Páginas

Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

sexta-feira, 22 de março de 2019

Servo de Deus Frei Alberto Beretta, presbítero capuchinho e médico, irmão de Santa Gianna Beretta Mola.


Vida
Frei Alberto Beretta nasceu no dia 28 de agosto de 1916 na cidade de Milão, batizado com o nome de Enrico Beretta por seus pais Alberto Beretta e Maria De Micheli. Passou os anos da infância, adolescência e juventude recebendo uma educação cristã exemplar por parte dos pais que o encaminharam juntamente com os demais filhos na pratica sincera do amor a Deus e ao próximo, na oração frequente, na participação cotidiana da Eucaristia, na reza do terço em família à noite, em experiências apostólicas de acompanhamento de grupos juvenis paroquiais.



Enrico (Frei Alberto) no dia
de sua formatura, 1942.
Enrico era de temperamento um pouco tímido, de poucas palavras, cuidadoso e muito estudioso. Ao longo dos anos fez o liceu em Milão e buscou exaustivamente sua formação intelectual e acadêmica até alcançar o doutorado em medicina em março de 1942. Os frequentes contatos mantidos desde os treze anos de idade com os frades capuchinhos ao acompanhar os pais na igreja de Monforte em Milão, pois eles eram fervorosos terceiros franciscanos, e sucessivamente com os frades do convento de Lovere onde fazia até retiros espirituais com os jovens, estão à raiz do desabrochar de sua vocação sacerdotal, capuchinha e missionária na sequela de São Francisco. Ainda jovem, Enrico encontra no convento dos padres capuchinos, frei Adriano de Zânica, missionário em Barra do Corda, e fica impressionado com as narrações do padre acerca das condições de abandono dos pobres, doentes e leprosos no estado do Maranhão. Isso o leva a declarar a seu irmão, Giuseppe, no dia do enterro do pai: "Quero ser capuchino missionário e médico em Grajaú, onde não há médico algum numa vasta região".


Frei Alberto no dia de
sua primeira Missa.
19 de março de 1948
Quando tinha 29 anos, ao mesmo tempo em que exercia a profissão de médico e cirurgião, começou a estudar teologia cursando os dois primeiros anos em Friburgo na Suíça e os outros dois anos na casa de formação dos estudantes de teologia dos frades capuchinhos de Piazzale Velasquez em Milão, Concluídos os estudos e desejoso de exercer o ministério de padre e de médico na missão dos capuchinhos, no Brasil, na cidade de Grajau, sede da Prelazia, procurou entrar em contato com o Bispo Prelado, Dom Emiliano Lonati, o qual aceitou incardinar o jovem Enrico na sua Prelazia, e delegou o arcebispo de Milão, o card. Schuster para que lhe conferisse a sagrada ordenação, o que ocorreu no dia 13 de março de 1948 na igreja de São Bernardino em Milão.


Brasil
No dia 12 de março de 1949 partiu para o Brasil junto a Dom Lonati e chegou ao Rio de Janeiro no dia 6 de abril. Permaneceram alguns meses no Rio resolvendo vários problemas burocráticos e seguindo viagem para São Luís aonde chegou no dia 18 de junho. De lá, sempre na companhia do bispo, prosseguiu para Grajau chegando à destinação no dia 2 de agosto, recebido festivamente com foguetes e ao badalar dos sinos da catedral.

Pelo fato de as normas do Brasil não contemplarem o reconhecimento dos títulos acadêmicos obtidos na Itália, o jovem e fervoroso missionário aceitou pacientemente ter de repetir as provas de numerosas disciplinas medicas nas quais já havia sido aprovado em sua pátria. Esta determinação acarretou um reenvio para tempos futuros a sua vontade de atuar logo no campo medico para o qual já trazia ciência, competência e experiência e viajou para o Rio Grande do Sul. O que de início parecia um penoso obstáculo a ser enfrentado converteu-se em vantagem, pois teve oportunidade de cursar também outras especializações e adquirir preciosos conhecimentos que lhe seriam uteis no seu trabalho no sertão maranhense.








Hospital São Francisco de Assis
Em 1950 com a ajuda de seus irmãos que moravam na Itália, sobretudo Monsenhor Giuseppe o Engenheiro, deu início à construção do Hospital São Francisco de Assis. Em 1957 a construção do Hospital foi concluída, algo inacreditavelmente para a época, considerada a escassez dos meios de transporte na época e a falta de estradas. Mais tarde próprio Frei Alberto sentiu a necessidade de ampliar a estrutura e acrescentou outras dependências.

Frei Alberto no jipe que utilizava para alcançar os lugares 
distantes onde curava os doentes e administrava os sacramentos.



Vila San Marino

Vila San Marino
Frei Alberto criou a Vila San Marino, criada para o tratamento adequado de pessoas com hanseníase, extremamente numerosos na região naquela época, e para onde Frei Alberto fazia questão de ir todos os dias, dedicar-se aos doentes, como médico e como padre. Nessa Vila ele testa uma prática que aprendeu com um médico russo, discípulo do russo/ucraniano Volodimir Filatov, que lhe ensina uma técnica, até nos dias atuais, revolucionária: o uso da placenta humana para tratamento das patologias mais complexas utilizando Célula-tronco. O Hospital logo se torna uma referência em todo o estado do Maranhão. Suas técnicas, sobretudo o tratamento à base de placentas, diligente e cuidadosamente tratadas com uma autoclave feitas especialmente para a esterilização, são de conhecimento de todo o Brasil. Por isso, a cidade de Grajaú recebia pacientes com as mais diversas patologias vindas das mais longínquas regiões do Brasil. Frei Alberto, com sua extraordinária formação, poderia ter exercido sua profissão em qualquer país desenvolvido do mundo, mas escolheu Grajaú e região, fazendo tal escolha unicamente por saber que nesse pedaço do mundo não havia médico algum para tantas almas.


Frei Alberto com alguns meninos moradores da Vila San Marino.



Consagração definitiva ao ideal franciscano-capuchinho
Em agosto de 1960 vestiu o habito capuchinho em Guaramiranga no Ceará, adotando, em homenagem a seu pai Alberto, o nome de Frei Alberto Enrico Beretta. La fez o seu ano de noviciado ao término do qual emitiu os votos temporários, no dia 16 de agosto de 1961. Sua consagração definitiva ao ideal franciscano-capuchinho se deu em Grajau no dia 16 de agosto de 1964. Nos anos intermédios se desdobrou numa atividade fervorosa e difícil de resumir, pois ele não punha limites de espaço e de tempo a sua doação. Entregou-se com o fervor de neófito e de santo para aliviar o sofrimento dos pobres que não tinham como recompensá-lo, num tempo em que no sertão o médico era artigo de luxo, pois somente quem possuía algum recurso poderia permitir-se ir à capital em busca de tratamento. Naquela época, legiões de grajauenses que precisavam de cuidados médicos, mas não tinham recursos, eram simplesmente abandonados a sua própria sorte. Ele era, a um só tempo, obstetra, pediatra, geriatra, cirurgião, oftalmologista, clínico geral e muitas outras especialidades. Isso em pleno sertão. Com Frei Alberto, jamais um doente deixou de ser atendido, tivesse o problema que tivesse. Isso fez com que multidões de todas as comunidades próximas, como Alto Brasil, Arame, Amarante do Maranhão, Sítio Novo, procurassem o hospital, transformando o lugar num santuário de esperança e caridade.


Guaramiranga, Ceará, Brasil. Frei Alberto
com os companheiros de noviciado.



Frei Alberto para sua ambulância para
 atender a um doente no “sertão”.


Morte
Em dezembro de 1981, após 33 anos no Brasil, em um dia de vigília de Natal, após o atendimento a um pai de dez filhos que sofreu um acidente que quase lhe amputou a mão, sem praticamente ter tirado qualquer folga ou férias nesses anos todos, é acometido por uma AVC (Acidente Vascular Cerebral), perdendo a fala e parte dos movimentos, que o tira definitivamente de qualquer atividade médica ou apostólica. No início de 1982 foi transferido para São Luis onde tratou-se, logo depois foi para a Clinica de Ponte San Pietro na Italia e finalmente na casa de seu irmão, Monsenhor Giuseppe em Borgo Canale, onde viveu por mais vinte anos até sua morte em 10 de agosto de 2001, seu enterro foi no Cemitério Monumentale Di Bergamo em Bérgamo, Província de Bergamo, Lombardia, Itália.



Família
Frei Alberto Enrico Beretta foi o sétimo dos treze filhos de Alberto Beretta e Maria De Micheli, dos quais três são, Monsenhor Giuseppe um engenheiro, Madre Virginia uma missionária e médica canossiana e Santa Gianna Beretta Molla que foi uma médica italiana casada e mãe de família com quatro filhos, proclamada santa pela Igreja Católica.




Os irmãos e as irmãs Beretta no dia da primeira S. Missa de padre José. De esquerda: Enrico (frei Alberto), Gianna, Ferdinando, padre José, Virgínia, Francisco, Zita.



Processo para a beatificação

Em 18 de junho de 2008, na Cúria em Bérgamo, o bispo diocesano de Bergamo, Itália, Dom Roberto Amadei, deu início ao processo de beatificação de Frei Alberto Beretta, italiano, sacerdote capuchinho, médico-missionário e irmão de Santa Gianna Beretta Molla.  Na ocasião, Dom Roberto afirmou: "ele foi uma grande testemunha de caridade no dia-a-dia, capaz de fazer com que a vida se torne ensinamento do evangelho. Uma testemunha grande e silenciosa". "Frei Alberto continuou a testemunhar Cristo por meio da oração e de sua serenidade”, disse o bispo. "Um testemunho importante na sociedade de hoje que considera como pessoas inúteis aqueles que não produzem", concluiu.

O processo diocesano ficou a cargo do Monsenhor Giuseppe Martinelli na qualidade de juiz, Padre Eugênio Zanetti como juiz suplente, Monsenhor Umberto Midali como promotor de justiça e Mariângela Tosi e Silvia Deho, como notários.


Estavam presentes na cerimônia de abertura do processo de beatificação o Postulador Geral e o vice-postulador dos Frades Capuchinhos, Frei Florio Tessari e Frei Claudio Resmini, além de numerosos confrades capuchinhos. Da família de Frei Alberto, marcaram presença seus irmãos, Monsenhor Giuseppe e Irmã Virgínia, alguns sobrinhos e parentes. O Bispo Emérito de Grajaú, Dom Serafim Spreafico, representou a Diocese de Grajaú.

Após a entrega dos encargos e o juramento feito pela comissão que conduzirá o processo, dom Amadei completou dizendo: "É um dia de alegria para nossa Igreja de Bergamo, que o processo de beatificação, se torne uma ocasião para que todos conheçam frei Alberto Beretta e possam aprender e seguir seu exemplo de fé e caridade", sublinhou. 

Seus testemunhos foram colhidos e seus escritos foram examinados. A documentação foi enviada à Santa Sé a fim de obter a necessária autorização para dar início ao processo de beatificação.

Para o frade capuchinho italiano, Frei Luis Spelgatti, pároco da sede da diocese de Grajaú, a presença de 31 anos de Frei Alberto em Grajaú marcou e continua a marcar' profundamente o povo grajauense por ter tido em seu meio alguém que viveu intensamente os ensinamentos do evangelho, pessoa que foi autêntico homem de Deus e que viveu a santidade no amor e no serviço aos irmãos.



Testemunho, mesmo na doença
Na ocasião foram lembrados a vida e o amor de Frei Alberto pelos irmãos mais sofridos, suas atividades no Brasil, na diocese de Grajaú e seu retorno à Itália após sofrer um derrame, vindo a falecer na casa do seu irmão sacerdote em Borgo Canale, em Bergamo, após 20 anos de sua doença,





Referências
 Frei Alberto Beretta - http://freialbertoberetta.com/biografia.html. Consultado em 7 de abril de 2018
 indagrave - https://www.findagrave.com/memorial/50859532/alberto-beretta - Consultado em 7 de abril de 2018
 cancaonova - https://noticias.cancaonova.com/mundo/igreja-abre-processo-de-beatificacao-de-frei-que-viveu-no-brasil/ - Consultado em 7 de abril de 2018
 Livro Frei Alberto Beretta - O Herói Santo de Grajaú de Hilario Cristofolini

segunda-feira, 11 de março de 2019

Venerável Servo de Deus Vittorio Trancanelli, Pai de Família e Médico



Essa é a história do Venerável Vittorio Trancanelli, italiano, “o santo da sala de cirurgia”, como era conhecido no hospital onde trabalhava. Médico cirugião dos nossos tempos – faleceu aos 54 anos em 1998 – Vittorio teve um único filho biológico, pois a sua saúde não lhe permitiu ter mais. Sofredor, Vittorio escondia as dores debaixo de um sorriso lindo e da atenção constante aos seus doentes, que servia com amor.


O Dr. Vittorio Trancanelli nasceu na cidade de Spello, na província italiana de Perugia, em 26 de abril de 1944. Sua família chegou a esta pequena cidade no centro da Itália em abril de 1944, a fim de fugir dos combates da Segunda Guerra Mundial.
Depois de estudar em Assis, mudou-se à cidade de Perugia, onde se formou como médico e cirurgião. Após se casar aos 21 anos, ele e a sua esposa, Lia Sabatini, viveram em Perugia, onde exerceu a sua profissão no Hospital Silvestrini.
Em 1976, nasceu Diego, seu único filho biológico – posteriormente adotou 7 crianças –, um mês depois de sofrer uma colite ulcerosa grave com peritonite difusa que quase causou a sua morte.
Esta doença e a necessária operação para salvá-lo causaram sequelas para o resto da sua vida. Especificamente, os cirurgiões tiveram que realizar uma ileostomia que levaria a sua morte, mesmo que somente a sua esposa e alguns amigos soubessem.
Depois da sua recuperação, voltou a trabalhar. Seu compromisso com os doentes e sua proximidade com aqueles que sofrem fez com que os seus companheiros o chamassem o “santo da sala de cirurgia”.
Na década de 1980, começou a se sentir cada vez mais atraído pelos textos da Bíblia. Começou a estudar as Sagradas Escrituras e a colaborar com o Centro Ecumênico, em San Martin, em Perugia.
Posteriormente, fundou, junto com sua esposa e alguns amigos, uma associação cuja finalidade era acolher mulheres e crianças em situação de exclusão social. Seu compromisso com os mais desfavorecidos foi tão grande que o casal se comprometeu e adotou sete crianças, algumas deficientes.
E foi este amor imenso a Deus e ao próximo que levou Vittorio e sua esposa a fundar uma associação de acolhimento de crianças e mães em risco, ao mesmo tempo que se abriam à adoção. Juntos, adotaram sete crianças, entre as quais várias com deficiência. São elas, hoje, que dão de Vittorio o testemunho mais belo, como podem descobrir se pesquisarem um bocadinho no YouTube.
Quem acolher um pequenino destes em meu Nome, a Mim acolhe (Mc 9, 37). Assim gostava Vittorio de citar.
Após um período de intenso trabalho profissional, sofreu outra grave doença e faleceu em 24 de junho de 1998.
Antes da sua morte, cercado por sua esposa e filhos, se dirigiu a eles e disse: “Por isso vale a pena viver, não para tornar-se alguém, fazer uma carreira ou ganhar dinheiro”.
Em seu funeral, no qual esteve presente uma multidão, o Bispo de Perugia, Dom Giuseppe Chiaretti, afirmou: “Eu considero Vittorio um santo leigo”.
No fim da vida, que levaremos nós para o céu? As horas de descanso de que desfrutamos? As horas de televisão e de Facebook? O dinheiro guardado no banco? A informação de Excelente na carreira à custa do tempo em família ou do serviço efetivo e atento do irmão? Não levaremos antes os sorrisos e os olhinhos brilhantes daqueles que fizemos felizes, na família como no trabalho, mesmo à custa de algum cansaço?
Disse-nos o Papa Francisco na homilia do Dia Mundial dos Pobres, como já dizia Santa Teresa de Calcutá, e como disse Jesus de todas as maneiras possíveis, especialmente na Cruz: “Para o Céu, não levamos o que temos, mas o que damos”.
No dia 27 de fevereiro, o Papa Francisco aprovou um decreto que reconhece as virtudes heroicas do Servo de Deus Vittorio Trancanelli, fiel leigo italiano, médico de profissão, conhecido pela sua proximidade com os doentes, apesar dele mesmo sofrer uma dolorosa doença.