Sim! O Brasil tem suas "Marias Gorettis". Duas já foram beatificadas: beata Lindalva e beata Albertina (cuja biografia trago abaixo). Duas ainda são Servas de Deus: serva de Deus Isabel Cristina e serva de Deus Benigna (essa, inclusive, é do meu Estado, Ceará).
A virtude da pureza, hoje tão vilipendiada e até ridicularizada, é uma das virtudes mais queridas e valorizadas por Nosso Senhor e Nossa Senhora. A Igreja não poderia agir diferentemente deles. Desde o início, nos primeiros séculos do Cristianismo, as virgens consagradas ao Senhor, melhor dizendo, a virgindade consagrada ao Senhor teve sempre lugar de destaque.
Jesus mesmo, em uma das "bem-aventuranças" disse: "bem aventurados os puros, pois, verão a Deus". Deus é a infinita pureza, a infinita santidade. Como alguém impuro poderá ver a Deus? Se até mesmo os espíritos angélicos, para o merecerem, tiveram que se esforçar e muito, como é que um (a) pecador (a) impenitente pode sequer supor que poderá fazê-lo? Impossível.
Deus é bondosíssimo e misericordiosíssimo, porém, não é injusto. Vê-lO face a face é o prêmio por excelência da eternidade no paraíso. Como pensar que poderemos vê-lO se na terra não nos esforçamos em fazer sua vontade? E uma de suas vontades mais insistentes é que conservemo-nos puros diante de seus olhos, cada um no estado de vida no qual está e ao qual foi chamado: como solteiro (a), casado (a), viúvo (a), sacerdote, religioso (a), leigo (a) consagrado (a), noivo (a) ou namorado (a).
Todos nós cristãos católicos, quer sejamos leigos (as), clérigos ou religiosos, temos que cumprir o sexto e nono mandamentos que respectivamente dizem: "Não pecarás contra a castidade" e "não desejarás a mulher/homem do (a) próximo (a)". Com esses mandamentos Deus condena o uso ou abuso desordenado da sexualidade humana, que foi criada por Deus para ser utilizada, e de forma harmoniosa e respeitosa, apenas no sacramento do matrimônio. Tudo que está fora daí é pecado grave: fornicação, adultério, masturbação, pornografia, imoralidades, falta de pudor, etc.
Por isso a Igreja considera como verdadeiro martírio pela fé quem, na defesa de sua pureza, virgindade e/ou castidade, deu a própria vida, testemunhando, assim, a firmeza de seus propósitos e a esperança que tem de um dia possuir os bens eternos, que não terão fim jamais.
Vamos à vida de nossa querida beata Albertina Berkenbrock. Coloquei a biografia completa que está em seu site oficial: http://www.beataalbertina.com. É um pouco longa, mas, vale a pena lermos e vermos a beleza que é sua vida e seu testemunho, levado à radicalidade do derramamento de sangue.
Albertina
Berkenbrock - conhecida pelo povo da Diocese de Tubarão como “a nossa
Albertina” - nasceu no dia 11 de abril de 1919, na comunidade de São Luís,
paróquia São Sebastião de Vargem do Cedro, município de Imaruí, Estado de Santa
Catarina. Filha de um casal de agricultores, Henrique e Josefina Berkenbrock,
teve mais oito irmãos e irmãs. Foi batizada no dia 25 de maio de 1919, crismada
em 9 de março de 1925 e fez a primeira comunhão no dia 16 de agosto de 1928.
Aos 12 anos de
idade, no dia 15 de junho de 1931, às 16 horas, Albertina foi assassinada
porque quis preservar a sua pureza espiritual e corporal e defender a dignidade
da mulher, por causa da fé e da fidelidade a Deus. E ela o fez, heroicamente,
como verdadeira mártir.
O martírio e a consequente
fama de santidade espalharam-se rapidamente de maneira clara e convincente.
Afinal, ela foi uma menina de grande sensibilidade para com Deus e com as coisas
de Deus, para com o próximo e com as coisas do próximo. Isso se depreende, com
nitidez, de sua vida, vivida na simplicidade dos seus tenros anos.
Seus pais e
familiares souberam educar Albertina na fé, no amor e na esperança, as virtudes
teologais da religião cristã. Transmitiram-lhe, pela vida e pelo ensinamento,
todas as verdades reveladas na Sagrada Escritura. E ela aprendeu a corresponder
a tudo com grande generosidade de alma. Buscar em Deus inspiração e força para
viver, tornou-se algo espontâneo. Rezava, pois, com alegria, seja sozinha, seja
na família, seja na comunidade. Aprendeu a participar ativamente da vida
religiosa, em todos os seus aspectos.
Quando chegou o
tempo da catequese preparatória para os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia,
Albertina chamou a atenção pela forma como se preparou: com muita diligência e
grandeza de coração.
A “primeira
confissão” tornou-se porta aberta para se confessar frequentemente.
A “primeira
comunhão” foi uma experiência única, a tal ponto que ela própria afirmou: -
“Foi o dia mais belo de minha vida!”.
A partir de
então, não deixou mais de participar da Eucaristia, tornando esse sacramento
“fonte e cume de sua vida cristã”. Gostava de falar, na sua forma simples de
expressar-se, do mistério eucarístico como experiência do amor de Deus,
compreendendo que a Eucaristia é o memorial da morte e ressurreição de Jesus,
ato supremo do amor redentor.
Albertina
cultivou uma devoção muito filial a Nossa Senhora, venerando-a com carinho,
tanto em casa como na capela da comunidade. Participou, com intensidade, da
oração do rosário junto com os familiares. Na simplicidade de coração,
recomendou, seguidamente, a Maria - Mãe de Jesus e Mãe da Igreja - a sua alma e
a sua salvação eterna.
Ela deixou
crescer dentro de si uma afinidade muito grande com o padroeiro da comunidade,
São Luís. Uma coincidência providencial, esta devoção ao Santo, que é modelo de
pureza espiritual e corporal. Certamente, preparando-a também para um dia
defender com sua vida este grande valor.
A formação
cristã, vivida e ensinada pela família, introjetou em Albertina virtudes
humanas extraordinárias: a bondade, a acolhida, a meiguice, a docilidade, o
serviço. Teve uma obediência responsável; foi incansável nas atividades de
trabalho e estudo; teve espírito de sacrifício; soube ter paciência, confiança
e coragem.
Essas virtudes
humanas foram visíveis na convivência em casa, pois sempre ajudou os seus pais
e irmãos; foram visíveis na comunidade, uma vez que sempre amou todas as
pessoas, o que a tornou muito admirada; foram visíveis na escola, tendo em
vista que sempre se aplicou aos estudos, sempre esteve ao lado dos colegas mais
necessitados de ajuda e jamais revidou ataques de menosprezo dirigidos a ela.
Os relatos que
existem sobre ela comprovam o que está se afirmando em relação às virtudes
humanas. Senão, vejamos: “(...) ajudava os pais nos trabalhos da
casa e da roça
(...) foi dócil, obediente, incansável, sacrificada, paciente (...) mesmo
quando os irmãos a mortificavam, às vezes até lhe batiam, ela sofria em
silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus que amava sinceramente”; “(...)
gozava de grande estima na escolinha local, particularmente por parte do
professor, que a elogiava por suas condições espirituais e morais superiores à
sua idade, que a distinguiam entre os colegas de escola”; “(...) ela se aplicou
ao estudo”; “(...) jamais faltou à modéstia”; “(...) foi uma menina boa,
estimada por colegas e adultos”; “(...) às vezes, alguns meninos punham à prova
a sua mansidão, modéstia, timidez e repugnância por certas faltas (...)
Albertina então se calava (...) nunca se revoltou, menos ainda nunca se vingou,
mesmo quando lhe batiam”; “(...) era uma pessoa cândida, simples, sem
fingimentos”; “(...) sabia destacar sua beleza feminina vestindo-se com
simplicidade e modéstia”.
Além dessas
virtudes humanas, a formação cristã também modelou em Albertina as virtudes
cristãs essenciais na medida em que, embora fosse uma menina de tenra idade, as
entendeu e viveu: transpirando fé, amor e esperança no dia-a-dia; captando, de
modo extraordinário, as verdades reveladas na Sagrada Escritura; tendo uma
inclinação forte para as coisas de Deus e da religião; vivenciando com grandeza
o mandamento do amor a Deus e ao próximo (cerne do cristianismo); santificando-se
pela prática dos sacramentos recebidos do Batismo, da Reconciliação, da
Eucaristia e da Crisma; valorizando a vida plena e a dignidade da mulher.
Essas virtudes cristãs foram visíveis no
dia-a-dia de sua vida familiar e comunitária. Inúmeros relatos demonstram isso,
como por exemplo: “(...) falava muitas
vezes da Eucaristia e dizia que o dia de sua “primeira comunhão” fora o mais
belo de sua vida”; “(...) recomendava
a Maria sua alma e sua salvação eterna”; “(...) seus divertimentos
refletiam seu apego à vida cristã (...) gostava
de fazer cruzinhas de madeira, colocava-a em pequenas sepulturas, adornava-as
com flores”; “(...) mesmo quando os
irmãos a mortificavam, às vezes até lhe batiam (...) ela sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus que amava
sinceramente”; “(...) o seu professor a elogiava por suas condições
espirituais e morais superiores à sua idade que a distinguiam entre os colegas
de escola”; “(...) aprendeu bem o catecismo, conheceu os mandamentos de Deus e
seu significado”; “(...) se pensarmos na maneira como sacrificou sua vida,
conforme declarou seu professor-catequista, ela tinha compreendido o sentido do
sexto mandamento no que tange ao valor da castidade, da pureza espiritual e
corporal”; “(...) sua caridade era grande (...) gostava de acompanhar as
meninas mais pobres, de jogar com elas e dividir o pão que trazia de casa para
comer no intervalo das aulas”; “(...) teve especial caridade com os filhos do
seu assassino, que trabalhava na casa da família (...) muitas vezes Albertina
deu de comer a ele e aos filhos pequenos, com os quais se entretinha
alegremente, acariciando-os e carregando-os ao colo (...) isso é tanto mais
digno de nota quanto Indalício era negro, sabendo-se que nas regiões de
colonização europeia uma dose de racismo sempre esteve presente”.
Todas essas
virtudes humanas e cristãs mostram que Albertina, apesar de sua pouca idade,
foi uma pessoa impregnada da Trindade Santa. Correspondeu à vocação de
santidade que recebeu no dia do batismo. Foi uma gigante de fé, de amor e de
esperança. Viveu os valores do Evangelho de modo admirável.
Por todo o
exposto, não há razão para estranhar a coragem e a fortaleza cristã
manifestadas por Albertina no momento de seu martírio, a fim de defender a vida
plena e a dignidade da mulher.
A Diocese de
Tubarão e a Igreja do Brasil podem orgulhar-se em apresentar uma jovem como
modelo de santidade para a juventude dos tempos de hoje e de sempre: a
Bem-Aventurada ALBERTINA.
A sua Morte Histórica
Tudo corria
normalmente até que chegou o dia 15 de junho de 1931.
Perdera-se um
boi pelos pastos. Albertina o procura a pedido dos pais. Anda de cá para lá,
olha, chama pelo "Pintado", mas nada! De longe, Maneco Palhoça, que
rumina dentro de si o plano de conquistar a menina para seus intentos eróticos,
acompanha-a com o olhar e estuda como se aproximar dela e fazer-lhe a proposta.
Albertina,
apesar de seus 12 anos, aparentava mais idade e tinha um corpo já bastante
desenvolvido. Era alta e forte, acostumada ao sol e aos trabalhos da roça.
Tinha cabelos louros tendendo ao castanho, olhos verde-escuros. Era bonita, uma
mocinha. Como não desejá-la?
Maneco andava
armado de punhal. Jurara que haveria de usá-lo no dia da festa do padroeiro, 21
de junho. Acabaria com a vida de dois desafetos. Hoje, porém, não o traz à
cintura. Carrega um canivete tão bem afiado que corta os cabelos do braço como
uma navalha. Aquele punhal, era preciso escondê-lo por ser velho conhecido dos
moradores de São Luís. Poderia denunciá-lo... Em vez do punhal usaria o
canivete. Quem sabia da existência dele?...
Albertina
procura o boi fugitivo. De repente vê ao longe alguns chifres e corre naquela
direção. Mas eram outros bois, que estavam amarrados. Como surpresa, porém,
encontra perto deles Maneco carregando feijão na carroça. À pergunta de
Albertina pelo boi desaparecido, o homem lhe dá uma pista falsa para
encaminhá-la ao lugar onde poderia satisfazer seus desejos sem chamar atenção.
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Capelinha erguida no local onde Albertina foi martirizada |
Maneco que já
tinha violentado outra menina, disse naquela manhã: - Hoje tenho que matar
alguém! Pensou: - Se Albertina não aceitar, vou usar o canivete...
Albertina seguiu
a indicação de Maneco, embrenhou-se pela mata. Repentinamente percebe que os
gravetos estalam, as folhas farfalham... Ela pensa ser o boi. Eis, porém, que,
dá de cara com Maneco. Fica petrificada. Sozinha, no mato, com aquele homem na
frente!
Ainda naquela
manhã ela levara comida a seus filhos, como fazia sempre. Havia certa
familiaridade entre Albertina e Maneco: ela o chamava de "Maneco
preto", como todo mundo, sem que ele se ofendesse.
Chegara o
momento supremo! Maneco lhe propõe seus intentos. Albertina, decidida, não
aceita. Sabe o que é o pecado e o recusa peremptoriamente. Começa então a
tentativa do assassino de se apossar de Albertina, mas ela não se deixa
subjugar. A menina é forte. Aos pontapés, quase derruba o assassino. A luta é
longa e terrível. Ela não cede. Derrubada, por fim, ao chão, agora está toda
nas mãos do agressor. Ainda assim, defende-se, agarra seu vestido e se cobre o
mais que pode.
Maneco,
derrotado moralmente pela menina, vinga-se, agarra-a pelos cabelos e afunda o
canivete no pescoço e a degola.
Está morta
Albertina! Seu corpo está manchado de sangue... Sua pureza e virgindade, porém,
estão intactas.
O Assassino
O assassino
despista o crime. Esconde o canivete debaixo da carroça e cinicamente corre
para avisar a família. Como, porém, explicar as manchas de sangue na roupa?
- É que
encontrei Albertina ferida de morte e ao ampará-la me manchei de sangue... -
dirá.
Todos correm ao
lugar do crime, Maneco à frente. Diz uma testemunha: "Encontrei o cadáver
de minha sobrinha, deitada de costas, morta, com a garganta completamente
cortada, e as roupas todas ensanguentadas, uma perna encolhida e a outra
estendida, estando, o local do crime e ao redor do cadáver, tudo ensanguentado.
Vi ainda que o lenço de Albertina, que trazia amarrado na cabeça, estava a
metro e meio de distância, preso a uma raiz. O chão estava revolvido, como
sinal de ter havido luta. O pescoço tinha um grande talho, tendo já parado a
hemorragia" (A.B.BRAUN, o.c., p.36).
Outra testemunha
acrescenta: "Seu rosto estava sereno
e calmo como em vida, parecia uma Imaculada Conceição."
- Maneco, quem
matou Albertina? – perguntam ao assassino. Foi um homem moreno, de barbas
pretas, com chapéu de palha dobrado na frente. - Para onde fugiu o assassino? -
Foi por ali, não deve andar muito longe: é um homem que, de manhã, andou pela
região à procura de serviço...
Convidado a
ajudar a carregar o corpo, Maneco se desculpa alegando não poder ver cena tão
trágica e vai embora.
A comunidade de
São Luís se agita. Era preciso prender o assassino a todo custo. Apresentam-se
14 homens a cavalo com espingardas, facões e armas de todo tipo. Estão
dispostos a tudo contanto que o assassino seja preso. Maneco, montado num
burro, armado com o revólver do pai de Albertina, comanda a caçada. O passante
acusado por Maneco tinha calças cáqui, facão à cintura, mala às costas, barba
preta. Alguém o teria visto?
João Cândido ou
João Candinho encontrou trabalho. Agora capina a roça de quem lhe deu serviço
em Vargem do Cedro. Nem dá importância aos gritos do grupo de cavaleiros.
Estes, porém, o cercam e prendem. João protesta, diz-se inocente, chora, mas é
inútil. Maneco confirma: - Foi esse homem que matou Albertina!
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Momento no qual Candinho jura sua inocência diante do
corpo da beata Albertina. |
João foi
amarrado e arrastado pelas estradas até São Luís. De nada valeram seus
protestos. Ainda hoje há quem se emocione ao lembrar a cena de Candinho olhando
para os curiosos e dizendo como um Cristo manso e inocente: - Não fui eu!
O presumido
assassino é arrastado para junto do corpo da menina morta. Ele jura: - Nunca vi
essa menina! Protesta sua inocência. Em vão. João, amarrado de mãos e pés, é
encerrado num paiol, pregam-se as portas e aí passa a noite. A polícia deverá
chegar amanhã...
Os colonos,
porém, começam a duvidar. Levantam outras hipóteses: - Por acaso não seria
Maneco o assassino? Por que não?
Maneco aparecia
toda hora por perto da sala onde se velava o corpo de Albertina. Não parava de
ir e vir. Como contam testemunhas, sempre que se aproximava, a ferida do
pescoço de Albertina vertia sangue. Não seria um sinal?
Enquanto o povo
cismava, Maneco tramava sua fuga...
Dois dias depois
chegou o prefeito de Imaruí. Acalmou a população e mandou soltar João Candinho.
Foi à capela, tomou um crucifixo e, acompanhado por Candinho e outras pessoas,
foi à casa do pai de Albertina, o colocou sobre o peito da menina morta. Mandou
que João Candinho se ajoelhasse e, mãos sobre o crucifixo, jurasse que era
inocente. Dizem que naquele momento o sangue da ferida parou de sangrar
(A.B.BRAUN, o.c., pp. 52-53).
Entretanto,
Maneco acabava de fugir.
A reação foi
instantânea: - Vamos pegá-lo!
Depois de muitas
andanças foi preso em Aratingaúba a caminho de Imaruí. Preso, confessou o crime.
Aliás, confessou outro crime cometido em Palmas, onde matara um sargento. Tinha
também matado um homem em São Ludgero.
Maneco Palhoça -
ou Indalício Cipriano Martins (conhecido também como Manuel Martins da Silva) -
foi levado para Laguna. Correu o processo. Foi condenado. Levado para a
penitenciária, depois de alguns anos morreu. Na prisão comportou-se bem.
Confessou ter matado Albertina porque ela recusara ceder à sua intenção de
manter relações sexuais com ela.
O Seu Sepultamento
Em torno das 18
horas do dia 15 de junho Albertina, morta, retorna à casa paterna... Não dá
para traduzir em palavras os sentimentos dos pais e familiares, particularmente
de sua mãe. Ver sua filha degolada, banhada em sangue! Ao mesmo tempo, que
serenidade naquele rosto! Parecia dormir...
Em meio a tanta
dor havia um conforto: Albertina tinha resistido, conservara sua pureza e
virgindade..., do contrário não teria sido morta! Isso era claro, mas que
custaria à parteira que ajudou Albertina a vir ao mundo, Martha Mayhöfer, ali
presente, verificar? Ela verifica e testemunha: - Albertina não perdeu a
virgindade.
O velório é
cheio de emoção, lágrimas, orações e raiva. Só Albertina está serena. Parece
dizer: - Vocês ainda não compreenderam o que eu fiz? Dei minha vida por amor à
castidade. Isso é um sinal para o mundo, de modo especial para minhas colegas
de idade. Virá um dia em que vocês falarão de mim. Virão aqui junto ao lugar
onde morri, virão a meu túmulo e rezarão pedindo proteção e graças. E eu, do
céu, responderei. Não chorem. Em mim, a Igreja ganhou uma "santa" e
uma "mártir". Um dia vocês verão: bispos, padres, e até o papa se
ocuparão comigo.
Dia 17 de junho,
sob forte chuva, Albertina foi sepultada bem no centro do cemitério de São
Luís.
Todos voltam
para casa e se perguntam se foi sonho ou realidade o que aconteceu. E comentam:
- Albertina não era uma menina qualquer. Era uma menina especial. Sua morte
também não foi morte qualquer, foi morte especial, foi morte de
"mártir" e, por isso, morte de uma "santa". Sim, Albertina
é uma "santa mártir". É assim que o povo pensa. E nesses casos, quase
sempre, a voz do povo é a voz de Deus.
Martírio de Santidade
É indiscutível a
intenção pecaminosa do assassino: violar a pureza de Albertina, deflorar sua
virgindade. Esse testemunho, ouvido de sua própria boca por colegas de prisão,
é fundamental para determinar a existência ou não de verdadeiro martírio.
Que Albertina
reagiu a essa provocação, é evidente pelo fato de ter-se deixado matar. Se não
bastasse este fato, também disto há o testemunho do assassino.
Com base nesses
dois elementos, já no dia da morte de Albertina começou a formar-se entre o
povo a convicção de que Albertina morreu mártir e, por isso, é santa.
Na verdade, não
foi só pelo modo como Albertina morreu que o povo pensou assim. Todos também
conheciam a educação cristã que ela recebera na família e na catequese. Sabiam
de sua maneira de viver, de seu bom comportamento, de sua piedade e caridade.
Também é verdade
que a fama de martírio cresceu ainda mais quando o povo foi informado do
testemunho da parteira.
A tudo isso se
deve acrescentar que muito cedo começaram a correr relatos de graças alcançadas
por intercessão de Albertina.
Por causa da
fama de martírio de Albertina e de favores especiais obtidos por sua invocação,
muitíssimas pessoas, individualmente ou em grupos, deram início a romarias ao
lugar de sua morte e a seu túmulo no cemitério de São Luís. Pode-se afirmar que
essa interminável peregrinação nunca foi interrompida, mesmo após 70 anos da
sua morte. Disso são testemunhas as flores, as velas, os ex-votos depositados
em seu túmulo, especialmente no lugar de seu "martírio". E que dizer
dos livros e cadernos que rapidamente se enchem de relatos de graças e de
pedidos de proteção?
Pelos mesmos
motivos são muitíssimas as mulheres que nesta região trazem o nome de
"Albertina". Só para exemplificar, na paróquia de Imaruí, de 1932 a
2000 são 226 as pessoas que foram batizadas com esse nome; na paróquia de
Vargem do Cedro, de 1933 a 2000 são 48; na paróquia de Armazém, de 1940 a 2000
são 121...
Pelas mesmas
razões ainda, apesar de o processo de beatificação ter ficado estagnado por
cerca de 40 anos, o povo continuou a visitar o lugar onde Albertina foi morta e
seu túmulo, a pedir-lhe graças..., como que levando adiante o processo de
beatificação por própria conta.
Não há, pois,
hesitação em afirmar que Albertina deve ser declarada mártir e santa: esta é a
crença unânime do povo de Deus que a conhece.
Beatificação e Canonização
Em 1952, na
mesma capela onde Albertina recebeu a primeira comunhão, reúne-se o Tribunal
Eclesiástico da arquidiocese de Florianópolis para dar início ao processo de
sua beatificação e canonização; de fato, a essa arquidiocese pertencia então a
paróquia de Vargem do Cedro. Posteriormente, com a divisão da arquidiocese e a
criação da Diocese de Tubarão, é o primeiro bispo de Tubarão, Dom Anselmo
Pietrulla, OFM, que leva adiante a causa. Obedecendo às determinações das leis
da Igreja, em 1956 é feito um processo complementar. Infelizmente, por uma
série de circunstâncias, de 1959 em diante o processo de Albertina
interrompe-se e interrompido fica até o ano 2000.
Apesar disso, a
fama de martírio e santidade de Albertina, bem como a devoção do povo para com
ela, não cessaram. Em maio de 2000, o terceiro bispo de Tubarão, Dom Hilário
Moser, SDB, retomou o processo. Nomeou postulador da causa de beatificação e
canonização de Albertina, Fr. Paolo Lombardo, OFM, de Roma. O postulador veio a
Tubarão em maio do mesmo ano, quando foi possível dar os primeiros passos
concretos no sentido de retomar o processo.
Atendidas as
exigências das leis da Igreja nesses casos, finalmente no dia 12 de fevereiro
de 2001, presente o postulador geral da causa de beatificação, procedeu-se à
exumação dos restos mortais de Albertina.
Nesse interim, o
Tribunal Eclesiástico nomeado para o caso fez um terceiro processo complementar
sobre a fama de martírio e santidade da Serva de Deus Albertina. Encerrado com
pleno êxito, no dia 18 de fevereiro de 2001 pôde-se inumar seus restos mortais
dentro da igreja de São Luís num elegante sarcófago de granito.
Divulgada a
notícia da retomada do processo, despertou-se mais intenso interesse e devoção
à Serva de Deus. Já no dia da exumação muitas pessoas estiveram presentes para
venerar seus restos mortais. No dia da inumação, porém, a presença de
peregrinos superou todas as expectativas. Em torno de 5.000 pessoas, algumas
vindas de muito longe, estiveram em São Luís, apesar da forte chuva que caía A
igreja ficou apinhada além de toda medida. Os romeiros que ficaram fora da
igreja eram mais do que os que puderam entrar.
Com a presença
de numerosos padres, de religiosas e seminaristas, num ambiente festivo e
fervoroso, foi acolhida a urna de madeira contendo os restos mortais de
Albertina. Carregada aos ombros em meio ao entusiasmo, à devoção e aos aplausos
do povo, entrou na igreja e foi posta diante do altar.
O bispo
diocesano, acompanhado do postulador e dos demais sacerdotes, presidiu à
concelebração eucarística. Antes da bênção final foi assinada a ata de
reconhecimento canônico dos restos mortais de Albertina. Colocada dentro da
urna, esta foi lacrada e selada com o selo do bispo diocesano. Em seguida,
precedida pelos irmãos e irmãs de Albertina e pelos padres presentes, foi
carregada sobre os ombros até o jazigo definitivo, no fundo da igreja, à
esquerda da porta central. Ali o sarcófago foi fechado e lacrado
definitivamente.
ALBERTINA FOI
BEATIFICADA em Solene celebração Eucarística no dia 20 de Outubro de 2007 em
frente a Catedral Diocesana de Tubarão. Presidiu a Cerimônia o Cardeal Saraiva
- prefeito para a causa dos Santos.
ORAÇÃO
À BEATA ALBERTINA
BERKENBROCK
Deus,
Pai de todos nós! Vós nos destes vosso Filho Jesus, que derramou seu sangue na
cruz por amor a cada um de nós.
Vossa
serva Albertina foi declarada bem-aventurada pela Igreja, porque, ainda jovem,
também derramou seu sangue para ser fiel à vossa vontade e defender a vida em
plenitude.
Concedei-nos
que, por seu testemunho, nos tornemos fortes na fé, no amor e na esperança,
vivamos fielmente os compromissos do nosso Batismo, façamos da Eucaristia a
fonte e o cume da nossa vida cristã, busquemos continuamente o perdão através
da Confissão, sejamos plenos do Espírito Santo, vivenciando a Crisma, e
cultivemos os valores do Evangelho.
Por
intercessão de Albertina, alcançai-nos a graça que neste momento imploramos de
vós (expressar a graça que se deseja). Nós vo-lo pedimos por Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.