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sexta-feira, 19 de abril de 2019

PAIXÃO E MORTE DE NOSSO SANTÍSSIMO SENHOR E SALVADOR JESUS CRISTO, segundo a ciência médica e pesquisas históricas.


Jesus uma pessoa politraumatizada

INTRODUÇÃO
Os estudos médicos que procuram explicar a causa da morte de Jesus Cristo tomam como material de referência um corpo de literatura e não um corpo físico. Publicações sobre os aspectos médicos de sua morte existem desde o século I.

Hoje em dia, com apoio dos conhecimentos da fisiopatologia do paciente traumatizado, pode-se chegar a inferir as mudanças fisiológicas padecidas por Jesus Cristo durante sua paixão e morte. Os relatos bíblicos da crucificação descritos através dos evangelhos e a documentação científica a respeito, descrevem que padeceu e sofreu o mais cruel dos castigos. O mais desumano e inclemente dos tratamentos que pode receber um ser humano.

Descobrimentos arqueológicos relacionados com as práticas romanas da crucificação oferecem informação valiosa que dá verdadeira força histórica à figura de Jesus e à sua presença real na história do homem.

Historicamente este acontecimento se inicia durante a celebração da páscoa judia, no ano 30 de nossa era. A Última Ceia se realizou na quinta-feira 6 de abril (nisan 13). A crucificação foi em 7 de abril (nisan 14). Os anos do nascimento e da morte de Jesus permanecem em controvérsia.



HORTO DAS OLIVEIRAS (GETSEMANI)



Os escritores sagrados descrevem a oração do GETSEMANI com enérgicas expressões. O que foi vivido por Jesus antes de ser aprisionado é citado como uma mescla inexprimível de tristeza, de espanto, de tédio e de fraqueza. Isto expressa uma pena moral que chegou ao maior grau de sua intensidade.

Foi tal o grau de sofrimento moral, que apresentou como manifestação somática, física, suor de sangue (hematihidrosis ou hemohidrosis). “Suor de sangue, que lhe cobriu todo o corpo e correu em grosas gotas até a terra”. (Lc 22, 43).

Trata-se de caso incomum na prática médica. Quando se apresenta, está associado a desordens sanguíneas. Fisiologicamente é devida à congestão vascular capilar e hemorragias nas glândulas sudoríparas. A pele se torna frágil e tenra.

Depois desta primeira situação ocasionada pela angústia intensa, é submetido a um jejum que durará toda a noite durante o julgamento e persistirá até sua crucificação.



FLAGELAÇÃO





A flagelação era uma preliminar legal para toda execução Romana. Despiam a parte superior do corpo da vítima, amarravam-na a um pilar pouco elevado, com as costas encurvadas, de modo que ao descarregar os golpes sobre ela nada perdessem de sua força. E golpeavam sem compaixão, sem misericórdia alguma.

O instrumento usual era um açoite curto (flagrum ou flagellum) com várias cordas ou correias de couro, às quais se atavam pequenas bolas de ferro ou pedacinhos de ossos de ovelhas a vários intervalos.









Quando os soldados açoitavam repetidamente e com todas as suas forças as costas de sua vítima, as bolas de ferro causavam profundas contusões e hematomas. As cordas de couro com os ossos de ovelha rasgavam a pele e o tecido celular subcutâneo.

Ao continuar os açoites, as lacerações cortavam até os músculos, produzindo tiras sangrentas de carne rasgada. Criavam-se as condições para produzir perda importante de líquidos (sangue e plasma).








Deve-se ter em conta que a hematidrosis tinha deixado a pele de Jesus muito sensível.


Depois da flagelação, os soldados estavam acostumados a fazer gozações humilhantes com suas vítimas. Por isso foi colocada sobre a cabeça de Jesus, como emblema irônico de sua realeza, uma coroa de espinhos. Na Palestina abundam os arbustos espinhosos, que puderam servir para este fim; utilizou-se o Zizyphus ou Azufaifo, chamado Spina Christi, de espinhos agudos, longos e curvos.















Além disso, foi colocada uma túnica sobre seus ombros (um velho manto de soldado, que fazia às vezes da púrpura com que se revestiam os reis, "clámide escarlate"), e uma cana, parecida com o junco do Chipre e da Espanha como cetro em sua mão direita.











CRUCIFICAÇÃO

Representação realística de Jesus Crucificado, conforme o
Santo Sudário de Turim
O suplício da cruz é de origem oriental. Foi recebido dos persas, assírios e caldeus pelos gregos, egípcios e romanos. Modificou-se em várias formas no transcurso dos tempos.

Em princípio o instrumento de agonia foi um simples poste. Em seguida se fixou na ponta uma forca (furca), na qual se suspendia o réu pelo pescoço. Depois se adicionou um pau transversal (patibulum), tomando um novo aspecto. Segundo a forma em que o pau transversal ficasse suspenso no pau vertical, originaram-se três tipos de cruzes:

A crux decussata. Conhecida como cruz de Santo André, tinha a forma de X.

A crux commissata. Alguns a chamam cruz do Santo Antônio, parecia-se com a letra T.

A crux immisa. É a chamada cruz latina, que todos conhecemos.

Obrigou-se Jesus, como era o costume, a carregar a cruz desde o poste de flagelação até o lugar da crucificação. A cruz pesava mais de 300 libras (136 quilogramas). Somente o patíbulo, que pesava entre 75 e 125 libras, foi colocado sobre sua nuca e se balançava sobre seus dois ombros.










Com esgotamento extremo e debilitado, teve que caminhar um pouco mais de meio quilômetro (entre 600 a 650 metros) para chegar ao lugar do suplício. O nome em aramaico é Golgotha, equivalente em hebreu a gulgolet que significa “lugar da caveira”, já que era uma protuberância rochosa, que teria certa semelhança com um crânio humano. Hoje se chama, pela tradução latina, calvário.

Antes de começar o suplício da crucificação, era costume dar uma bebida narcótica (vinho com mirra e incenso) aos condenados; com o fim de mitigar um pouco suas dores. Quando apresentaram essa beberagem a Jesus, não quis bebê-la. O que poderia mitigar uma dor moral e física tão intensa, quando seu corpo, todo poli contundido, só esperava enfrentar seu último suplício, sem alívio algum, com pleno domínio de si mesmo?

Com os braços estendidos, mas não tensos, os pulsos eram cravados no patíbulo. Desta forma, os pregos de um centímetro de diâmetro em sua cabeça e de 13 a 18 centímetros de comprimento, eram provavelmente postos entre o rádio e os metacarpianos, ou entre as duas fileiras de ossos carpianos, ou seja, perto ou através do forte flexor retinaculum e dos vários ligamentos intercarpais. Nestes lugares seguravam o corpo.








Colocar os pregos nas mãos fazia com que se rasgassem facilmente posto que não tinham um suporte ósseo importante.

A possibilidade de uma ferida perióssea dolorosa foi grande, bem como a lesão de vasos arteriais tributários da artéria radial ou cubital. O cravo penetrado destruía o nervo sensorial motor, ou comprometia o nervo médio, radial ou o nervo cubital. A afecção de qualquer destes nervos produziu tremendas descargas de dor em ambos os braços. O empalamento de vários ligamentos provocou fortes contrações nas mãos.

Os pés eram fixados à frente do estípede (pequena pirâmide truncada) por meio de um prego de ferro, cravado através do primeiro ou do segundo espaço intermetatarsiano. O nervo profundo perônio e ramificações dos nervos médios e laterais da planta do pé foram feridos.







Foram cravados ambos os pés com um só prego ou se empregou um prego para cada pé? Também esta é uma questão controvertida. De acordo com os estudos do Santo Sudário de Turim, os pés foram pregados com um único cravo. Porém, São Cipriano que, mais de uma vez tinha presenciado crucificações, fala em plural dos pregos que transpassavam os pés. 

São Militão de Sardes escreveu: “os padecimentos físicos já tão violentos ao fincar os pregos, em órgãos extremamente sensíveis e delicados, faziam-se ainda mais intensos pelo peso do corpo suspenso pelos pregos, pela forçada imobilidade do paciente, pela intensa febre que sobrevinha, pela ardente sede produzida por esta febre, pelas convulsões e espasmos, e também pelas moscas que o sangue e as chagas atraíam”.

Não faltou quem dissesse que os pés do salvador não foram cravados, mas simplesmente amarrados à cruz com cordas; mas tal hipótese tem em contra, tanto o testemunho unânime da tradição, que vê em Jesus crucificado o cumprimento daquele célebre vaticínio: "transpassaram minhas mãos e meus pés" (Sl 21); como nos próprios evangelhos, pois lemos em São Lucas (Lc 24, 39-40) “vejam minhas mãos e meus pés; sou eu mesmo; apalpem e vejam. E, dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés”.

Diz Bosssuet: "como descrever os padecimentos morais que nosso Senhor Jesus Cristo suportou durante sua horrorosa agonia, quando uma multidão saciava seus olhos com o espetáculo daquela agonia, acompanhando-o com todo tipo de ultrajes que lhe encheram até o último momento? Além disso, sofria ao ver o olhar abnegado de sua mãe e de seus amigos, a quem suas dores tinham prostrado em profunda tristeza. Todo Ele era, digamos assim, um tormento em seus membros, em seu espírito, em seu coração e em sua alma".

De todas as mortes, a da cruz era a mais desumana, suplício infame, que no império romano se reservava aos escravos (servile suppliciun).

Depois das palavras no Getsêmani vêm as pronunciadas no Gólgota, que testemunham esta profundidade, única na história do mundo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Suas palavras não são só expressão daquele abandono, são palavras que repetia em oração e que encontramos no salmo 22.



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INTERPRETAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DA MORTE DE JESUS CRISTO

Na morte de Jesus vários fatores puderam contribuir. É importante ter em conta que foi uma pessoa poli traumatizada e poli contundida; desde o momento da flagelação até sua crucificação.

O efeito principal da crucificação, além da tremenda dor, que apresentava em seus braços e pernas, era a marcada interferência com a respiração normal, particularmente na exalação.

O peso do corpo pendurado para baixo e os braços e ombros estendidos, tendiam a fixar os músculos intercostais em um estado de inalação, afetando, por conseguinte, a exalação passiva. Desta maneira, a exalação era principalmente diafragmática e a respiração muito leve. Esta forma de respiração não era suficiente e logo produziria retenção de CO2 (hipercapnia).






Para poder respirar e ganhar ar, Jesus tinha que apoiar-se em seus pés, tentar flexionar seus braços e depois deixar-se desabar para que a exalação ocorresse. Mas ao deixar-se desabar, produzia-se, igualmente, uma série de dores em todo o seu corpo.

O desenvolvimento de cãibras musculares ou contratura tetânicas devido à fadiga e a hipercapnia afetaram ainda mais a respiração. Uma exalação adequada requeria que se erguesse o corpo, empurrando-o para cima com os pés e flexionando os cotovelos, endireitando os ombros.

Esta manobra colocaria o peso total do corpo nos tarsais e causaria tremenda dor.



A somatória de torturas da crucifixão causavam dores e sofrimentos atrozes aos condenados.
Foi assim que nosso Deus e Senhor condenado por causa de nossos pecados. 


Mais ainda, a flexão dos cotovelos causaria rotação nos pulsos em torno dos pregos de ferro e provocaria enorme dor através dos nervos lacerados. O levantar do corpo rasparia dolorosamente as costas contra a trave. Como resultado disso, cada esforço de respiração se tornaria agonizante e fatigante, eventualmente levaria à asfixia e finalmente a seu falecimento.

Era costume dos romanos que os corpos dos crucificados permanecessem longas horas pendentes da cruz; às vezes até que entrassem em putrefação ou as feras e as aves de rapina os devorassem.

Portanto antes que Jesus morresse, os príncipes dos sacerdotes e seus colegas do Sinédrio pediram a Pilatos que, segundo o costume Romano, mandasse dar fim aos justiçados, fazendo com que lhe quebrassem suas pernas a golpes. Esta bárbara operação se chamava em latim crurifragium (Jo 20, 27).

As pernas dos ladrões foram quebradas, mais ao chegar a Jesus e observar que já estava morto, deixaram de golpeá-lo; mas um dos soldados, para maior segurança, quis dar-lhe o que se chamava o "golpe de misericórdia" e transpassou-lhe o peito com uma lança.

Modelo da lança romada usada para perfurar o Santo Lado de Cristo


Neste sangue e nesta água que saíram do flanco, os médicos concluíram que o pericárdio, (saco membranoso que envolve o coração), deve ter sido alcançado pela lança, ou que se pôde ocasionar perfuração do ventrículo direito ou talvez havia um hemopericárdio pós-traumático, ou, representava fluido de pleura e pericárdio, de onde teria procedido a efusão de sangue.



 




Na ponta da seta, mancha causada pelo extravazamento
de sangue e plasma do Santo Lado de Cristo. 


Com esta análise, ainda que seja conjectura, aproximamo-nos mais da causa real de sua morte: um possível infarto agudo do miocárdio, com perfuração da parede do ventrículo direito, hemopericárdio e tamponamento cardíaco. Interpretações que se encontram dentro de um rigor científico quanto a sua parte teórica, mas não são demonstráveis com análise nem estudos complementares.

As mudanças sofridas na humanidade de Jesus Cristo foram vistas à luz da medicina, com o fim de encontrar realmente o caráter humano, em um homem que é chamado o filho de Deus, e que voluntariamente aceitou este suplício, convencido do efeito redentor e salvador para os que criam nEle e em seu evangelho.




REFERÊNCIAS
1. Sermo de Passione
2. São Justiniano, Dial, c, Tryph, 97,98,104, e apol, 135; Tertuliano, adv. Marc,
3. Camargo Rubén. Jornal El Heraldo. B/quilla, Col 1990
4. Rev. Med. Jama 1986;255;1455-1463
5. Fragm, 16
6. Tractac in Joan, 36,4 - De obitu Theodos, 47 e 49
7. Séneca,Epist,101; Petronio, Sat 3,6; Eusebio, Hist,eccl,8,8
8. Carta Apostólica Salvifici Doloris 1984
9. Louis Claude Fillion. Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tomo III

FONTE:





Detalhes da crucificação de Jesus

Cravos: tinham de 13 a 18 centímetros de comprimento por 1 centímetro de diâmetro.

Mãos: perfurações no antebraço, entre o rádio e o cúbito, ou nas palmas, entre os metacarpos.

Feridas: o chicote romano (flagrum) tinha pedaços de ossos ou de metal nas pontas de suas três tiras, o que chegava a arrancar pedaços de pele e ferir órgãos internos. Cristo sofreu duas séries de 39 chicotadas. Ou seja, contando-se as três tiras, Ele levou 234 açoites.

Sofrimento espiritual e emocional: maior do que as dores físicas de Cristo foi Sua agonia espiritual. Um com o Pai desde a eternidade, sofreu Seu completo afastamento. Jesus foi misteriosamente feito “maldição” (Gl 3, 13) em nosso lugar, levando sobre Si os pecados de todos.

Roupas: provavelmente Jesus foi exposto completamente nu perante a multidão.

Pés: foram pregados juntos ou separados. Os cravos e o peso do corpo castigavam os sensíveis nervos plantares.

Via Dolorosa: calcula-se que o trajeto que Cristo carregou a parte horizontal da cruz, de cerca de 50 a 100 quilos, foi entre 900 e 1.500 metros, até o Calvário. Em parte desse trajeto, a cruz foi levada por Simão, cireneu.

Escuridão: ao meio-dia, surgiu uma escuridão inexplicável em volta da cruz. Nela, Deus escondeu a agonia final de Seu Filho.

Multidão: assim como os líderes religiosos, a multidão era uma massa de manobra das forças do mal. Todos zombavam de Cristo, mas, com a escuridão, o terremoto e as palavras de Cristo, foram tomados pelo medo.

Calvário: localizava-se possivelmente onde hoje é a Igreja do Santo Sepulcro ou no Jardim de Gordon; uma elevação de quase 5 metros, que lembra uma caveira. O Jardim de Gordon é o local mais provável, pois se encontra fora dos muros da Jerusalém antiga.

Mãe: Cristo sofreu por Sua Mãe, que acompanhava pia e corajosamente a Sua crucificação, e a entregou aos cuidados do discípulo amado João.

Placa: geralmente continha o nome e a condenação dos crucificados.

Coroa: provavelmente feita do espinheiro de Jerusalém (Paliurus spina christi) ou do espinheiro-de-cristo sírio, foi fixada e batida repetidamente sobre a cabeça de Cristo, ferindo o nervo trigêmeo, causando uma dor que nem a morfina é capaz de amenizar.

Sede: Jesus também sofreu ardente sede, pois não havia bebido nada desde a noite anterior, carregou a cruz, perdeu muito sangue e sofreu intensa febre, devido às inflamações.

Corpo: sofreu cãibras, espasmos, desidratação, poli contusões e exalação insuficiente com retenção de gás carbônico no sangue e nos pulmões (hipercapnia).

Vinagre: desde que chegou ao Calvário, durante a crucifixão e ao fim dela, os soldados ofereceram-Lhe vinagre, vinho azedo misturado com água e vinho com mirra, para aliviar Sua dor, mas Cristo recusou-Se a bebê-las, para manter-Se consciente e não fugir à Sua missão.

Lança: quando a morte na cruz precisava ser adiantada, dava-se um “golpe de misericórdia”, chamado crucifragium, quebrando-se a tíbia (osso da canela). Mas isso não foi preciso, pois Jesus morreu antes. Para assegurarem Sua morte, Ele foi ferido com uma lança.

Sangue e água: a lança provavelmente atingiu o pericárdio e a pleura pulmonar, e fez jorrar sangue e “água” (na verdade, plasma sanguíneo), fruto de acúmulo de sangue no espaço pleural (pela flagelação) e no pericárdio (por perfuração espontânea da musculatura, no infarto). Supõe-se que foi por essa razão que jorrou sangue e água da ferida.  Com a morte de Cristo, o sangue coagulou, separando os componentes celulares do plasma sanguíneo.

Vitória: ao gritar “está consumado” (em grego tetelestai, que pode significar “está pago”), Jesus não morreu como uma vítima frágil, mas como um herói. Cumpriu Sua missão, salvou a humanidade.

Morte: provavelmente por parada cardiorrespiratória. Além dos sofrimentos físicos, o coração de Cristo não suportou o peso dos pecados da humanidade.

Terremoto: às 15 horas, após Cristo gritar duas vezes e dar Seu último suspiro, ocorreu um terremoto com tremor que fendeu rochas e abriu túmulos.

Tempo na cruz: os crucificados permaneciam vivos de 18 horas a alguns dias. Jesus ficou na cruz entre as 9 horas e as 15 horas (segundo relato de São Marcos) ou das 12 às 15 horas (segundo os demais evangelistas). Seus graves ferimentos e o sofrimento espiritual foram determinantes para Sua morte rápida.

Getsêmani: o sofrimento de Cristo começou pelo menos dez horas antes da cruz quando começou a sentir o peso dos pecados humanos. Seu sofrimento psicológico foi tão grande que O fez suar gotas de sangue. Esse fenômeno raro na literatura médica é conhecido como hematidrose.

Cruz: a pena de morte por crucificação já era praticada desde o século 6 a.C. por persas e babilônios, até que foi proibida pelo imperador Constantino, em 337 d.C. Há quatro tipos conhecidos de cruz: decussata (em forma de X), quadrata (em forma de +), comissa (em forma de T) e imissa (em forma da cruz, como a conhecemos). Certamente, a cruz de Cristo foi do tipo comissa ou imissa, pois, a própria palavra para crucificar no Novo Testamento é stauros, que significa colocar em um tau (nome da letra T em grego). Se considerarmos a necessidade de se pregar uma placa, é possível que a cruz como a conhecemos possa ter sido a utilizada.

Partes da cruz: as cruzes romanas eram compostas de duas partes: stipes e patibulum. A stipes era o poste, que geralmente permanecia no local de suplício e tinha cerca de 5 metros de altura e 70 quilos. O patibulum era a parte horizontal, geralmente carregada pelo condenado até o local de execução. Tinha cerca de 2,5 a 3,0 metros e por volta de 50 a 100 quilos. Possivelmente, o encaixe entre as duas partes era feito no chão, onde o crucificado era pregado, para depois ser erguido e a cruz ser encaixada no buraco previamente feito.

Assento: algumas cruzes tinham uma sedicula, pedaço de madeira fixado à altura do quadril para apoiar o corpo, facilitar a respiração e aumentar o tempo de suplício.

Embalsamamento: o ritual judaico de sepultamento durava entre cinco e seis horas, pois envolvia lavar o cadáver, perfumá-lo com aromas frescos, embalsamá-lo e envolvê-lo em faixas. Para se evitar esse trabalho no sábado, o ritual foi adiado para a manhã de domingo.

Deus, anjos: Deus Pai certamente estava junto a Cristo, na escuridão misteriosa, compartilhando de Seu sofrimento, acompanhado de anjos celestiais. Todos, porém, não podiam confortá-Lo. Cristo teria que levar sozinho o peso dos nossos pecados.

Satanás, demônios: estavam presentes e ativos entre a multidão. O inimigo torturava a Jesus, tentando levá-Lo ao desespero e a desistir de Sua missão. Paradoxalmente, contra seus próprios interesses, o inimigo não conseguia resistir ao prazer sádico de matar o Filho de Deus.

O templo e as profecias: os sacrifícios realizados no Templo apontavam para Cristo, o “Cordeiro de Deus” (Is 53, 5- 6, 10). O início da crucifixão foi exatamente no horário do sacrifício da manhã e o fim dela, no horário do sacrifício da tarde. Com a morte de Cristo, o antigo sistema sacrifical perdeu a validade, e o véu do Templo foi rasgado de cima a baixo (Mt 27, 51). De acordo com a profecia das 70 semanas de Daniel (Dn 9, 24-27), Cristo morreu no ano 31 d.C. Ou seja, a morte de Cristo teve data e hora marcadas.

Caifás: na casa desse sumo sacerdote, Jesus foi julgado. Em 1990, foi achado um ossuário, contendo a inscrição em hebraico: “José, filho de Caifás”.

Pilatos: arqueólogos italianos que escavavam um teatro romano em Jerusalém encontraram uma pedra com a inscrição latina: “Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia”.

Julgamento: o julgamento de Cristo ocorreu durante a madrugada e à véspera de um sábado e de uma grande festa religiosa – três infrações do registro escrito das tradições judaicas, a Mishná, de acordo com o Sanhedrin 4,1.

Pretório: casa do governador romano da Judeia. Em seu pátio, Jesus foi julgado, castigado e condenado. Em 1930, escavações identificaram plataformas maciças do pátio da fortaleza Antônia. Nessas plataformas, estavam gravados alguns desenhos de jogos que soldados romanos faziam para passar tempo. As descrições desse pavimento (lithóstotos) são muito semelhantes ao que se relata em João 19, 13.

Ressurreição: o anjo do mais alto posto celestial, revestido de luz, foi comissionado a chamá-Lo e rolou a pedra do sepulcro. Os guardas caíram ao chão. Posteriormente, os discípulos O viram, tocaram nEle, compartilharam uma refeição e conversaram com Ele.

Ressurreições: quando Jesus ressurgiu, outras pessoas ressuscitaram das sepulturas abertas no terremoto que ocorreu no momento de Sua morte (Mt 27, 51-53).

A verdade: os discípulos mantiveram a versão de que Jesus ressuscitou, mesmo em face da morte e sem ganhar qualquer vantagem. Se isso não fosse verdade, pelo menos um deles negaria o fato.

Profecias: as circunstâncias ligadas à morte de Cristo foram preditas séculos antes, no Antigo Testamento. Confira algumas: julgamento fraudulento (Is 53, 8; Mt 26, 59); abandono dos discípulos (Zc 13, 7; Mc 14, 27); sofrimento em silêncio (Is 53, 7; Mt 27, 12-14); morte substitutiva (Is 53, 5; 1Jo 2, 2); mãos e pés traspassados (Sl 2, 16; Jo 20, 25-27); intercessão pelos transgressores (Is 53, 12; Lc 23, 34); morte junto a malfeitores (Is 53, 12;Lc 23, 34); zombaria (Sl 22, 7, 8; Mt 27, 41-43); roupas sorteadas (Sl 22, 18; Jo 19, 23s); separação de Deus (Sl 22, 1; Mt 27, 46); traspassado pela lança (Zc 12, 10; Jo 19, 34); sepultamento em túmulo de rico (Is 53, 9; Mt 27, 57-60).


Fontes: Rubén Dario Camargo (Fisiopatologia da morte de Cristo); Rodrigo Cardoso (Como Jesus foi crucificado? IstoÉ, de 1/4/2010); Rodrigo Silva (Escavando a Verdade, CPB, 2007 e A Arqueologia e Jesus, Perspectiva, 2006); Frederick Zugibe (A Crucificação de Jesus, Matrix, 2010).  Postado por Angelo Repetto


quinta-feira, 18 de abril de 2019

SANTA JOANA DELANOUË, Virgem e Fundadora




Foi Joana Delanoue o último rebento de uma cadeia de doze filhos numa família modesta mas incansável no ofício de negociar, vendendo quinquilharias. Joana Delanouë nasceu em Saumur, cidade às margens do Rio Loire, no dia 18 de junho de 1668. Seus pais possuíam uma loja de armarinho perto do santuário de Nossa Senhora de Ardilliers. Ela perdeu o pai aos seis anos e apesar de sua pouca idade ajudava a mãe a tocar a loja para sustentar toda a família.

Já mocinha, faz o comércio prosperar, com a simpatia, gentileza e rapidez com que serve toda a clientela. Quando ia nos seus vinte e cinco anos, morre-lhe a mãe, ficando ela com a pequena loja. Aos 26 anos, Joana herdou o estabelecimento familiar e veio a mostrar-se nele comerciante habilidosa e ávida de ganhos. As suas qualidades são notáveis: inteligente, ativa, infatigável. Se até aí, o seu dia a dia era azáfama e corrupio, atividade e lufa-lufa, desde então multiplicaram-se as tarefas, com um público cada vez mais desejoso dos seus serviços.

No inverno de 1693, era um dia extraordinariamente frio, passa junto dela uma piedosa mulher, que, mui devota de peregrinações, passava o tempo a correr de igreja em capela, de santuário em basílica. Depois de uma longa conversa, onde ventilou o sentido da vida, fá-la interrogar-se acerca da sua contínua e tão grande labuta, sobre a partilha dos bens, no meio da sua relativa prosperidade, e convida-a a rever a sua relação com os pobres, deixando-lhe, no final, um surpreendente recado: “Joana, - diz-lhe ela – entrega-te à caridade. Em São Florêncio, esperam-nos seis crianças pobres num curral”. Atenta a esta notícia, fica espantada com tanta miséria e principia a tratar as crianças. Sem largar o seu negócio, mas tornada mais laboriosa e dedicada, entrega-se, com maior entusiasmo, a todos os indigentes. Joana recolheu-as em sua casa. Era o ponto de partida da sua vocação.

Apesar de suas responsabilidades acrescidas, ela passou a cuidar de alguns pobres; ela cuidava deles todos os dias, além de seus clientes. Durante cinco anos levou a sério os seus negócios, e se dedicou às obras de caridade cada vez mais numerosas. Passaram a chamá-la “mãe dos pobres”.

Aos trinta anos deu o passo decisivo: passou a loja a uma sobrinha e transformou a casa em asilo a que chama “a Providência”. Este asilo desaba, mas ela em breve cria três novos. Recolheu assim mais de cem crianças: órfãos, meninas abandonadas, velhos, indigentes.  

Em 1703 uma companheira passou a ajudá-la e em seguida outras duas, uma das quais é a sua sobrinha. São os princípios da Congregação de Santa Ana da Providência, cujas Constituições receberam a aprovação da Igreja em 1709.

A Irmã Joana da Cruz, assim passou a chamar-se, quer que as suas irmãs vivam numa casa semelhante à dos pobres, que se alimentem como eles e como eles sejam tratadas em caso de doença. Críticas não faltam à sua volta, sobretudo, quando a vizinhança, admirada por quanto vê, se sente obrigada a dar-lhe esmola: “É muito exagerada na austeridade para com as irmãs, a sua caridade é desmedida, o tratamento dado aos indigentes é principesco”.

A tenacidade de Irmã Joana, assistida por belos devotamentos, resultou na fundação do primeiro hospital de Saumur em 1715; ele tinha sido pedido pelo Rei Luís XIV em 1672. Seu amor transbordou rapidamente além dos limites da sua cidade de Saumur e de sua diocese. Ela já tem quarenta auxiliares, todas às suas ordens, e que haviam decidido seguir o seu exemplo de oração, dedicação e mortificação.

Provações não lhe faltaram: conforme mencionado, o desabamento da casa transformada em asilo; a falta de dinheiro, as críticas de pessoas qualificadas que acham exagerada sua austeridade e classificam de desordenada sua caridade. Quanto aos pobres, ela mostra-se para com eles cheia de atenções. Pobre com os pobres, não hesita em pôr-se a mendigar.

Quando de seu falecimento, em 17 de agosto de 1736, aos 68 anos, Joana Delanouë deixou uma dúzia de comunidades, asilos e escolas. "A Santa morreu!", dizem em Saumur.

Todos admiravam o seu zelo, a sua ação nas muitas visitas feitas ou recebidas, mas apenas seus amigos mais próximos conheciam sua mortificação, sua vida de oração e união com Deus. Uma palavra sua resume-lhe a vida: “Quero viver e morrer com os meus queridos irmãos, os pobres”.

As Irmãs de Joana Delanouë, como são chamadas agora, atualmente são cerca de 400 religiosas na França, Madagáscar e Sumatra, onde elas foram fundadas em 1979.

Em 5 de novembro de 1947 Pio XII colocou Joana Delanoue entre os Bem-Aventurados. Em 31 de outubro de 1982 o Papa João Paulo II acrescentou Santa Joana Delanouë, a “Mãe dos Pobres” no calendário dos Santos da França.