“Eu
não saio do Sagrado Coração; quer este Divino Dono que eu seja discípulo do
Sagrado Coração de Jesus, e discípulo amado”.
Bernardo é
considerado como o principal apóstolo do
Sagrado Coração de Jesus na Espanha e, apesar de sua breve vida, pode ser
considerado um extraordinário místico. Não escreveu grandes tratados. Somente
instruções e documentos espirituais, alguns sermões, apontamentos e várias
centenas de cartas - possivelmente mais de duzentas - ao seu diretor
espiritual, o jesuíta João de Loyola.
Nasceu Bernardo
em Torrelobatón em 21 de agosto de 1711, no dia seguinte à memória de São
Bernardo de Claraval. Pela proximidade da festa os pais do nosso Bernardo lhe
deram este nome. Mas também tem seu segundo nome de Francisco, por sugestão do
Pároco da igreja de Santa Maria de Torrelobatón, onde foi batizado, pondo o
menino sob a proteção de São Francisco Xavier. Seu pai chamava-se Don Manuel de
Hoyos, nascido em Toro chamada então de Hoyos, daí seu nome canonico. Sua mãe
era D. Francisca de Seña y Fuica, nascida em Medina del Campo em 1693.
Aos 9 anos de
idade, Bernardo recebeu o sacramento da Confirmação em Torrelobatón, conforme
costume da época. Tomás, seu tio paterno, influenciou a que Bernardo fosse
estudar em Villagarcia.
Estando em
Medina del Campo, Bernardo renunciou a todos os seus bens em favor de sua irmã
Maria Teresa, então com seis anos. Seu pai faleceu aos 25 de abril de 1725.
Numa parte do testamento de D. Manuel de Hoyos se lê: “...a meus filhos
recomendo que sejam tementes a Deus e da própria consciência, trabalhando e
procedendo segundo suas obrigações, porque assim merecerão o maior alívio e,
sobretudo, o agrado da misericórdia de sua Majestade que lhes guiará e lhes
iluminará para seu santo serviço e para permanecer nele até sua morte,
guardando obediência, respeito e veneração a sua mãe, avô, tio, e todas as
outras pessoas, a fim de que consigam nesta vida o afeto de todos e na outra o
descanso eterno”.
Sobre sua mãe,
D. Francisca, lemos: “D. Francisca criou Bernardo com especial esmero e
cuidado, dizendo algumas vezes que teria gravíssimo escrúpulo do menor
descuido, porque se perdesse aquele filho, lhe diria o Céu que perdia um grande
Santo”.
Aos dez anos, no
Colégio Jesuíta em Medina del Campo, aprenderá a amar a Virgem, a quem “seus
professores exortavam aos alunos a devoção a Maria Santíssima, Nossa Senhora”.
O menino Bernardo sempre contemplava piedosamente no altar da igreja uma bela
tela da Imaculada.
Em Villagarcía
de Campos rezava com seus amigos de alojamento as Letanias da Virgem – uma
prática diária, iniciada ao toque das oito horas. Era congregado mariano e se
reunia com seus companheiros na capela da Congregação Mariana do colégio para
as orações aos sábados.
Bernardo era um
estudante colegial com destaque em três coisas: era baixinho, piedoso e vivaz.
Na Colegiata, a igreja do Colégio, os alunos tinham a sua Missa diária às sete
da manhã.
Mas por quê decidiu-se Bernardo a ser um jesuíta?
Além de sua vida
na Congregação Mariana (Missa diária, comunhão nos Domingos e Festas, confissão
frequente, etc), lhe impressionava o exemplo daqueles jovens noviços sempre
alegres, levando as crianças do povo ao Catecismo, pedindo esmolas nas ruas.
Além disso, seus professores eram todos jesuítas.
Não foi fácil a
Bernardo seguir sua vocação. Precisava do aval de seus pais. Achavam que era
apenas uma “paixão adolescente”. Mas não era. Conscientes disso, deram a permissão.
Em 11 de julho
de 1726 seu nome é inscrito no Livro do Noviciado de Villagarcia. Quem mais
teria influência em Bernardo seria o padre João de Loyola. Sendo profundamente
espiritual e com um tino de discernimento de almas, soube dirigir corretamente
a Bernardo, que lhe tinha uma confiança total a ponto de lhe abrir o mais
íntimo de seu coração.
Bernardo foi
estudar em Medina com um claro propósito, tirado da vida do também congregado
mariano São João Berchmans: “Não me envergonharei de praticar o que me
ensinaram no Noviciado”. Terminou o Noviciado com quase 17 anos, emitindo os
Votos simples.
Nos três anos
seguintes, grandes coisas aconteceram. No exterior era o mesmo Bernardo:
alegre, vivaz, bom camarada, estudante dedicado, piedoso... Mas no interior
ocorriam grandes experiências místicas, tanto dolorosas quanto gozosas.
Bernardo seguia
os elevados propósitos da Companhia desde quando na Congregação Mariana: “a
mediocridade não existia na visão de Inácio.” Possuía o jovem jesuíta uma inteligência
viva. Mas não somente nos estudos era Bernardo um destaque: também no trato
social e na pregação.
Bernardo a viveu
nos sete anos na Companhia e de um modo mais intenso a partir de 03 de maio de
1733, quando da descoberta do Coração de Jesus e se deixará transformar por
ela. A Eucaristia foi a raiz de sua descoberta da devoção ao Coração de Jesus,
quando o amor e veneração da Eucaristia cresceu admiravelmente no nosso
Bernardo.
No dia 15 de
agosto, festa da Assunção de Maria, nosso Bernardo teve uma visão em que pode admirar a glória da Virgem no Céu. Viu
Bernardo durante a Santa Missa e lhe disse Nosso Senhor: “O que hoje sentiu, é algo que aconteceu no Céu quando nele entrou
minha Mãe. Tenha-a por sua: tudo o que me pedir por seu intermédio, não duvides
que alcançarás, se é pela minha glória”.
Bernardo foi um
grande enamorado da Virgem Maria e, de uma maneira especial do mistério da
Imaculada Conceição. Isto percebemos desde seu ingresso na Congregação Mariana
do colégio e de suas Letanias perante a tela da Imaculada. Mas parecia que tudo
isso não lhe bastava. O amor à Virgem Maria que lhe ensinara a Congregação
Mariana aumentava cada vez mais e queria fazer algo mais por Ela.
Em 1733, recebeu
uma carta de seu amigo Agostinho Cadaveraz, sacerdote e professor de Gramática
em Bilbao, que lhe pediu um sermão para a Oitava do Corpo de Cristo. Para que
pudesse prepará-lo, padre Agostinho pediu a Bernardo que copiasse certos
fragmentos dum livro - “De cultu Sacratissimi Cordis Iesu”, um livro sobre a
devoção ao Sagrado Coração de Jesus - e que os enviasse a ele. o irmão Bernardo
pegou o livro na biblioteca da escola e o levou para casa para copiar os
parágrafos que eram pedidos.
Eis o relato de
Bernardo: “Eu, que não havia ouvido
jamais coisa assim, comecei a ler a origem do culto do Coração de nosso amor
Jesus, e senti em meu espírito um extraordinário movimento forte, suave e nada
arrebatado nem impetuoso, com o qual me fui logo ao ponto diante do Senhor
Sacramentado a oferecer-me a seu Coração para cooperar o quanto pudesse ao
menos com orações para a extensão de seu culto. (...) Todo o dia transcorreu em notáveis afetos ao Coração de Jesus, e ainda
estando em oração, me fez o Senhor um favor (...) Mostrou-me seu Coração todo abrasado em amor, condoído do pouco que se
lhe estima.”
Bernardo de
Hoyos trabalhou então para que a devoção
ao Coração de Jesus fosse conhecida em Espanha, na América Espanhola e em todo
o mundo. Pediu a seu diretor, padre Loyola, que escrevesse um livro
entitulado “Tesouro Escondido no Sacratíssimo Coração de Jesus”. A primeira
edição do livro foi publicada em Valladollid em 1734. Foram enviados exemplares
à Casa Real de Espanha, a bispos e arcebispos, e a muitas partes da Espanha e
também da América. Numerosos bispos e arcebispos concederam indulgências aos
que o lessem.
O êxito
editorial do “Tesouro Escondido” foi impressionante. A primeira edição, de 1734
em Valladolid, foi seguida por outra em Barcelona no ano seguinte. No ano de
1738 foram feitas oito edições!
Em 2/01/1735 foi
ordenado Presbítero, celebrando sua primeira Missa no colégio de S. Inácio de
Valladolid, em 6 de janeiro.
Em Agosto, passa
para o Colégio de Santo Inácio, dos Jesuítas, em Valladolid. É completamente
infectado pelo tifo. Em 19 de novembro se agrava sua saúde, recebe o Viático e
a Unção dos enfermos. Em 29 vem a falecer com a idade de 24 anos, 3 meses e 9
dias. Em tão pouco tempo de vida chegou a ser o iniciador e o grande apóstolo
da espiritualidade do Coração de Jesus na Espanha.
O processo de
canonização foi iniciado em Valladolid em 1895. O papa João Paulo II o declarou
Venerável em 12/01/1996, lendo o decreto de suas virtudes heróicas.
Foi beatificado
em 10 de abril de 2010 por Bento XVI na mesma diocese de Valladolid.
Bem-aventurado
Bernardo de Royos, rogai por nós!
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