Hinos
de São Romano Melodista em Ecclesia
Os
primeiros contatos dos monges orientais com o mundo latino foram
propiciados pelos frequentes exílios de santo Atanásio. Foi no
século IV que se desenvolveu a vida monacal no Ocidente. O primeiro
mosteiro surgiu na França em 371 por obra de São Martinho de Tours.
Depois disso, houve florescimento de mosteiros, entre os quais em
Ainay, perto de Lyon, onde encontramos o monge Romano.
Nascido
no ano 390, Romano se tornou um dos primeiros monges franceses.
Romano achava as regras do mosteiro muito brandas. Então, com apenas
uma Bíblia, o que para ele era o indispensável para viver, sumiu
por entre os montes desertos dos arredores da cidade. Ele só foi
localizado por seu irmão Lupicino, depois de alguns anos. Romano
tinha se tornado um monge completamente solitário e vivia naquelas
montanhas que fazem a fronteira da França com a Suíça. Aceitou o
irmão como seu aluno e seguidor, apesar de possuírem temperamentos
opostos.
A
eles se juntaram muitos outros que desejavam ser eremitas. Por isso
teve de fundar dois mosteiros masculinos, um em Condat e outro em
Lancome. Depois construiu um de clausura, feminino, em Beaume, no
qual Romano colocou como abadessa sua irmã. Os três ficaram sob as
mesmas e severas regras disciplinares, como Romano achava que seria
correto para a vida das comunidades monásticas. Romano e Lupicino se
dividiam entre os dois mosteiros masculinos na orientação
espiritual, enquanto no mosteiro de Beaume, Romano mantinha contato
com a abadessa sua irmã, orientando-a pessoalmente na vida
espiritual.
Consta
nos registros da Igreja que, durante uma viagem de Romano ao túmulo
de São Maurício, em Genebra, ele e um discípulo que o acompanhava,
que também foi canonizado, chamado Pelade, tiveram de ficar
hospedados numa choupana onde havia dois leprosos. Romano os abraçou,
solidarizou-se com eles e, na manhã seguinte, os dois estavam
curados.
A
tradição, que a Igreja mantém, nos narra que este foi apenas o
começo de uma viagem cheia de prodígios e milagres. Depois,
voltando dessa peregrinação, Romano viveu recluso, na cela de seu
mosteiro e se reencontrou na ansiada solidão. Assim ele morreu,
antes de seu irmão e irmã, aos 73 anos de idade, no dia 28 de
fevereiro de 463.
O
culto de São Romano propagou-se velozmente na França, Suíça,
Bélgica, Itália, enfim por toda a Europa. As graças e prodígios
que ocorreram por sua intercessão são numerosos e continuam a
ocorrer, segundo os fiéis que mantêm sua devoção ainda muito
viva, nos nossos dias.
São
Romano, o autor de grandes poesias
Durante
suas peregrinações e em seus momentos de retiro, Romano criava
cânticos e poemas religiosos com sabedoria e júbilo, que ficaram
como legado entregues ao povo Cristão, na forma de hinos litúrgicos.
Sua
intenção era tornar a pregação e os cânticos compreensíveis por
todos, principalmente os leigos, por isso, usava a linguagem menos
formal do canto grego. Seu talento musical foi atribuído aos desejos
da Virgem Maria, de quem era devoto.
Romano,
o homem que via ternura em tudo, passou a ser muito venerado. Logo
após sua morte, seus feitos para com as pessoas, bem como, suas
curas foram admiradas e faziam que mais pessoas pedissem que São
Romano, intercedesse por elas.
Seu
talento musical é o maior legado entregue a Igreja e por isso, São
Romano é considerado o padrinho dos cantores da Igreja, motivo ainda
maior para que muitas homenagens sejam feitas a São Romano, no dia
28 de Fevereiro.
Fonte:
www.franciscanos.org.br/?p=30759
Bento
XVI apresenta Romano, o Meloda
CIDADE
DO VATICANO, quarta-feira, 20 de maio de 2008
Audiência
Geral
Queridos
irmãos e irmãs:
Na
catequese sobre os Padres da Igreja, gostaria de falar hoje de uma
figura pouco conhecida: Romano o Meloda (ou Romano o Melodioso),
nascido ao redor do ano 490 em Emesa (hoje Homs), na Síria. Teólogo,
poeta e compositor, pertence ao grupo de teólogos que transformou a
teologia em poesia. Pensemos em seu compatriota, Santo Éfrem da
Síria, que viveu 200 anos antes dele. E pensemos também em teólogos
do Ocidente, como Santo Ambrósio, cujos hinos ainda hoje formam
parte de nossa liturgia e seguem tocando o coração; ou em um
teólogo, um pensador de grande vigor, como São Tomás, que nos
deixou os hinos da festa de Corpus Christi; pensemos em São João da
Cruz e em tantos outros. A fé é amor e por isso cria poesia e cria
música. A fé é alegria e por isso cria beleza.
Romano
o Meloda é um destes, poeta e teólogo compositor. Aprendeu as bases
da cultura grega e síria em sua cidade natal, transferiu-se a Berito
(Beirute), aperfeiçoando a instrução clássica e os conhecimentos
retóricos. Ordenado diácono permanente (em torno do ano 515), foi
pregador nessa cidade durante três anos. Depois transferiu-se a
Constantinopla, até o final do reino de Anastácio I (ao redor de
518, e ali se estabeleceu no mosteiro na igreja de Theotókos, Mãe
de Deus.
Ali
teve lugar um episódio chave em sua vida: o sinaxário bizantino nos
informa sobre a aparição em sonhos da Mãe de Deus e sobre o dom do
carisma poético. Maria, de fato, pediu-lhe uma folha enrolada. Ao
despertar, na manhã seguinte, era a festa de Natal. Romano pôs-se a
declamar desde o ambão: «Hoje, a Virgem dá à luz o Transcendente»
(Hino sobre o Natal, I Proemio). Deste modo, converteu-se em
pregador-cantor até sua morte (ao redor do ano 555).
Romano
passou à história como um dos autores mais representativos de hinos
litúrgicos. A homilia era então, para os fiéis, praticamente a
única oportunidade de ensino catequético. Romano se apresenta como
um testemunho eminente do sentimento religioso de sua época, assim
como de um método vivo e original de catequese. Através de suas
composições, podemos dar-nos conta da criatividade desta forma de
catequese, da criatividade do pensamento teológico, da estética e
da hinografia sagrada daquela época.
O
lugar em que Romano pregava era um santuário nos arredores de
Constantinopla: subia no ambão, colocado no centro da igreja, e se
dirigia à comunidade, recorrendo a uma representação muito
elaborada: utilizava representações nas paredes ou ícones sobre o
ambão e se servia também do diálogo. Pronunciava homilias métricas
cantadas, chamadas Kontákia. O termo kontákion, «pequena vara»,
parece fazer referência ao pequeno bastão em torno do qual se
envolvia o rolo de um manuscrito litúrgico ou de outro tipo. Os
Kontákia que se conservaram sob o nome de Romano são 89, mas a
tradição lhe atribui mil.
Em
Romano, cada kontákion compõe-se de estrofes, em sua maioria de 18
a 24, com o mesmo número de sílabas, estruturada segundo o modelo
da primeira estrofe (irmo); os acentos rítmicos dos versos de todas
as estrofes se modelam segundo os do irmo. Cada estrofe conclui com
um estribilho (efimnio), em geral idêntico, para criar a unidade
poética. Ademais, as iniciais de cada estrofe indicam o nome do
autor (acróstico), precedido frequentemente do adjetivo «humilde».
Uma oração que faz referência aos atos celebrados ou evocados
conclui o hino. Ao terminar a leitura bíblica, Romano cantava o
Proemio, em geral em forma de oração ou súplica. Anunciava assim o
tema da homilia e explicava o estribilho que se repetia em coro ao
final de cada estrofe, declamada por ele com uma modulação de voz
elevada.
Um
exemplo significativo é o kontakion com motivo da Sexta-Feira da
Paixão: é um diálogo entre Maria e o Filho, que tem lugar no
caminho da Cruz. Maria diz: «Aonde vai, filho?» «Por que percorre
tão rapidamente o caminho de sua vida? / Nunca teria pensado, filho
meu, que o veria neste estado, / nem poderia imaginar nunca que
chegaria a este ponto a fúria dos ímpios / avançando contra toda
justiça». Jesus responde: «Por que chora, mãe minha?» […] Eu
não deveria ir? Não deveria morrer? Como poderia salvar Adão?».O
filho de Maria consola a mãe, mas o recorda de seu papel na história
da salvação: «Aquieta, portanto, mãe, aquieta sua dor: / não é
próprio de ti gemer, pois foi chamada “cheia de graça”» (Maria
aos pés da cruz, 1-2; 4-5). O hino sobre o sacrifício de Abraão
diz: «Quando sara escutar, Senhor meu, todas as suas palavras, / ao
conhecer sua vontade, me dirá: / Se quem nos deu volta a nos tomar,
por que nos deu? / […] Tu, ancião, deixa o meu filho, / e quando
queira quem te chamou, terá de me dizer» (O sacrifício de Abraão,
7).
Romano
não usa o grego bizantino solene da corte, mas um grego simples,
próximo da linguagem do povo. Gostaria de citar um exemplo da
maneira viva e muito pessoal com que falava do Senhor Jesus: o chama
«fonte que não queima e luz contra as trevas», e diz: «Eu desejo
tê-lo em minhas mãos como uma lâmpada; / de fato, Tu que é a luz
inapagável» (A Apresentação ou Festa do encontro, 8). A força de
convicção de suas pregações se fundava na grande coerência entre
suas palavras e sua vida. Em uma oração, diz: «Aclara minha
língua, Salvador meu, abre minha boca / e depois de tê-la
preenchido, penetra meu coração para que meu atuar / seja coerente
com minhas palavras» (Missão dos Apóstolos, 2).
Examinemos
agora alguns de seus temas principais. Um tema fundamental de sua
pregação é a unidade da ação de Deus na história, a unidade
entre criação e história da salvação, unidade entre Antigo e
Novo Testamento. Outro tema importante é a pneumatologia, quer
dizer, a doutrina sobre o Espírito Santo. Na festa de Pentecostes
sublinha a continuidade que se dá entre Cristo, ascendendo ao céu,
e os apóstolos, quer dizer, a Igreja, e exalta sua ação
missionária no mundo: «[…] com virtude divina conquistaram todos
os homens; / tomaram a cruz de Cristo como uma pluma, / utilizaram
palavras como redes e com elas pescaram pelo mundo, / tiveram o Verbo
como forte atrativo, / para eles serviu de isca / a carne do Soberano
do universo» (Pentecostes 2; 18).
Outro
tema central é, claro está, a cristologia. Não se mete no problema
dos conceitos difíceis da teologia, sumamente discutidos naquele
tempo, e que também laceraram a unidade não só entre os teólogos,
mas inclusive entre os cristãos na Igreja. Prega uma cristologia
simples, mas fundamental, a cristologia dos grandes Concílios. Mas
sobretudo se aproxima da piedade popular, de fato, os conceitos dos
Concílios surgiram da piedade popular e do conhecimento do coração
cristão, e desde modo Romano sublinha que Cristo é verdadeiro homem
e verdadeiro Deus, e ao ser verdadeiro Homem-Deus, é uma só pessoa,
a síntese entre criação e Criador: em suas palavras humanas
escutamos a voz do próprio Verbo de Deus. «Era homem – diz –
Cristo, mas também era Deus, / agora, não estava dividido em dois:
é Um, filho de um Pai que é um só» (A Paixão, 19). Pelo que se
refere à mariologia, em ação de graças à Virgem pelo dom do
carisma poético, Romano a recorda ao final de quase todos os hinos e
lhe dedica suas kontákia mais belas: Natividade, Anunciação,
Maternidade divina, Nova Eva.
Por
último, os ensinamentos morais estão relacionados com o juízo
final (As dez virgens [II]). Nos leva até esse momento da verdade de
nossa vida, o comparecimento diante do Juízo justo, e por isso
exorta à conversão na penitência e no jejum. O cristão deve
praticar a caridade, a esmola. Acentua o primado da caridade em dois
hinos, as Bodas de Cana e As dez virgens: «[…] Dez virgens
possuíam a virtude da virgindade intacta, / mas para cinco delas o
duro exercício não deu fruto. / As outras brilharam para as
lâmpadas do amor pela humanidade, / por isso as convidou ao esposo»
(As dez virgens, 1).
Humanidade
palpitante, ardor de fé, profunda humildade resumem os cantos de
Romano o Meloda. Este grande poeta e compositor nos recorda todo o
tesouro da cultura cristã, nascida da fé, nascida do coração que
se encontrou com Cristo, com o Filho de Deus. Deste contato do
coração com a Verdade, que é Amor, nasce a cultura, toda a cultura
cristã. E se a fé segue viva, esta herança cultural tampouco
morre, mas que segue estando viva e presente. Os ícones seguem
falando hoje ao coração dos crentes, não são coisas do passado.
As catedrais não são monumentos medievais, mas casas de vida, onde
nos sentimos «em casa»: onde encontramos Deus e nos encontramos uns
com os outros. Tampouco a grande música – o gregoriano, ou Bach ou
Mozart – é algo do passado, mas vive na vitalidade da liturgia e
de nossa fé.
Se
a fé está viva, a cultura cristã não fica em algo «passado»,
mas segue viva e presente. E a fé está viva, também hoje podemos
responder ao imperativo que sempre se repete nos Salmos: «Cantai ao
Senhor um cântico novo».
Criatividade,
inovação, cântico novo, cultura nova e presença de toda herança
cultural na vitalidade da fé não se excluem, mas que são uma só
realidade: são presença da beleza de Deus e da alegria de ser
filhos seus.
[Ao
final da audiência, o Papa saudou os peregrinos em vários idiomas.
Em português, disse:]
A
minha saudação amiga para todos vós, peregrinos de língua
portuguesa, com menção especial para os grupos paroquiais de
Guifões, em Portugal, e do Senhor Bom Jesus em Limeira, no Brasil:
sede bem-vindos! Esta peregrinação a Roma encha de luz e fortaleza
o vosso testemunho cristão, para confessardes Jesus Cristo como
único Salvador e Senhor da vida: fora d’Ele, não há vida, nem
esperança de a ter. Com Cristo, sucesso eterno à vida que Deus vos
confiou. Para cada um de vós e família, a minha Bênção!
Fonte:
https://pt.zenit.org/articles/bento-xvi-apresenta-romano-o-meloda/
São
Romano, o Melodista (c. 560), compositor de hinos
Romano,
o Melodista, nascido por volta de 490 d.C. em Emesa, Homs, na Síria,
e faleceu em 556 em Constantinopla. Foi um teólogo, poeta e
compositor e «pertence à grande plêiade de teólogos que
transformaram a teologia em poesia», nas palavras de Bento XVI.
«Os
pecados, os seus muitos pecados são perdoados»
Hino
21
Quando
viu as palavras de Cristo a espalhar-se por toda a parte como aromas,
a pecadora começou a detestar o fedor que saía dos seus próprios
actos: «Não fiz caso da misericórdia que Cristo tem para comigo,
procurando-me quando por minha culpa me perco. Porque é a mim que
Ele procura em todo o lado; é por mim que janta em casa do fariseu,
Ele que dá alimento ao mundo inteiro. Faz da mesa um altar de
sacrifício onde Se oferece, perdoando as dívidas aos devedores,
para que estes se aproximem com confiança dizendo: ‘Senhor,
salva-me do abismo das minhas más obras.’».
Ali
acorreu avidamente e, desprezando as migalhas, agarrou no pão; mais
faminta do que a Cananeia (Mc 7,24 ss), saciou a sua alma vazia, com
igual fé. Não foi o grito de apelo a chamá-Lo o que a remiu, mas o
silêncio, pois disse num soluço: «Senhor, livra-me do abismo das
minhas más obras».
Correu
até casa do fariseu, precipitando-se na penitência. «Vamos, alma
minha, disse, chegou o momento que tanto pedias! Aquele que purifica
está aqui, porquê ficares no abismo das tuas más obras? Vou ao Seu
encontro, pois foi por mim que Ele veio. Deixo os amigos do passado,
porque a Este que hoje aqui está, apaixonadamente O desejo; e como
Ele me ama, dou-Lhe o perfume e as lágrimas que trago… O desejo
pelo Desejado transfigura-me e eu amo Aquele que me ama da maneira
que Ele quer ser amado. Arrependo-me e a Seus pés me rojo, é o que
Ele espera; procuro o silêncio e o retiro, é o que Lhe agrada.
Rompo com o passado; renuncio ao abismo das minhas más obras.
Maria
Madalena, enviada para anunciar a ressurreição
Aquele
que perscruta no mais íntimo dos corações (Sl 7,10) sabendo que
Maria lhe reconhecerá a voz, chamava a sua ovelha pelo nome, como
fazem os pastores (Jo 10,4), dizendo : «Maria !» Ela logo responde
: «Sim, é o meu pastor quem me chama, Ele vem à minha procura e
quer contar comigo, acrescentando-me às suas noventa e nove ovelhas
(Lc 15,4). Vejo atrás d’Ele legiões de santos, exércitos de
justos […]. Sei bem quem Ele é, Este que me chama ; tinha-o dito,
é o meu Senhor, é Aquele que oferece a ressurreição aos
pecadores.
Levada
pelo fervor do amor, a jovem mulher quis deter Aquele que completou
toda a criação […]. Mas o Criador […] ergueu-a até ao mundo
divino, dizendo: «Não me detenhas ; Pensas que sou um simples
mortal ? Eu sou Deus, não me detenhas […] Ergue os olhos ao céu e
olha o mundo celeste; é aí que Me deves procurar. Porque eu subo
para o meu Pai, que não abandonei. Estive sempre com Ele desde o
início dos tempos, partilho o seu trono, recebo as mesmas honras,
Eu, que ofereço aos pecadores a ressurreição.
Que
de ora em diante a tua língua proclame estas coisas e as explique
aos filhos do Reino que esperam que Eu desperte; Eu sou Aquele que
vive. Vai depressa, Maria, reúne os meus discípulos. Serás uma
trombeta de som poderoso; toca um canto de paz aos ouvidos temerosos
dos meus amigos escondidos, desperta-os a todos desse seu sono, para
que venham ao meu encontro. Diz-lhes: ‘O Esposo acordou, saiu do
seu túmulo. Apóstolos, deixai essa tristeza mortal, porque Ele
ergueu-Se, Aquele que oferece aos pecadores a ressurreição’»
[…]
Maria
exclama: «E de repente o meu luto fez-se júbilo, em tudo vi
alegria. Não hesito em dizê-lo: recebi glória igual à de Moisés
(Ex 33, 18s). Vi, ouvi, vi, não no monte mas no sepulcro, velado não
pela nuvem, mas por um corpo, o Senhor dos seres incorpóreos e das
nuvens, seu Senhor de ontem, de agora e de todo sempre. Ele
disse-me: ‘Maria, apressa-te! Como pomba queem seu bico leva um
raminho de oliveira, vai anunciar a boa nova aos descendentes de Noé
(Gn 8,11). Diz-lhes que a morte foi aniquilada e que ressuscitou
Aquele que aos pecadores oferece a ressurreição’».
«Os
Ninivitas converteram-se em resposta à pregação de Jonas; ora aqui
está quem é maior que Jonas»
Hino
51
Abre,
Senhor, abre-me a porta da tua misericórdia antes da minha hora de
partir (Mt 25,11). Porque eu tenho de partir, de ir até Ti e de me
justificar de tudo o que eu digo em palavras, do que faço em ações
e dos pensamentos que guardo no meu coração. «Mesmo o rumor das
murmurações não escapará ao teu ouvido» (Sb 1,10). David diz-Te
no seu salmo: «Os teus olhos viram-me em embrião, no teu livro está
tudo escrito« (Sl 138, 13.16). Ao leres nele as marcas das minhas
más acções, grava-as na tua cruz, pois é nela que eu me glorifico
(Ga 6,14), gritando-Te: «Abre-nos a porta» […]
O
espírito endureceu-se-nos a tal ponto que, quando ouvimos falar das
calamidades que aconteceram a alguém, em nada nos corrigimos (Lc 13,
1s). «Não há quem seja sensato, quem procure a Deus; estamos
extraviados, estamos pervertidos» (Sl 13,2-3). Os Ninivitas, naquele
tempo, arrependeram-se a um único apelo do profeta. Mas, nós, não
compreendemos apelo nem ameaça. Com suas lágrimas, Ezequias pôs em
fuga os Assírios suscitando contra eles a justiça do alto (2 Rs
19). Ora eis que os Assírios […] nos puseram cativos, e não
choramos nem gritamos: «Abre-nos a porta».
Divino
Senhor, de todos juiz, não esperes que mudemos de atitude; tu não
precisas das nossas boas ações, pois cada um de nós se dedica a
más ações pelo pensamento e pela vontade. Porque é assim,
Salvador, governa os nossos dias segundo a tua vontade, sem esperares
a nossa conversão, pois talvez ela não se dê. E, ainda que ela
venha a acontecer, será por pouco tempo, não persistirá até ao
fim. Como a semente que cai entre as pedras, como a erva nos
telhados, ela secará sem chegar a crescer (Mc 4,5; Sl 128,6).
Estende pois a tua misericórdia sobre nós e todos os que pedem:
«Abre-nos a porta».
«Bendito
seja o Rei que vem em nome do Senhor!»
Hino
32 | (Lc 19,38)
Sentado
no teu trono no céu, aqui em baixo no burrinho, Cristo que és Deus,
tu acolhias o louvor dos anjos e o hino das crianças que te
cantavam: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”…
Eis
o nosso rei, doce e pacífico, montado num jumentinho, que vem cheio
de pressa para sofrer a sua Paixão e para retirar os pecados. O
Verbo, montado num animal, quer salvar todos os seres dotados de
razão. E podíamos contemplar sobre o dorso de um burrico aquele que
conduz os Querubins e que no passado retirou Elias sobre um carro de
fogo, aquele que “sendo rico, se fez pobre” voluntariamente (2Co
8,9), aquele que escolhendo a fraqueza dá a força a todos que lhe
gritam: “Bendito sejas tu, que vens chamar Adão”…
Tu
manifestas a tua força escolhendo a indigência… As vestes dos
discípulos eram a marca da indigência, mas proporcional ao teu
poder era o hino das crianças e a afluência da multidão que
gritava: “Hossana – quer dizer: Salva pois – tu que estás no
mais alto dos céus. Salva, Altíssimo, os humildes. Tem piedade de
nós, por atenção às nossas palmas, os ramos que se agitam moverão
o teu coração, ó tu que vens chamar Adão”…
Ó
criatura da minha mão, respondeu o Criador…, vim eu próprio. Não
é a Lei que te salvará, pois ela não te criou, nem os profetas,
que eram criaturas como tu. Só eu posso libertar-te da tua dívida.
Eu fui vendido por ti, e eu liberto-te; fui crucificado por causa de
ti, e tu escapas à morte. Eu morro, e ensino-te a gritar: “Bendito
sejas tu, que vens chamar Adão”.
Amei
assim tanto os anjos? Não, és tu, o miserável, que me és querido.
Escondi a minha glória e eu, o Rico, fiz-me pobre deliberadamente,
porque te amo muito. Por ti, sofri a fome, a sede, a fadiga. Percorri
montanhas, ravinas e vales à tua procura, ovelha perdida; tomei a
reputação de cordeiro para te trazer de volta, atraído pela minha
voz de pastor, e quero dar a minha vida por ti, para te arrancar da
garra do lobo. Suporto tudo para que tu grites: “Bendito sejas tu,
que vens chamar Adão”.
«Se
ao menos tocar nas Suas vestes, ficarei curada»
Hino
23, sobre a hemorroíssa
Tal
como a hemorroíssa, também eu me prostro diante de Ti, Senhor, para
que me livres do sofrimento e me concedas o perdão dos meus pecados,
a fim de que eu clame a Ti, de coração compungido: “Salvador,
salva-me!” […]
Ela
aproximou-se de Ti às escondidas, Salvador, porque Te tomava por um
simples homem, mas o facto de ter sido curada demonstrou-lhe que eras
Deus e homem ao mesmo tempo. Em segredo, tocou na orla do Teu manto,
com o temor na alma […], dizendo para consigo: - Como poderei
deixar-me ver por Aquele que tudo observa, eu, que trago comigo a
vergonha das minhas faltas? Se vir o fluxo de sangue, Aquele que é
Todo-puro afastar-Se-á de mim que sou impura e, se Ele se afastar de
mim apesar do meu grito – “Salvador, salva-me!” –, tal será
mais terrível do que a minha chaga.
Ao
ver-me, todos me empurram: “Onde vais? Tem consciência da tua
vergonha, mulher, percebe quem és, e de quem pretendes aproximar-te!
Tu, a impura, aproximares-te do Todo-puro! Vai purificar-te e, quando
tiveres limpado a mancha que trazes contigo, poderás aproximar-te
dele gritando: ‘Salvador, salva-me!’”
-
Procurais causar-me maior dor que o próprio mal de que padeço? Bem
sei que Ele é puro e é precisamente por isso que me dirijo a Ele,
para ser libertada do opróbrio e da infâmia. Não me impeçais,
pois […], de gritar: “Salvador, salva-me!”
A
fonte derrama as suas vagas para todos: com que direito a cerrais?
[…] Sois testemunhas das curas que Ele praticou. […] Todos os
dias nos encoraja dizendo: - Vinde a Mim, todos os que estais
cansados e oprimidos e aliviar-vos-ei (Mt 11, 28). Ele gosta de
conceder o dom da saúde a todos. Por que me tratais com rudeza,
impedindo-me de Lhe gritar: “Salvador, salva-me!”? […]
Aquele
que conhece todas as coisas […] volta-se e pergunta aos seus
discípulos: “Quem tocou nos meus vestidos?” (Mc 5, 30) […] Por
que Me dizes, Pedro, que a multidão me empurra? Eles não tocam a
Minha divindade, mas esta mulher, ao tocar a Minha veste invisível,
tocou a Minha natureza divina e recuperou a saúde, gritando-Me:
“Salvador, salva-me!”
“Tem
coragem, mulher. […] Desde agora, ficarás curada. […] Isto não
é obra das Minhas mãos, mas da tua fé. Pois muitos tocaram a orla
das Minhas vestes sem obter a força, porque não vinham com fé. Tu
tocaste-Me cheia de fé e recuperaste a saúde. Foi por isso que te
expus diante de todos, para que dissesses: ‘Salvador, salva-me!’”
«Uma
espada trespassará a tua alma»
Hino
25, Maria na cruz
Ovelha
contemplando o seu cordeiro levado ao matadouro (Is 53, 7), consumida
de dor, Maria segue com as outras mulheres, chorando: “Para onde
vais, meu filho? Por que percorres assim depressa o teu caminho? (Sl
18, 6) Há outra boda em Caná, e é para lá eu Te diriges tão
depressa, para transformar a água em vinho? Posso acompanhar-te, meu
Filho, ou será melhor esperar por Ti? Diz-me uma palavra que seja,
Tu que és o Verbo, não passes diante de mim em silêncio […], Tu,
que és o meu Filho e o meu Deus. […]
“Encaminhas-Te
para uma morte injusta e ninguém partilha o Teu sofrimento. Não Te
acompanha Pedro, que dizia: ‘Mesmo que tenha de morrer contigo, não
Te negarei’ (Mt 26, 35). Abandonou-Te Tomé, que exclamara: ‘Vamos
nós também, para morrermos com Ele’ (Jo 11, 16). E os outros, os
íntimos, aqueles que hão de julgar as doze tribos (Mt 19, 28), onde
estão eles? Não está cá nenhum; mas Tu, sozinho, meu Filho, Tu
morres por todos. É o salário que recebes por teres salvado todos
os homens, por os teres servido, meu Filho e meu Deus.”
Voltando-Se
para Maria, Aquele que saiu dela exclama: “Por que choras, Mãe?
[…] Eu, não sofrer, não morrer? Como salvaria Adão? Não habitar
o túmulo? Como devolveria então à vida aqueles que moram na mansão
dos mortos? Por que choras? Exclama antes: ‘Sofre voluntariamente,
o meu Filho e meu Deus.’ Virgem prudente, não te tornes semelhante
às insensatas (Mt 25, 1ss.): tu estás no banquete de núpcias, não
ajas como se tivesses ficado de fora. […] Não chores, pois, diz
antes: ‘Tem piedade de Adão, sê misericordioso com Eva, meu Filho
e meu Deus.’
“Descansa,
Mãe, serás tu a primeira a ver-me sair do túmulo. Virei mostrar-te
de que males resgatei Adão, que suores derramei por ele. Revelarei
aos Meus amigos as marcas que trarei nas mãos. Então, verás Eva
viva como foi outrora, e exclamarás cheia de alegria: ‘Ele salvou
os meus pais, o meu Filho e meu Deus!’”
Mais
Hinos de São Romano Melodista em:
Frases
de São Romano, o Melodista,
1-
“O desejo pelo Desejado transfigura-me e eu amo Aquele que me ama
da maneira que Ele (Deus) quer ser amado”.
2-
“Com a cruz na mão, ergo-me, louvando a Ressurreição. Glória a
Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado”.
3-“Aquele
a Quem temias quando foste enganado pelo demônio fez-Se semelhante a
ti, por ti. Desceu à terra para te levar aos céus; tornou-Se mortal
para que tu te tornasses Deus e recuperasses a tua beleza inicial”.
4-“Arrependo-me
e a seus pés me jogo, como Ele (Jesus) espera; procuro o silêncio e
o retiro, como Lhe agrada. Rompo com o passado, renunciando ao abismo
das minhas más obras”.
5-
“Nós, os novos batizados, os filhos do batistério que acabamos de
receber a luz, damos-Te graças, Cristo Deus. Tu iluminaste-nos com a
luz do Teu rosto, Tu revestiste-nos com a veste que convém às Tuas
núpcias”.
6-
“Vamos, alma minha, chegou o momento que tanto pedias! Aquele que
purifica está aqui, porque permaneces no abismo das tuas más obras?
Vou ao seu encontro, pois foi por mim que Ele (Jesus) veio”.
7-“Canta,
canta Adão: adora Aquele (Jesus) que a ti vem. Enquanto te afastavas
Ele manifestava-Se-te para que O visses, O tocasses, O acolhesses.
Aquele a Quem temias quando foste enganado pelo demônio fez-Se
semelhante a ti, por ti”.
8-Cristão,
“possuis a cruz como cajado, apoia-te nela. Leva-a à tua oração,
leva-a para a mesa, leva-a para o leito, leva-a para todo o lado como
título de glória”.
9-“Eis-te
recriado, novo batizado, eis-te renovado; não curves as costas ao
peso dos pecados”.
10-“Nós,
os filhos de Adão que estamos nus, venhamos, revistamo-nos d’Ele
para nos aquecermos. Pois foi para vestir os que estão nus, e
iluminar os que estão nas trevas, que Tu Te manifestaste, ó luz
inacessível”.
11-“O
Senhor nascido de Maria, o Sol de justiça, faz irradiar os Seus
raios para todo o universo (Ml 3,20)”.
12-“Querendo
abrir-te as portas do Paraíso viveu em Nazaré. Por tudo isso canta,
ó homem, canta e louva Aquele (Jesus) que Se manifestou e iluminou
todo o universo”.
13-
“Agora fui Eu (Jesus) que Me fiz carne porque quis. Apresenta-te
pois, reconhece-Me e diz: Tu vieste, Tu manifestaste-Te, ó luz
inacessível”.
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