“Somente
os santos deixam rastros, os outros fazem barulho”.
(Torre Pedrera - Rimini, 11 de abril de 1936 - Rimini, 2 de abril de 1970)
Após mais de quarenta e quatro anos de sua morte, a frase anotada por Carla Ronci em seu diário soa quase como uma profecia.
Proclamada
Venerável pelo Papa São João Paulo II, em
1997, a sua causa de beatificação corre rapidamente, no rastro de uma devoção
popular iniciada logo após a sua morte - tanta era a fama de santidade - e com
um rico corolário de testemunhos e publicações a ela dedicadas, sinal de que a
jovem apóstola de Rimini de rastros deixou muitos.
Carla
Ronci nasceu em Torre Pedrera, perto de Rimini (Itália), no dia 11 de abril de
1936, primeira de três filhos. Os pais tinham um negócio de frutas e verduras.
Depois das escolas elementares (ensino básico), foi trabalhar com os pais na
loja deles e aprendeu o ofício de corte e costura. Até os catorze anos era uma
garota como tantas outras, uma adolescente que gostava da companhia dos amigos
e de seu ofício de costureira. Um disco de música, um bailinho, um filme eram a
sua alegria. Lia gibis, fotonovelas, romances policiais. Tinha uma vivacidade
interior explosiva, sempre pronta a correr para onde havia diversão.
Mas
um dia... era o ano de 1950, proclamado Ano Santo por Papa Pio XII, fazia frio
lá fora. Carla observava as irmãs de sua cidadezinha, saindo, como todos os
dias, faça chuva ou faça sol, para ir à Missa, recolhidas, doces, serenas.
Carla começou a se questionar: "Mas, por quê? Por causa de quem? Porque
são tão felizes?" Naquela noite, debruçada na janela de seu quarto,
olhando para fora, ela ficou impressionada com um acontecimento: "Enxerguei
um vulto e o sorriso de um olhar nunca visto". É ela mesma quem conta:
"No coração senti um convite: tive horror de mim mesma. Olhando para
trás, vi meus catorze anos vividos sem verdadeira alegria...".
No
dia seguinte, foi à igreja, enquanto o padre celebrava a Santa Missa. Carla
revê o "vulto" da noite anterior: Jesus!
Tentou
rezar como sabia e, voltando para casa, traçou os primeiros planos para uma
"vida nova", diferente. Jesus lhe pareceu como Aquele que, Único,
merecia o dom de sua juventude e de sua vida.
Então,
ela livrou-se de tudo aquilo que havia procurado até então: nada mais de bailes
frívolos, basta de filmes tolos, chega de gastar dinheiro apenas para se
divertir. A mãe notou que Carla mudava, era mais atenciosa em casa, mais
disponível ao trabalho e ao sacrifício. Sempre alegre, mas de uma alegria nova,
mais profunda, mais verdadeira.
Foi
se confessar. Escolheu um sacerdote que guiasse a sua alma. Abriu seu coração a
Deus: sentia que Ele era a Luz, a alegria, a vida. Iniciava nela uma divina
inundação de amor.
Continuou
a trabalhar em casa e na loja, mas pediu permissão para dar uma pequena
contribuição à paróquia, e se colocou à disposição das atividades pastorais. A
Ação Católica pôs à sua disposição seu campo de serviço. Lia os livros de
formação à fé; e antes de tudo lia os Evangelhos. Após algum tempo, tornar-se
assistente das meninas, depois das aspirantes e, em fim, delegada paroquial.
Havia descoberto Jesus como a única alegria da vida. Havia sido assaltada por
uma sede de fazer o bem a todos.
Encaminhava-se
para os vinte anos e era muito bonita. Muitos jovens lhe faziam a corte, e ela
era sensível ao amor. Mas, cada dia mais, Jesus ganhava espaço nela. Por isso,
Carla rejeitou vários pedidos de namoro e desejou viver um "amor
esponsal" com Jesus, tornando-se uma pessoa consagrada a Ele. O coração
reclamava seus direitos, mas ela não se importava com isso: dois mil anos
antes, Jesus havia dado a si mesmo por ela na Cruz. E, assim, com firme
decisão, rejeitou todo amor humano, porque Um só para ela era o amor: Jesus
Cristo, profundamente amado. Por isso, começou a buscar qual fosse para ela a
vontade de Deus. O confessor lhe permitiu de fazer os votos privados, aos quais
acrescentou um detalhado programa de vida. Mas Carla ainda não estava
satisfeita. Em outubro de 1958, abre um laboratório de corte e costura para
moças.
Aos
24 anos, atravessa o portal do convento das Ursulinas de Gaudino, perto de
Bergamo (Itália), mas a vida no claustro dura pouco: no dia 09 de março de 1958,
o pai, um sanguíneo comunista da Romagna, a leva de volta para casa à força.
Carla se rebela, retoma o caminho do convento, mas o enésimo tumulto da família
convence os seus superiores a mandá-la definitivamente para casa.
“O
convento, para quem o deseja, é um pequeno canto do paraíso”, anota a moça
em seu diário, (junho de 1958).
"Eu não tive essa graça porque não a merecia. Porém, recebi, igualmente, um grande dom: ter vivido entre tantas almas belas por cerca de quatro meses... Me ajudarás, não é Mãezinha, a ser sempre e somente de Jesus?”
A
jovem tem grande confiança em Maria, a qual, ela tem certeza, não deixará cair
no vazio o seu desejo de consagrar-se a Deus. Logo, Carla compreende que o seu
convento será o pequeno mundo de Torre Pedrera, sua cidadela natal, onde ela se
fará límpida testemunha do Evangelho, em sua nova condição de leiga consagrada,
dentro do Instituto Ancelle Mater Misericordiae de Macerata.
Sim, naqueles dias tomara conhecimento da existência do Instituto: podia ser
uma consagrada em um instituto reconhecido pela Igreja, mesmo estando em família,
trabalhando e continuando a empenhar-se na paróquia. Finalmente, encontrara o
seu caminho!
No
dia 6 de janeiro de 1961, faz o pedido para entrar no Instituto, e no dia 6 de
janeiro do ano seguinte, faz os primeiros votos, seguidos, em 1963, dos votos perpétuos,
quando ela se oferece a Deus em favor da santidade dos sacerdotes, e o Senhor
pareceu aceitar a sua oferta. Agora, Carla pertencia apenas a Jesus.
Junto
com os votos, ela confiava à Virgem a sua vida, o seu apostolado, tudo, no
espírito de São Luís Maria de Montfort, como está na regra do Instituto secular
que ela escolheu. Desde então, nada mais quis do que ser santa, de prolongar
Jesus em si mesma, de levar Jesus ao mundo, de expender-se toda pela
santificação dos sacerdotes.
Carla Ronci e sua "famosa" lambreta, que usava
em suas iniciativas de apostolado.
|
As
suas atividades não mudaram exteriormente, mas Carla tornava-se cada vez mais
abrasada de amor. Escrevia: "Eu devo ser santa, senão fracassarei na
minha vocação de alma consagrada. Minha tarefa é levar Jesus ao mundo. Eu devo
ser um lembrete para o mundo. O mundo quer ver Jesus em nós".
Havia
decidido rezar e oferecer muito, toda si mesma, pelos sacerdotes, aos quais,
com coragem e humildade, fazia chegar convites fortíssimos à santidade. E Deus
aceitava a oferta generosa. A ajuda para tantas almas chegava, mas Carla sofria
tentações, aridez, buio dello espírito - escuridão do
espírito.
Por
algum tempo, utilizou-se da Vespa (celebre motocicleta italiana, que ela
alegremente cavalgava), depois conseguiu ter um carro (uma Cinquecento).
Ninguém podia mais detê-la em suas ações de apostolado, especialmente entre os
jovens. A "santa da Vespa" é uma jovem moderna, cheia de vida e
sempre com o sorriso nos lábios, que mostra até uma peculiar e curiosa atenção
para com a própria feminilidade. A quem a critica um pouco pelos cuidados que
reserva ao seu aspecto físico (e Carla é mesmo uma moça belíssima), ela
responde: "A esposa de Jesus deve ser sempre elegante e bela".
Carla foi uma excelente e exemplar catequista.
Evangelizava não somente por palavras, mas,
por gestos concretos.
|
Moderna
figura de contemplativa na ação, Carla era uma moça profundamente enamorada de
Cristo e era apoiada, em seu caminho de perfeição espiritual, por uma grande
devoção pela Virgem Maria, tanto que havia se consagrado ao seu Coração
Imaculado, no espírito da Milícia da Imaculada, tomando incansável zelo por
ela.
Sempre
bela, elegante e dulcíssima: tudo nela inspirava alegria e plenitude de vida:
irradiava Cristo! Por Ele, estava sempre pronta a trabalhar sem querer nunca
sentir o cansaço. Aqueles foram anos em que ela multiplicava energias e
talentos pelo Esposo que amava e de cujo amor nunca duvidava.
No
começo de 1970, Carla parecia exausta. Seguiram-se as primeiras internações no
Hospital Sant’Orsola de Bolonha. Os médicos diagnosticaram um carcinoma
pulmonar. Tinha poucos meses de vida.
Apesar
disso, para qualquer um que lhe perguntasse sobre a sua saúde, Carla respondia:
"estou bem! Com Jesus, estamos sempre bem!"
Submetida
a muitos, difíceis e dolorosos exames, ela confidencia a seu diário: “Sou
feliz por lutar, sofrer, viver. Quando o sofrer se torna alegria, não podemos
pedir mais nada. Por este e por tantos outros dons, damos graças ao Senhor”.
Um
dia, naquela primavera, foi à paróquia portando no pescoço uma vistosa echarpe
vermelha. A quem lhe perguntava o porquê da escolha, ela respondia: "Estou
feliz e não quero dar aos outros pensamentos tristes. Quero levar alegria e
contentamento".
Do
hospital de Bolonha, já no fim, sentindo a morte se aproximando, escreve a seu
diretor espiritual: "Me ajude o senhor, padre, a fazer chegar meu grito
ao Senhor, para que Lhe agrade e aceite esta oferta: Eis-me aqui, Senhor, tenho
apenas este meu coração, que está cheio de Ti que És o infinito. Isto te
ofereço por Teus sacerdotes. Tome toda a minha vida. Se procuras uma vítima de
reparação pelas caídas deles, por suas infidelidades, por aquilo que não fazem
e deveriam fazer, Senhor, por eles me ofereço vítima, disposta a tudo, a tudo,
mas que não nos falte o Teu Sacramento, porque o sacerdote é um Sacramento de
Ti, um portador de Ti, Senhor; que seja puro e ilibado o Sacramento que é o
padre, assim como Tu o quiseste".
A
um jovem seminarista que ia se tornar padre, Carla diz: "Ou padre, como
te quer Jesus, ou nada!". Para Carla não podiam haver meias medidas ou
compromissos: quem se torna padre deve ser santo.
Domingo,
dia 2 de abril de 1970, depois de ter passado pelo hospital de Bolonha, é
transferida para uma clínica de Rimini, a casa de saúde “Villa Maria”. Tinha
apenas trinta e quatro anos. Recebeu a Extrema Unção e disse aos presentes:
"Não sofro mais. Estou muito bem... Ai está, é o Senhor que vem e me
sorri. Nos vemos no Céu!" Seu rosto se compôs na paz, sorridente. Já
contemplava Deus.
Quero
levar alegria e contentamento.
Agora,
Carla repousa em sua igreja paroquial, e a causa de sua beatificação avança.
Com sua vida consagrada no mundo, Carla havia realizado o seu sonho: irradiar
Jesus nas almas, tornar-se "mãe" de sacerdotes santos, oferecer-se
pelo mundo, promover e apoias as vocações.
Carla
é uma luminosa apóstola de nosso tempo, testemunha feliz de um Sim dito
a Deus pelo mundo!
"O
mundo que ver Jesus em nós".
ORAÇÃO PARA PEDIR A INTERCESSÃO DE CARLA
Ó Deus, Vos agradeço por haver suscitado no meio de nós a Vossa
serva Carla Ronci, e bendizemos a ação poderosa do Vosso Santo Espírito, que
operou com abundância de frutos na sua pessoa.
Vos louvamos por sua total consagração ao Senhor Jesus na
castidade, na pobreza e na obediência; por sua generosa e sábia dedicação à
tarefa educativa na normalidade dos empenhos eclesiásticos; pelo oferecimento
de seus tribulações e obras em favor das vocações sacerdotais e pela santificação
dos padres; pelo ardor na oração, que a tornou forte e serena no sofrimento; pela
simplicidade de vida e pela constância no serviço aos irmãos.
Concedei-nos, ó Pai, pela intercessão da Venerável Carla, de
podermos ser fieis, cotidianamente, à Vossa vontade. Infundi em cada cristão o
amor pela Vossa Igreja e o esforço para a santidade, no estado de vida próprio
de cada um.
Pedimos para nós toda graça espiritual e material, em particular
__________.
Se for Vosso desenho de amor, fazei com que Carla seja
proclamada beata e conhecida em toda a Igreja, pelo nosso bem e a glória de
Vosso nome. Amém.
"Arrivederci
in Cielo!" - "Nos vemos no Céu!"
3 comentários:
Carla Ronci, Catequista, roga por nós!
Grande exemplo de entrega e amor a Deus!
Como posso conseguir uma relíquia da venerável carla?
Postar um comentário