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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

domingo, 22 de julho de 2018

Beata Maria Toríbia (Maria de La Cabeza), Leiga e Esposa de Santo Isidro Lavrador.



Contexto histórico e resumo biográfico:
A vida desta mulher humilde, escondida com Cristo em Deus, trabalhadora, esposa, mãe de família, viúva e anacoreta, transcorreu na região de Madrid, recém-conquistada pelo rei castelhano Afonso VI aos mouros do reino taifa de Toledo. A região tinha pertencido até então ao califado de Córdoba, onde se falava o árabe e onde os cristãos perseveravam na fé católica segundo os costumes da Espanha herdados dos visigodos; terras que formaram parte da Castela de El Cid (1099), que se esforçava por aclimatar-se aos francos que entravam com os que faziam a Reconquista.
O contexto era de paz instável devido às contínuas incursões dos mouros que não resistiam ao avanço cristão depois da conquista de Toledo (1085). Em um século XII onde o Norte Ibérico é sulcado por enxames de peregrinos europeus que percorrem o caminho em direção ao túmulo do Apóstolo São Tiago Maior (Santiago), que em Toledo se começa a traduzir para o latim a sabedoria transmitida pelos árabes e com uma Córdoba que respira o refinamento do Oriente.
Este era o contexto em que viveu Maria Toríbia, esposa de Santo Isidro e mãe do beato Ilano. A dureza das condições da vida do campo era sentida, sobretudo pelas mulheres. Nesse quadro real se santificou a mulher que seria mais tarde o marco de referência da capital e da corte de um império que estenderia o culto dessa camponesa das Filipinas até à Califórnia.
Segundo as várias testemunhas, realizou milagres similares aos de seu esposo. O texto mais antigo que menciona esta Beata é o manuscrito conhecido como o Códice de João Diácono, uma coleção de milagres realizados por seu esposo Santo Isidro, escrito em latim, com primorosa caligrafia, em meados do século XIII, quando ainda se conservava viva a memória dos santos esposos. O pergaminho se encontrava no arquivo da velha paróquia madrilena de Santo André. O autor poderia ter sido um diácono de Almudeña ou o franciscano Juan Gil de Zamora, secretário de Afonso X, o Sábio.
Até fins do século XVI, quando teve início o seu processo de beatificação, não existe documento escrito que fale dela, falecida por volta de 1175, em Castela, e sepultada no Convento Ermida de Santa Maria. O seu corpo foi encontrado em 1596, mas o seu culto já havia se difundido muito havia vários séculos.
Aquela ermida, por causa da presença da cabeça da Beata, foi denominada de Santa Maria de La Cabeza e a ela mesma foi dado o nome de Maria, embora algumas tradições anteriores ao século XVI referiam que seu verdadeiro nome era Toríbia.
Próximo ao Convento de Santa Maria existia há muito uma confraria intitulada Santa Maria da Cabeça, em que ela era festejada no dia 09 de setembro. Em 1615, quando o processo de beatificação se iniciou, suas relíquias foram transferidas para Torrelaguna. O Papa Inocêncio XII confirmou o culto da Beata em 11 de agosto de 1697.





      Sua linda história... 

Maria de La Cabeza ou Maria Toríbia nasceu em Madrid ou em suas proximidades, aproximadamente em 1175. Seus pais, piedosos e honestos, pertenciam ao grupo dos chamados “mozárabes” (descendentes cristãos dos árabes). Foi esposa de Santo Isidro Lavrador.  

Dá para imaginar com que santidade e trabalhos levou sua vida de mulher casada. Suas ocupações eram cuidar da casa, limpá-la, preparar a comida, fazer o pão com suas próprias mãos, tudo com tanta simplicidade que as únicas coisas que brilhavam em sua vida eram a humildade, a paciência, a devoção, a austeridade e outras virtudes, com as quais era rica aos olhos de Deus. Com seu marido era muito serviçal e atenta. Viviam tão unidos, como se fossem realmente uma só carne, um só coração e uma única alma: como é a vontade de Deus. Ajudava-o nos afazeres rústicos, em trabalhar as hortaliças e em fazer o bem, não menos no exercício da caridade, sem abandonar jamais sua contínua oração.

Como ambos os esposos não tinham maior ambição que o levar uma vida pura e fervorosa dedicada a Deus, um dia se puseram de acordo em separar-se (nota: algo não raro na espiritualidade medieval), permanecendo Isidoro em Madrid com seu filho único Ilano dedicando-se a educação do menino, transmitindo a ele seus ensinamentos. Quando o pai morreu, Ilano mudou-se para Villalba de Bolobras e se tornou ermitão junto a um castelo templário, fazendo os mesmos milagres que seus pais, relacionados com a água, a agricultura e os animais. Maria Toríbia dirigiu-se a uma ermida, situada em um lugar próximo ao rio Jarama: a ermida de Nuestra Señora de la Piedad, em Torrelaguna, onde seria sepultada à sua morte.

Seu novo gênero de vida solitária, quase celeste, consistia em obsequiar a Virgem Maria, fazer longas e profundas meditações, tendo a Jesus como Mestre, limpar a sujeira da capela, adornar os altares e pedir pelos povoados vizinhos ajuda para cuidar da lâmpada (antigamente usava-se óleo, nem sempre fácil de encontrar) e outros afazeres.

Estando ela entregue a esse tipo de vida piedosa, uns homens de má índole, semeadores de cizânia naquele campo límpido de ervas daninhas, comunicaram a Isidro que Toríbia levava uma vida má com os pastores da região. O santo varão, bom conhecedor da fidelidade e do pudor de sua esposa, rechaçou aos delatores como agentes do diabo. No entanto, quis saber donde haviam tirado aquelas especulações. Seguiu-lhe os passos durante alguns dias. Com os próprios olhos viu que sua mulher, como de costume, com a maior naturalidade, se aproximou do rio, que naquele dia estava cheio de água por causa das chuvas abundantes caídas e, com ímpeto, estendeu sua mantilha sobre a corrente e, como se fosse uma pequena barca, passou tranquilamente para a outra margem, sem dificuldade alguma. Com a contemplação direta dessa cena, repetida em outros dias, a honra desta mulher continuou intacta perante o marido e perante os vizinhos da comarca.

Nos últimos anos de sua vida, regressou a Madrid e de novo começou a viver com a admirável vida santa de antes. Depois de morrer seu marido, voltou à sua querida casa da Virgem, onde encontrava já na terra a presença viva de Deus. Nesse lugar morreu cheia de anos e de méritos.


Foi enterrada piedosa e religiosamente mesma ermida, em um lugar especialmente escolhido por medo de uma possível profanação dos sarracenos. Quando estes foram expulsos para suas terras africanas, vigente, todavia, o exemplo da vida santa dessa mulher, foram localizados seus restos, graças a uma inspiração do Céu. Ao retirá-los do lugar onde estavam guardados, todos perceberam um odor especialmente agradável, que nunca haviam sentido na vida.

Seus restos mortais ainda hoje são venerados em Madrid. Muitos asseguram que faz incontáveis milagres, principalmente curas repentinas de dores de cabeça. Todas essas circunstâncias, examinadas por juízes apostólicos, fizeram com que o Papa Inocêncio XII aprovasse seu culto imemorial e que, ultimamente, o Papa Bento XIV lhe concedesse Missa e Ofício próprios, assinalando sua festa para o mês de maio em Madrid e em toda a diocese toledana.


 Fonte de pesquisa: 



terça-feira, 17 de julho de 2018

Beata Maria Vitória de Fornari Strata, Fundadora


Pouco depois de sua morte, a Bem-aventurada Maria Vitória apareceu a uma devota admiradora usando três vestes: a primeira era de cor escura, mas enfeitada de ouro e prata; a segunda também era escura, mas enfeitada com gemas luzentes; a terceira era azul-branca, com um branco fulgurante. Prescindindo da sua historicidade, essa visão resume os três estados de vida (casada, viúva e religiosa) através dos quais a santa passou: foi de fato filha, esposa, mãe, viúva e religiosa (fundadora, superiora e simples freira). Deu exemplo das mais diferentes virtudes.



             Biografia
Maria Vitória nasceu em Gênova em 1562, sétima dos nove filhos de Jerônimo e Bárbara Veneroso. Cresceu num ambiente de amor e de piedade e também um pouco austero. A menina talvez tenha desejado entrar na vida religiosa, mas quando os pais lhe encontraram um noivo na pessoa de Ângelo Strata, uniu-se a ele em matrimônio aos 17 anos. Tiveram uma união feliz e muito harmoniosa, e não demoraram a chegar os filhos.

Quando Ângelo morreu, oito anos e oito meses após o matrimônio, cinco filhinhos se penduravam na saia da mãezinha de vinte e cinco anos e um sexto nasceria um mês depois. Não obstante a tranquilidade financeira e os filhos, Maria Vitória se sentiu improvisamente sem nada e atravessou uma tremenda crise, durante a qual invocou muitas vezes a morte. Só encontrou forças na fé, na oração e na penitência.

Pelo bem dos filhos, decidiu-se casar novamente, quando teve uma visão da Virgem Maria. Essas foram as palavras da Virgem para ela: “Seja brava e corajosa. Eu levarei você e seus filhos sob minhas asas. Viva em paz sem ansiedade. Se entregue aos meus cuidados e acima de tudo seja devotada ao amor de Deus”.

Superada a crise, pronunciou três votos: de castidade, de nunca usar joias e vestidos de seda e de não tomar parte em festas mundanas. Depois que suas filhas se tornaram cônegas lateranenses e os filhos entraram entre os mínimos, ela se uniu a Vicentina Lomellini Centurione, Maria Tacchini, Chiara Spinola e Cecília Pastori para fundar a Ordem das Irmãs da Anunciação Celeste no mosteiro preparado para elas no castelinho de Gênova por Estêvão Centurione, o marido de Vicentina. Ele também abraçou a vida religiosa e sacerdotal. A regra redigida pelo jesuíta Bernardino Zanoni, pai espiritual de Fornari, estimulava as religiosas a uma íntima devoção a Bem-aventurada Virgem da Anunciação e estabelecia uma intensa vida de piedade, uma pobreza genuína e uma clausura absoluta.

Fundadora e priora, Maria Vitória transcorre os últimos cinco anos como simples religiosa, dando exemplos de humildade e de obediência. Quando professou os votos e vestiu o hábito, como fundadora da nova Ordem, foi eleita superiora. Depois, por desejo próprio entregou o cargo para exercer somente os trabalhos mais humildes.

Morreu a 15 de dezembro de 1617 e foi beatificada por Leão XII em 1828. Sua festa litúrgica é celebrada no dia de sua morte.











sábado, 7 de julho de 2018

Serva de Deus Tilde Manzotti, virgem e leiga dominicana (1915-1939)



“Para o meu coração, Tu és o Amor ardente, infinito, fim de toda ansiedade, fonte de desejo insaciado, fonte de suavidade.”


Uma Rosa Desfolhada

Tilde Mazotti nasceu em 28 de maio de 1915, em Reggio Emilia e morreu na Província de Florença, em Paterno di Pelago, pequena cidade sobre as colinas valdarnesas (na Itália), em 1939, com só 24 anos, consumida pela tuberculose. O seu percurso humano e espiritual, apesar a brevidade de sua vida, é de uma extraordinária riqueza interior e tem a particular capacidade de suscitar a simpatia daqueles que se aventuraram a encontrá-la em seus escritos e especialmente no seu esplêndido Diário, documento impressionante de um itinerário espiritual intenso e fulgurante.


Tilde, de fato, é uma moça vivaz e enamorada pela vida e é por esta razão que é capaz de cumprir, na brevidade de sua existência, um intenso itinerário de fé marcado por uma forte tonalidade afetiva que a conduz a uma vibrante identificação com a pessoa de Cristo como Santa Teresinha de Lisieux, cujo testemunho a impressionou, dando-lhe o sentido de sua vida e de sua experiência.  Teresa escreveu, nos últimos meses de sua vida, uma sugestiva poesia com o título de Uma Rosa Desfolhada, aludindo a seu percurso humano e espiritual que a tinha conduzido, com somente 24 anos como Tilde, ao limiar da eternidade onde sua vida era desfolhada, como uma rosa, até o fim para encontrar a adorável Face de Cristo.

De fato, também Tilde, em 1930, percebe os primeiros sintomas da tuberculose que a conduziu a um duro confronto com uma doença que não perdoa. Em 1932, de fato, é enviada ao Sanatório em Prasomaso, na província de Sondrio, mas a doença resiste a todos os tratamentos, obrigando Tilde a uma longa permanência na cama com febre.   Em 1937, a família se muda para Florença. Aqui Tilde se inscreve na Universidade de estudos de Florença (Faculdade de Magistério) e participa com entusiasmo da FUCI (Federação Universitária Católica Italiana). Tilde, de fato, ama muitíssimo o estudo e já tinha obtido a habilitação para o ensino elementar.

Um ano depois (1936), acontece seu primeiro encontro com a espiritualidade dominicana que marca, de maneira decisiva, toda sua experiência espiritual. No convento das Irmãs Dominicanas de Covigliaio, onde estava por motivos de saúde, encontra o noviço dominicano Frei Antonio Lupi. Em 07 de agosto de 1938, começa a escrever seu diário espiritual, enquanto sente com força a vocação à vida religiosa e pensa em entrar entre as Irmãs Dominicanas. Teme somente que a mãe possa sofrer com esta decisão. Recorre ao auxílio do tio Angelo Casali, padre escolápio, para que possa ajudá-la na realização de sua vocação. Encontra, no mesmo ano, o Padre Stefano Lenzetti, dominicano, que lhe é apresentado pelo Frei Antonio Lupi e que se torna seu diretor espiritual. Em 12 de dezembro de 1938, emite, nas mãos do Padre Lenzetti, o voto de obediência e de abandono nas mãos de Deus.

Em junho de 1939, pronuncia o voto de “vítima de holocausto de amor e sacrifício” – a exemplo de Santa Teresinha de Lisieux – nas mãos de seu confessor que o permite somente por sua vivíssima insistência. No mesmo ano, os progressos da doença se tornam irreversíveis. Transfere-se a Paterno di Pelago e recebe uma carta de Frei Antônio Lupi, em que ele escreve que, depois de Deus, da Virgem Santíssima e dos santos do céu, ela é a “mãe” de sua vocação: eles serão dominicanos e apóstolos juntos!

Tilde morre em 03 de outubro, em Paterno di Pelago. Tinha 24 anos. Em 05 de julho de 1995, o então Arcebispo de Fiesole, Mons. Luciano Giovannetti, abre o processo de beatificação de Tilde. Em 25 de janeiro de 1999 foi encerrado o processo diocesano sobre a vida e virtudes heróicas, cujos atos estão agora em Roma para o exame da Congregação para a Causa dos Santos.

 A presença dos santos diz que o cristianismo não é uma mentira; de fato, se não houvesse santos, seria uma mentira mesmo a morte de Cristo. A eficácia da morte de Cristo se mede pela salvação do homem, pela santidade que esta morte comunica ao mundo.



Uma página significativa do Diário de Tilde:

Ave Maria! Entre teus braços, sobre o teu Coração, eu durmo, sonho, penso, deliro. Se eu sonho de olhos abertos, sonho contigo, Amor, e sei que o vento, de fato, não dispersará a aérea e leve luminosidade deste Amor do céu. Para o meu espírito, ansioso pela verdade, Tu és a verdade eterna e imutável, repouso a todas as buscas, força contra todo o ceticismo e luz para toda escuridão e tormentoso pessimismo. Para o meu coração, Tu és o Amor ardente, infinito, fim de toda ansiedade, fonte de desejo insaciado, fonte de suavidade. À minha ternura, Tu te ofereces, Jesus, com um dom de Ti que me faz vibrar de amor: ao meu amor, estendido pelo sofrimento, Tu ofereces chagas e sangue, sangue vermelho de amor, sangue vivo, Teu sangue. Dai-me, Jesus, sofrer por Ti; uni-me a Ti, só em pura dor. Somente assim poderei sentir-me tua. Funde minha alma no fogo do teu sangue, Jesus; o meu coração espera e aguarda.

(cfr. Elena Cammarata, Rimanete nel mio amore. Itinerario spirituale di Tilde Manzotti, Edizioni Feeria-Comunitá di San Leolino, Panzano in Chianti, Firenze 2002, pp. 118-119).




ORAÇÃO

Ó Jesus, vivo respiro da Santíssima Trindade, Tu nos enches de teu amor, da tua oração, do teu perdão na vida da Igreja.

Assim formas nos teus santos aqueles filhos da luz que iluminam a nossa peregrinação sobre a terra magnífica, mas também coberta pelas trevas da dor e de nossas necessidades humanas.

Peço-te, por intercessão de tua Serva Tilde Manzotti, conceder-me a graça… que pela fé espero de teu Coração  que está imerso, como já sempre na terra, no Amor do Pai e no dom inexaurível do Espírito Santo. Amém.

Pai Nosso, Ave Maria e Gloria.

Site: http://tildemanzotti.altervista.org/


Quem receber graças por intercessão da Serva de Deus Tilde Manzotti, ou quiser informações, pede-se contatar a:

 Comunità di San Leolino

Via S. Leolino, 1 – 50022

Panzano in Chianti (Firenze) Italia

tel./fax 055.852041- info@sanleolino.org

segunda-feira, 2 de julho de 2018

JULHO: MÊS DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE CRISTO, belíssima devoção, praticada há séculos, aprovada e incentivada por S.S. o Papa São João XXIII.


CARTA APOSTÓLICA
INDE A PRIMIS
DE SUA SANTIDADE
JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS, BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE
O CULTO DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO






Veneráveis Irmãos, saudação e Bênção Apostólica

1. Desde os primeiros meses do nosso serviço pontifício aconteceu-nos muitas vezes – e não raro a palavra foi precursora ansiosa e inocente do nosso próprio sentir – convidar os fiéis, em matéria de devoção viva e cotidiana, a se volverem com ardente fervor para a expressão divina da misericórdia do Senhor sobre as almas individuais, sobre a sua Igreja santa e sobre o mundo inteiro, dos quais todos Jesus continua sendo o Redentor e o Salvador. Queremos dizer a devoção ao Preciosíssimo Sangue.




2. Esta devoção foi-nos instilada no próprio ambiente doméstico em que floresceu a nossa infância, e sempre recordamos com viva emoção a recitação das ladainhas do Preciosíssimo Sangue que os nossos velhos pais faziam no mês de julho.

3. Lembrados da salutar exortação do Apóstolo: "Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue de seu próprio Filho" (At 20,28), cremos, ó Veneráveis Irmãos, que entre as solicitudes do nosso universal ministério pastoral, depois da vigilância sobre a sã doutrina deve ter um lugar privilegiado aquela que diz respeito ao reto desenvolvimento e ao incremento da piedade religiosa, nas manifestações do culto litúrgico e privado. Parece-nos, portanto, particularmente oportuno chamar a atenção dos nossos diletos filhos para o nexo indissolúvel que deve unir as duas devoções, já tão difundidas no seio do povo cristão, isto é, o ss. Nome de Jesus e o seu sacratíssimo Coração, aquela que pretende honrar o Sangue Preciosíssimo do Verbo encarnado, "derramado por muitos em remissão dos pecados" (cf. Mt 26,28).

4. Com efeito, se é de suma importância que entre o Credo católico e a ação litúrgica da Igreja reine uma salutar harmonia, visto que "a norma do acreditar define a norma de rezar",[1] e nunca sejam consentidas formas de culto que não brotem das fontes puríssimas da verdadeira fé, é justo, outrossim, que floresça harmonia semelhante entre as várias devoções, de modo que não haja contraste ou dissociação entre as que são consideradas como fundamentais e mais santificantes, e que, ao mesmo tempo, sobre as devoções pessoais e secundárias tenham o primado na estima e na prática aquelas que melhor realizam a economia da salvação universal operada pelo "único mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem, aquele que deu a si mesmo em resgate por todos" (1Tm 2,5-6). Movendo-se nesta atmosfera de reta fé e de sã piedade, os féis estão seguros de sentir com a Igreja, ou seja de viverem em comunhão de oração e de caridade com Jesus Cristo, fundador e sumo sacerdote dessa sublime religião que dele recebe, com o nome, toda a sua dignidade e valor.

5. Se agora detivermos um rápido olhar aos admiráveis progressos que a Igreja católica tem operado no campo da piedade litúrgica, em salutar consonância com o desenvolvimento da sua fé na penetração das verdades divinas, indubitavelmente será consolador verificarmos que nos séculos próximos a nós não faltaram, da parte desta Sé Apostólica, claros e repetidos atestados de consentimento e de incentivo para todas as três devoções supramencionadas; devoções que foram praticadas desde a Idade Média por muitas almas piedosas, e depois foram difundidas em várias dioceses, ordens e congregações religiosas, mas que aguardavam da Cátedra de Pedro o cunho da ortodoxia e a aprovação para a Igreja universal.

6. Baste-nos recordar que os nossos predecessores desde o século XVI enriqueceram de favores espirituais a devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, da qual no século precedente se fizera apóstolo infatigável, na Itália, S. Bernardino de Sena. Em honra desse Santíssimo Nome foram, antes de tudo, aprovados o ofício e a missa, e em seguida as Ladainhas.[2] Nem foram menos insignes os privilégios concedidos pelos pontífices romanos ao culto para com o sacratíssimo Coração de Jesus, em cuja admirável propagação [3] tamanha parte tiveram as revelações feitas pelo Sagrado Coração a Santa Margarida Maria Alacoque. E tão alta e unânime tem sido a estima dos pontífices romanos a esta devoção, que eles se comprazeram em lhe ilustrar a natureza, defender a legitimidade, e inculcar a prática com muitos atos oficiais, aos quais puseram coroamento três importantes encíclicas sobre este assunto. [4]

7. Mas também a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus, da qual foi propagador admirável no século passado o sacerdote romano São Gaspar del Bufalo, teve o merecido consentimento e o favor desta Sé Apostólica. Com efeito, importa recordar que, por ordem de Bento XIV, foram compostos a missa e o ofício em honra do Sangue adorável do divino Salvador; e que Pio IX, em cumprimento de um voto feito em Gaeta, quis que a festa litúrgica fosse estendida à Igreja universal. [5] Finalmente, foi Pio XI, de feliz memória, quem, em lembrança do 19° centenário da redenção, elevou a sobredita festa a rito duplo de primeira classe, a fim de que, pela acrescida solenidade litúrgica, mais intensa se tornasse a própria devoção, e mais copiosos se entornassem sobre os homens os frutos do Sangue redentor.

8. Seguindo, portanto, o exemplo dos nossos predecessores, com o fim de favorecer ulteriormente o culto para com o precioso Sangue do Cordeiro imaculado, Cristo Jesus, aprovamos-lhe as ladainhas, segundo a ordem compilada pela Sacra Congregação dos ritos,[6] incentivando outrossim a reza das mesmas em todo o mundo católico, quer em particular quer em público, com a concessão de indulgências especiais.[7] Possa este novo ato do cuidado por todas as Igrejas (cf. l Cor 11,28), próprio do pontificado supremo, em tempo das mais graves e urgentes necessidades espirituais, acordar no ânimo dos crentes a convicção do valor perene, universal, sumamente prático das três louvadas devoções.

9. Por isto, ao aproximar-se a festa e o mês dedicados ao culto do Sangue de Cristo, preço do nosso resgate, penhor de salvação e de vida eterna, façam-na os fiéis objeto de meditações mais devotas e de comunhões sacramentais mais freqüentes. Iluminados pelos salutares ensinamentos que promanam dos Livros sagrados e da doutrina dos padres e doutores da Igreja, reflitam no valor superabundante, infinito desse Sangue verdadeiramente preciosíssimo, do qual uma só gota pode salvar o mundo todo de toda culpa", [8] como canta a Igreja com o Angélico Doutor, e como sabiamente confirmou o nosso predecessor Clemente VI. [9]



10. Porquanto, se infinito é o valor do Sangue do Homem-Deus, e se infinita foi a caridade que o impeliu a derramá-lo desde o oitavo dia do seu nascimento, e depois, com superabundância, na agonia do horto (cf. Lc 22,43), na flagelação e na coroação de espinhos, na subida ao Calvário e na crucifixão, e, enfim, da ampla ferida do seu lado, como símbolo desse mesmo Sangue divino que corre em todos os sacramentos da Igreja, não só é conveniente, mas é também sumamente justo que a ele sejam tributadas homenagens de adoração e de amorosa gratidão por parte de todos os que foram regenerados nas suas ondas salutares.

11. E ao culto de latria a ser prestado ao cálice do Sangue do Novo Testamento, sobretudo no momento da sua elevação no sacrifício da Missa, é sumamente conveniente e salutar que se siga a comunhão com esse mesmo Sangue, indissoluvelmente unido ao corpo do nosso Salvador no sacramento da eucaristia. Em união, então, com o sacerdote celebrante, poderão os fiéis com plena verdade repetir mentalmente as palavras que ele pronuncia no momento da comunhão; "Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor... O sangue de Cristo me guarde para a vida eterna. Amém". Desse modo os fiéis que dele se aproximarem dignamente receberão mais abundantes os frutos de redenção, de ressurreição e de vida eterna que o Sangue derramado por Cristo "por impulso do Espírito Santo" (Hb 9,14) mereceu para o mundo inteiro. E, nutridos do corpo e do sangue de Cristo, tornados participantes do seu poder divino, que fez surgir legiões de mártires, eles irão ao encontro das lutas cotidianas, dos sacrifícios, até mesmo do martírio, se preciso, em defesa da virtude e do reino de Deus, sentindo em si mesmos aquele ardor de caridade que fazia S. João Crisóstomo exclamar: "Saímos daquela mesa quais leões expirando chamas, tornados terríveis ao demônio, pensando em quem é o nosso Chefe e quanto amor teve por nós... Esse Sangue, se dignamente recebido, afasta os demônios, chama para junto de nós os anjos e o próprio Senhor dos anjos... Esse Sangue derramado purifica o mundo todo... Este é o preço do universo, com ele Cristo redime a Igreja... Tal pensamento deve refrear as nossas paixões. Até quando, com efeito, ficaremos apegados ao mundo presente? Até quando ficaremos inertes? Até quando descuraremos pensar na nossa salvação? Reflitamos sobre os bens que o Senhor se dignou de nos conceder, sejamos-lhe gratos por eles, glorifiquemo-lo não só com a fé, mas também com as obras".[10]

12. Oh! se os cristãos refletissem mais frequentemente no paternal aviso do primeiro papa: "Portai-vos com temor durante o tempo do vosso exílio. Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou ouro que fostes resgatados..., mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula" (1 Pd 1,1719); se eles dessem mais solícito ouvido à exortação do apóstolo das gentes: "Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate; glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo" (l Cor 6,20). Quanto mais dignos, mais edificantes seriam os seus costumes, quanto mais salutar para a humanidade inteira seria a presença, no mundo, da Igreja de Cristo! E, se todos os homens secundassem os convites da graça de Deus, que os quer todos salvos (cf. 1 Tm 2,4), porque ele quis que todos fossem remidos pelo Sangue de seu Unigênito, e chama todos a serem membros de um só corpo místico, do qual Cristo é a Cabeça, então quanto mais fraternas se tornariam as relações entre os indivíduos, os povos, as nações, e quanto mais pacífica, quanto mais digna de Deus e da natureza humana, criada a imagem e semelhança do Altíssimo (cf. Gn 1,26), se tornaria a convivência social!

13. Era a contemplação desta sublime vocação que s. Paulo convidava os fiéis provenientes do povo eleito, tentados de pensar com saudade num passado que fora apenas uma pálida figura e o prelúdio da nova aliança: "Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade de Deus vivo, a Jerusalém celestial, e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus o juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador de uma nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloquente que o de Abel" (Hb 12,22-24).

14. Plenamente confiamos, ó veneráveis irmãos, que estas nossas paternais exortações, pelo modo como julgardes mais oportuno tornadas por vós conhecidas ao clero e aos fiéis a vós confiados, serão de bom grado postas em prática, não só salutarmente, mas também com fervoroso zelo, em auspício das graças celestes e em penhor da nossa particular benevolência, com efusão de coração concedemos a bênção apostólica a cada um de vós e a todos os vossos rebanhos, e de modo particular aos que generosa e piedosamente responderem ao nosso convite.

Dado em Roma, junto a S. Pedro, no dia 30 de junho de 1960, vigília da Festa do Preciosíssimo Sangue de N. S. J. C., segundo ano do nosso Pontificado.



JOÃO PP. XXIII



Notas

[1] Cf. Enc. Mediator Dei; AAS 39(1947), p. 54.

[2] Cf. AAS,18 (1886), p. 509.

[3] Cf. Of f : Festi SS. Cordis lesu, II Noct., lect. V

[4] Carta Enc. Annum Sacrum. Acta Leonis XIII, 19(1899), pp. 71ss.; Carta Enc. Miserentissimus Redemptor, AAS, 20(1928), pp. 165ss.; Carta Enc. Haurietis aquas, AAS, 48(1956,), pp. 309ss..

[5] Decr. Redempti sumos, de 10 de Agosto de 1849; cf. Arch. S.C. Rit., Decr. ann.1848-1849, fol. 209.

[6] Cf. AAS, 52(1960), pp. 412-413.

[7] Decr. S. Poen. Ap., de 3 de Março de 1960; cf. AAS, 52( 1960), pp. 420.

[8] Hino Adoro te devote.

[9] Bula Unigenitus Dei Filius, de 25 de janeiro de 1843; Denz. 550 [ DS 1025].

[10] In loan., Homil. 46; PG 59, 260-261.