-a para levá-la como escrava.

Ao ver afastar a praia, Chikaba compreendeu que a levavam para sempre ao desconhecido. Quis então atirar-se às águas, mas nesse momento apareceu-lhe novamente a bela Senhora branca, que a dissuadiu do que poderia ter resultado em sua morte.

Os tripulantes do navio, vendo suas joias e o modo como Chikaba estava vestida, compreenderam que devia ser alguém de certa relevância entre os seus. E começaram a tratá-la com mais consideração.

Foi provavelmente algum sacerdote presente no navio que, vendo a viva inteligência da menina, começou a instruí-la nas verdades da fé. Chikaba assimilava sofregamente tudo isso, que vinha de encontro aos seus mais caros anseios. De tal modo que, atracando o barco em São Tomé para reabastecimento, ela foi ali batizada com o nome de Teresa. Tinha então dez anos de idade.

Teresa Chikaba explicou depois ao seu confessor a felicidade que representou para ela encontrar por fim resposta a todas suas inquietudes religiosas. E que isso mitigou muito a dor que sentia ao ver-se separada para sempre de seus entes queridos.



Na Espanha, confidente da Marquesa de Mancera
Mapa histórico da Costa da Guine chamada Costa de OuroChegando à Espanha, seus captores julgaram que aquela escrava, por sua origem e sua personalidade, merecia viver na corte real de Madri. Consequentemente, ofereceram-na ao rei Carlos II, que a entregou ao Marquês de Mancera [pintura ao lado] para que cuidasse de sua educação religiosa e cívica.

Resultado de imagem para ChikabaBem orientada por um diretor espiritual, a adolescente progrediu tanto na virtude que passou a ser confidente da marquesa. Esta, abandonando as diversões e os entretenimentos, começou a passar com a escrava muitas horas diante do Santíssimo Sacramento.

Ora, essa preferência por Chikaba provocou a inveja dos outros servidores, que começaram a insultá-la e molestá-la, especialmente uma escrava turca, que tentou mesmo assassiná-la. Atacada por mortal moléstia, a muçulmana se negava a converter-se. Chikaba, com muita caridade e tato, conseguiu convencê-la a receber o batismo, após o qual a turca morreu piedosamente.



Um tio tenta casar-se com ela
Alguns anos depois, apareceu na corte de Carlos II um negro, também de origem nobre, chamado João Francisco. Este havia sido capturado em seu país por franceses, e dado a Luís XIV. Quando o Rei-Sol lhe deu a liberdade, João Francisco foi para a Espanha.

Lá sabendo que uma jovem negra estava com os marqueses de Mancera, quis conhecê-la, vindo a descobrir que era sua sobrinha.

Teresa teve assim notícias de seus pais e irmãos, alguns deles já falecidos. E ficou alegremente surpresa ao saber que todos eles tinham se tornados cristãos.

João Francisco quis casar-se com ela, para voltarem juntos à sua pátria. Mas Chikaba recusou-se de modo peremptório, pois estava resolvida a entregar-se inteiramente àquele Menino branco, que já sabia que era o próprio Menino Jesus. O tio usou de violência e quis levá-la à força, mas com a intervenção dos marqueses sua tentativa fracassou.


À procura de um convento
Vendo a firme resolução da jovem de entrar num convento, os marqueses encarregaram o nobre cavaleiro Dom Diego Gamarra de procurar um em Madri ou nos arredores, que quisesse recebê-la. Apesar das altas recomendações, todos os conventos se negavam a recebê-la.

Isso constituiu um profundo sofrimento para a jovem. Segundo dizem as Atas do Capítulo Provincial dos Dominicanos, reunidos em Toro em 1749, São Domingos então “a consolou, assegurando-lhe que se cumpririam seus desejos”.

Finalmente, Dom Diego procurou a priora do Convento da Penitência de São Domingos, em Salamanca, que concordou em receber a postulante. Isso ocorreu no ano de 1703.

Outra cruz estava reservada a Teresa: o bispo local, Dom Francisco Calderón de la Barca, parente do dramaturgo, proibiu que ela ingressasse como monja de coro, só a recebendo como irmã leiga e servente. Isso significava que ela não podia compartilhar a vida das outras monjas, nem, sobretudo, rezar com elas o Ofício Divino. Com espírito de obediência, ela aceitou essa humilhação.

Aos poucos as irmãs foram se edificando com a bondade de coração, piedade e caridade da jovem postulante, mesmo para com aquelas que a tratavam mal por causa de sua cor.

Ocorreu então a uma das freiras, Irmã Maria Teresa de São Jacinto, ensinar-lhe a rezar o Ofício Divino segundo o rito dominicano, e outras orações próprias à Ordem. Isso foi providencial, pois o bispo, reconhecendo a santidade daquela irmã leiga, não só permitiu que fosse recebida no Noviciado, mas adiantou sua profissão religiosa.


Desse modo, no dia 29 de junho de 1704, Chikaba, aos 28 anos de idade, converteu-se em Irmã Teresa Juliana de São Domingos. Para reparar sua falta anterior, o próprio bispo quis presidir à profissão solene.

Nesse dia a nova monja teve uma visão de São Domingos, que recebeu seus votos. Como ela confessou mais tarde, essa foi uma das três ou quatro vezes que o santo fundador lhe apareceu.

Aos poucos, a virtude dessa santa negra começou a ser conhecida fora do convento, por suas penitências e seus jejuns. E assim começaram as visitas ao parlatório, para ter o privilégio de pedir-lhe conselhos e recomendar-se às suas orações. Teresa passou a ser conhecida carinhosamente em Salamanca como “A Negrinha”, ou “La negrita de la penitencia”.

O povo atribuía-lhe não só diversas curas, mas também o fato de a cidade de Salamanca ter-se visto livre dos bombardeios e saques durante a guerra com Portugal, em 1706. Nessa ocasião, diante da proximidade dos bombardeios, Teresa havia posto numa das janelas do convento uma imagem de São Vicente Ferrer como escudo protetor. E recomendou aos habitantes da cidade que rezassem a ele pedindo proteção.

Os restos mortais da Irmã Teresa Chikaba repousam no claustro do belíssimo Monastério dominicano de Santa Maria de las Dueñas, em Salamanca (Espanha). [Foto PRC]


Transfiguração final
A irmã Teresa Chikaba morreu em odor de santidade no dia 6 de dezembro de 1748, segundo ainda o Capítulo de Toro, “tendo vivido setenta e dois anos sem mancha de pecado mortal”. Seu biógrafo relata um prodígio que sucedeu nesse momento, e que assombrou o doutor que a atendia: uma breve transfiguração converteu em luminosamente branco seu rosto negro.

Os restos mortais da irmã Teresa foram depositados no convento Santa Maria de las Duenas, em Salamanca e, em 1961, foram guardados num sepulcro, aberto no claustro daquele histórico monastério, com uma lápide de mármore negro.

Apesar de que em seu tempo ninguém duvidasse de sua santidade, já transcorreram mais de 250 anos desde a morte de Teresa Chikaba sem que a Igreja se tenha ainda pronunciado por meio de sua beatificação e canonização. O que fazemos votos para que ocorra o quanto antes, para sua glorificação, de sua raça, de sua terra natal, e de toda a Igreja.



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Notas:

[i] Cfr. Dom Estêvão Bettencourt, A Lei Natural, in

 http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?head=0&num=565

[ii] Utilizamos para este artigo a matéria publicada em http://www.religionenlibertad.com/teresa-chikaba-la-negrita-de-la-penitencia-de-princesa-a-esclava-37378.htm

[iii] Cfr. https://pt.wikipedia.org/wiki/Costa_do_Ouro_(regi%C3%A3o)