Pierre
nasceu!
No povoado de
Thuret, França, cultivavam-se zelosamente os costumes cristãos. Entre tantas
famílias piedosas vivia a família Romançon. Naquele dia 13 de junho de 1805,
encontrava-se de modo especial agitada e feliz com o nascimento de mais um
filho.
Neste mesmo dia
o senhor Jean Romançon e sua esposa Ana Chanty providenciaram para que seu
filho fosse batizado, recebendo o nome de Pierre, Pierre Romançon. Foi um nascimento duplo!
Posso ajudar...
Em Thuret havia
uma escola dirigida pelo Sr. Délais. Aos seis anos Pierre iniciou os estudos,
sua vontade e capacidade intelectual surpreenderam a todos, sobretudo o diretor.
Tem pela frente uma brilhante carreira escolar...
Entretanto as
necessidades surgem e Pierre percebe que, apesar da pouca idade e altura,
também pode ajudar. Aos nove anos deixa a escola e torna-se o pequeno pastor do
rebanho de seus pais.
Pelos montes vai
o pastorzinho e seu rebanho, repetindo sempre a o pequeno refrão que havia
aprendido com seus pais: "Meus Deus,
vos amo!".
Devido a sua
inteligência, simplicidade e alegria, atrai outras crianças que também cuidam dos
seus animais. Sob uma árvore, o círculo esta feito. A assunto, para surpresa
maior: o catecismo. Seu pequeno livro do Catecismo era fonte de inspiração...
Nosso pastor transforma-se em brilhante catequista, eis um dos primeiros sinais
de sua vocação.
Com tanto
fervor, aos 12 anos, pela primeira vez recebeu o Corpo de Cristo, comunhão com
Deus e com a Igreja. Algum tempo depois, com maior alegria, recebeu o
sacramento da Confirmação.
Quero conhecê-los!
Num certo dia,
ao visitar a cidade de Clermont, depara-se com alguns religiosos que trajam uma
batina preta, com um "rabat" e sobre eles um manto de mangas
flutuantes... O modo como se vestiam, em especial como se comportavam, atraiu
sua atenção e despertou em Pierre um desejo de conhecê-los. Descobre, então,
que são os Irmãos das Escolas Cristãs,
religiosos que se dedicam integralmente à educação humana e cristã das crianças
e jovens.
A imagem dos
Irmãos Lassalistas não mais se apagou de sua memória, às vezes chegava a
imaginar-se um deles, rodeado de crianças e jovens.
Partilhou com
seus pais o desejo de conhecer melhor os Irmãos. Sendo assim, foi enviado para
estudar numa escola Lassalista, em Riom.
Serei um deles!?
Aos 14 anos
Pierre pede para ingressar no noviciado. Apesar de ser um brilhante aluno, pela
inteligência e comportamento, seu pedido é recusado. Motivo: aos 14 anos possui
estatura desproporcional à idade, é pequenino!
Esforçou-se como
pôde para crescer, nada o impediria, queria ser um religioso educador! Aos 16
anos, novamente expressou seu desejo de ingressar no noviciado e desta vez foi
aceito. Sua alegria o fazia maior!
Seu noviciado se
deu em Clermont, 1820. Pierre recebeu novo nome, agora se chama Benildo, Irmão Benildo. Mais tarde,
recordando esta etapa de formação dirá: "Ao entrar no Instituto, compreendi que devia entregar-me todo inteiro a
Deus e cumprir em tudo a vontade de meus superiores...".
De fato, este noviço
assume sua formação, busca cada vez mais a transparência, a caridade. Isto
impressiona a todos, em especial o Irmão Diretor, que dirá: "Este Irmãozinho nos superará e será uma das
glórias do Instituto"... E isto o tempo e a caridade divina provaram.
A vida
comunitária para o Irmão Benildo tornou-se cada vez melhor, pois procurava ser
melhor, corrigir-se. Seus coirmãos queriam sempre estar junto dele para
aprender um pouco mais.
Mas as pedras
estão sempre bem espalhadas pelo caminho. Agora seu pai, movido por uma
profunda saudade, resolve buscar seu filho e usa todos os meios para
persuadi-lo até mesmo ameaça-o de deserdá-lo. O desejo de ser lassalista, neste
jovem, é maior do que qualquer herança, qualquer rebanho... De forma que
convence seu pai a abençoar sua caminhada vocacional.
Minha missão
Após os votos,
Ir. Benildo foi enviado para Riom, à escola onde havia sido genial aluno. Agora
volta como professor dos iniciantes, mostrava-se um tanto tímido, reservado, o
que o faz merecedor do respeito e do carinho dos pequenos.
Recebeu
transferências sucessivas: para Moulins; Limoges, em 1829, onde foi professor
dos mais adiantados e cozinheiro; Aurillac e depois Clermont, onde foi
jardineiro e fez os Votos Perpétuos. Foi nomeado diretor para a comunidade de
Billom, e, apesar de se mostrar contrário por sentir-se incapaz de assumir tal
ministério, assumiu o cargo. Respondeu à altura ao desafio imposto, deu o
máximo de si, de forma que, durante sua administração, o número de alunos
aumentou, a escola foi ampliada, e o mais importante, conquistou a amizade de
muitos alunos e pais.
Com a descoberta
deste novo talento, logo se pensou em ir mais longe. O próprio Superior Geral,
Irmão Felipe, enviou-o para abrir comunidade e escola em Saugues.
Em Saugues
No dia 21 de
setembro de 1841, Saugues estava agitada. Todos esperavam, em festa, a chegada
dos Irmãos Lassalistas, aqueles educadores que significam esperança para os
meninos daquela cidade. Além de toda a comunidade, estavam ali presentes os
responsáveis pela vinda dos Irmãos: o pároco e o prefeito. Nestes, o desejo de
atender às aspirações populares.
De repente
chegam três Irmãos. Ao centro, Ir. Benildo. Este logo chama atenção pela
estatura e postura física. Podia-se mesmo ouvir: "Mandaram-nos o
pior!" Mal sabiam os descontentes que diante deles estava um brilhante diretor,
um gigante espiritual.
Como a
residência dos Irmãos ainda não estava pronta, ficaram hospedados na casa
paroquial. No dia 3 de janeiro de 1842, a escola estava pronta, recebia seus
habitantes e a proteção de São José, Patrono do Instituto.
Meu ofício
Os pais bem que
estavam desejosos de ver seus filhos estudar, progredir, mas a princípio eram
só eles. Os meninos e rapazes não tinham experiência alguma em frequentar uma
escola, a isso se acrescenta a indisciplina... O único remédio era paciência,
paciência e técnica.
Os Irmãos logo
perceberam que era necessário atrair seus alunos de alguma forma e tentaram:
gincanas, aulas ao ar livre... Aos poucos o interesse foi crescendo e os
resultados apareciam.
A escola e o
próprio diretor receberam algumas homenagens pelo progresso obtido. E o grande
progresso que aconteceu ali foi a conquista da confiança e amizade dos alunos.
Durante
aproximadamente 21 anos, até sua morte, Irmão Benildo esteve totalmente
empenhado na direção da escola. Além de diretor, também ministrava as aulas de
ensino religioso. Pura emoção! E isto o atesta um dos ex-alunos: "Ficávamos
encantados quando nos falava do céu. Provocava em nós profunda sensação quando
comentava a máxima evangélica: «De que
serve ao homem ganhar o mundo inteiro se perde sua alma?»"
Como Religioso
Lassalista, também dirigia a comunidade e era impressionante a forma como se
dedicava para que a Regra fosse cumprida: "O Irmão Diretor foi para nós
uma Regra vivente!" Zelava para que o novos Irmãos tivessem uma boa
formação, mas seu zelo era ainda maior quando se tratava de criar um ambiente
de bem-estar na comunidade, sentia que a comunidade era uma das dimensões mais
importantes do Religioso Lassalista.
Assim como
recomendara o Santo Fundador possuía uma especial devoção a São José e à Virgem
Maria. Por ocasião da proclamação do dogma da Imaculada Concepção, em 1854,
estreitou contra o peito a Bula Inefabilis, exclamando: "Sempre acreditei, oh puríssima Virgem Maria, que havíeis sido
concebida sem pecado original. Agora, proclamado este glorioso privilégio,
estou disposto a defendê-lo, se for preciso, até com a efusão de meu sangue!"
Algumas aventuras
Apesar da
rotina, havia acontecimentos que surpreendiam Irmão Benildo. Dentre eles
podemos destacar:
O dia dos apitos: numa de suas aulas de Religião,
tentava explicar de forma compreensível para os pequeninos que a graça de Deus
é a "seiva da alma". E se pôs a relembrar sua infância: "Quando eu era pequeno, com palhas fazia
apitos que funcionavam muito bem... mas quando a seiva secava, adeus apito, já
não funciona. E a seiva da alma é a graça de Deus, quando se perde esta graça,
nada vai bem". Os pequenos sorriem, até parece que preparam algo... É
o que confirma Irmão Benildo ao chegar pela tarde na escola e perceber o
barulho de tantos apitos, eram as crianças prestando homenagem ao seu querido
catequista. Por fim recolheu todos, premiando os melhores!
O anjo da guarda: Irmão Benildo tinha um forte
anjo da guarda que se chamava Irmão Nabor, "o braço de ferro", como
dizia o próprio Irmão. Por duas vezes, arriscando a própria vida, salvou seu
coirmão. Uma vez evita que role desfiladeiro abaixo juntamente com o cavalo que
o carregava. Em outra ocasião, após visitar um doente, Irmão Benildo demora-se
no pátio da casa, enquanto Irmão Nabor recolhe o material para partirem. De
repente um touro feroz, pronto para o ataque, avança em direção ao Irmão
Benildo, mas Nabor de posse de uma estaca atira-se diante do animal e o acerta,
este por sua vez retira-se rapidamente.
Irmão Benildo
atira-se de joelhos para agradecer a Deus e a seu coirmão, por salvarem-lhe a
vida. Mas o Irmão Nabor responde com afeto: "Sua morte seria uma grande perda, uma desgraça!".
É minha hora
Irmão Benildo
nunca possuíra uma saúde vigorosa. Nos últimos anos de sua vida, o reumatismo
não lhe permitia mais continuar como professor, ainda assim esforçou-se como
pôde para dar o melhor de si, embora já sentisse que não viveria por muito
tempo.
Há testemunho de
que: No dia da Santíssima Trindade, no ano de 1862, como não podia sair do seu
quarto, pediu seu exemplar de nossas Regras para professar a fórmula de
renovação dos votos. Quando teve o livro em suas mãos, chorou longamente, e ao
Irmão que lhe perguntava o motivo, disse: "Choro porque temo não haver cumprido, nem feito cumprir suficientemente
nossa Regra".
No dia 13 de
agosto de 1863, chega a hora de despedir-se dos seus, pede perdão a cada
coirmão pelas penas e maus exemplos. Do jeito que pode, repete: "Eu me alegrei, quando me disseram: iremos à
casa do Senhor!..." Por volta das sete da manhã, aos 57 anos de idade,
morre Irmão Benildo.
O alvoroço foi
inevitável. Religiosas, ex-alunos desejavam despedir-se daquele a quem
respeitavam como santo. Pela última vez podiam contemplar sua feições... Alguns
já pediam relíquias, o que recebia apoio de um sacerdote idoso que dizia:
"Fazeis bem em venerar os despojos
do Irmão Benildo. Para mim é um santo que já se encontra no céu". O corpo ficou exposto para visita até o dia
15, sendo enterrado neste dia.
Rumo ao túmulo, sinais de
vitória!
Enquanto se
dirigiam ao cemitério, várias pessoas iam ajuntando-se ao cortejo. Uma mulher
que se encontrava doente, arrastando-se apoiada em muletas, até a porta percebe
que ali vai o cortejo do Irmão Benildo e, murmurando, pede-lhe que interceda a
Deus por sua saúde... Surpreendentemente deseja acompanhar o cortejo e eis que,
largando as muletas, põe-se a andar normalmente.
Sua surpresa é
tremenda ao perceber que está curada. Cheia de emoção, atira-se diante do
caixão, gritando: "Milagre! Milagre!
Estou curada!". A inesperada
notícia se espalha com rapidez. Para os que conheciam o Irmão Benildo esta é
uma confirmação de suas suspeitas...
Outros sinais
também aparecem. Em 1869, sete anos depois da morte do Irmão Benildo, em nosso
Instituto havia 245 Irmãos naturais de Saugues, a maioria ex-alunos deste
Irmão. A devoção ao Irmão Benildo é cada vez mais forte!
Afinal, o que de especial fez
este Irmão?
Muitos diriam:
nada de especial! E nisto todos estamos de acordo. Não escreveu brilhante obra,
nem sofreu martírio, não fundou nenhuma congregação religiosa, tampouco foi enviado
a cruzar o Oceano como missionário. Na verdade foi professor, jardineiro,
cozinheiro, diretor de escola e de comunidade religiosa. E isto, tantos Irmãos
fazem!... Mas não foi o que ele fez,
foi o modo como fez. Todas as suas
atividades estavam envolvidas de profundo zelo, dedicação, amor... Fazia tudo como se fosse a primeira e a
última vez e nisto encontrou o caminho para a santidade. Se alguém duvida
da validade deste caminho, experimente passar vinte anos na mesma atividade, no
mesmo lugar, sem novidades, mas ainda assim doar-se generosa e alegremente,
cada dia, até o fim, e no último dia ainda pedir perdão e reconhecer que
poderia ter sido melhor.
Quase nada
falamos sobre as características do Irmão Benildo, eis algumas: Desde pequeno
possui um porte físico pequeno, um tanto desproporcional. Acrescente-se a isto
uma perceptível curvatura, que também encontrava razão de ser no seu modo de
caminhar, sempre cabisbaixo... Diz-se mesmo que ao andar pelas ruas
continuamente se encontrava em oração, a ponto de não olhar nos olhos de alguém
ou mesmo saudá-lo, as exceções eram seus alunos que normalmente o abraçavam e
acompanhavam-no.
Possuía
personalidade forte, mantinha-se sempre reservado, aparentava ser severo, mas
aos poucos se mostrava alegre entre seus alunos e coirmãos.
Depois da
Bíblia, seus livros preferidos eram: "Guia
das Escolas" e "Explicação
das Doze Virtudes do Bom Professor".
Era apaixonado
pela música, estimulava seus coirmãos em sua aprendizagem, a ponto de comprar
para cada um um instrumento musical... O seu instrumento musical preferido era
o acordeão, de tal forma que foi proclamado pelos acordeonistas franceses seu
Patrono.
São
características de um santo, religioso dedicado, homem comum, assim como
tantos. E isto para nós é motivo de alegria, também podemos chegar à santidade,
mesmo sem grandes feitos! O convite está feito...
O difícil caminho rumo aos
altares
Para quem
conheceu Irmão Benildo não restava dúvida de que ele era um santo. Mas para a
Igreja, não é bem assim não. São necessários milagres convincentes, provas,
detalhes, nada pode pôr em risco este reconhecimento do Povo de Deus.
Outros tantos
milagres foram realizados por intercessão do Irmão Benildo. Mas só em 1903 foi
introduzida em Roma a causa de beatificação... Algo difícil e demorado. Como se
não bastassem as dificuldades normais, foi levantada contra Irmão Benildo a
acusação de haver dado um soco em um aluno. O Papa Pio XI já estava convencido
a seu respeito, não duvidou da veracidade desta acusação, mas defendeu-o:
"Onde iríamos parar se os rapazes fizessem tudo
o que desejassem?". Assim estava garantida a causa da beatificação.
No dia 6 de
janeiro de 1928, Pio XI declara a heroicidade das virtudes do Irmão Benildo,
podendo ser invocado como Venerável. E foi emocionante!
Eis alguns
trechos do discurso de Pio XI: "Que fortaleza é necessária para
defender-se deste cotidiano terrível, monótono, asfixiante!", "... a
santidade não consiste nas coisas extraordinárias, mas nas comuns, feitas de
modo incomum.", "Fez as coisas comuns de modo incomum".
Com a
confirmação da Igreja, o número de devotos cada vez é maior... Sendo assim, no
dia 4 de abril de 1948, o Papa Pio XII celebra sua Beatificação. E em 1967,
mais de um século depois de sua morte, no dia 29 de outubro, o Beato Irmão
Benildo foi canonizado por Paulo VI. Sua memória é celebrada no dia 13 de
agosto.
(retirado
do site Lassalista no Brasil)
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