Muitos foram os santos devotados às almas do Purgatório e ao sufrágio das mesmas. Os mais "famosos" foram: Santa Margarida de Cortona e São Nicolau Tolentino. No entanto, nos tempos modernos, outros santos vieram ao mundo para voltar a lembrar à Igreja e aos fiéis a grande importância e necessidade de não esquecermos as almas do Purgatório que necessitam veementemente de nossas orações, devoções, preces, penitências e dos méritos de nossas obras para libertá-las ou ao menos amenizar e abreviar seus os sofrimentos...
A tradição
litúrgica expôs, desde o início dos tempos, a existência de uma condição na
qual as almas permanecem depois da morte e se purificam para poder alcançar em
algum momento a glória plena. É o chamado “purgatório”, palavra que vem do
latim “purgare” e é narrada no Catecismo da Igreja Católica como um estado
intermediário no qual estão “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas
imperfeitamente purificados” (1030).
Esta purificação
que aperfeiçoa a cura e libertação é uma realidade escatológica, verdade de fé,
que foi proclamada desde os primeiros tempos do cristianismo, afirmada por
santos, papas e pelo testemunho da própria Nossa Senhora em algumas das suas
aparições.
Um “fogo de amor”
Bento XVI
abordou este dogma de fé durante uma catequese de janeiro de 2011, na qual
explicou que o purgatório não é tanto um “espaço”, mas um “fogo interior” que
purifica a pessoa e a prepara para contemplar Deus.
Naquela ocasião,
Bento XVI recordou as palavras de Santa
Catarina de Gênova, que, conta, em sua obra “Tratado do Purgatório”, uma
revelação particular. É uma experiência mística na qual ela descreve que “a alma separada do corpo, quando se encontra
naquela pureza em que foi criada, vendo-se com tal impedimento, que não pode
ser eliminado a não ser por meio do purgatório, imediatamente se lança a ele,
com toda a sua vontade”.
Com
extraordinária precisão, esta mulher italiana do século XVI afirma: “Não acho que seja possível encontrar um
contentamento comparável à de uma alma no purgatório, a não ser a dos santos no
Paraíso. Este contentamento cresce cada dia pela influência de Deus nessas
almas, e mais ainda na medida em que vão se consumindo os impedimentos que se
opõem a esta influência”.
Doutrina de fé
A certeza do
purgatório nasce na Bíblia e posteriormente os doutores da Igreja (Santo Agostinho,
São Gregório Magno e São João Crisóstomo) formularam uma extensa e enriquecedor
doutrina da fé. Tais abordagens sobre o purgatório foram respaldadas pelos
sagrados concílios de Florença (1439) e Trento (1563). Mas também são
confirmados por testemunhos de dezenas de pessoas, que expõem sua experiência
sobre a existência de almas que buscam a comunhão com Deus.
Um destes
valiosos tesouros vem de Santa Maria
Faustina Kowalska, religiosa polonesa canonizada em 2001 pelo Papa São João
Paulo II. Vivendo sua vocação na década de 30, ela foi testemunha de diversas
aparições de Jesus na advocação da misericórdia. Foi o próprio Filho de Deus
quem lhe revelou aquilo que a santa narra em seu diário de vida.
Faustina conta
que, guiada pelo seu anjo da guarda, visitou o purgatório: “Encontrei-me num
lugar enevoado, cheio de fogo, e, dentro deste, uma multidão de almas
sofredoras. Essas almas rezavam com muito fervor, mas sem resultado para si
mesmas; apenas nós podemos ajudá-las. (…) O maior sofrimento delas era a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que
visitava as almas no Purgatório. As almas chamam a Maria ‘Estrela do Mar’. Ela
lhes traz alívio. Meu anjo da guarda me fez um sinal para sair. Saímos dessa
prisão de sofrimento. Ouvi uma voz interior que me disse: ‘Minha misericórdia não deseja isso, mas a justiça o exige’”.
O amigo do Padre Pio que esteve no purgatório
Frei Daniel
Natale foi um sacerdote capuchinho italiano que se dedicou a missionar em terras
hostis durante a II Guerra Mundial. Ele socorria os feridos, enterrava os
mortos e salvava os objetos litúrgicos. Em meio a este cenário, em 1952, na
clínica “Regina Elena”, ele recebeu o diagnóstico de câncer.
Com esta triste
notícia, ele foi ver o Padre Pio, seu amigo e guia espiritual, quem lhe
insistiu para que tratasse sua doença. Frei Daniele viajou a Roma e encontrou o
médico que lhe haviam recomendado Dr. Riccardo Moretti. Este médico, no começo,
não queria realizar a cirurgia, porque tinha certeza de que o paciente não
sobreviveria. Mas, influenciado por um impulso interior, acabou aceitando o
desafio.
A intervenção
foi realizada no dia seguinte pela manhã. Apesar da anestesia local, Frei
Daniel continuou consciente. Ele sentia dor, mas não manifestava: pelo
contrário, estava contente por poder oferecer seu sofrimento a Jesus. Mas, ao
mesmo tempo, ele tinha a sensação de que esta dor estava purificando sua alma
dos pecados. Depois de algum tempo, ele sentiu que dormia. Para os médicos, ele
havia entrado em coma, na qual permaneceu durante três dias, falecendo logo
depois. Redigiram o atestado de óbito confirmado pelos médicos e seus
familiares se aproximaram do seu leito para rezar pelo defunto. No entanto,
após algumas horas, o “morto” voltou à vida.
Três horas de purgatório
O que será que
aconteceu com Frei Daniel durante aquelas horas? Onde esteve sua alma? O frade
relatou sua experiência no livro “Fra
Daniele reconta”. Deste escrito, compartilhamos os seguintes trechos:
“Eu estava em pé
diante do trono de Deus. Pude vê-lo, mas não como um juiz severo, e sim como um
Pai carinhoso e cheio de amor. Então, percebi que o Senhor havia feito tudo por
amor a mim, que havia cuidado de mim do primeiro ao último instante da minha
vida, amando-me como se eu fosse a única criatura existente sobre esta terra.
Percebi também, no entanto, que eu não só não havia correspondido a este imenso
amor divino, senão que havia descuidado dele. Fui condenado a duas-três horas
de purgatório.
‘Mas como? –
perguntei-me. Somente duas-três horas? Depois vou permanecer para sempre junto
a Deus, eterno amor?’. Dei um pulo de alegria e me senti como um filho
predileto. (…) Eram dores terríveis, que não sei de onde vinham, mas se sentiam
intensamente. Os sentidos que mais haviam ofendido Deus neste mundo: os olhos,
a língua, sentiam maior dor e era algo incrível, porque no purgatório a pessoa
sente como se tivesse o corpo e conhece, reconhece os outros como ocorre no
mundo.
Enquanto isso,
não haviam passado mais que uns poucos minutos dessas penas e já me pareciam
uma eternidade. Então pensei em pedir a um irmão do meu convento que rezasse
por mim, porque eu estava no purgatório. Esse irmão ficou impressionado, porque
sentia a minha voz, mas não me via. Ele perguntava: ‘Onde você está? Por que
não consigo vê-lo?’ (…) Só então percebi estar sem corpo. Contentei-me com
insistir-lhe que rezasse muito por mim e fui embora.
‘Mas como? –
dizia eu a mim mesmo. Não seriam só duas ou três horas de purgatório? Mas já se
passaram 300 anos!’ – pelo menos esta era a minha impressão. De repente, a
Bem-Aventurada Virgem Maria apareceu para mim e lhe supliquei, implorei,
dizendo-lhe: ‘Ó Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, obtém para mim do Senhor
a graça de retornar à terra para viver e agir somente por amor a Deus!’.
Percebi também a
presença do Padre Pio e lhe supliquei: ‘Pelas suas dores atrozes, pelas suas
benditas chagas, Padre Pio meu, reze por mim a Deus, para que me liberte destas
chamas e me conceda continuar o purgatório sobre a terra’. Depois não vi mais
nada, mas percebi que o Padre Pio conversava com Nossa Senhora (…). Ela
inclinou a cabeça e sorriu para mim.
Naquele exato
momento, recuperei a possessão do meu corpo. (…) Com um movimento brusco, me
livrei do lençol que me cobria. (…) Os que estavam velando e rezando,
assustadíssimos, correram para fora do quarto, para buscar os enfermeiros e
médicos. Em poucos minutos, o hospital virou uma bagunça. Todos pensavam que eu
era um fantasma.”.
No dia seguinte
pela manhã, Frei Daniel se levantou sozinho da cama e se sentou em uma
poltrona. Eram sete horas. Os médicos geralmente visitavam os pacientes às
nove. Mas, neste dia, o Dr. Riccardo Moretti, o mesmo que havia redigido o
atestado médico de óbito do Frei Daniel, havia chegada mais cedo ao hospital.
Ele parou na frente do frade e, com lágrimas nos olhos, disse-lhe: “Sim, agora eu acredito em Deus e na Igreja,
acredito no Padre Pio!”.
Frei Daniel teve
a oportunidade de compartilhar sua dor com Cristo durante mais de 40 anos após
estes acontecimentos. Ele faleceu em 06 de julho de 1994, aos 75 anos, na
enfermaria do convento dos Irmãos Capuchinhos de San Giovanni Rotondo (Itália).
Em 2012, foi
aberta sua causa de beatificação e hoje ele é considerado Servo de Deus.
(Artigo
publicado originalmente por Porta Luz)
Um comentário:
E a Divina Comédia de Dante? Nela o Purgatório é um Monte e no Topo desse Monte fica o Paraíso onde o Homem foi Criado por Deus e onde fica sua verdadeira Casa, a Casa onde os Santos Filósofos e Reis Magos vão para poderem Entender Corretamente como foram Criados por Deus e como a Natureza do Homem pode ser Modificada para Melhor podendo assim Adão entrar nas Esferas do Reino do Ceo.
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