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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Serva de Deus Zélia Pedreira Abreu e a Beata Nhá Chica.










          Uma santa visitando outra... O dom profético de Nhá Chica. 
Certa vez, a Beata Nhá Chica recebeu em sua pequenina casa o nobre conselheiro do Império, João Pedreira do Couto Ferraz. Era o ano de 1873. Ele, casado com Elisa Amália de Bulhões Pedreira, fazia-se acompanhar, entre outras pessoas, de sua filha primogênita que na ocasião contava 15 anos de idade e alimentava o desejo de consagrar-se ao Senhor. Era a jovem Zélia, nascida a 05 de abril de 1857.
A família encontrava-se no vizinho povoado de Caxambu para desfrutar das suas ricas águas minerais. A boa fama de sábia conselheira da beata Nhá Chica, que naquele tempo já trespassara os limites da pequena vila Baependi, atraia muitos à sua procura. Aquela ditosa família acorreu ao encontro da piedosa serva de Deus para recomendar às suas orações a jovem menina desejosa de Deus.
Nhá Chica recebeu-os em sua modesta casa e logo depois de «um dedo de prosa» já conhecia as aflições daquela família. Recolheu-se então ao seu quartinho e à intimidade da oração à sua «Sinhá», modo carinhoso como se referia à pequenina imagem da Senhora da Conceição que herdara de sua mãe. Os hóspedes esperavam na sala. Pouco tempo depois, voltou a velha senhora e, sem transparecer sombra alguma de dúvida, pronunciou o oráculo profético:

- «Ela vai se casar! Terá muitos filhos e no fim da sua vida será toda de Nosso Senhor».
Regressaram a Caxambu, mas não se esqueceram das palavras proféticas de Nhá Chica.
Zélia recebera primorosa educação literária, artística e científica e revelava especial pendor para o estudo dos idiomas. Falava e escrevia corretamente o francês, o inglês, o espanhol e o italiano. Conhecia ainda o alemão, o latim e o grego.

«Ela vai se casar!»
O ingresso na vida religiosa feminina não era algo fácil, visto que naquela altura não eram muitas as casas religiosas femininas no Brasil e o noviciado era normalmente feito na Europa. Por esses ou outros motivos, o certo é que Zélia não ingressou então na Vida Religiosa, mas pelo contrário, cerca de três anos depois, em 27 de julho de 1876 casou-se com o Dr. Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, engenheiro civil e homem de particular espírito religioso.

Após uma temporada em Petrópolis, o casal fixou-se na Fazenda Santa Fé, na Vila do Carmo de Cantagalo, Província do Rio de Janeiro. Lá se constituía em um autêntico lar cristão. Na Fazenda havia uma capela, na qual inúmeras vezes ao dia Zélia era encontrada rezando. Os escravos da fazenda sempre iniciavam o trabalho do dia com uma oração guiada por ela e seu esposo no pátio da fazenda onde havia um coreto. Zélia muito se preocupava com a vida espiritual deles, por isso, sempre participavam da missa, se confessavam e recebiam sólida catequese, oferecida por Zélia e Jerônimo. Ela mesma os catequizava: adultos e crianças.
Eles nunca tratavam seus escravos como propriedade. Na fazenda dos servos de Deus eles viviam em liberdade e recebiam salário. Quando foi assinada a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que abolia a escravidão negra no Brasil, eles permaneceram na Fazenda Santa Fé, pois sempre viveram e foram tratados como pessoas livres. Na fazenda, o piedoso casal construiu uma enfermaria para tratar dos escravos doentes e periodicamente vinha um médico, e Zélia mesma com seus filhos iam visitá-los e inclusive tratar deles.




«Terá muitos filhos»
Desse feliz matrimônio nasceram treze filhos, dos quais quatro faleceram em tenra idade. Os demais, três homens e seis mulheres abraçaram a Vida Religiosa em diferentes Ordens e Congregações: um lazarista, um jesuíta e um franciscano; quatro doroteias e duas irmãs do Bom Pastor.

Sabe-se que também o casal sempre desejou consagrar-se ao Senhor, mas Jerônimo não pode, morreu em 1909, deixando viúva sua amada esposa que, quatro anos mais tarde em 1913, depois de cuidar do seu pai até a morte, entrou com uma permissão especial, para o Convento das Servas do Santíssimo Sacramento, estabelecido em 1912 no Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Contudo, uma de suas filhas gravemente enferma e seu jovem filho, Fernando, jesuíta, não tendo ainda os votos perpétuos, fizeram com que Zélia esperasse ainda mais um pouco para concretizar sua plena consagração a Cristo.
Somente em 1918, após vender todos os seus bens e doá-los aos pobres e à Igreja, cumprindo assim a ordem do Evangelho (Mt 19,21) de vender tudo e dar aos pobres para depois seguir a Jesus Cristo mais de perto, Zélia pode concretizar a sua consagração há tantos anos predita profeticamente por Nhá Chica: «… no fim da sua vida, ela será toda de Nosso Senhor».


Zélia, não achando suficiente ter renovado nove vezes o sacrifício de entregar seus filhos a Deus, entregou a si mesma, como sua maior prova de amor. Passou então a chamar-se Irmã Maria do Santíssimo Sacramento, ao tomar o hábito religioso em 22 de janeiro 1918.
Ela terminou sua edificante e modelar existência, a 8 de setembro de 1919, em justa fama de santidade. Foi sepultada em um simples jazigo no Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. Em 1937 por causa do grande número de fiéis que frequentemente iam rezar no seu túmulo, resolveram transladar os seus restos mortais para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. A transladação seria muito discreta e constaria somente de uma Missa na Paróquia, celebrada pelos seus três filhos. Quando, porém a multidão soube da transladação acorreu ao Cemitério e o número de fiéis era tão grande que parecia uma procissão, o trânsito parou e no dia seguinte todos os jornais noticiaram o que havia ocorrido. A igreja não comportou todo o povo e por isso uma grande multidão se acomodou nas ruas laterais da Paróquia.
Um dos seus filhos, o franciscano, Frei João José Pedreira de Castro, visitou em 07 de janeiro de 1953 a Igreja da Conceição, onde se encontram os restos mortais da Beata Francisca Paula de Jesus – Nhá Chica e registrou o seguinte depoimento: «Tive hoje mais uma vez a oportunidade de visitar o túmulo de Nhá Chica. É sempre com profunda emoção que me achego deste túmulo que encerram os despojos venerandos de quem em vida só teve uma preocupação: a piedade e a caridade. Alma simples do povo, Nhá Chica avantajou-se prodigiosamente. Acentuo esse advérbio, quer em vista dos muitos prodígios (profecias, graças, quiçá milagres), que dão atestados terem sidos recebidos por sua intercessão durante a sua vida e após a sua morte, quer relativamente à sua personalidade (…) Permita a providência divina que a Autoridade Eclesiástica tenha por bem aprovar sempre mais e promover a devoção de Nhá Chica, esse maravilhoso exemplo de uma cristã que soube objetivar em si plenamente o evangelho». Já no céu, frei João vê elevada às honras dos altares a Beata Nhá Chica e com certeza, aguarda o mesmo para sua piedosa mãe.
Inúmeras são as graças alcançadas pela intercessão da Serva de Deus Zélia, esta grande mãe de família, viúva, filha fiel e toda de Deus. Mas, não só! Também são incontáveis as graças alcançadas pela intercessão de seu piedoso esposo, Jerônimo.


Processo de Beatificação
No dia 20 de janeiro de 2014, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta inaugurou oficialmente o processo de beatificação do casal Jerônimo e Zélia que poderá ser o primeiro casal brasileiro a receber o título de beatos da Igreja.
As relíquias de ambos foram transladadas para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, onde estão expostas para veneração pública. Um dia foi predita tal santidade junto à pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, edificada pela Beata Nhá Chica, agora aguarda o reconhecimento oficial da Igreja, repousando noutro templo dedicado ao mesmo orago.




Servos de Deus, Zélia e Jerônimo podem se transformar no primeiro casal de bem-aventurados do Brasil

Quando se casaram, no dia 27 de julho de 1876, na Chácara da Cachoeira, no Rio de Janeiro, Zélia e Jerônimo, então com 19 e 25 anos, não imaginavam que estavam prestes a escrever uma bela história de amor. Em 33 anos de casados, os dois tiveram 13 filhos. Quatro deles morreram ainda pequenos e nove, três homens e seis mulheres, seguiram a vocação religiosa. Entre os homens, um tornou-se Lazarista, outro Franciscano e o terceiro Jesuíta. Das seis mulheres, quatro ingressaram na Congregação das Irmãs de Santa Doroteia e duas na Congregação do Bom Pastor. Mas a bela história de amor a que me referi no começo da matéria ainda não chegou ao fim.

Com a morte de Jerônimo em 1909, aos 58 anos, Zélia resolveu vender tudo o que tinha, dar aos pobres e ingressar no Convento das Servas do Santíssimo Sacramento. Foi quando passou a ser chamada de Irmã Maria do Santíssimo Sacramento. “Mesmo tendo excelentes condições financeiras, os valores evangélicos sempre prevaleceram na casa de Zélia e Jerônimo. Os dois conseguiram transmitir aos filhos uma espiritualidade muito rica”, destaca dom Roberto Lopes, delegado para a Causa dos Santos da Arquidiocese do Rio de Janeiro. “A morte não conseguiu separá-los. Mesmo depois de mortos, Zélia e Jerônimo continuam unidos pelas virtudes heroicas”, enfatiza.

Um dado curioso da biografia de Zélia é que, aos 15 anos, ela conheceu Nhá Chica em Baependi, Minas Gerais. Apesar de jovem, a menina já manifestava o desejo de ingressar na vida religiosa. Foi quando seu pai, João Pedreira do Couto Ferraz, a levou para conversar com Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica. Embora fosse um católico ardoroso, o pai de Zélia não gostaria que a filha ingressasse tão cedo numa ordem religiosa. Depois de conversar com a menina e pedir a intercessão de Nossa Senhora da Conceição, de quem era devota, Nhá Chica disse a Zélia que ela seria freira, sim, mas não agora. Antes, se casaria com um homem santo e seria mãe de uma grande prole.

Modelos de vida cristã – Jerônimo de Castro Abreu Magalhães nasceu em Magé, na Baixada Fluminense, no dia 26 de julho de 1851. Depois de estudar Ciências Humanas na Alemanha, formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1873. Sua futura esposa, Zélia Pedreira Abreu Magalhães, nasceu em Niterói, em 5 de abril de 1857. Poliglota, aprendeu a falar e a escrever fluentemente em quatro idiomas: inglês, francês, espanhol e italiano. Depois de passar a lua de mel em Petrópolis, região serrana do Rio, o casal fixou residência na Fazenda Santa Fé, no município do Carmo, que pertencia à aristocrática família Abreu Magalhães.

Uma das primeiras medidas que Jerônimo tomou ao assumir a propriedade foi desativar a senzala. No lugar dela, ergueu moradia para os 500 empregados da fazenda. Doze anos antes da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, que aboliu a escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888, Jerônimo concedeu alforria para os escravos da Santa Fé. Também pagava salário e oferecia atendimento médico a eles. Zélia não ficou atrás. Construiu uma capela e, todos os dias, mandava celebrar missa. Ela própria se encarregou da formação catequética dos empregados e de seus familiares. Exortava a todos em Santa Fé que recebessem os sacramentos do Batismo e do Matrimônio.

Santo casal – Zélia tornou-se freira em 22 de janeiro de 1918 e morreu em 8 de setembro de 1919. Seu jazigo no Cemitério São João Batista, em Botafogo, logo virou lugar de romaria e devoção. A primeira tentativa de beatificá-la aconteceu no ano de 1937. Na ocasião, a ideia era reverenciar apenas a matriarca da família. Os restos mortais de Zélia – ou Irmã Maria do Santíssimo Sacramento, como ficou mais conhecida – chegaram a ser trasladados para a Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, mas o caso foi arquivado sem motivo aparente. Décadas depois, os postuladores da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano recomendaram à Arquidiocese do Rio de Janeiro que o processo contemplasse também Jerônimo. “Zélia não foi santa sozinha. O marido dela também é”, argumentaram.

“A vida exemplar de Zélia e Jerônimo é um testemunho contundente e irrefutável de que é possível, sim, ser santo nos dias de hoje. Não apenas e tão somente na vida consagrada, como padre, freira ou religioso, mas também e, principalmente, na vida cotidiana, como pai amoroso e mãe dedicada. Os dois souberam viver a santidade em plenitude”, salienta padre João Geraldo Bellocchio, presidente da Associação Cultural Zélia e Jerônimo e pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição, na Gávea. É lá que estão expostos os restos mortais do casal para veneração pública até a conclusão do processo de beatificação.

Em defesa da família – Por sua inegável dedicação à caridade, Zélia e Jerônimo podem se tornar o primeiro casal brasileiro a ser beatificado. No mundo inteiro, são apenas dois os casais de beatos: os italianos Luigi Beltrame e Maria Corsini Quatrocchi e os franceses Luís Martin e Zélia Guérin, os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus. O primeiro casal foi beatificado pelo papa João Paulo II, em 2001, e o segundo por Bento XVI, sete anos depois. Na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, o número de famílias que pedem a intercessão de Zélia e Jerônimo tem crescido nos últimos meses. Os pedidos são os mais variados possíveis e vão desde casar e ter filhos até arranjar emprego e largar o vício.

Um dos relatos que mais tocou padre João Bellocchio é o de uma moradora da Rocinha, que se inscreveu no Curso de Crisma da paróquia. Por mais que ela tentasse convencer o companheiro a se casar na Igreja e regularizar a situação, o rapaz permanecia irredutível. “Era do tipo que não podia sequer ouvir falar de padre”, brinca o pároco. Quando soube da história de Zélia e Jerônimo, resolveu fazer a novena. Um dia, ao chegar a casa, o marido se virou para ela e, do nada, perguntou: “E aí, já marcou a data do casório?”. Por um momento, ela pensou que o sujeito estivesse de brincadeira. Não estava. Para felicidade de padre João Bellocchio, os dois se casaram ali mesmo, na paróquia.


Das devotas de Zélia e Jerônimo, a aposentada Cecília Duprat de Britto Pereira, 86, é a mais fervorosa. Sobrinha-neta do casal, ela conta que, na adolescência, pegou crupe, infecção bacteriana que podia levar à morte. Seu irmão já havia morrido da doença, um ano antes. Mesmo assim, sua mãe não esmorecia e, todas as noites, pedia a intercessão de Tia Zélia. “Naquela noite, mamãe dormiu rezando o terço. No dia seguinte, eu estava totalmente curada”, relata Cecília. No caso de Zélia e Jerônimo, santo de casa faz milagre, sim.





sábado, 28 de novembro de 2015

SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA e a Serenidade.



Santa Catarina de Alexandria inspirou 
a espiritualidade de muitos santos e santas
que foram-lhe devotados. 
     Sobre a morte da Santa Catarina, o Abbé Daras, na "Vida dos Santos", tem essa narração:

     "Maximiliano, imperador, ordenou a morte de Santa Catarina. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte. A virgem caminhava com grande calma. Antes de morrer, fez a seguinte oração: ‘Senhor Jesus Cristo, meu Deus, eu vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o rochedo da fé e terdes dirigido meus passos na via da salvação. Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz, para receber minha alma, que eu sacrifico à glória de Vosso Nome. Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por vós. Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor, em poder dos que me odeiam. Baixai vosso olhar sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade. Enfim, Senhor, exaltai em vossa infinita misericórdia aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que Vosso Nome seja para sempre bendito’.
     "Em seguida mandou que os soldados cumprissem as ordens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe. Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo foram constatados. Os anjos, como ela o desejara, transportaram seu corpo para a santa montanha do Sinai, a fim de que repousasse onde Deus escrevera sobre pedra sua Lei, que ela guardava tão fielmente escrita em seu coração".

     Esse trecho é de uma tal elevação que quase se lamenta ter que comentá-lo. Eu ficaria mais satisfeito deixando assim o texto brilhando no céu, no horizonte, suspenso, sem apoio nenhum na realidade, emitindo luzes. Mas já que é preciso comentar, vamos aos pormenores.
     "Ela foi conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte".
    Se pensarmos que são sobretudo as senhoras de alta condição que encabeçam as extravagâncias hoje em dia, vemos como as situações têm mudado. E quanto ainda tem de possibilidades um país onde as senhoras de alta condição acompanham, ao lugar do suplício, solidarizando-se com ela, chorando junto com ela, uma mártir que foi fulminada pela cólera do imperador. Um imperador onipotente, que pode mandar matar todos aqueles que se desagradarem de alguma atitude dele. Entretanto, essas damas vão todas, com Santa Catarina, e vão chorando.
     O bonito, para verem a diversidade dos dons do Espírito Santo e dos efeitos da graça, é que elas vão chorando e está bem que elas vão chorando. Mas contrasta com isso, pela sublimidade, com esse dom das lágrimas que as mulheres tiveram nesse momento, o fato de que Santa Catarina não chorava. Ela permanecia quieta, e com uma grande calma. Ela caminhava de encontro à morte inundada de graças do Espírito Santo de outra natureza, por onde ela não chorava para si aquilo que a graça queria que as outras chorassem para ela. E como deveria ser impressionante esse cortejo de damas, andando, no meio dos soldados, e ela no meio, a única calma, a aconselhar a todas que tivessem tranquilidade, que tivessem consolação, até chegar o momento em que ela devia morrer.
     Aí, no fim da vida, ela faz uma oração. Essa oração é muito bonita e tem aquela forma especial de beleza que tem certas coisas muito bonitas quando não são inteiramente consequentes na sua lógica: é um conjunto de afirmações, como raios de luz que procedem de um mesmo foco, mas que brilham com uma beleza própria no horizonte. Vejam aqui a ideia dela: "Senhor Jesus Cristo, meu Deus"... ... é para afirmar que Ele era o Deus dela e que ela não reconhecia outro Deus senão Ele. A primeira coisa que ela diz no momento de morrer, a primeira palavra, o primeiro pensamento dela é para essa primeira graça:
     "Eu vos agradeço por terdes firmado meus pés sobre os rochedos da fé, e terdes dirigido meus passos na via da salvação".
     Quer dizer, eu vos agradeço por ter pertencido a Vós. Vós que sois a fonte de minha salvação, Vós que sois o ponto de partida de todo o bem que pode haver em mim, Vós que, se eu sou boa, é porque Vós sois bom e porque Vós me destes o ser boa: eu Vos agradeço a fé que me destes e a firmeza que me destes na fé; eu Vos agradeço o amor à virtude que me destes e a firmeza que Vós me destes no amor à virtude. Isso é o primeiro que Vos agradeço, reconhecendo que tudo que em mim há, à vossa iniciativa eu devo.
     "Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz para receber minha alma que eu sacrifico à glória de Vosso Nome".
     Pode haver uma coisa mais bela do que isso? O Divino Crucificado, com os braços todos sangrando, que os desprende da cruz para receber a alma dela que sai também inundada do sangue do martírio para ser recebida por Ele. Que maravilhosa intimidade! Que encontro do Mártir dos mártires com uma mártir heroica e grandiosa! Que ideia do sangue dela misturando-se ao Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo! Que noção do Corpo Místico de Cristo há nisso! Que sacratíssima e augustíssima intimidade com Nosso Senhor! Ela tinha de tal maneira a ideia de que a alma dela estava unida a Ele, que a morte selava essa união, que ela pedia que Ele a abraçasse, logo que ela entrasse na eternidade. Que certeza de ir para o Céu!     [...]
     Vamos pedir que em todas as ocasiões da vida tenhamos essa calma diante do risco e calma que seja levada até o sacrifício extremo, caso essa seja a vontade de Nossa Senhora.


Fontes:
Plinio Corrêa de Oliveira, Santo do Dia, 24 de novembro de 1965  e  blog Heroínas da Cristandade. 

SÃO JOÃO BATISTA SCALABRINI Bispo e Fundador dos Scalabrinianos.



João Batista Scalabrini, nasceu perto de Como, Itália, em oito de julho de 1839. A sua família era humilde, honesta e cristã. Ele desejou tornar-se padre e entrou no seminário diocesano, no qual se distinguiu pela inteligência e perseverança. Foi ordenado sacerdote em 1863. Iniciou o apostolado como professor do seminário e colaborador em paróquias da região. Possuía alma de missionário, mas não conseguiu realizar sua vontade de ser um deles na Índia.

Scalabrini foi designado pároco da paróquia urbana de São Bartolomeu em 1871. Seu ministério foi marcante e priorizou a catequese da infância e da juventude. Atento aos inúmeros problemas sociais do seu tempo, escreveu vários livros e publicou até um catecismo.

Ao ser nomeado bispo de Piacenza, ficou surpreso. Tinha trinta e seis anos e lá permaneceu quase trinta como pastor sábio, prudente e zeloso. Reorganizou os seminários, cuidando da reforma dos estudos eclesiásticos. Foi incansável na pregação, administração dos sacramentos e na formação do povo.

Scalabrini, como excelente observador da realidade de sua época, fundou um instituto para surdos-mudos e uma organização assistencial para mulheres abandonadas das zonas rurais, pertencentes à sua diocese. Mas o trabalho que mais o instigou e para o qual não media esforços foi o que desenvolveu com os migrantes. Entre os anos de 1850 e 1900, foram milhões de europeus que deixaram seus lares e pátria em busca da sobrevivência. Para eles o bispo Scalabrini criou a Casa dos Migrantes.

Um dia, ele estava na estação ferroviária e viu centenas de migrantes esperando, com suas trouxas, o trem que os levaria ao porto de embarque. A situação de pobreza e abandono desses irmãos infelizes marcou para sempre seu coração. Em seguida, Scalabrini recebeu uma carta de um emigrante da América do Sul, suplicando que um padre fosse para aquele continente, porque, como dizia, "aqui se vive e se morre como os animais".
A partir daquele momento, Scalabrini foi o apóstolo dos italianos que abandonaram a própria pátria. Em 1887, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu, conhecidos atualmente como padres scalabrinianos, para a assistência religiosa, moral e social aos emigrantes em todo o mundo, e criou a Sociedade São Rafael, um movimento leigo a serviço dos migrantes.

Ele próprio planejou e realizou viagens para visitar os missionários na América Latina, pois queria que estivessem estimulados e encorajados a dar a assistência religiosa e social aos emigrantes. Percebendo que sua obra não estava completa, em 1895 fundou a Congregação das Missionárias de São Carlos Borromeu, hoje das irmãs scalabrinianas, e concedeu reconhecimento diocesano às Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração, enviando-as para o trabalho com os emigrantes italianos do Brasil em 1900. Apesar de todo esse trabalho, jamais descuidou de sua diocese.

Scalabrini dizia que sua inspiração tinha origem na ilimitada fé em Jesus Cristo presente na eucaristia e na oferta dele na cruz. Morreu no dia 1º de junho de 1905, na cidade de Piacenza, Itália, deixando esta mensagem aos seus filhos e filhas: "Levai onde quer que esteja um migrante o conforto da fé e o sorriso de sua pátria. Devemos sair do templo, se quisermos exercer uma ação salutar dentro do templo". O Papa São João Paulo II beatificou-o com o título de "Pai dos Migrantes" em 1997.

Foi solenemente canonizo pelo Francisco, na Praça de São Pedro, no dia 09 de outubro de 2022.

(fonte: portal paulinas.org.br)




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Segundo texto biográfico

JOÃO BATISTA SCALABRINI nasceu em Fino Mornasco, Província de Como (Itália), no dia 8 de Julho de 1839. Terminado o curso de Filosofia e Teologia no Seminário de Como, recebeu a Ordenação sacerdotal a 30 de Maio de 1863. Nos primeiros anos de sacerdócio foi professor e depois reitor do Seminário; em seguida assumiu a paróquia de S. Bartolomeu. Com apenas 36 anos de idade foi consagrado Bispo de Placência, no dia 30 de Janeiro de 1876.

A sua atividade pastoral e social foi bastante vasta: realizou pessoalmente cinco visitas pastorais às 365 paróquias da diocese, muitas delas localizadas longe e em situações de difícil acesso; celebrou três Sínodos, um deles dedicado ao culto eucarístico para incentivar a adoração perpétua; reorganizou os Seminários, cuidando da reforma dos estudos eclesiásticos; foi infatigável na administração dos sacramentos, na pregação e na educação do povo ao amor ativo à Igreja e ao Papa, no culto da verdade, da unidade e da caridade. Nesta virtude, em particular, desvelou-se na assistência aos doentes de cólera, na visita às famílias empobrecidas e na generosidade ao perdão.

Definido por Pio IX «apóstolo do catecismo », quis que este fosse ensinado em todas as paróquias, incentivando a catequese dos adultos; fundou a primeira revista catequética italiana.

Impressionado, desde o início do seu episcopado, pelo desenrolar dramático da emigração italiana, D. Scalabrini fez-se apóstolo dos milhões de italianos que abandonavam a própria pátria. Com a aprovação de Leão XIII, no dia 28 de Novembro de 1887 fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), para a assistência religiosa, moral, social e legal dos emigrantes. Em 1895 fundou, com esta mesma finalidade, a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos, e abriu o campo da emigração também para as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração. Mais recentemente, em 1961, fruto dos seus ensinamentos nasceram as Missionárias Seculares Scalabrinianas.

A enorme atividade de D. Scalabrini tinha origem e encontrava inspiração profunda na ilimitada fé em Jesus Cristo, presente na Eucaristia e em oferta contínua na Cruz; extraordinária também foi a sua devoção a Nossa Senhora, sempre recordada nas suas homilias e muitas vezes visitada nos santuários marianos.

Morreu no dia 1 de Junho de 1905, tendo pronunciado estas palavras: «Senhor, estou pronto, vamos!». De facto tinha cumprido o seu programa: «Fazer-se tudo para todos».


(Fonte: site vatican.va)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

RELÍQUIAS: O CORPO FÍSICO TOCADO PELA SANTIDADE.



Que religião manteria guardados os ossos de pessoas mortas, colocando-os em exposição e esperando que as pessoas viessem beijá-los? O que são as relíquias e por que são tão importantes para os católicos? Eles realmente acreditam na autenticidade destas relíquias?

Uma relíquia é algo associado a uma pessoa que foi canonizada ou beatificada, sendo, portanto santa. Existem três categorias de relíquias:


Relíquia de primeira classe da
Beata Nhá Chica. 

Uma relíquia de primeira classe é um pedaço dos restos mortais da pessoa. Pode ser um fragmento de osso, cabelo, pele ou sangue. A relíquia é extraída quando o corpo do santo é exumado como parte do processo de canonização. 

Relíquias de segunda classe
 de Santa Teresa de Jesus 


Uma relíquia de segunda classe é algum objeto ou parte de um objeto que foi regularmente usado pelo santo durante sua vida terrena. Há muitas relíquias de segunda classe. Podem ser pertences do santo, como roupas, móveis... 


Uma relíquia de terceira classe é um pedaço de pano que tocou uma relíquia de primeira classe. Relíquias de terceira classe são normalmente incluídas como partes de cartões de oração produzidos em massa e itens de devoção. Um pano toca a relíquia de primeira classe, em seguida, retiram-se em vários pedaços para que um grande número de pessoas possa ter contato físico com o santo.

A própria Sagrada Escritura valoriza bastante a relíquia de um (a) santo (a). É significativo o episódio do morto que ressuscita quando seu corpo, jogado às pressas no túmulo do profeta Eliseu toca os restos mortais do santo profeta (II Reis 13, 21). O corpo mumificado de José também foi transportado pelo povo hebreu quando saíram do Egito e sepultado em Siquém, como sinal do respeito e consideração que tinham por ele (conf. em Josué 24, 32). 

A relíquia de um santo, em si, não teria valor algum se não fosse a certeza de que aquele corpo ou objeto pertenceu a alguém que está glorificado no Céu, vendo a Deus face a face. Isso é grande coisa, pois uma alma santa está envolvida em glória e pela presença de Deus. Sendo assim, por conseguinte, confere a seu corpo, parte dele ou a objetos por ele tocados, uma graça sacramental (não é sacramento) especial, pois Deus se compraz quando seus amados eleitos, que já estão com Ele no paraíso, são respeitados e lembrados aqui na terra. 
A Igreja reconhece a legitimidade do culto às relíquias dos santos desde o início do cristianismo, quando venerava as relíquias dos santos mártires (conferir em Catecismo da Igreja Católica 1674 e 1675). 
Claro que de forma alguma há "idolatria" nisso e que não "adoramos" os santos. Nós católicos apenas os respeitamos e honramos, pois são exemplos de como é possível ser discípulo de Cristo e ser seu imitador aqui na terra. 


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Beatos Frederico de Berga e 25 Companheiros, Capuchinhos e Mártires. Beatificados no dia 24 de novembro de 2015.

Dois dos novos beatos mártires: Frei Frederico de Berga e Frei Eloi de Bianya. 

O Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, presidiu na manhã de sábado (21/11), na Catedral de Barcelona, Espanha, à celebração Eucarística de Beatificação de Frederico de Berga e seus 25 companheiros mártires, sacerdotes e Irmãos leigos, assinados por ódio à fé, entre junho de 1936 e fevereiro de 1937.

Os novos Beatos, assassinados em nove conventos da Catalunha, saqueados e incendiados, deram testemunho da sua fé, conduta moral e vida de oração:

No momento da prisão, eles declararam sua identidade e seu estado religioso, decididos a oferecer as vidas por Jesus Cristo e, com o coração, prontos para cumprir a vontade de Deus.

O primeiro da lista, Frei Frederico de Berga foi guardião, missionário na América Central e Provincial por um triênio. O Bispo de Vic o definiu como "o pregador mais apostólico" da sua diocese.

No início da revolução, era guardião no convento de Arenys. Em Barcelona, participou ativamente da rede clandestina da Igreja, que ali se formava. Pouco antes de morrer, em fevereiro de 1937, havia distribuído milhares de comunhões, correndo risco de vida.

Celebrava a Eucaristia em casas particulares, onde se reuniam pequenos grupos de fiéis, sem utilizar ornamentos e vasos sagrados, com a permissão da Santa Sé.



Companheiros de martírio

Entre seus companheiros capuchinhos, destaca-se Frei Eloi de Bianya, talvez a figura mais amada de todo o grupo dos mártires.

Era irmão porteiro do convento de Sarriá. Ele nunca reclamava; era sempre sorridente e simpático; tinha uma vida interior muito intensa, apesar dos muitos apertos e humilhações.

Frei Eloi foi preso na estação ferroviária, junto com outros três frades, quando estava para partir para a sua cidade natal.

Entre os jovens estudantes assassinados, encontrava-se Frei Marçal de Villafranca, o mais jovem de quatro coirmãos frades. Tinha dezenove anos. Ao ser preso, despediu-se dos seus confrades, dizendo: "Não sofram pelo que me puder acontecer. A minha consciência está em paz com Deus".

Outros mártires foram também Frei Modesto de Mieres e Frei Ángel de Ferrieres, um teólogo idoso e um jovem irmão leigo, que se refugiaram na casa de outro frade, próximo ao convento de Sarriá. Frei Ángel poderia ter escapado, mas não quis abandonar o Frei Modesto e outro frade enfermo, acamado. Frei Modesto compôs uma oração que juntos recitavam todos os dias. Finalmente, denunciados por alguns vizinhos, foram presos e assassinados nas proximidades do convento.

Alguns dos novos mártires foram missionários na Colômbia, Filipinas, Nicarágua e Costa Rica.

O último Capuchinho a morrer foi o Frei Frederico de Berga, em 16 de fevereiro de 1937. Em maio de 1937, o governo da República assumiu o controle da situação de Barcelona e os assassinatos cessaram.

Porém, a Igreja continuou a viver na clandestinidade até o fim da guerra em 1939. (JSG)



Eis os nomes daqueles que compõem esta cândida lista de mártires:

P. Frederic de Berga (Martí Tarrés Puigpelat)
P. Modest de Mieres (Joan Bover Teixidó)
P. Zacaries de Llorenç del Penedés (Sebastiá Sonet Romeu)
P. Remigi del Papiol (Esteve Santacana Armengol)
P. Anselm d'Olot (Laurentí Basil Matas)
P. Benigne de Canet de Mar (Miquel Sagré Fornaguera)
P. Josep de Calella de la Costa (Joan Vila Colomé)
P. Martí de Barcelona (Jaume Boguñá Casanova)
P. Rafael Maria de Mataró (Francesc de Paula Soteras Culla)
P. Agustí de Montclar de Donzell (Josep Alsina Casas)
P. Doroteu de Vilalba dels Arcs (Jordi Sampé Tarragó)
P. Alexandre de Barcelona (Jaume Nájera Gherna)
P. Tarsici de Miralcamp (Josep Vilalta Saumell)
P. Vincenç de Besalú (Julià Gebrat Marcé)
P. Timoteu de Palafrugell (Jesús Miquel Girbau)
Fr. Miquel de Bianya (Pelai Ayats Vergés)
Fr. Jordi de Santa Pau (Manuel Collellmir Senties)
Fr. Bonaventura de Arroyo Cerezo (Tomás Díaz Díaz)
Fr. Marçal del Penedès (Carles Canyes Santacana)
Fr. Eudald d'Igualada (Lluís Estruch Vives).
Fr. Paciá Maria de Barcelona (Francesc Maria Colomer Presas)
Fr. Ángel de Ferreries (Josep Coll Martí)
Fr. Cebrià de Terrassa (Ramon Gros Ballvé)
Fr. Eloi de Bianya (Joan Ayats Plantalech
Fr. Prudenci de Pomar de Cinca (Gregori Charlez Ribera)
Fr. Félix de Tortosa (Joan Bonavida Dellà)


Vamos conhecer alguns destes frades mais de perto.

Fr. Frederic de Berga, que é o primeiro na lista, foi guardião, missionário na América Central e Provincial por um triênio. O Bispo de Vic tinha se referido a ele como “o pregador mais apostólico” que havia na sua diocese. No início da revolução, era guardião no convento de Arenys. Após ter se escondido por alguns dias nos montes, chegou a Barcelona e participou ativamente da rede clandestina da Igreja que estava se formando. Pouco antes da morte, em fevereiro de 1937, calculava de ter distribuído, sempre com perigo de vida, cerca de 1200 comunhões. Celebrava a Eucaristia em casas particulares, onde se reuniam pequenos grupos de fiéis, fazendo uso da permissão da Santa Sé de celebrar sem ornamentos nem vasos sagrados. Foi descoberto durante uma busca na casa onde tinha sido acolhido.

Fr. Eloi de Bianya é talvez a figura mais amada de todo o grupo dos mártires. Era irmão porteiro do convento de Sarriá. O pai de um frade atual, que o conheceu, havia se referido a ele como “o homem que menos me falou e mais me comunicou”. Foi acolhido na casa do Sr. Maurici Serrahima, vizinho do convento, que em suas memórias deixou esta belíssima descrição: “Muito se falou sobre Fr. Eloi, e com razão. (…) Tinha em seu rosto um sorriso bom e ao mesmo tempo docemente irônico. (…) Era uma figura de homem agradável de se ver e de se ter por perto. As simpatias que tinha suscitado na portaria do convento eram imensas, e todos o conheciam. Sorria e sabia fazer alguma brincadeira quando era conveniente. Mas nele devia existir uma vida interior muito intensa, da qual devia provir o equilíbrio em tudo.  Não incomodava e não fazia barulho. Não falava se não lhe falassem. E, quando falava, fazia-o com uma suavidade que desejava ser apenas discreta, mas frequentemente acabava sendo impressionante. Não uma palavra de lamentação nem de protesto. Durante a sua permanência em nossa casa, jamais falou de vingança, melhor, nem mesmo de fazer justiça. ‘Estes homens, (dizia, referindo-se àqueles que se lançaram na loucura dos incêndios e dos assassinatos) são boa gente. Sofreram muito, passaram muitos apertos e humilhações. Estou certo de que foram fiéis à esposa, lutaram pela própria família. O que estão fazendo agora é a primeira má ação que fazem. E o fazem porque são convictos de que assim melhorarão o destino dos pobres. Nós os encontraremos no céu…’. Não garanto que tenha dito literalmente estas palavras. Mas com certeza sei que era isso que elas significavam quando me falava”. Fr. Eloi foi preso na estação ferroviária junto a três outros frades quando tentava partir à sua cidade natal.

Entre os jovens estudantes assassinados, pode-se evidenciar Fr. Marçal de Villafranca, o mais jovem de quatro irmãos frades. Tinha dezenove anos. Após duas buscas dos revolucionários que estavam procurando seus irmãos mais velhos, a família decidiu transferir-se a um outro bairro, mas uma vizinha seguiu-os e denunciou-lhes ao comitê da zona e foram presos. Despedindo-se da mãe, disse: “Mamãe, não sofra pelo que pode me acontecer. A minha consciência está em paz com Deus”.


Fr. Modest de Mieres e Fr. Ángel de Ferrieres eram um teólogo idoso e um jovem frade leigo que se refugiaram na casa de um outro frade, próximo ao convento de Sarriá. A casa foi submetida a várias buscas, durante as quais eles se passaram por parentes da família. Fr. Ángel poderia ter escapado, mas não quis abandonar Fr. Modest e um outro frade enfermo, acamado. Fr. Modest compôs uma oração que juntos recitavam todos os dias: “Neste momento e certamente na hora da morte, se não me encontrar em circunstâncias adequadas, com o auxílio da divina graça, que humildemente tenho confiança que concedereis, aceito, ó meu Deus, voluntariamente, com todo o prazer, humildemente e de todo coração, aquela morte que quiserdes enviar-me. Qualquer que seja, uno a minha morte à morte santíssima de nosso Senhor Jesus Cristo, que, neste momento, está  se renovando no santo sacrifício da Missa, e assim unida, eu a ofereço, ó meu Deus, suplicando-vos humildemente que vos digneis aceitá-la benignamente, apesar de minha pequenez e miséria, em relação à morte de nosso Senhor Jesus Cristo, pela remissão de todas as minhas culpas e pecados, e das culpas e pecados de todos os homens”. Finalmente, denunciados por alguns vizinhos, foram presos e assassinados nas proximidades do convento.

Alguns dos novos mártires foram missionários: Fr. Anselm d’Olot e Fr. Benigne de Canet estiveram em Caquetá (Colômbia); Fr. Zacaries de Llorenç concluiu seus estudos em Pasto (Colômbia) e foi ordenado sacerdote em Bogotá; Fr. Remigi del Papiol esteve em Manila (Filipinas), no vicariato de Bluefields (Nicarágua) e na Costa Rica; e Fr. Frederic de Berga esteve na Costa Rica.

Dos 26 que são beatificados nesta ocasião, 17 morreram entre julho e agosto. Em seguida, a perseguição começou a perder intensidade. O último a morrer foi Fr. Frederic de Berga, em 16 de fevereiro de 1937. Em maio de 1937, o governo da República assumiu o controle da situação de Barcelona, e os assassinatos praticamente cessaram. Apesar disso, a Igreja continuou a viver na clandestinidade até o fim da guerra em 1939.



(Da Redação Gaudium Press, Com Informações RV)

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Beatas Teresa de Santo Agostinho e Companheiras, Virgens e Mártires (Mártires de Compiègne, França)



A escritora Gertrud von le Fort mostrou em seu livro A ÚLTIMA AO CADAFALSO (Ed. Quadrante, SP), o quão perversa e sanguinária foi a Revolução Francesa (1789) que nada teve de “Igualdade, liberdade e fraternidade”, como se propaga, mas foi a encarnação diabólica do mal na França, especialmente contra a Igreja Católica.

O texto abaixo mostra o assassinato covarde e revoltante de 16 irmãs carmelitas de Compiègne, na guilhotina, acusadas maldosamente de serem “subversivas” e inimigas da Revolução. Como, se eram enclausuradas? Foi o ódio de Satanás contra aquelas que ofereciam a Deus a sua vida para aplacar a cólera de Deus na França. Leia este relato e depois o livro todo, para não ser enganado.

“São cerca de oito horas da tarde. É verão e o céu ainda está claro. A multidão comprime-se em volta da guilhotina, erguida no centro da antiga Place du Thrône, atual Barriére de Vincennes. Junto dos degraus que conduzem ao cadafalso, o carrasco, Charles-Henri Sanson, espera respeitosamente de pé, flanqueado por dois ajudantes. O calor é opressivo, e em toda a praça reina um odor mefítico de sangue. Vindos da cidade, despontam os carroções. Hoje são dois, e vêm bastante cheios: ao todo, serão quarenta vítimas. Recebem-nas as exclamações e ameaças habituais, mas o barulho logo se abafa em murmúrios de espanto. Acontece que, entre os condenados, se veem diversas mulheres de capa branca: são as dezesseis carmelitas do convento de Compiègne, Ao contrário dos seus companheiros de infortúnio, não deixam pender a cabeça nem choram ou gritam; trazem o rosto erguido, e a linha firme do corpo é sublinhada pelas mãos amarradas às costas. E cantam: aos ouvidos de todos, ressoam as notas quase esquecidas da Salve Rainha em latim e do Te Deum. Até para o mais empedernido dos basbaques presentes, é um espetáculo inaudito.

Quando os carroções param ao pé do cadafalso, o burburinho faz-se silêncio absoluto. Até essas mulheres histéricas, as chamadas “fúrias da guilhotina”, que sempre estão na primeira fila dos espectadores, emudecem.

As primeiras a descer são as carmelitas. Uma delas, a priora, Madre Teresa de Santo Agostinho, aproxima-se do carrasco e pede-lhe que lhes conceda uns minutos para poderem renovar os seus votos e que a deixe ser a última a sofrer a execução, para que possa animar cada uma das suas filhas até o fim. Sanson, o carrasco, alma delicada, concorda de bom grado.

Todas juntas, cantam o Veni Creator Spiritus. A seguir, renovam os seus votos religiosos. Enquanto rezam, uma voz de mulher sussurra na multidão: “Essas boas almas, vejam se não parecem anjos! Pela minha fé, se essas mulheres não forem diretas ao paraíso, é porque o paraíso não existe!… “.

A priora recua até a base da escada. Tem nas mãos uma estatueta de cerâmica da Virgem Maria com o Menino Jesus ao colo. A primeira a ser chamada, a mais jovem de todas, é a noviça Constança. Ajoelha-se diante da Madre e pede-lhe a bênção. Segundo uma testemunha, ter-se-ia também acusado nesse momento de não haver terminado o ofício do dia.

Com um sorriso, a Madre diz-lhe: “Vai, minha filha, confiança! Acabarás de rezá-Io no Céu”…, e dá-lhe a beijar a imagem. Constança sobe rapidamente os degraus, entoando o salmo Laudate Dominum omnes gentes, “Louvai o Senhor, todos os povos”. “Ia alegre, como se se dirigisse para uma festa”. O carrasco e seus ajudantes, com gesto profissional, dispõem-na debaixo da guilhotina. Ouve-se o golpe surdo do contrapeso, o ruído seco da lâmina que cai, o baque da cabeça recolhida num saco de couro. Sem solução de continuidade, o corpo é lançado ao carroção funerário.

Uma por uma, as freiras ajoelham-se diante da priora e pedem-lhe a bênção e permissão para morrer. Cantam o hino iniciado por Constança. Quando chega a vez da Irmã de Jesus Crucificado, que tem 78 anos, os jovens ajudantes do carrasco têm de descer para ajudá-la a vencer os degraus. Ela diz-lhes afavelmente: “Meus amigos, eu vos perdoo de todo o coração, tal como desejo que Deus me perdoe”.

Só falta a Madre. Com gesto simples e firme, beija a estatuazinha e confia-a a primeira pessoa que tem ao lado*. Tem 41 anos, um rosto expressivo, nem muito bonito nem feio; o porte é, mais do que altivo, descontraído. Os olhos castanhos, sofridos, mas irradiando bondade, procuram os do Pe. Lamarche, que as confessara no dia anterior na prisão e que se encontra entre a multidão. Como quem tem pressa em concluir uma tarefa urgente, sobe por sua vez os degraus. Agora tudo terminou. Pode-se cortar o silêncio como se fosse um queijo. Muitos dos assistentes choram baixinho. Anos mais tarde, encontrar-se-ão – registrados em cartas pessoais, diários íntimos e memoriais – os ecos da emoção que experimentaram e dos efeitos que ela lhes causou: muitos sentiram a necessidade de mudar de vida, de retomar a prática dos sacramentos, um ou outro de ingressar num convento… Um deles, um menino que presenciara a cena das janelas de um prédio situado em frente da guilhotina, guardou dela uma impressão tão profunda que, anos mais tarde, quando fazia o serviço militar, carregava sempre consigo as obras de Santa Teresa de Ávila e acabou por fazer-se sacerdote. “O amor vence sempre”, costumava dizer a Madre priora; “o amor vence tudo”.

(*) Essa imagem foi devolvida mais tarde à Ordem e encontra-se hoje no Carmelo de Compiègne, novamente fundado em 1867.

Os corpos foram levados às pressas para o antigo convento dos agostinianos do Faubourg de Picpus. Lá foram lançados na fossa comum e cobertos de cal viva. Hoje há ali um gramado cercado de ciprestes, com uma simples cruz de ferro. É um lugar de silêncio e oração.


Na capelinha anexa a esse cemitério, há uma lápide que traz o nome das dezesseis mártires beatificadas em 27 de maio de 1906 por São Pio X.