Ontem,
04 de maio de 2019, a Igreja Católica no México voltou seu olhar e seu coração
para a tão esperada celebração de beatificação da Venerável Serva de Deus Maria
la Concepción Cabrera de Armida, leiga, mística, esposa e mãe. Um evento que
vem coroar um longo processo no qual se estudou a vida e as virtudes da Serva
de Deus para que a Igreja possa, como uma vela no candelabro, pô-la como
exemplo luminoso para a vida dos fiéis cristãos. "Conchita" Cabrera é primeira mulher beatificada no México.
Maria de la
Concepción nasceu no dia 08 de dezembro de 1862, na cidade mexicana de San Luis
Potosí. Filha de Octaviano Cabrera Lacavex e de Clara Arias Rivera, ricos
fazendeiros com um profundo espírito cristão. Desde menina, salvo em uma ou
duas ocasiões, foi educada em sua casa, seguindo a tradição daqueles anos do
século XIX. Conchita, como era chamada carinhosamente por seus familiares e
amigos, era feliz, brincando nas fazendas de seus pais, no meio do campo e dos
riachos. Agradavam-lhe a música e andar a cavalo, sendo uma das poucas que
podiam montar os menos domesticados. Cresceu sempre muito unida a Jesus na
Eucaristia, com quem sentia uma confiança especial.
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A beata em sua juventude |
Acostumada a
joias e aos bailes, sentia que algo lhe faltava. Não porque tais coisas fossem,
em si, coisas más, senão porque queria dar novos passos em sua vida. Em uma
dessas festas que se organizavam em La Lonja, conheceu a quem seria o amor de
sua vida, isto é, a Francisco Armida García, um jovem de Monterrey. Dos muitos
pretendentes que teve Conchita, ela se enamorou de Pancho, com quem contraiu
matrimônio, depois de vários anos de noivado, em 08 de novembro de 1884.
Daquela união nasceram nove filhos, a quem lhes dedicou sua vida com alegria e
especial atenção.
O lema que
marcou sua vida e missão apostólica foi: “Jesus, Salvador dos homens,
salvai-os!”, inspiração que teve em 14 de janeiro de 1894, ao ponto de ficar como
que gravado “a fogo” em seu peito o monograma JHS: Jesus, Salvador dos Homens.
Desde então, foi
ficando cada vez mais clara em seu coração e em sua alma o papel que teria como
inspiradora e fundadora das cinco Obras da Cruz, mesmo em meio aos seus
trabalhos, como esposa e mãe de uma família, cheia de compromissos e visitas.
Um feito que
marcou seu itinerário espiritual foi a visão que teve da Cruz do Apostolado,
enquanto rezava em uma igreja da Companhia de Jesus, em San Luis Potosí. Pouco
a pouco, o Senhor foi a chamando, até conquistar por completo seu interior,
compartilhando com ela seus próprios sentimentos.
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A Beata Maria de la Concepción Cabrera com sete de seus nove filhos (dois já haviam falecido) |
Desde o início,
teve que enfrentar a incompreensão, pois, nem todos entendiam como era possível
uma mulher casada ser uma mística e fundadora. No entanto, os prejuízos de seu
tempo resultaram insuficientes para detê-la no cumprimento de sua missão, a
qual, por sua vez, havia sido confirmada por seus diretores espirituais.
Conchita
Cabrera, após a morte do marido, ocorrida em 17 de setembro de 1901, longe de
ficar afundada na tristeza, trouxe seus filhos, fazendo de tudo ao seu alcance,
para superar os efeitos da crise econômica na qual se encontravam. Aprendeu a
confiar em Deus, deixando-se fazer e desfazer pela ação do Espírito Santo,
seguindo o exemplo da Santíssima Virgem Maria. Nunca se deixou vencer pelo medo
e pelo desalento.
Havendo fundado
o Apostolado da Cruz (1894), as Religiosas da Cruz do Sagrado Coração de Jesus
(1897), a Aliança de Amor com o Sagrado Coração de Jesus (1909) e a Fraternidade
de Cristo Sacerdote (1912), após conhecer o Venerável Servo de Deus Padre Félix
Rougier Olanier, empreende a difícil tarefa de dar origem à Congregação dos
Missionários do Espírito Santo (1914), em plena perseguição religiosa no
México.
Uma vez fundadas
as cinco Obras da Cruz, Conchita seguiu adiante, em meio a seus assuntos
familiares, entregando-se de corpo e alma à extensão do reinado do Espírito
Santo. Em mais de uma ocasião, por ordem da Santa Sé, foi examinada por importantes
teólogos, cuja avaliação foi sempre positiva.
Ante a falta de
liberdade religiosa na República Mexicana, sobretudo durante o governo do
presidente Plutarco Elías Calles, abriu as portas de sua casa para refugiar a
vários sacerdotes que estavam sendo injustamente perseguidos. Entre eles,
destaca-se Mons. Ramón Ibarra y González, primeiro arcebispo de Puebla, que,
por sua vez, era grande amigo e protetor das Obras da Cruz. Conchita não se
deixou amedrontar pela situação, senão, que foi uma mulher otimista, chegando a
escrever diversos livros sobre a vida espiritual.
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Conchita, uma mulher muito feliz. |
Adiantando-se ao
Concílio Vaticano II, demonstrou que os leigos tinham um lugar importante na
vida da Igreja, a partir da vivência do sacerdócio batismal. Morreu em 03 de
março de 1937, na Cidade do México. “Mamãe sorria sempre”, foi a declaração que
rendeu um de seus filhos ao abrir-se a causa de sua beatificação/canonização.
No ano de 1999, foi declarada “Venerável” pelo Papa São João Paulo II.
Em 08 de junho
de 2018, o Papa Francisco autorizou promulgar o decreto do milagre atribuído à
intercessão da Venerável Serva de Deus Maria da Conceição Cabrera de Armida
Arias e ontem, os católicos mexicanos celebraram felizes sua beatificação na
Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, ocorrida às 12 horas, hora local, presidida pelo prefeito da
Congregação para as Causas dos Santos, Sua Excelência Eminentíssima Ângelo Becciu,
cardeal.
Segundo texto biográfico
Maria da Conceição
Cabrera Arias de Armida, mais conhecida como Conchita, nasceu em São Luís Potosi, México, no dia 8 de dezembro
de 1862.
Seus pais, Otaviano Cabrera Lacavex, e sua
mãe Clara Arias Rivera, eram de uma família bem posicionada. Foi uma menina
simples e comum, nobre e travessa como qualquer outra, como ela mesma relata: “Desobedecia a meus pais, brigava com meus
irmãos, roubava doces e frutas”, entretanto professava um amor especial à
Eucaristia.
Em 08 de novembro de 1884, aos 21 anos,
casou-se com Francisco Armida na Igreja do Carmo. Entre 1885 e 1899, o casal
teve nove filhos. Francisco Armida faleceu em 17 de setembro de 1901.
Após a viuvez, Conchita se dedicou ao estudo
e ao apoio aos estudos de seus filhos. Nunca ingressou na vida religiosa.
Esposa e mãe de numerosos filhos, é uma das santas
modernas que Jesus preparou para uma maternidade espiritual para os sacerdotes.
No futuro, ela terá grande importância para a Igreja universal.
Contemplada com dons místicos, entre eles
o da visão e locução interior, Jesus uma vez explicou para Conchita: “Existem almas que receberam uma unção
através da ordenação sacerdotal. Porém, há também almas sacerdotais que tem uma vocação sem ter a dignidade ou a
ordenação sacerdotal. Elas se oferecem em união comigo... Essas almas ajudam
espiritualmente a Igreja de maneira poderosa. Tu serás mãe de um grande número
de filhos espirituais, mas, eles custarão ao teu coração como mil martírios.
Oferece-te como holocausto, une-te ao meu sacrifício para obter as graças para
eles” ... “Desejaria voltar a este
mundo... nos meus sacerdotes. Desejaria renovar o mundo, revelando-me neles e
dar um impulso forte à minha Igreja, derramando o Espírito Santo sobre os meus
sacerdotes como num novo Pentecostes”. “A Igreja e o mundo necessitam de uma
novo Pentecostes, um Pentecostes sacerdotal, interior”.
Quando jovem, Conchita rezava com
frequência diante do Santíssimo: “Senhor,
sinto-me incapaz de Te amar, portanto quero casar. Doa-me muitos filhos, que
eles possam Te amar mais de quanto eu sou capaz”. De seu casamento muito
feliz nasceram nove filhos, duas mulheres e sete homens. Ela os consagrou todos
a Nossa Senhora: “Entrego-os
completamente a Ti como se fossem Teus filhos. Tu sabes que eu não os sei
educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas Tu, Tu o sabes”.
Conchita viu morrer quatro de seus filhos
e todos tiveram uma morte santa. Uma filha tornou-se religiosa da Cruz, um
filho tornou-se padre jesuíta e os outros se casaram e tiveram filhos. Como uma
grande família, eles viveram na Cidade do México.
Conchita foi realmente mãe espiritual para
o sacerdócio de seu filho, e sobre ele escreveu: “Manuel nasceu na mesma hora em que morreu Pe. José Camacho. Quando
ouvi a notícia, roguei a Deus que meu filho pudesse substituir este sacerdote
no altar. Desde quando o pequeno Manuel começou a falar, rezamos juntos para a
grande graça da vocação ao sacerdócio... No dia de sua primeira Comunhão e em
todas as festas importantes, renovei a súplica... Aos dezessete anos entrou na
Companhia de Jesus”.
Em 1906 da Espanha, onde estava, Manuel
(nascido em 1889 e terceiro filho por idade) comunicou-lhe sua decisão de se
tornar sacerdote e ela lhe escreveu: “Doa-te
ao Senhor com todo o coração sem nunca negar-te! Esquece as criaturas e
principalmente esquece a ti mesmo! Não posso imaginar um consagrado que não
seja um santo. Não é possível doar-se a Deus pela metade. Procura ser generoso
com Ele!”.
Em 1914, Conchita encontrou Manuel na
Espanha pela última vez, porque ele não voltou nunca mais ao México. Naquela
época o filho lhe escreveu: “Minha
querida, pequena mãe, me indicaste o caminho. Tive a sorte, desde pequeno, de
ouvir de teus lábios a doutrina salutar e exigente da cruz. Agora queria pô-la
em prática”.
A mãe também experimentou a dor da
renúncia: “Levei tua carta frente ao
tabernáculo e disse ao Senhor que aceito com toda minha alma esse sacrifício.
No dia seguinte coloquei a carta no meu peito enquanto recebia a Santa Comunhão
para renovar o sacrifício total”.
No dia 23 de julho de 1922, uma semana
antes da ordenação sacerdotal, Manuel, então com trinta anos de idade, escreve
para sua mãe: “Mãe, ensina-me a ser
sacerdote! Fala-me da imensa alegria de poder celebrar a S. Missa. Entrego tudo
em tuas mãos, como me protegeste no teu peito quando eu era criança e me
ensinaste a pronunciar os belos nomes de Jesus e Maria para introduzir-me nesse
mistério. Sinto-me realmente como uma criança que pede preces e sacrifícios...
Assim que eu for ordenado sacerdote, te mandarei a minha bênção e depois
receberei ajoelhado a tua”.
Quando Manuel foi ordenado sacerdote, aos
31 de julho de 1922, em Barcelona, Conchita levantou-se para participar
espiritualmente da ordenação; devido ao fuso horário no México era noite. Ela
comoveu-se profundamente: “Sou mãe de um
sacerdote! ... Posso somente chorar e agradecer! Convido todo o céu a agradecer em meu lugar porque me sinto incapaz
pela minha miséria”.
Dez anos mais tarde escreveu ao filho: “Não consigo imaginar um sacerdote que não
seja Jesus, ainda menos quando ele é parte da Companhia de Jesus. Rezo para ti
para que tua transformação em Cristo, desde o momento da celebração, se cumpra
de modo que tu sejas, dia e noite, Jesus” (17 de maio de 1932). “O que faríamos sem a cruz? A vida sem as
dores que unem, santificam, purificam e obtêm graças, seria insuportável”
(10 de junho de 1932).
O Pe. Manuel morreu aos 66 anos de idade
em odor de santidade. O Senhor fez com que Conchita compreendesse o seu
apostolado: “Confio-te mais um martírio:
tu sofrerás aquilo que os sacerdotes cometem contra mim. Tu viverás e
oferecerás pela infidelidade e pelas misérias deles”. Esta maternidade
espiritual para a santificação dos sacerdotes e da Igreja a consumiu
completamente. Conchita morreu em 3 de março de 1937 aos 75 anos.
Suas obras como leiga: 1) Apostolado da Cruz; 2) Congregação das religiosas da Cruz do
Sagrado Coração de Jesus cujo propósito principal é a Adoração ao
Santíssimo Sacramento dia e noite, e expiação das injurias feitas ao Coração de
Jesus; 3) Aliança de Amor com o Sagrado
Coração de Jesus, para leigos que queiram cultivar no mundo o espírito das
religiosas da Cruz; 4) Fraternidade de
Cristo Sacerdote que reúne os sacerdotes diocesanos que participam das
Obras da Cruz; 5) Sua quinta e maior obra é a fundação da congregação
sacerdotal dos Missionários do Espírito
Santo, em 1914, junto com o Pe. Felix Rougier Olanier. Esta obra está
presente no México, Estados Unidos, Colômbia, Costa Rica, Chile, Espanha e
Itália. Maria da Conceição deixou um legado teológico de 66 volumes
manuscritos.
Tempos depois, um missionário do Espírito
Santo, o Pe. Luís Manuel Guzman Guerreiro fundaria, na solenidade de Pentecostes,
o grupo Círculo do Espírito Santo e da
Cruz, conhecido como C.E.C., que também é um ramo das Obras da Cruz.
Seus restos mortais se encontram na cripta
da Igreja São José de Altillo, na cidade do México.
A causa de beatificação e canonização foi
iniciada pelo Arcebispo do México nos anos 1956-1959. Foi reconhecida como
Venerável em Roma no dia 20 de dezembro de 1999 por João Paulo II. Em 8 de
junho de 2018 o Papa Francisco autorizou promulgar o Decreto do milagre
atribuído a intercessão da Venerável Maria da Conceição Cabrera de Armida
Arias; Ontem, dia 04 de maio, se realizou-se a cerimônia de beatificação.
Fontes:
Página
Sanctorum Mater, no Facebook
Blog
Heroínas da Cristandade