Francisco Spoto
nasceu a 08 de Julho de 1924, em Raffadali (Itália). Os pais, Vincenzo Spoto e
Vincenza Marzullo, educaram-no para uma
fé profunda e genuína e transmitiram-lhe um grande sentido do dever. A família,
a escola e a paróquia foram os ambientes frequentados por Francisco: os seus
educadores e os pais em primeiro lugar intuíram que naquele menino bom,
consciencioso e sensível estavam amadurecendo os gérmens de vocação ao serviço
de Deus e dos irmãos.
Com a idade de
12 anos, respondendo ao chamado de Deus, entrou no Seminário dos Missionários Servos dos Pobres (os
Padre Boconistas) de Palermo, para seguir a estrada da “Caridade sem limites” traçada pelo Beato Giácomo Cusmano. Quando
jovem sentiu o forte desejo de partir para as missões, mas soube aceitar a
vontade de Deus que tinha para ele outros desígnios.
Desde o início
mostrou possuir um carácter determinado: humilde, mas tenaz, com o sentido do
dever e da responsabilidade muito acentuado. Exatamente por causa da sua
determinação e tenacidade ganhou dois apelidos, respectivamente dos
companheiros e dos superiores: "alemão"
e "rocha", nomes que dão
uma clara imagem do temperamento do jovem. Durante os anos de seminário nasceu
nele a paixão pelos estudos, que se traduziu na sua breve vida, numa sólida
preparação, claramente visível nos seus escritos, cartas e homilias. Cultura
não finalizada a si mesma, mas colocada ao serviço do amor de Deus e dos
irmãos.
No dia 01 de
Novembro de 1940 Francisco emitiu a sua primeira profissão. Dotado de
inteligência vivíssima, se empenhou apaixonadamente nos estudos que concluiu
com ótimos resultados junto ao Seminário Arquidiocesano de Palermo. A 22 de
julho de 1951, no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (Palermo), foi
ordenado sacerdote pelo Cardeal Ernesto Ruffini. Imediatamente dedicou o seu
ministério sacerdotal ao desenvolvimento das obras típicas da Congregação dos
Servos dos Pobres. Destinado pelos superiores ao ensino, desempenhou ao mesmo
tempo o ministério sacerdotal com zelo. No Capítulo de 1959 foi eleito Superior
Geral com apenas 35 anos, com a devida dispensa da Santa Sé por causa da sua
jovem idade. Consciente das novas responsabilidades com tenacidade renovada,
determinação e sentido do dever ainda mais fortes, empenha-se com todas as
forças a dar impulso e vitalidade à Congregação, colocando-se ao serviço de
todos com ativa humildade e amorosa firmeza. A sua vida perfuma e vibra de
oração, por ele considerada o centro da atividade quotidiana.
O seu modo
concreto permitiu-lhe concluir a aprovação das Constituições da parte da Santa
Sé, a nova Casa de estudos teológicos em Roma e, em 1961, a inauguração da
missão de Biringi, na atual República Democrática do Congo (ex-Zaire). E,
precisamente lá, na terra tão amada, Pe. Spoto transcorrerá os últimos meses da
sua vida numa corrida toda orientada para a santidade e para o martírio.
Com efeito, no
dia 04 de Agosto de 1964, partiu para Biringi a fim de confortar os irmãos, que
se encontravam em notável dificuldade devido à situação política crítica e
perigosa na ex-colônia belga que, após obter a independência em 1960,
atravessava um período muito instável, com lutas assinaladas pela ideologia
materialista e antirreligiosa, que se tornaram mais ferozes a partir de 1964
devido à perseguição de inúmeros religiosos e religiosas. Neste contexto, Padre
Francisco partiu para o Congo, cheio de entusiasmo, embora consciente de que
poderia perder a própria vida. No mês de Setembro, quando a situação em Biringi
se fez mais difícil, decidiu deixar o cargo de Superior-Geral, comunicando a
decisão numa carta dirigida ao Vigário-Geral: "Se permaneço aqui – confia ao Vigário-Geral –não é por teimosia ou desinteresse, mas
somente por um elevado sentido do dever, só pelo interesse e amor da
Congregação" (Carta ao Vigário-Geral, 20 de Setembro de 1964). Podendo
escolher entre o retorno à Itália e a permanência na missão, não hesitou nem
mesmo por um momento e quis permanecer na “catacumba verde” para condividir a
paixão dos coirmãos. Um bom pai não abandona os próprios filhos na necessidade
extrema.
O mártir não
procura a morte e faz de tudo para evitá-la, mas se deve passar por ela sem
fugir – fruto das provocações do perseguidor – , então a aceita e oferece o
sacrifício supremo de si, a suporta pacientemente por amor a Deus, como
testemunho da própria fidelidade a Cristo. O fim que teve o Padre Francisco
Spoto, sétimo sucessor do Beato Giácomo Cusmano, confirma tudo isso. De fato,
ele não buscou a morte, mas estando diante de sua aterradora presença, a
aceitou. Agiu com uma digna e cristã resignação por amor a Cristo, oferecendo a
própria vida também em troca daquela dos seus três Coirmãos, como
profeticamente havia confiado alguns dias antes: “O Senhor deverá contentar-se com
três cálices cheios de amargura, mas apenas um de sangue”.
No início de
Novembro, Padre Spoto e três irmãos de hábito foram obrigados a deixar a missão
e a vagar sem rumo, escondendo-se e procurando fugir dos ferozes “Simba” (grupo de guerrilheiros anticristãos)
que os seguiam para assassiná-los.
Nesta
angustiante situação, Pe. Francisco afinou o sentido do sacrifício, aperfeiçoou
a vontade de oferecer a vida para que os companheiros fossem salvos. Não
obstante vivendo esta vida errante, repleta de sustos e medos, Pe. Francisco
conseguiu escrever uma espécie de "diário".
No dia 03 de
Dezembro os seus companheiros foram capturados. Embora tenha conseguido fugir,
passou a noite a vaguear pelo bosque com os pés descalços, sedento, faminto,
ensanguentado... Na manhã seguinte, encontrou os três companheiros livres,
milagrosamente incólumes.
Na noite de 11
de Dezembro Pe. Francisco foi atacado por dois guerrilheiros e, devido às
violentas pancadas, permaneceu paralisado. A partir daquela trágica noite até
ao dia da sua morte ele foi transportado numa espécie de maca, ao prosseguirem
a fuga para evitar nova captura. Pe. Francisco morreu a 27 de Dezembro de 1964,
após ter recebido o sacramento da unção dos enfermos. Foi sepultado nas
proximidades da cabana onde se refugiava. Foi, portanto, um verdadeiro martírio
que lhe foi infligido in odium fidei pelos revolucionários
ateus congoleses, que espreitavam a ele e aos outros religiosos da Missão de
Biringi. Não obstante as dores atrozes, ele enfrentou os últimos dias do evento
supremo com ânimo cristão, e nos confrontos com os algozes, várias vezes –
mesmo que lacrimosamente, pois quase não podia falar – exprimiu o mais completo
perdão.
Os seus irmãos
de hábito salvaram-se e regressaram à Itália. Sepultado em Biringi, Enterrados
em Biringi, os seus veneráveis despojos foram transladados para Palermo, na
Itália, em 1984 e sepultados em 1987 na Paróquia “Coração Eucarístico de
Jesus”, na via Corso Calatafimi, 327.
A oferta suprema
do Bem-Aventurado não foi em vão e o seu sangue inocente irrigou os torrões
daquele pedaço de terra da África, em cujo seio cresceram e desenvolveram
frutos copiosos. De fato, depois da morte de Pe. Spoto, a Congregação dos
Missionários Servos dos Pobres tem no Congo cerca de 50 religiosos em cinco
comunidades. Verdadeiramente o sangue dos Mártires é semente de novos cristãos!
O Servo de Deus
se consumiu como lenha seca no caminho, para iluminar a quem não era ainda
iluminado por Cristo. Na sua vida terrena, terminada aos 40 anos, uniu a
mansidão à fortaleza, a paciência à afabilidade, a coerência à compreensão, a
cultura à simplicidade. Caminhou ao encontro da morte confiando-se ao mistério
insondável e adorável da vontade de Deus, com o espírito da obediência filial
de Jesus vivida até à morte de cruz (Fl 2,8).
Como a sua fama,
com o passar dos anos crescia sempre mais, aos 16 de dezembro de 1992, em
Palermo, deu-se início ao Processo diocesano de Beatificação.
Aprovada pela
Santa Sé a validade jurídica dos Atos e redigida a Positio, em seguida aos votos favoráveis emitidos pelos Consultores
teológicos e pelos Cardeais e Bispos, o Santo Padre Bento XVI autorizou em 26
de junho de 2006 a promulgação do Decreto referente ao martírio de Padre
Francisco Spoto, que foi beatificado no dia 21 de Abril de 2007.
Oração:
Beato
Francisco Spoto, nós rendemos graças ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo pelas
maravilhas operadas em ti. Tu que realizaste o desígnio misterioso de Deus e te
deixaste conduzir no caminho da caridade e do sacrifício total, derramando o
teu sangue nas terras áridas da África, dá-nos uma fé ardente e operosa,
conserva-nos no amor a Deus e aos irmãos, abre o nosso coração à esperança e
faze que, enquanto confiamos as nossas necessidades à tua intercessão, possamos
ser capazes de realizar o projeto que Deus tem para cada um de nós. Amém.
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