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terça-feira, 3 de novembro de 2015

SÃO BENILDO ROMANÇON, Irmão Lassalista e Educador de Jovens.




Pierre nasceu!
No povoado de Thuret, França, cultivavam-se zelosamente os costumes cristãos. Entre tantas famílias piedosas vivia a família Romançon. Naquele dia 13 de junho de 1805, encontrava-se de modo especial agitada e feliz com o nascimento de mais um filho.
Neste mesmo dia o senhor Jean Romançon e sua esposa Ana Chanty providenciaram para que seu filho fosse batizado, recebendo o nome de Pierre, Pierre Romançon. Foi um nascimento duplo!


Posso ajudar...

Em Thuret havia uma escola dirigida pelo Sr. Délais. Aos seis anos Pierre iniciou os estudos, sua vontade e capacidade intelectual surpreenderam a todos, sobretudo o diretor. Tem pela frente uma brilhante carreira escolar...
Entretanto as necessidades surgem e Pierre percebe que, apesar da pouca idade e altura, também pode ajudar. Aos nove anos deixa a escola e torna-se o pequeno pastor do rebanho de seus pais.
Pelos montes vai o pastorzinho e seu rebanho, repetindo sempre a o pequeno refrão que havia aprendido com seus pais: "Meus Deus, vos amo!".
Devido a sua inteligência, simplicidade e alegria, atrai outras crianças que também cuidam dos seus animais. Sob uma árvore, o círculo esta feito. A assunto, para surpresa maior: o catecismo. Seu pequeno livro do Catecismo era fonte de inspiração... Nosso pastor transforma-se em brilhante catequista, eis um dos primeiros sinais de sua vocação.
Com tanto fervor, aos 12 anos, pela primeira vez recebeu o Corpo de Cristo, comunhão com Deus e com a Igreja. Algum tempo depois, com maior alegria, recebeu o sacramento da Confirmação.


Quero conhecê-los!

Num certo dia, ao visitar a cidade de Clermont, depara-se com alguns religiosos que trajam uma batina preta, com um "rabat" e sobre eles um manto de mangas flutuantes... O modo como se vestiam, em especial como se comportavam, atraiu sua atenção e despertou em Pierre um desejo de conhecê-los. Descobre, então, que são os Irmãos das Escolas Cristãs, religiosos que se dedicam integralmente à educação humana e cristã das crianças e jovens.
A imagem dos Irmãos Lassalistas não mais se apagou de sua memória, às vezes chegava a imaginar-se um deles, rodeado de crianças e jovens.
Partilhou com seus pais o desejo de conhecer melhor os Irmãos. Sendo assim, foi enviado para estudar numa escola Lassalista, em Riom.


Serei um deles!?

Aos 14 anos Pierre pede para ingressar no noviciado. Apesar de ser um brilhante aluno, pela inteligência e comportamento, seu pedido é recusado. Motivo: aos 14 anos possui estatura desproporcional à idade, é pequenino!
Esforçou-se como pôde para crescer, nada o impediria, queria ser um religioso educador! Aos 16 anos, novamente expressou seu desejo de ingressar no noviciado e desta vez foi aceito. Sua alegria o fazia maior!
Seu noviciado se deu em Clermont, 1820. Pierre recebeu novo nome, agora se chama Benildo, Irmão Benildo. Mais tarde, recordando esta etapa de formação dirá: "Ao entrar no Instituto, compreendi que devia entregar-me todo inteiro a Deus e cumprir em tudo a vontade de meus superiores...".
De fato, este noviço assume sua formação, busca cada vez mais a transparência, a caridade. Isto impressiona a todos, em especial o Irmão Diretor, que dirá: "Este Irmãozinho nos superará e será uma das glórias do Instituto"... E isto o tempo e a caridade divina provaram.
A vida comunitária para o Irmão Benildo tornou-se cada vez melhor, pois procurava ser melhor, corrigir-se. Seus coirmãos queriam sempre estar junto dele para aprender um pouco mais.
Mas as pedras estão sempre bem espalhadas pelo caminho. Agora seu pai, movido por uma profunda saudade, resolve buscar seu filho e usa todos os meios para persuadi-lo até mesmo ameaça-o de deserdá-lo. O desejo de ser lassalista, neste jovem, é maior do que qualquer herança, qualquer rebanho... De forma que convence seu pai a abençoar sua caminhada vocacional.


Minha missão

Após os votos, Ir. Benildo foi enviado para Riom, à escola onde havia sido genial aluno. Agora volta como professor dos iniciantes, mostrava-se um tanto tímido, reservado, o que o faz merecedor do respeito e do carinho dos pequenos.

Recebeu transferências sucessivas: para Moulins; Limoges, em 1829, onde foi professor dos mais adiantados e cozinheiro; Aurillac e depois Clermont, onde foi jardineiro e fez os Votos Perpétuos. Foi nomeado diretor para a comunidade de Billom, e, apesar de se mostrar contrário por sentir-se incapaz de assumir tal ministério, assumiu o cargo. Respondeu à altura ao desafio imposto, deu o máximo de si, de forma que, durante sua administração, o número de alunos aumentou, a escola foi ampliada, e o mais importante, conquistou a amizade de muitos alunos e pais.
Com a descoberta deste novo talento, logo se pensou em ir mais longe. O próprio Superior Geral, Irmão Felipe, enviou-o para abrir comunidade e escola em Saugues.



Em Saugues

No dia 21 de setembro de 1841, Saugues estava agitada. Todos esperavam, em festa, a chegada dos Irmãos Lassalistas, aqueles educadores que significam esperança para os meninos daquela cidade. Além de toda a comunidade, estavam ali presentes os responsáveis pela vinda dos Irmãos: o pároco e o prefeito. Nestes, o desejo de atender às aspirações populares.
De repente chegam três Irmãos. Ao centro, Ir. Benildo. Este logo chama atenção pela estatura e postura física. Podia-se mesmo ouvir: "Mandaram-nos o pior!" Mal sabiam os descontentes que diante deles estava um brilhante diretor, um gigante espiritual.
Como a residência dos Irmãos ainda não estava pronta, ficaram hospedados na casa paroquial. No dia 3 de janeiro de 1842, a escola estava pronta, recebia seus habitantes e a proteção de São José, Patrono do Instituto.


Meu ofício

Os pais bem que estavam desejosos de ver seus filhos estudar, progredir, mas a princípio eram só eles. Os meninos e rapazes não tinham experiência alguma em frequentar uma escola, a isso se acrescenta a indisciplina... O único remédio era paciência, paciência e técnica.
Os Irmãos logo perceberam que era necessário atrair seus alunos de alguma forma e tentaram: gincanas, aulas ao ar livre... Aos poucos o interesse foi crescendo e os resultados apareciam.
A escola e o próprio diretor receberam algumas homenagens pelo progresso obtido. E o grande progresso que aconteceu ali foi a conquista da confiança e amizade dos alunos.
Durante aproximadamente 21 anos, até sua morte, Irmão Benildo esteve totalmente empenhado na direção da escola. Além de diretor, também ministrava as aulas de ensino religioso. Pura emoção! E isto o atesta um dos ex-alunos: "Ficávamos encantados quando nos falava do céu. Provocava em nós profunda sensação quando comentava a máxima evangélica: «De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro se perde sua alma?»"
Como Religioso Lassalista, também dirigia a comunidade e era impressionante a forma como se dedicava para que a Regra fosse cumprida: "O Irmão Diretor foi para nós uma Regra vivente!" Zelava para que o novos Irmãos tivessem uma boa formação, mas seu zelo era ainda maior quando se tratava de criar um ambiente de bem-estar na comunidade, sentia que a comunidade era uma das dimensões mais importantes do Religioso Lassalista.
Assim como recomendara o Santo Fundador possuía uma especial devoção a São José e à Virgem Maria. Por ocasião da proclamação do dogma da Imaculada Concepção, em 1854, estreitou contra o peito a Bula Inefabilis, exclamando: "Sempre acreditei, oh puríssima Virgem Maria, que havíeis sido concebida sem pecado original. Agora, proclamado este glorioso privilégio, estou disposto a defendê-lo, se for preciso, até com a efusão de meu sangue!"


Algumas aventuras

Apesar da rotina, havia acontecimentos que surpreendiam Irmão Benildo. Dentre eles podemos destacar:
O dia dos apitos: numa de suas aulas de Religião, tentava explicar de forma compreensível para os pequeninos que a graça de Deus é a "seiva da alma". E se pôs a relembrar sua infância: "Quando eu era pequeno, com palhas fazia apitos que funcionavam muito bem... mas quando a seiva secava, adeus apito, já não funciona. E a seiva da alma é a graça de Deus, quando se perde esta graça, nada vai bem". Os pequenos sorriem, até parece que preparam algo... É o que confirma Irmão Benildo ao chegar pela tarde na escola e perceber o barulho de tantos apitos, eram as crianças prestando homenagem ao seu querido catequista. Por fim recolheu todos, premiando os melhores!
O anjo da guarda: Irmão Benildo tinha um forte anjo da guarda que se chamava Irmão Nabor, "o braço de ferro", como dizia o próprio Irmão. Por duas vezes, arriscando a própria vida, salvou seu coirmão. Uma vez evita que role desfiladeiro abaixo juntamente com o cavalo que o carregava. Em outra ocasião, após visitar um doente, Irmão Benildo demora-se no pátio da casa, enquanto Irmão Nabor recolhe o material para partirem. De repente um touro feroz, pronto para o ataque, avança em direção ao Irmão Benildo, mas Nabor de posse de uma estaca atira-se diante do animal e o acerta, este por sua vez retira-se rapidamente.
Irmão Benildo atira-se de joelhos para agradecer a Deus e a seu coirmão, por salvarem-lhe a vida. Mas o Irmão Nabor responde com afeto: "Sua morte seria uma grande perda, uma desgraça!".


É minha hora

Irmão Benildo nunca possuíra uma saúde vigorosa. Nos últimos anos de sua vida, o reumatismo não lhe permitia mais continuar como professor, ainda assim esforçou-se como pôde para dar o melhor de si, embora já sentisse que não viveria por muito tempo.

Há testemunho de que: No dia da Santíssima Trindade, no ano de 1862, como não podia sair do seu quarto, pediu seu exemplar de nossas Regras para professar a fórmula de renovação dos votos. Quando teve o livro em suas mãos, chorou longamente, e ao Irmão que lhe perguntava o motivo, disse: "Choro porque temo não haver cumprido, nem feito cumprir suficientemente nossa Regra".
No dia 13 de agosto de 1863, chega a hora de despedir-se dos seus, pede perdão a cada coirmão pelas penas e maus exemplos. Do jeito que pode, repete: "Eu me alegrei, quando me disseram: iremos à casa do Senhor!..." Por volta das sete da manhã, aos 57 anos de idade, morre Irmão Benildo.
O alvoroço foi inevitável. Religiosas, ex-alunos desejavam despedir-se daquele a quem respeitavam como santo. Pela última vez podiam contemplar sua feições... Alguns já pediam relíquias, o que recebia apoio de um sacerdote idoso que dizia: "Fazeis bem em venerar os despojos do Irmão Benildo. Para mim é um santo que já se encontra no céu".  O corpo ficou exposto para visita até o dia 15, sendo enterrado neste dia.


Rumo ao túmulo, sinais de vitória!

Enquanto se dirigiam ao cemitério, várias pessoas iam ajuntando-se ao cortejo. Uma mulher que se encontrava doente, arrastando-se apoiada em muletas, até a porta percebe que ali vai o cortejo do Irmão Benildo e, murmurando, pede-lhe que interceda a Deus por sua saúde... Surpreendentemente deseja acompanhar o cortejo e eis que, largando as muletas, põe-se a andar normalmente.
Sua surpresa é tremenda ao perceber que está curada. Cheia de emoção, atira-se diante do caixão, gritando: "Milagre! Milagre! Estou curada!".  A inesperada notícia se espalha com rapidez. Para os que conheciam o Irmão Benildo esta é uma confirmação de suas suspeitas...

Outros sinais também aparecem. Em 1869, sete anos depois da morte do Irmão Benildo, em nosso Instituto havia 245 Irmãos naturais de Saugues, a maioria ex-alunos deste Irmão. A devoção ao Irmão Benildo é cada vez mais forte!



Afinal, o que de especial fez este Irmão?

Muitos diriam: nada de especial! E nisto todos estamos de acordo. Não escreveu brilhante obra, nem sofreu martírio, não fundou nenhuma congregação religiosa, tampouco foi enviado a cruzar o Oceano como missionário. Na verdade foi professor, jardineiro, cozinheiro, diretor de escola e de comunidade religiosa. E isto, tantos Irmãos fazem!... Mas não foi o que ele fez, foi o modo como fez. Todas as suas atividades estavam envolvidas de profundo zelo, dedicação, amor... Fazia tudo como se fosse a primeira e a última vez e nisto encontrou o caminho para a santidade. Se alguém duvida da validade deste caminho, experimente passar vinte anos na mesma atividade, no mesmo lugar, sem novidades, mas ainda assim doar-se generosa e alegremente, cada dia, até o fim, e no último dia ainda pedir perdão e reconhecer que poderia ter sido melhor.
Quase nada falamos sobre as características do Irmão Benildo, eis algumas: Desde pequeno possui um porte físico pequeno, um tanto desproporcional. Acrescente-se a isto uma perceptível curvatura, que também encontrava razão de ser no seu modo de caminhar, sempre cabisbaixo... Diz-se mesmo que ao andar pelas ruas continuamente se encontrava em oração, a ponto de não olhar nos olhos de alguém ou mesmo saudá-lo, as exceções eram seus alunos que normalmente o abraçavam e acompanhavam-no.
Possuía personalidade forte, mantinha-se sempre reservado, aparentava ser severo, mas aos poucos se mostrava alegre entre seus alunos e coirmãos.

Depois da Bíblia, seus livros preferidos eram: "Guia das Escolas" e "Explicação das Doze Virtudes do Bom Professor".
Era apaixonado pela música, estimulava seus coirmãos em sua aprendizagem, a ponto de comprar para cada um um instrumento musical... O seu instrumento musical preferido era o acordeão, de tal forma que foi proclamado pelos acordeonistas franceses seu Patrono.
São características de um santo, religioso dedicado, homem comum, assim como tantos. E isto para nós é motivo de alegria, também podemos chegar à santidade, mesmo sem grandes feitos! O convite está feito...


O difícil caminho rumo aos altares

Para quem conheceu Irmão Benildo não restava dúvida de que ele era um santo. Mas para a Igreja, não é bem assim não. São necessários milagres convincentes, provas, detalhes, nada pode pôr em risco este reconhecimento do Povo de Deus.
Outros tantos milagres foram realizados por intercessão do Irmão Benildo. Mas só em 1903 foi introduzida em Roma a causa de beatificação... Algo difícil e demorado. Como se não bastassem as dificuldades normais, foi levantada contra Irmão Benildo a acusação de haver dado um soco em um aluno. O Papa Pio XI já estava convencido a seu respeito, não duvidou da veracidade desta acusação, mas defendeu-o:
"Onde iríamos parar se os rapazes fizessem tudo o que desejassem?". Assim estava garantida a causa da beatificação.
No dia 6 de janeiro de 1928, Pio XI declara a heroicidade das virtudes do Irmão Benildo, podendo ser invocado como Venerável. E foi emocionante!
Eis alguns trechos do discurso de Pio XI: "Que fortaleza é necessária para defender-se deste cotidiano terrível, monótono, asfixiante!", "... a santidade não consiste nas coisas extraordinárias, mas nas comuns, feitas de modo incomum.", "Fez as coisas comuns de modo incomum".

Com a confirmação da Igreja, o número de devotos cada vez é maior... Sendo assim, no dia 4 de abril de 1948, o Papa Pio XII celebra sua Beatificação. E em 1967, mais de um século depois de sua morte, no dia 29 de outubro, o Beato Irmão Benildo foi canonizado por Paulo VI. Sua memória é celebrada no dia 13 de agosto.



(retirado do site Lassalista no Brasil)

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