São Pio X, o Papa da Eucaristia. Amo essa foto: doçura e firmeza no olhar. |
A evangelização, a catequese,
estiveram muito presente em seu pontificado. Basta recordar que foi ele quem
publicou e fez difundir por toda a Igreja o Catecismo que, inclusive leva seu
nome: Catecismo de São Pio X.
Mas, a divulgação da doutrina
católica através da difusão do Catecismo não foi a única ação que deixou marcas
na história da Igreja.
São Pio X promoveu reformas
pastorais quanto à participação dos fiéis no culto. Entre elas está a promoção
do culto eucarístico. Ainda no começo do Século XX, ele via no Sacramento da
Eucaristia um modo de os fiéis se aproximarem mais de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Antes dele a comunhão sacramental
era uma prática pouco comum, raramente realizada. Foi São Pio X quem promoveu a
devoção da comunhão frequente e reduziu a idade mínima para poder receber a
Eucaristia. Isso facilitou a prática precoce da comunhão para as crianças: A
partir dos sete anos já se poderia comungar.
São Pio X foi o único Papa dos
tempos modernos que exerceu intensamente, por muitos anos, seu munus
sacerdotal. Ele foi capelão e pároco em pequenas paróquias rurais. Tendo
chegado à Cátedra de Pedro, ele espalhou pelo mundo sua experiência sacerdotal.
Giuseppe Melchiorre Sarto
Dom Giuseppe Sarto |
Em 10 de
Novembro de 1884 foi elevado a Bispo de Mântua, e em 1896 a Patriarca de Veneza
sendo eleito Papa em 04 de Agosto de 1903 com 55 dos 60 votos possíveis no
conclave.
Ainda jovem
sacerdote, ao lado de seu trabalho pastoral incansável, ele tinha uma paixão
pitoresca pela construção das chamadas meridianas, um tipo muito simples de
aparelho que indica as horas do dia. Com a característica especial de ter a
precisão de um aparelho comandado pelo sol.
Cardeal Sarto |
Porém, esta
curiosidade da vida de São Pio X foi deixada de lado com o surgimento de cargos
que lhe absorviam cada vez mais: pároco em Salzano, os trabalhos no seminário e
na cúria de Treviso, os encargos do episcopado e do patriarcado veneziano e o
encargo maior que ele teve: dirigir a Barca de Pedro. Quando, em certa ocasião,
considerou-se tão isolado que um dia lembrando o Profeta Isaías suspirou: “De
gentibus non est vir mecum!”. O que, numa tradução livre poderia caracterizá-lo
inteiramente: “Estou sozinho!”.
O Papa
Foi o primeiro
Pontífice eleito no século passado. A história de São Pio X conta também com
características do tempo em que viveu. Ele foi o último pontífice a ser eleito
por causa do chamado “veto laical”.
No conclave de
agosto de 1903 era considerado também papável o Cardeal Rampolla, Secretário de
Estado. Por causa de seus relacionamentos, sua eleição foi vetada pelo Cardeal
Puzyna, Arcebispo de Cracóvia, em nome do imperador austro-húngaro. Assim, o
Cardeal Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, foi escolhido Papa e adotou o nome
de Pio X.
O seu lema era
“Restaurar todas as coisas em Cristo”,
expresso na sua encíclica “Ad Diem Illum”.
Foi um defensor intransigente da ortodoxia
doutrinária e governou a Igreja Católica com mão firme numa época em
que enfrentava um laicismo forte, além das diversas tendências do modernismo
que ele considerava como síntese de todas as heresias nos campos dos estudos
bíblicos e da teologia.
São Pio X
introduziu reformas na liturgia e codificou a Doutrina da Igreja Católica.
Facilitou a participação dos fiéis na Eucaristia. Como um Papa pastoral,
encorajou modos de vida que refletissem os valores cristãos.
Ele foi o
grande incentivador da prática da comunhão eucarística frequente e permitiu o
acesso precoce das crianças à Eucaristia, quando da chegada à chamada idade da
razão.
Foi um
promotor incansável do estudo do canto gregoriano e do catecismo. Criou a
Pontifícia Comissão Bíblica e colocou as bases do Código de Direito Canônico,
promulgado em 1917 após a sua morte. Publicou 16 encíclicas.
Morte de São Pio X |
A lápide
No dia 20 de
agosto de 1914, aos setenta e nove anos, Pio X morreu. Seus biógrafos são
unânimes em dizer que: “o coração paterno e sensível do Papa não suportou a
tristeza e a dor pelo início da I Guerra
Mundial”. O povo, de imediato, passou a
venerá-lo como um santo.
Na lápide do
seu túmulo na Basílica de São Pedro no Vaticano, lê-se: A sua tiara era formada por três
coroas: pobreza, humildade e bondade.
Foi
beatificado em 1951 e canonizado em 3 de Setembro de 1954 pelo Papa Pio XII. É
considerado um dos maiores Papas da Igreja.
* * *
Acréscimos
após a biografia: sua espiritualidade e relevantes obras pelo bem e
santificação da Igreja:
São Pio X, o Papa da Eucaristia e da
Comunhão das Crianças.
Um grande Papa
canonizado pela Igreja, São Pio X, dedicou precisamente às crianças não pouca
atenção e esforço pastoral. No dia 8 de agosto de 1910 emanava-se o Decreto “Quam singulari”, através do qual o Santo
Padre Pio X estabelecia que se podia admitir as crianças à Primeira Comunhão já
a partir da idade de sete anos.
Tratou-se de
um acontecimento muito importante para a pastoral das crianças, pois sem a
necessidade de esperar mais tempo, elas podiam assim aproximar-se da Comunhão
Eucarística, depois de terem recebido nas respectivas paróquias a devida
preparação que lhes permitia aprender os primeiros elementos fundamentais da fé
cristã. Com efeito, já naquela época a idade da discrição tinha sido
estabelecida por volta dos sete anos, quando a criança já consegue distinguir o
pão comum do Pão eucarístico, verdadeiro Corpo de Cristo.
Juntamente com
São Pio X, muitos de nós estão convencidos de que esta prática de permitir que
as crianças recebam a Primeira Comunhão já a partir dos sete anos de ida e
confere à Igreja copiosas graças do Céu. Além disso, não se pode esquecer que
na Igreja primitiva o sacramento da Eucaristia se administrava até aos
recém-nascidos, imediatamente depois do Batismo, sob as espécies de umas poucas
gotas de vinho.
Permitir que as
crianças possam receber Jesus Eucarístico quanto antes possível representou,
durante muitos séculos, um dos alicerces mais firmes da pastoral destinada aos
mais pequeninos no seio da Igreja; este hábito foi restabelecido por São Pio X
na sua época, tendo por isso sido elogiado pelos seus Sucessores e, ainda mais
vezes, pelo nosso Santo Padre João Paulo II.
O cânone 914
do Código de Direito Canônico acolheu plenamente o pensamento do Sumo
Pontífice: “Os pais, em primeiro lugar, e aqueles que fazem as suas vezes,
assim como o pároco, têm a obrigação de procurar fazer com que as crianças que
já alcançaram o uso da razão se preparem convenientemente e se nutram quanto
antes, depois da Confissão sacramental, com este alimento divino”.
Recentemente,
o Santo Padre João Paulo II voltou a refletir sobre aquela decisão de São Pio
X, com palavras de admiração; e fê-lo no seu livro intitulado: “Levantai-vos,
vamos!”: “Um testemunho comovedor de amor pastoral pelas crianças foi dado pelo
meu predecessor São Pio X, com a sua decisão acerca da Primeira Comunhão. Ele
não somente reduziu a idade necessária para aproximar-se da Mesa do Senhor,
fruto este de que eu mesmo gozei em maio de 1929, mas ofereceu também a
possibilidade de receber a Comunhão até mesmo antes de ter completado sete anos
de idade, caso a criança em questão demonstre um discernimento que se possa
considerar suficiente. A Sagrada Comunhão antecipada foi uma decisão pastoral
que merece ser recordada e elogiada. Ela produziu muitos frutos de santidade e
de apostolado entre as crianças, favorecendo o surgimento de mais vocações
sacerdotais” (João Paulo II, “¡Levantaos! ¡Vamos!”, Plaza Janés, Barcelona
2004, pág. 97).
Nós
sacerdotes, chamados por Deus a conservar o Santo Sacramento do altar em união
com os nossos Bispos, podemos e devemos cuidar que sobretudo as crianças sejam
os primeiros destinatários deste imenso dom: a Eucaristia, que Deus depositou
nas nossas frágeis mãos de argila, nas nossas mãos consagradas.
Eleição e coroação de São Pio X
Transcorridos
os 11 dias de orações, prescritos para sufrágio da alma do Papa Leão XIII,
recém-falecido, os cardeais da Santa Igreja (em número de 62, na época)
iniciaram o Conclave — reunião do Colégio cardinalício com o objetivo de eleger
o novo Papa.
Os primeiros
escrutínios indicavam a escolha do Cardeal Rampolla — que fora colaborador
direto de Leão XIII. Mas no dia 1º de agosto foi comunicado aos cardeais, no
Conclave, o veto do Imperador da Áustria, Francisco José. Veto que, segundo uma
tradição, poderia ser exercido pelo Imperador austríaco.
Devido a isso,
o Cardeal Giuseppe Sarto, de Veneza, passou a ser o preferido. Entretanto, num
exercício de autêntica humildade, pedia aos cardeais que nele não votassem. Mas
ele era o escolhido também pela Divina Providência. No sétimo turno da votação,
o Cardeal Sarto, por insistência de vários de seus pares no Sacro Colégio,
acabou aceitando(1) e foi eleito o 259º sucessor de São Pedro, por 50 votos a
seu favor, no dia 4 de agosto de 1903.
O Cardeal
Sarto, de cabeça baixa, ouviu o resultado do sufrágio. Segundo o costume,
aproximou-se dele o Cardeal Decano e perguntou-lhe se aceitaria ou não a
eleição à Sede Pontifícia.
Com os olhos
banhados em lágrimas, e a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, respondeu: “Se
não for possível afastar de mim esse cálice, que se faça a vontade de Deus.
Aceito o Pontificado como uma cruz”.(2)
Após cinco
dias, teve lugar a grandiosa cerimônia de coroação do sucessor de São Pedro,
para a glória da Santa Igreja.
O glorioso,
árduo e fecundo pontificado desse Vigário de Cristo durou 11 anos. Nesse
período, foram lançados mais de 3.000 documentos oficiais, com o objetivo de Instaurare omnia in Christo — conforme seu lema. E tem estreita analogia com
esta sua afirmação: “Se alguém pedir uma palavra de ordem, sempre daremos esta
e não outra: Restaurar todas as coisas em Cristo”.(3)
Nesse sentido
de restaurar todas as coisas em Cristo, foram numerosas e admiráveis as obras
empreendidas pelo Santo Pontífice para defender a Civilização Cristã gravemente
ameaçada.
Em seu
esplêndido livro de memórias, o Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de
São Pio X, enumera de passagem algumas dessas obras:
“A reforma da
Cúria Romana; a fundação do Instituto Bíblico; a construção de seminários
centrais e a promulgação de leis para a melhor disciplina do clero; a nova
disciplina referente à primeira comunhão e à comunhão freqüente; o
restabelecimento da música sacra; a vigorosa resistência movida contra os
fatais erros do chamado modernismo e a corajosa defesa da liberdade da Igreja
na França, Alemanha, Portugal, Rússia e outros países, sem aludir a outros atos
de governo, justificam certamente que Pio X tenha sido destacado como um grande
Pontífice e um diretor humano excepcional. Posso testemunhar que todo esse
enorme trabalho foi devido principalmente e — muitas vezes — exclusivamente à
sua própria idéia e iniciativa. A História haverá de proclamá-lo como algo mais
que um Papa cuja bondade ninguém seria capaz de discutir.
Os limites que
me impus ao traçar estas breves Memórias me impedem de entrar a fundo no estudo
das diversas e importantes questões a que mais acima me referi; mas há uma
delas cuja importância creio merecer especial atenção neste curto relato, e
esta é a compilação do novo Código de Direito Canônico”.(4)
*
* *
Mansidão do cordeiro, força do leão
Uma palavra a
respeito de uma característica em que se destacou no mais alto grau São Pio X:
sua extrema bondade, ao lado de uma indomável energia. Sobre isso, nada melhor
que darmos a palavra a quem o conheceu mais de perto, e devotadamente o serviu
por 11 anos — seu próprio Secretário de Estado, o Cardeal Merry del Val:
“Seria um
grande erro crer que esta característica [a bondade] tão atraente de Pio X o
retratasse plenamente ou resumisse seus dotes e qualidades; nada mais longe da
verdade. Ao lado dessa bondade, e de modo feliz combinada com a ternura de seu
coração paternal, possuía uma indomável energia de caráter e uma força de
vontade que podiam testemunhar, sem vacilação, os que realmente o conheceram,
embora em mais de uma ocasião surpreendesse, e até causasse estranheza àqueles
que somente haviam tido ocasião de experimentar sua delicadeza e reserva
habituais.
Mantinha um
absoluto senhorio de si e dominava os impulsos de seu ardente temperamento. Não
vacilava em ceder em assuntos que não considerava essenciais, e até estava
disposto a considerar e aceitar a opinião de outros se isso não implicasse em
risco para algum princípio; mas não havia nele nenhuma debilidade.
Quando surgia
alguma questão na qual se fazia necessário definir e manter os direitos e
liberdade da Igreja, quando a pureza e integridade da verdade católica
requeriam afirmação e defesa, ou era preciso sustentar a disciplina
eclesiástica contra o relaxamento ou influência mundanas, Pio X revelava então
toda a força e energia de seu caráter e o intrépido valor de um grande
Pontífice consciente da responsabilidade de seu sagrado ministério e dos
deveres que julgava ter que cumprir a todo custo.
Era inútil, em
tais ocasiões, que alguém tratasse de dobrar sua constância; toda tentativa de
intimidá-lo com ameaças, ou de afagá-lo com sedutores pretextos ou recursos
meramente sentimentais, estava condenada ao fracasso”.(5)
A conjuração do movimento modernista
Esse santo
varão, que derramava copiosas lágrimas considerando a paixão da Santa Igreja,
era entretanto de uma severidade ímpar contra o mal. Depois de esgotar todos os
recursos ao seu alcance para levar alguém à conversão, severamente condenava.
Estava sempre disposto a perdoar, por assim dizer, maternalmente. Mas se a
pessoa persistisse no erro e, pior, procurasse contaminar outros com seus
desvios, o Santo Papa a reprovava energicamente. Foi o que ocorreu quando
condenou o movimento modernista — “síntese de todas as heresias”,
conforme o definiu —, que se infiltrara sub-repticiamente nas próprias fileiras
católicas, com a finalidade de modernizar, adaptar e deturpar inteiramente o
ensinamento tradicional da Igreja.
Assim, o Santo
Padre lançou várias advertências aos mentores desse movimento, os quais não as
levaram em consideração, pois se obstinavam no mal e procuravam corromper
outros membros da Igreja e até mesmo da alta Hierarquia eclesiástica. Publicou
então sua estupenda Encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 08 de setembro de
1907, fulminando o modernismo. Tal documento completava a condenação já
expressa no Decreto Lamentabili Sane Exitu, de 3 de julho do mesmo ano.
O neomodernismo de nossos tempos
Como se pôde
observar, vem de há muito a tentativa de infiltração no interior da Santa
Igreja, por parte de inimigos velados ou declarados, a fim de “modernizar”,
adaptar aos novos tempos e adulterar o Magistério tradicional e infalível da
Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Peçamos ao
ínclito Papa São Pio X o discernimento, a argúcia, a energia e a combatividade
que ele teve ao enfrentar destemidamente as raízes dos erros que, em nossos
dias, professa o chamado progressismo católico, continuador do modernismo de
sua época.
São Pio X condena o modernismo
“Os mais
perigosos inimigos da Igreja”
“Não se afastará,
portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja.
Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam
seus perniciosos desígnios; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e
entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente
eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as
mesmas raízes, que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o
machado. Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus
por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica,
nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois,
pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em
manhas e astúcias, porquanto fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas,
ora de católicos, e isto com tal dissimulação, que arrastam sem dificuldade ao
erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há
conseqüências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem
escrúpulos (nº 3) […].
Já não se
trata aqui do velho erro, que à natureza humana atribuía um quase direito à
ordem sobrenatural. Vai-se muito mais longe ainda; chega-se até a afirmar [na
doutrina modernista] que a nossa santíssima religião, no homem Jesus Cristo
assim como em nós, é fruto inteiramente da natureza. Nada pode vir mais a
propósito para dar cabo de toda ordem sobrenatural” (nº 10). (Encíclica de São
Pio X sobre as Doutrinas Modernistas, Pascendi Dominici Gregis, de 8-9-1907,
Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 1948, pp. 4-5; 10-11).
Notas:
1 Na contracapa da edição de
julho de Catolicismo, vem descrito o papel fundamental representado pelo então
Mons. Merry del Val (depois Cardeal) para convencer o Cardeal Sarto a aceitar o
resultado da eleição.
2 P. Girolamo Dal-Gal, Pio X il
Papa Santo, Libreria Editrice Fiorentina, Firenze, 1940, p. 135.
3 Op. cit., p. 133.
4 Cardeal Rafael Merry del Val,
Memorias del Papa Pio X, Sociedad de Educación Atenas, S.A., Madrid, 1946, pp.
103-105.
5 Op. cit., pp. 45-46.
Fontes
de pesquisa: