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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

SANTA EDWIRGES, Viúva e Religiosa, padroeira dos desempregados e dos endividados - 16 de outubro

Um modelo exemplaríssimo de todas as virtudes apresenta-nos a igreja na pessoa da Santa duquesa é de virgens tia materna de Santa Isabel da Turíngia. 

O pai de Edwirges era Bertoldo duque de Caríntia, Margrave de Meran e conde do Tirol. A mãe era igualmente de alta linhagem. 

 Edwiges, ainda menina de tenros anos, dava a conhecer aos pais que era de Deus privilegiada, por uma inteligência não comum naquela idade. Além disso, notava-se nela uma inclinação bem acentuada para todas as virtudes, coisa também raríssimas vezes observada em crianças. 

Donzela nenhum atrativo experimentava para os prazeres e divertimentos mundanos ler e rezar era-lhe por assim dizer a única distração.

Tendo atingido a idade de 12 anos para obedecer aos pais, contraiu núpcias com Henrique, duque da Polônia e Silésia. Esposa exemplaríssima, não tinha em mira outra coisa senão a glória de Deus, a santificação de sua alma e a felicidade do próximo.

Com permissão do esposo, dedicava os dias de festa, bem como a santa Quaresma, a exercícios de mortificação. Um dos seus lemas era: “quanto mais ilustre se for pela origem tanto mais se deve distinguir pela virtude, e quanto mais alta for a posição social, tanto mais obrigação se tem de edificar ao próximo pelo bom exemplo”.

Deus abençoou o matrimônio do casal com sete filhos, que foram educados no temor de Deus 

Edwirges contava apenas 20 anos e o esposo 30, quando, impelida pelo desejo de servir a Deus em maior perfeição, de acordo com Henrique, tomou a resolução de viver em completa continência, e ambos fizeram um voto nesse sentido, que depositaram nas mãos do bispo. 

Desde aquele momento prosseguiu no caminho da perfeição. Todo tempo, não tomado pelas ocupações do dever, pertencia desde então a oração e a beneficência.

Consolo particular dava-lhe a audição da santa missa, tanto que assistia cotidianamente a tantas missas quantas lhe era possível, e com uma devoção que a todos edificava.

Era uma grande protetora das viúvas e órfãos. Grande parte dos protegidos comiam na sua própria mesa, sendo que ela mesma os servia. Frequentes visitas fazia aos hospitais, e a dedicação como o amor ao sacrifício, faziam com que em pessoa lavasse os pés dos leprosos e lhes beijasse as úlceras. 

Com o esposo insistiu para que nas proximidades da cidade de Bressel erigisse um convento para as religiosas da ordem de Cister. Naquele convento muitas meninas pobres receberam educação e instrução religiosa. É de virgens mesma costumava passar Dias entre as freiras acompanhando todos os exercícios da comunidade no vestir não se lhe notava nenhuma ostentação, nem licenciosidade alguma, de modo que o exemplo da duquesa obrigava a todos na corte ao maior recato.

Contrariedades e graves desgostos não faltaram para pôr em prova as virtudes. Uma guerra imprevista arrebatou-lhe o esposo que caiu nas mãos do inimigo. Ao receber esta notícia, é de virgem cheia de fé, levantou os olhos para o céu e disse: espero vê-lo em breve são e salvo. Ela mesma se dirigiu ao duque Conrado, que lhe guardava preso o esposo, errou com tanta insistência, que obteve a libertação de Henrique, o qual adoeceu e poucos dias depois morreu. 

 Às pessoas que lhe apresentavam pêsames, é de virgens respondia: compre adorarmos os desígnios da Divina providência na vida e na morte nosso consolo deve consistir no cumprimento de sua santíssima vontade.

Três anos depois, seu filho Henrique perdeu a vida, numa batalha contra os tártaros embora este golpe crudelíssimo referiu-lhe profundamente o coração de mãe, e Edwirges demonstrou a mesma resignação que por ocasião da morte do esposo. 

O resto da vida passou no convento de Trebnitz, onde sua filha Gertrudes era abadessa. Aí viveu como a última entre as freiras as regras e as constituições da ordem viram na Santa duquesa a observadora mais fiel. Se sua vida antes da entrada no convento era de sacrifícios e penitências, no mosteiro redobrou os exercícios de austeridade só interrompia o jejum aos domingos e Dias Santos o único alimento que tomava era pão, água e legumes, abstendo-se por completo do vinho e da carne o cilício era-lhe companheiro inseparável, e o leito eram duas tábuas no inverno mais rigoroso andava descalça sobre a neve e o gelo. Apenas 3 horas antes das matinas dedicava ao sono passando o resto da noite em oração, sujeitando o corpo, não raras vezes, assevera flagelação com esses exercícios tão duros de penitência, é de virgens emagreceu, e o corpo tomou-lhe feições esqueléticas. 

Tinha uma devoção terníssima à sagrada paixão e morte de Jesus Cristo, que era o assunto de suas meditações cotidianas acompanhando a nosso senhor nos sofrimentos, derramava abundantes lágrimas. Terno amor dedicava a Santíssima virgem. O rosto incandescia-se-lhe ao pronunciar o nome da doce mãe Celeste. A humildade de Edwiges foi recompensada com o dom dos milagres fazendo uma vez o sinal da cruz sobre uma cega esta recuperou a vista imediatamente muitas curas maravilhosas se efetuaram por sua intercessão.

O fim de tão santa vida foi uma morte santíssima. Acometida de grave doença, pediu os santos sacramentos, os quais recebeu com tanto fervor, que comoveu a todos que assistiram morreu em 1243. 

Numerosos foram os milagres que se lhe observaram no túmulo. Clemente quarto deu-lhe a honra dos altares. Santa Edwirges é a padroeira da Polônia.


Reflexões 

Tanto na vida como na morte devemos adorar humildemente as determinações da Divina providência. Assim falou Santa Edwiges, quando o marido lhe foi arrebatado pela morte a mesma conformidade heroica manifestou quando lhe morreu o filho primogênito. Qual é a nossa conduta em acontecimentos semelhantes? 

Nunca teremos a tranquilidade de espírito, se não nos sujeitarmos as ordens divinas, conformando a nossa vontade com a de Deus por que não nos sujeitamos? As ordens de Deus são justas, embora muitas vezes incompreensíveis. 

Nada nos poderá acontecer sem que Deus disse tenha conhecimento, e sem que tenha dado o seu consentimento. Tudo que Deus ordenar a nosso respeito, é justo, e é para o nosso bem. É a fé que assim nô-lo ensina. 

Ensina mais dois pontos que ninguém se deve opor à vontade de Deus claramente conhecida. É necessário, pois, que dá necessidade se faça virtude, conformando-nos com aquilo que Deus quer, se assim fizermos, teremos a paz em nossas almas, e poderemos obter muitos merecimentos para o céu. 

 

Fonte:

Livro "Na Luz Perpétua", 1959.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

SANTA TERESA DE JESUS, virgem e doutora da Igreja - valores humanos da Santa.


A pessoa humana, mais ainda o religioso, necessita ter uma meta clara para poder caminhar em direção a ela. Neste sentido, formar significa apresentar valores que atraiam as pessoas e as motivem a conseguir o fim que eles propõem.

Santa Teresa mesma, no Caminho de Perfeição inicia apresentando o objetivo do novo Carmelo (c.1-3) e quando vai falar da oração apresenta primeiro o fim.

Diz-nos o motivo:

“...Para qué pensáis, hijas, que he pretendido declarar el fin y mostrar el premio antes de la batalla, con deciros el bien que trae consigo llegar a beber de esta fuente celestial, de esta agua viva? Para que no os congojéis del trabajo y contradicción que hay en el camino, y vayáis con ánimo y no os canséis; porque, como he dicho, podrá ser que después de llegadas, que no os falta sino bajaros a beber en la fuente, lo dejéis todo y perdáis este bien, pensando no tendréis fuerza para llegar a él y que no sois para ello.” (C 19,14).

Tradução: ..Por que pensais, filhas, que tentei anunciar o fim e mostrar a recompensa antes da batalha, falando-vos do bem que advém de vir beber desta fonte celeste, desta água viva? Para que não vos aflijais com o trabalho e as contradições que se apresentam no caminho, e para que caminheis com coragem e não vos canseis; porque, como eu disse, pode ser que, depois de chegardes, quando vos resta apenas descer para beber da fonte, deixeis tudo e percais este bem, pensando que não tereis forças para alcançá-lo e que não estais à altura.” (C 19,14).

Para a Santa, as três virtudes necessárias à oração são o amor fraterno, o desapego e a humildade (cf. C 4,4).

Dá orientações sobre outras qualidades necessárias nas comunidades. Elas devem servir de estímulo para adquirir virtudes humanas, com vistas à convivência fraterna (aqui estão nossos maiores desafios...).

Por isso, ao apresentar alguns valores que a Santa valoriza, recordamos que a autêntica espiritualidade cristã humaniza (“quanto mais santas, mais afáveis”). Os apresentamos tendo por base o Diccionario de Santa Teresa; doctrina e historia (Burgos: Monte Carmelo 2002), sob a direção do p. Tomás Alvarez.

 

ABNEGAÇÃO

Aparece como “negação”, “mortificação”, “renúncia”, “desapego”. Em Teresa tem sentido dinâmico e evangélico, como em C 15,7. O negar-se a si mesmo segundo a lógica do seguimento a Cristo para alcançar a liberdade ou “ser perfeito”, segundo o contexto teresiano (C 15,6). A abnegação e a cruz de cada dia são sinais de uma decisão amorosa de seguimento do Senhor, conforme a P 20,1: “Abracemos bem a cruz e sigamos a Jesus”.

Disposição radical: Para o/a consagrado a Cristo, deve ser uma decisão radical: “Não sabeis, irmãs, que a vida do bom religioso e dos mais chegados ao Senhor é um longo martírio?” (C 12,2). É um chegar ao “amor perfeito” (C 6) e dar-se “todas ao Todo sem divisões” (C 8,1).

Significa deixar tudo o que se tem: bens, honra, parentes que pudessem impedir a entrega ao Senhor. (cf. C 3,7; cc 2.3.8.9). Em segundo lugar implica a renúncia a si mesmos (cf. C 10, tít.): amor próprio, enfermidades e até o medo de morrer por Cristo  (C 10,5: 11,4; V 13,7; F 27,12).

Disponibilidade constante: podem parecer exageros as orientações de Teresa para a abnegação (C 12,4). São disposições iniciais, sem as quais “nunca faremos nada” (C 11,4). “Quem de verdade começa a servir o Senhor, o menos que lhe pode oferecer é a vida. Pois se lhe deu a sua vontade, o que teme?” (C 12,2). “Grande fundamento é o começar com determinação de levar caminho de cruz desde o princípio” (V 15,13), “pois nossos desejos não devem ser os de descansar, mas padecer, pra imitar em algo ao nosso verdadeiro Esposo” (F 28,43).

 


AFABILIDADE

Virtude que faz parte do chamado humanismo teresiano. Teresa a entende como atitude de agradar, simpatia e suavidade no trato com os outros, importantes na convivência comunitária. Em contraposição a estas qualidades, temos a rudez e aspereza, atitudes de mutismo, ou retraimento em si mesmo ou modos descorteses.

“Afável = conversável = amoroso são equivalentes no léxico teresiano (C 41,7; Mo 3-4).

Vê em Cristo o modelo: V 38,21: na visão de Cristo, seu rosto é “de tanta formosura, com uma ternura e afabilidade” que subjugam.

Admira São Pedro de Alcântara e sua penitência e “que em toda sua santidade..., era muito afável, mesmo que de poucas palavras... era afável e conversável (simpático) (V 27,18).

Gracian “é agradável no trato”... possui “ uma suavidade tão agradável”... (F 23,7), traço que propõe como modelo na vida religiosa feminina em F 23,2.

Teresa era consciente de sua simpatia desde cedo (V 1,8): “Nisto de dar contento a todos tive em extremo cuidado, ainda que a mim me desse pesar...” (V 3,4). Declara-se pouco amiga de “santos encapotados” (5 M 3,11). Seu primeiro biógrafo, Francisco de Ribera declara dos testemunhos dos que conviveram com ela: “No conjunto, a pessoa de Teresa parecia bem: tinha graça no andar, era amável e aprazível, que todas as pessoas que a olhavam, comumente aprazia muito... sua fala era com graça e sua conversação mui suave, grave, alegre, simples (llana)... entretinha maravilhosamente a todos que a ouviam... falava familiar e humanamente com todos, com alegria, com amor, sem encolhimento, com uma santa e aprazível liberdade".

Inculca em sua Monjas: “Irmãs, tudo o que puderdes, sem ofender a Deus, procurai ser afáveis e...que as pessoas com quem tratardes gostem de vossa conversação” (C 41,4).

Recorda na Cta 12.12.1576 ao pouco propenso aos bons modos do ex-militar Ambrósio Mariano.

 

AGRADECIMENTO/GRATIDÃO

Também característico do humanismo teresiano. É condição psicológica e ética, iniludível nas relações sociais, mas que também impregna sua vida teologal e experiência mística. Reconhece-se: “com ser eu de condição agradecida” (V 35,11) e na Cta 264 a M. de s. José: “Bem vejo que em mim não é perfeição isto de ser agradecida; deve ser de minha natureza que, com uma sardinha que me deem, me subornarão” (cf. Cta 79 a Teotônio de Bragança; V 5,4: “parecia-me ser virtude o ser agradecida”).

Sua vida familiar está marcada pelo sentido de gratidão a todos, pelo amor que lhe deram, atenções e sacrifícios, especialmente seu pai, Alonso e seu irmão Lourenço. O “agradecer” é para ela uma espécie de pano de fundo de todas suas relações de amizade, desde o bispo, d. Álvaro de Mendonza, o pe. Rubeo, d. Guiomar de Ulloa ou d. Luisa de la Cerda,  até os carteiros, carroceiros... Como exemplo o comerciante de reses Antonio Ruiz (Cta. 146,2; 148,8) ou o sacerdote sevilhano Garciálvarez (Cta 264).

O “ser agradecidas” inculca nas monjas:

“Entendamos bem, como isto é, que Deus nos dá [seus dons] sem nenhum merecimento nosso, e o agradeçamos” (V 10,4); na pobreza do Convento, ensina a agradecer por qualquer ajuda material (C 2,10); elogia a “Beatriz... sempre louvava a Deus e um agradecimento grandíssimo” (F 12,1). Agradecer a Deus pelo dom da vocação (C 8,2) e pela tomada de consciência dos dons recebido de Deus em V 15,15 (Cf. V 1,8: graças da natureza,  que ela esbanjou: V 18,3.

O receber de Deus “que nunca se cansa de dar” (V 19,15; V 39,6; F 2,7).

 

ALEGRIA

O léxico teresiano é amplo: gozo, deleite, contentos, júbilo, gostos, sorriso, festa, recreação, presente, consolos, céu...

Em sua pessoa e sua vida a alegria é uma das suas características psicológicas mais destacadas: é capacidade de desfrutar e de espalhar ao seu redor, como recorda de sua adolescência: “dava-me o Senhor a graça de contentar onde quer que estivesse, e assim, era muito querida” (V 2,8). Na enfermidade de sua juventude (23 anos, após o colapso de 1539) perde sua habitual alegria e já em Becedas vive a tristeza, recordada em V 5,7; prontamente a recupera e em sua convalescença da paralisia diz: “tudo passei com grande alegria”...  edificava a todas (cf. V 6,2). Isto conservará em meio aos males que padece (V 30,8).

Vive de maneira gozosa sua vida religiosa: V 4,2; 32,12; 33,2 e com sua amigas: 36,8. Desfruta das festas e compõe poesias para as festas de Natal (R 48) e de s. José (V 6,7).

É capaz de rir de si mesma (7M 2,11) ou dos convencionalismos da sociedade de sua época (V 38,4).

Nas Cartas constam vários aspectos que lhe fazem rir: 17.1.1577,14 a Lourenço; 9.1.1577,5 a M. de s. José. É capaz de rir do próprio demônio quando perde o medo dele (V 36,11; 31,3).

Na Vida religiosa organiza o “estilo de irmandade e recreação que levam juntas” (F 13,5) e que propõe a João da Cruz  e introduz nas estruturas da vida comunitária (duas horas de recreação: Const. 9,6-8). No C inculca: “Procurai folgar-vos com as irmãs quando tiverdes recreação... ainda que não sejam do vosso gosto que... tudo é amor perfeito” (C 7,7). Ela mesma se alegra por ver a alegria interior das irmãs: 6 M 6,12; F 1,1; 27,12.

Na recreação com as irmãs improvisa algo festivo para realçar a alegria do grupo, como quando chegam as novidades da América (Cta 11.7.1577,4.6; ou quando aplaude a alegria das meninas admitidas na comunidade (Cta de dez. de 1576 a Gracián).

O fato de ser monja lhe é de alegria: esta jamais lhe faltou V 4,2; Cf C 8,2; V 5,1. Está convencida que ser religiosa sem ser alegra é um contra-senso (C 13,7; cf. V 35,12; 36,2. Escreverá uma frase lapidária: “Uma monja descontente, eu a temo mais que a muitos demônios" (cta. A Gracián 14.7.1581).

Dentre as fontes de alegria destaca a pobreza evangélica (C 2; F 15,14: 14,5) e quando acolhe alguma candidata pobre (cta.a Bañez 28.2.1574,2; F 27,12-13). Os poemas podem ser um bom exemplo de sua alegria e vai promovê-los entre as comunidades da Andaluzia a troca de canções elaboradas a partir de canções profanas (cf. Cta. 9.1.1577,5-6).

 



ALEGRIA E VIDA ESPIRITUAL

O primeiro conselho aos principiantes na vida de oração é o da “alegria e liberdade” (V 13,1). É a alegria interior que entende Teresa, que vai além do psicológico da pessoa e da convivência gozosa com a comunidade e a recreação. Funda sua raiz no mistério da Trindade, nas palavras bíblicas, sobretudo em que “Deus tem seus deleites de estar com os filhos dos homens” (V 14,10; 1M 1,1; E 7,1) e que entre os filhos dos homens Ele deleita-se particularmente em Jesus (Mt 3,17), que a faz prorromper em um grito de alegria: “Alegra-te alma minha, pois existe quem ame a Deus como Ele merece. Alegra-te...dá-lhe graças...” (E 7,3; Cf. id, 1-2: 17,15; Conc. 1,2).

A oração deve ajudar para criar este transfundo gozoso na vida do orante, “alegrando-se [com Cristo] de seus contentamentos” (V 12,2 e C 26,4). Alegria que é bem aventurança dos perseguidos, como aparece em 7M 3,5 e que já havia formulado em C 36 sobre o verdadeiro contemplativo. De si mesma afirma isto, em um momento crítico de sua vida (Cf. F 27,20; 7 M 3,15).

 

AMIGOS

No plano doutrinal, Teresa ensina que ter amigos é um grande bem e não tê-los é um mal e que para a vida espiritual “é coisa importantíssima” tê-los, para partilhar com eles afetos, ideais e para “ajudar-se uns aos outros” (V 7,20).

Antes de sua conversão (em 1554, aos 39 anos) recorda muitos amigos de infância, adolescência, juventude e início da idade madura. Dentre seus irmãos, na infância, Rodrigo era o que ela mais gostava (V 1,4). Na adolescência, os primos eram sua amizade superficial; recorda com pesar uma prima anônima “de costumes levianos” a quem se afeiçoou e que a coloca no rol das “más companhias” (V 2,2). Depois da paralisia teve falsas amizades, em especial com um, que se “afeiçoou muito” (V 7,7) e de muitos contrastes em sua consciência (V 7,6-8), mas com a anuência de confessores. Entre os 30 e 40 anos ainda não haviam florescido grandes amizades em Teresa ( com exceção de Maria de Briceño, nas agostinianas – V3,1ss-  e do cura de Becedas (V 5,3).

Depois de sua conversão (1554-1562), na Encarnação tem um grupo de amigas e particular proximidade com Juana Juarez (V 35,7). Neste tempo forma-se ao redor um primeiro grupo de amigos “os 5 que no presente nos amamos em Cristo” (V 16,7) (rastreando, poderiam ser estes 5: D. Guiomar de Ulloa, Pedro Ibañez, dominicano, Garcia de Toledo e, talvez,  Gaspar Daza e Francisco de Salcedo). Ratifica esta amizade com suas célebres palavras: “Nestes tempos, são necessários amigos fortes de Deus, para sustentar aos fracos” (V 15,5).




Na fundação de S. José (1562-1567) surge um novo tipo de amigas dentro da comunidade religiosa: são no início 4 jovens e depois doze e Teresa (“Colégio de Cristo”) a quem no caminho se dirige freqüentemente com palavras de afeto: “amigas e irmãs minhas”. Dez a doze anos mais tarde recordará estes tempos como os “mais descansados de minha vida” (F 1,1.6).

Amigas no Carmelo (1567...) forma muitas, quase impossível enumerar. As mais relevantes são Maria de S. José, priora de Sevilha, de quem dirá que é “muito melhor do que eu” em F 25,6. O melhor testemunho desta amizade são as mais ou menos 60 cartas que conhecemos de Teresa a ela. Sua sobrinha, Maria Bautista, priora do Carmelo de Valhadolid (17 cartas a ela), Ana de Jesus (Lobera), Isabel de S. Domingo, Catalina de Cristo, Ana de san Bartolomeu...

Entre as damas de sua época, temos d. Guiomar de Ulloa, Joana Dantisco (Mãe de Gracián) Catalina de Tolosa, Maria de Mendonza, a Duquesa de Alba, Maria enriquez....

Dentre os eclesiásticos temos os bispos: D. Álvaro de Mendonza, o Pe. Geral, Rubeo, D. Teutônio de Bragança, Alonso Velázquez. Teólogos: Domingos Báñez (cta. 61,1 – 28.2.1574; Pedro Ibañez e Garcia de Toledo, S. Pedro de Alcântara (V 27,17), Baltazar Alvarez, Diego de Yepes, Pedro de castro y Nero, Jerônimo Reinoso.

Os mais destacados amigos foram João da Cruz e Jerônimo Gracián.

Um critério fundamental temos em 5M 3,9: “Creio que, como é má a nossa natureza, se não tiver raiz no amor de Deus, nunca chegaremos a ter com perfeição o [amor] do próximo”.

 


AMIZADE

Teresa é uma boa testemunha da dupla manifestação da amizade: a humana e a espiritual. É uma mestra neste tema. Possui o típico conceito clássico: amizade é amor recíproco e desinteressado, amor de um pelo outro, porém correspondido. A vê em níveis diversos: entre familiares, companheiros, duas pessoas ou um grupo e, dentre deste a amizade comunitária, dentre de uma comunidade religiosa.

Estende também este conceito de amizade a Deus, entre Jesus e ela, afirmando-o realisticamente, ao ponto de converter em ideia chave de sua espiritualidade: Deus é amigo (V 8,6: “Que bom amigo”, “é amigo verdadeiro” (V 22,6).

Vê o interesse como o que deteriora a amizade autêntica; por isso o mundo está cheio de falsas amizades (Cf. V 20,27).

Em sua experiência pessoal, na idade entre 28-38 anos, cedeu ao encanto das amizades pessoais no locutório da Encarnação, que lhe fizeram perder a liberdade interior e se tornar impotente pra desvencilhar-se delas (V 24) a ponto de ter vergonha de ter oração e achegar-se a Deus (V 7,1). Terá uma graça particular de Deus para livrar-se disso (V 24,5). A partir de então concentrará sua capacidade amorosa em Cristo e concebe em termos de amizade sua relação com Deus (V 8,5-6; cf. 27,9; R 42; C 23,5; 32,12; Conc 2,23; 3,14; 4,1; V 22,10.17; 25,17; 37,5; R 3,1; C 35,2: “O Senhor é muito amigo de amigos”.




Na comunidade religiosa com poucos membros, busca que o grupo seja de amigos: “aqui todas hão de ser amigas, todas hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar” (C 4,7). Vê a solidão como necessária à vida de oração, mas sem o isolamento, pois “grande mal é uma alma só, entre tantos perigos” (V 7,20) e aconselha aos que rezam que procurem amizade e trato com pessoas que se dediquem ao mesmo (id. 20-22).

Proporá o “amor de uns para com outros” (C 4,4-5.10) como essencial à oração. Vê as amizades fechadas como prejudiciais, pois criam grupinhos, separam e escravizam o afeto alheio (cf. C 4.5; 7,10.11), destroem a comunidade.

 

AMOR

Este tema se desdobra em dois aspectos em Teresa: a afetividade amorosa e o amor teologal.

Sua experiência de amor na Vida é muito rica em facetas e ao escrever o livro, tem consciência do papel relevante do amor em sua vida humana e espiritual. Seu drama consistiu em como passar do humano ao espiritual.

No lar, são 3 irmãs e 8 irmãos, pais e os empregados. Diz que na família era a “mais querida” de todos. Recorda o amor de sua irmã Maria e do marido em Castellanos de la Cañada (V 3,3). Amava seu irmão Rodrigo, anterior a ela em idade; “era o que mais queria” (V 1,4) e mais tarde Lourenço. Sofre o impacto da perda da mãe (V 1,7). Na juventude envolve-se na rede de amores juvenis, com orientação ao matrimônio (V 2,3-4.9). No plano afetivo e emocional, o afetivo é alimentado pelas leituras de livros de romances.

Na Encarnação tem que fazer um esforço heroico para desligar-se do afeto paterno (V 3,7; 4,1) e será, talvez, o seu primeiro conflito entre amor e vontade (“determinação”). Terá uma grande amiga, Juana Juarez (V 3,2) e outras; mas serão os seculares (provavelmente antigos amigos) que, entre seus 29-39 anos, serão os que a “prenderão” e distorcem a afetividade da jovem religiosa (cf. V 7,6.8). Nem sua “conversão” (V 9; 1554) aclara definitivamente sua afetividade e a unificam ao redor de Cristo.

Somente a graça narrada em V 24 é que lhe permite “recuperar em um instante a liberdade” (V 24,8), o que fará que ela já não possa amar “com amor particular... a pessoas que entende têm a Deus” (V 24,6): sacerdotes e teólogos o pessoas amigas no labor fundacional.

O tema da afetividade e sexualidade em Teresa é controverso nos autores e psicólogos. Ela mesma testemunha que nunca experimentou os normais movimentos instintivos da sexualidade. Na intimidade da direção espiritual a seu irmão Lourenço, que lhe pede conselhos neste campo, movimentos sensuais durante o fervor na oração (cta 182,5), já havia respondido “ Destas torpezas, depois que v. me dá conta, não faça nenhum caso. Pois isso nunca tive – porque sempre livrou-me Deus, por sua bondade, destas paixões- , entendo que deve ser porque o deleite da alma é tão grande, que faz mover o natural; isto irá se terminando com o favor de Deus, caso não faça caso disto. Algumas pessoas trataram disso comigo” (Cta. 177,7 - de 17.1.1577). Estas mesma confidências são atestadas nos processos por suas amigas Maria de S. José (BMC 18,500) ou Ana de Jesus (Lobera) (id., p. 470).

Em resumo, é neste húmus afetivo de Teresa que se enraizará e desenvolverá o amor místico a Jesus: a transverberação, (V 29), feridas de amor, estar “enamorada”, constituem a essência de sua mística. O podemos ver em suas Poesias, onde constantemente os temas da vida, amor e morte de amor aparecem constantemente Cf. P 1-8.

Uma pedagogia do amor em Teresa poderia ser respigada no seu epistolário e nos processos de canonização.

Aqui veremos em Caminho e nas Moradas.

Para o principiante, aconselha em V 12,2 a “enamorar-se” da Humanidade de Jesus, já desde os primeiros passos do caminho espiritual. No Caminho ensina a viver o amor na vida comunitária e na vida de oração. Devem “amar-se umas a outras” (C 4,4) como virtude básica para a vida comunitária (cf. id., 4,7), pois conviver sem amar é coisa de “gente bruta” (id., 4,10) e o amor fraterno é base para o amor teologal. Propõe o “amor espiritual”, desinteressado, puro, gratuito, mostrado nas obras e não só no sentimento; amor sacrificado como o de Cristo, o “ capitão do amor” (C 6,9); amor de comunhão, que alegra-se e sente pena pelos sofrimentos dos outros (C 7,6-7); amor baseado não na beleza aparente e na simpatia, mas nos valores que duram (C 6,3.4 ler). Se o amor puro é um ideal, alerta Teresa para o perigo dos “bandillos” (“panelinhas”), a susceptibilidade, “vampirismo” de afeto alheio e a falta de amor. Interessa-lhe que todas se amem e se queiram ternamente e que não haja pontos de discórdia. A falta de amor seria “espantar de casa o Esposo”.

Nas Moradas fala mais da mística do amor e este é unitivo quando tem como raiz o amor de Deus (5M 3,9).

O amor puro da comunidade, em meio a um mundo marcado pelo ódio, torna-se um autêntico apostolado do amor: 7M 4,14. Vê como exemplos de amor S. Francisco de Assis (6 M 6,11), Paulo e M. Madalena (C 40,3) e a Virgem Maria (Conc 6,8).

 


BONDADE

É um dos atributos de Deus que mais admiração e emoção causam em Teresa. É um dos traços do rosto de Deus no relacionamento com Ele (V 4,10) e que provoca a amá-Lo (V 8,6), à confiança (V 19,15) e ao assombro (V 18,3; C 22,6), ao louvor e à gratidão (1M 1,3). Para T. é importante conhecer por experiência esta bondade de Deus: C 23,5. Toda bondade vem de Deus (E 1,1) e na pessoa madura no amor de Deus, a bondade é um fruto: C 40,3. Conclui: “Bendito seja o Senhor, que é tão bom!” (V 20,16) "e que de todas as coisas tira um bem, quando quer. Amém" (V 39,14).

 

DETERMINAÇÃO

A determinação teresiana é uma decisão dinâmica, um lançar-se generoso, sem vacilar e sem voltar para trás. "Uma grande determinação de, antes perder a vida e o descanso e tudo o que oferecer-lhe, do que voltar à primeira morada... não dos que se deitam para beber a água de bruços, quando iam para a  batalha” (2 M 1,6).

Teresa viveu momentos de determinação: quando foi o de fazer-se monja (V 4,1); o de ganhar os bens eternos “por qualquer meio” (V 5,2); os apegos afetivos do locutório, com determinações e vacilos (V 6,4; 7,19; 9,7), seguida de uma vitória pela graça de Deus (V 24,7) e que seu amor a Deus a faz assumir tudo (V 6,9). Na oração conhece crises e as determinações não lhe aproveitam (V 4,9), mas depois nunca deixa de estar determinada à oração (V 19,11). Passada a crise nunca mais deixará a oração (V 7,17) e no que diz respeito aos fenômenos místicos, determina-se a seguir à risca o que diz o confessor (V 23,18).

Para o caminho da oração, o que importa não é pensar muito, mas amar muito e o que mais despertar a isso deve-se fazer.... amar não consiste em gostos, mas na “determinação grande de desejar contentar a Deus em tudo e procurar no que pudermos, não O ofender” (4 M 1,7).

O Caminho 23 trata da determinação no caminho do orante. No começo da busca da amizade de Deus, vale na busca do tesouro, uma “grande e muito determinada determinação de não parar até não chegar [`a água viva]”... (C 21,2). Oferece garantias de conseguir isto às “almas determinadas” (C 23,4), pois Deus não se nega a ninguém que persevera com ânimo, mesmo que tropece (V 11,4. 1.13). Durante o caminho da oração é necessário ter um entusiasmo decidido e a vontade de “pelejar como forte... com a determinação de antes morrer, que deixar de chegar ao fim do caminho” (C 20,2).

Na aridez e nas distrações, é necessário encarar o caminho da oração com liberdade diante dos consolos ou desconsolos e a determinação de abraçar a cruz de Cristo, como cavaleiros que servem ao Rei sem o soldo (V 11,13; 15,11), pois a determinação é o que vale e não afligir-se, parecendo que não avançam (V 11,5), pois Deus sabe que querem sempre pensar Nele e amá-lo (V 11,15). Na oração de recolhimento, acostumar-se a estar sempre com Cristo, enamorar-se dele e fazer atos para determinar-se a fazer muito por Deus, despertando o amor (V 12,2): isto pode desembocar em outras formas de oração (V 19,2). Em situações adversas, a humildade e a confiança em Deus  e não em si, animando-se a grandes coisas, ainda que não tenha grandes forças (V 13,2), pois as primeiras determinações é grande coisa pra seguir adiante (V 13,3).

No caminho da oração, a determinação há de ser o fazer a vontade de Deus (3 M 1,7; 6 M 9,16; 5 M 2,8), e isto é amor que se adquire “determinando-se a agir e padecer e fazê-lo quando houver ocasião” (F 5,3), pois Deus só desposa quem está “determinado a fazer em tudo” sua vontade (5 M 4,4). Para isto não se contam os anos de serviço, mas o ‘amor e a determinação”... (V 39,10). De aqui surge a pessoa que está disposta a não fazer o mínimo que seja que contrarie a vontade de Deus (7M 4,3; C 41,3-4.8), que nos livre do mal (C 42,3) e a determinação de “perdoar qualquer injúria , por mais grave que seja” (C 36,8).

 



DIÁLOGO FRATERNO

Teresa usa palavras sinônimas para o que entendemos hoje como diálogo: “conversación”, conversar, comunicación, hablar, parlar, tratar, colóquio, plática...” Todos os seus escritos são coloquiais: “Irei falando com elas no que escreverei” (M prol.).

Teresa é mestra nesta difícil arte do diálogo. Desde peque conversa com Rodrigo (V 1,4), primos (V 2,2), com uma parente (V 2,3), com Maria de Briceño (V 3,1), com o irmão Antônio (V 4,1), com o padre de Becedas (V 5,4), com as pessoas no locutório da Encarnação e com “os cinco que no presente nos amamos em Cristo” (V 16,7). Mas é Deus que a ensina a dialogar com Ele (C 29,7) e compreende que a oração é diálogo de amizade, pois assim Ele se revelou na história da salvação. E assim o ensina em V 8,5.

“Tratar” é ter conhecimento de Deus e conversar, às vezes como a um Pai, como irmão, como um senhor, como um esposo ...às vezes de uma maneira, às vezes de outra... (V 7,12): é colocar-se com uma presença total em total abertura da própria pessoa à outra pessoa, com tudo o que se tem.

Na comunidade teresiana, o diálogo fraterno faz parte de sua novidade fundacional; o ensina como “estilo de fraternidade e recreação que temos juntas” (F 13,6) e que foram sintetizadas nas Constituições das Carmelitas Descalças de 1581: “Sentido de igualdade evangélica e de franca sinceridade no trato  (Cf. C 27,6; 20,4); mútua participação nos gozos e dores (Cf. C 7,5-9); “aqui todas hão de ser amigas, todas hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar” (C 4,7); clima de alegria e afabilidade, segundo o “estilo de fraternidade e recreação que temos juntas” (F 13,5; cf. C 7,7; 41,7; V 36,29; Const IX , 3-7).

É essencial na comunidade teresiana cada uma das pessoas colabore para criar clima de fraternidade, intimidade, onde cada um sinta-se realizado humana e espiritualmente (Cf. 5M 3,11; C 7; F 5). Para que isto aconteça, é necessário que haja capacidade de diálogo e comunicação entre as pessoas, que vivem a solidão e o silêncio (V 36,26; C 4,9), pois a mútua ajuda é fundamental nos caminhos da oração (V 7,20-22).

As características do diálogo fraterno teresiano podem ser: a) as de viver a mesma vocação em comunidade e para que isto ocorra, não hesita em aconselhar as que não tiverem o mesmo intuito em deixar o convento (C 7,11; 8,3; 13,1.6; 14); b) a linguagem como forma de comunidade, que pode ser pelas obras, disponibilidade ao serviço aos demais, sacrifícios, oração, que é o “trato” das monjas (C 20,4-6) e que torna possível um estímulo entre todas ao encontro com Deus na oração e com os outros na fraternidade; c) os temas de conversação são os mais variados, mas sobretudo a presença de Cristo entre elas (V 32,11), que deve ser louvado por elas (6M 6,12), a oração que é o fundamento de tudo (V 32,18), como seguir adiante no serviço de Deus (V 36,26) e buscar comunitariamente a vontade divina; d) as características do diálogo fraterno devem ser o saber escutar, não falar por falar, ter clareza nas ideias, respeito pelo outro, acomodar-se ao modo de ser de quem temos diante e participar em tudo ao que diz respeito à comunidade, além de ser espontâneo, alegre e recreativo (Cf. Const IX, 3-9). Como resumo pode ser C 41,7.

 



GENEROSIDADE

É um dos traços de Deus em Teresa: sua propensão a dar, seu mesmo dom para nós em Cristo, e sempre com vontade de fazer muito por nós (6 M 11,1; V 3,3), “amigo de dar” (5 M 1,5)e não está esperando senão a ter a quem dar (6 M 4,12), generoso (C 23,3) que sempre dá cem por um (Cta 294,13; V 22,15).

“Que podemos fazer diante de um Deus tão generoso, que morreu por nós?” (3M 1,8). Desta condição de Deus vem a generosidade do cristão e que chegam à perfeição (C 6,4), almas muito “afeiçoadas em dar, mais que em receber” (C 6,7). Por isso Teresa não simpatiza com pessoas que custam a dar-se a si a Deus e aconselha a “dar-se todas ao Tudo” (C 8,1) e fazer sempre sua vontade (C 32,7-8). Uma oração de Teresa que manifesta sua maneira  de ser é esta de V 39,6: “Seja bendito para sempre, que tanto dá, e tão pouco lhe dou eu. Porque, que faz, Senhor meu, quem não de desfaz todo por Vós?”

 

TRABALHO

Aos Descalços de Duruelo, inculca a vida laboral e admira o p. Antonio (superior e letrado) varrendo (F 14,6). O noviciado de Pastrana se sustentava com o trabalho de fiação, conforme o testemunhos de Gracián (BMC 17,188). No primeiro capítulo (Almodóvar, 1576), inculca a Gracián: “importa infinitamente” introduzir em cada casa o trabalho manual (Cta. 124,8); repete-o também a outro capitular: “A outra coisa que pedi muito, é que se pusesse de relevo os exercícios [de mãos], ainda que fosse o fazer cestas ou qualquer coisa, e seja [na] hora da recreação, quando não houver outro tempo, pois onde não há estudo, é coisa importantíssima” (Cta. 161,8). No que diz respeito ao “estudo”, ela estima especialmente o trabalho intelectual dos letrados (V 13,20; C 3,2).

No plano doutrinal, para Teresa vida de oração é compatível com o trabalho. O adverte nas 5M 3,11 e o vê compatibilidade entre os dois nas F 5; de seu exemplo temos ainda os bordados feitos por ela. Elogia ao amigo e confessor, bispo do Burgo de Osma, Alonso Velásquez, por seu incansável trabalho, pois “não perde dia nem hora sem trabalhar” (F 30,9).

Na poesia 2 diz: “ Se quereis que esteja folgando,/ quero por teu amor folgar, / se me mandais trabalhar,/ morrer quero trabalhando...”

 

VERDADE

A psicologia teresiana está marcada pela necessidade de entender e entender-se, de discernir a verdade ou autenticidade de suas graças místicas e sua vida inteira; daí o seu recurso aos letrados, para que deem garantias ou “luz” sobre a verdade de sus experiências.

Concebe o projeto de vida espiritual fundado na verdade: “Espírito que não esteja começando na verdade, eu mais o queria sem oração” (V 13,6). É estruturalmente uma buscadora da verdade e necessitada de “andar na verdade”, que sente repulsa à mentira e ao que a ela se parece; diz do diabo que “ele é todo mentira” (V 15,10), “amigo de mentiras, e a mesma mentira (V 25,21); ao contrário Deus “é a mesma verdade” (V 40,1; C 19,15).

Na vida de Teresa, o pról. 3 das F pode dizer-nos tudo: “Em coisa pouco importante eu  não mentiria por nada da terra”; ao escrever a autobiografia suplica a Deus” com todo o meu coração me dê a graça para que com toda clareza e verdade eu faça esta relação” (V pról. 2). Llaneza (simplicidade) e clareza são dois componentes da verdade teresiana: “sou amiga da simplicidade” (llaneza) (Cta. 412,8) e refere-se à postura humana da mãe de Gracián, Juana Dantisco, que possui “una llaneza y claridad por lo que soy perdida” (Cta. 124,2). Para o discernimento místico diz “por coisa alguma do mundo eu diria uma coisa pela outra” (V 28,4). [trata-se de verdade ou mentira – querer enganar o confessor]. Os episódios de sus vida mostram bem este fator: a busca da verdade de quando era menininha (V 1,4; 3,5), o reprovar-se a si mesma por enganar o pai quanto ao abandono da oração (V 7,11-12), tem consciência que naturalmente “aborrece a mentira”(V 40,4). O que destaca mais é a sua busca persistente de letrados que deem garantias da veracidade de suas experiências espirituais, o que é o motivo de todos os seus escrito autobiográficos, desde a 1ª relação (1560) até às vésperas de sua morte (R 6, 1581). (A lenda das três verdades de Teresa: formosa, discreta é consciente de o ser, não de ser e “santa”) Cf. cta. 88,12 e sobretudo a 294,19: “a verdade padece, mas não perece”.

Seu ensinamento no Caminho de perfeição nos diz: “ande a verdade em vossos corações”, “quem de verdade ama a Deus” (C 20,4; 40,3), pois tem uma visão entre realista e pessimista da vida social. Não suporta o que ela chamou de “farsa da vida” (V 21,6), pois a sociedade não se rege pelo código da verdade: “a vida [da sociedade] está cheia de enganos e duplicidades...” e “não há quem viva vendo tanto engano em que andamos” (V 21,1.4) (Conferir V 20,26, 21,1; 40, 4). O “socratismo teresiano”, é o conhecer a verdade de si mesmo, o que é possível somente à luz de Deus. Urge o principiante em 1M 1,2 e 6M 10,7: humildade é andar na verdade...

Como mística cristã, Teresa vê a realidade com os olhos novos de Cristo: um de ordem afetivo, unificado e purificado e que é relatado em V 24; o outro de ordem intelectual, em V 26, em que Cristo será o seu “livro vivo”, onde lê as verdades que não pode fazer com os artifícios humanos (cf. V 26,5). Vê verdades (V 21,5.9) e possui a experiência culminante da verdade de Deus em V 40,4.3 (ler).

SANTA TERESA DE JESUS, Virgem, Fundadora e Doutora da Igreja (15 de outubro) - Frases e Poemas.

"O amor de Deus não está nos deleites espirituais, mas em estar firmemente resolvidos a contenta-lo em todas as coisas, tentando todo esforço para não ofendê-lo, e rezando pelo aumento da honra e da glória do seu Filho e pela exaltação da Igreja Católica".

"Compararei a Divindade com um polido diamante muito maior que o universo. Todas as nossas ações refletem-se nele, por que Ele encerra todas as coisas, tanto que fora da sua amplitude nada existe".

"Tão logo Sua Majestade o quer, Deus e a alma se compreendem, como dois amigos que não precisam de palavras para manifestar-se a grande afeição que os une".

"A oração não é senão um fato de amor, e é insensato pensar que só se faz oração quando se dispõe de tempo e solidão".

"Ó Senhor, experimento tanta alegria ao pensar que as minhas infidelidades fazem com que melhor conheça a vossa misericórdia, que sinto suavizar-se a dor pelas graves ofensas que vos fiz".

"Jamais creiais que adquiristes uma virtude, enquanto não a tiverdes provado com aquilo que lhe é contrario".

"A oração mental não é senão uma íntima relação de amizade, um frequente entretenimento a sós com Aquele que sabemos nos amar".

"Tão logo Sua Majestade o quer, Deus e a alma se compreendem, como dois amigos que não precisam de palavras para manifestar-se a grande afeição que os une".

"Quem começa a servir verdadeiramente ao Senhor, o mínimo que lhe pode oferecer é a vida".

"No nosso próximo, procuremos ver tão somente as virtuides e as boas obras e cubramos os seus defeitos considerando os nossos pecados".


"Diante da Sabedoria infinita, mais vale um breve desejo de humildade com algum ato da mesma, do que toda a ciência do mundo".


"Tenho como certo que uma alma de oração, que se entretenha com homens doutos, jamais será enganada pelo demônio, a não ser que deseje enganar-se a si mesma. O demôniot em muito medo da força interior humilde e virtuosa, por que sabe que seria descoberto e levaria a pior".

"Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos, sabendo o que convém a cada um".


"O edifício da oração deve sempre alicerçar-se na humildade: quanto mais uma alma se mostra humilde na oração, tanto mais Deus a exalta".

"A todos que tudo abandonam por amor de Deus, Ele se entrega totalmente".

"Construir grandes casa com o dinheiro dos pobres é muito inconveniente, e o Senhor jamais o perdoará".

"Em assunto de contemplação, muitas vezes Deus leva vinte anos para dar a alguém aquilo que a outros dá em apenas um ano. O motivo disso somente Ele o sabe".

"Tenho certeza de que Deus jamais deixa de favorecer as almas firmemente decididas a ser dele".

"O caminho da cruz é o que Deus reserva aos seus escolhidos: quanto mais os ama, mais os sobrecarrega de tribulações".

"Quando é o coração que reza, Ele sem dúvida nos atende".

"Existem almas tão simples que nada sabem sobre os costumes e os assuntos do mundo, mas que, no entanto, muito entendem das relações com Deus".

"A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor".

"Oração e maneiras sofisticadas não combinam".

"Quanto mais santas fordes, mais afáveis devereis mostrar-vos".

"Quem pede a perfeição é inundado de tantas graças a ponto de atingir aquele elevado grau que é próprio dos que já alcançaram".

"Podemos suportar qualquer luta ou inquietação, quando nos encontramos em
paz intimamente".

"As cruzes dos contemplativos são muito pesadas, e o Senhor só as manda para as almas já provadas desde muito tempo".

"Não há melhor meio para descobrir as insídias do demônio e obrigá-lo a
dar-se a conhecer, do que o da oração".

"As palavras de Deus fixam-se tão profundamente no espírito que não mais é
possível esquecê-las, ao passo que aquelas do intelecto assemelham-se a um
pensamento fugaz que subitamente se esvai da mente".

"Deus distribui os seus bens como quer, quando quer e a quem quer, sem fazer 
discriminação com ninguém".

"Ó Senhor! Como os cristãos pouco vos conhecem!"

"Rezar pelos que estão em pecado mortal é uma esmola muito grande"

"Ó Senhor! Em que angústias colocais quem vos ama! No entanto, tudo é pouco diante da maneira com que logo o favoreces".

"A humildade é o alicerce do edifício, e o Senhor nunca o elevará demasiado,
se dita virtude não for verdadeiramente sólida".

"Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a
força de servir ao Senhor".

"O proveito da alma não consiste em muito pensar mas em muito amar"

"É uma grande virtude saber ter concórdia com todos e suportar-lhes os
defeitos".

"Jamais se peca sem sabê-lo".

"Achegando-nos do Santíssimo Sacramento com grande espírito de fé e de amor, creio que uma única comunhão é suficiente para deixar-nos ricas. O que
dizer, então, de tantas que já recebemos?"

"O Senhor não se contenta em igualar os seus dons aos nossos modestos
desejos".

"O Senhor sabe o que cada pessoa pode fazer e, quando se encontra com uma
alma forte, não cessa de impor nela a sua vontade".

"Senhor, como são amenos os vossos caminhos! Mas, quem os palmilhará sem medo?".

"O Senhor nos ama mais do que nós mesmos nos amamos".


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BUSCA-TE EM MIM

Alma, procura-te em mim
E a mim busca-me em ti.

Tão fielmente pôde o Amor
Alma, em Mim, te retratar
Que nenhum sábio pintor
Soubera com tal primor
Tua imagem figurar.

Foste, por amor, criada
Formosa, bela e assim
Dentro do Meu ser, pintada.
Se te perderes, minha amada,
Alma, procura-te em Mim.

Por que Eu sei que te acharás
Em Meu peito retratada,
Tão ao vivo figurada
Que ao ver-te folgarás
Por te veres tão bem pintada.

E se acaso não souberes
Em que lugar Me perdi,
Não andes daqui para ali
Por que se encontrarMe quiseres
A Mim, Me acharás em ti!

Em ti, que és meu aposento
És minha casa e morada.
Aí busco, cada momento,
Em que do teu pensamento
Encontro a porta fechada.

Só em ti há que buscar-Me,
Que de ti nunca fugi;
Nada mais do que chamar-Me
E logo irei, sem tardar-Me,
E a Mim, me acharás em ti!




NADA TE PERTURBE

Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa,
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem
Nada lhe falta:
Só Deus basta.

Eleva o pensamento,
Ao céu sobe,
Nada te angustie,
Nada te perturbe.

A Jesus Cristo segue
Com peito grande,
E, venha o que vier,
Nada te espante.

Vês a a glória do mundo!
É glória vã;
Nada tem de estável,
Tudo passa.

Aspira às coisas celestes,
Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas,
Deus não muda.

Ama-O como merece,
Bondade imensa;
Mas não há amor fino
Sem a paciência.

Confiança e fé viva
Mantenha a alma,
Que quem crê e espera
Tudo alcança.

Do inferno acossado
Muito embora se veja,
Burlará os seus furores
Quem a Deus tem.

Advenham-lhe desamparos,
Cruzes desgraças;                                                           
                                                                            
                    Sendo Deus o seu tesouro,
Nada lhe falta.

Ide, pois, bens do mundo,
Ide, ditas vãs;
Ainda que tudo perca,
Só Deus basta.



LOUVORES À CRUZ

Gostosa quietação da minha vida,
Sê bem-vinda, cruz querida.

Ó Bandeira que amparaste
O fraco e o fizeste forte!
Ó vida da nossa morte,
Quão bem a ressuscitasse!
O Leão de Judá domaste,
Pois por ti perdeu a vida.
Sê bem-vinda, cruz querida.

Quem não ama viva atado
E da liberdade alheio;
Quem te abraça sem receio
Não toma caminho errado.
Oh! ditoso o teu reinado,
Onde o mal não tem cabida!
Sê bem -vinda, cruz querida.

Do cativeiro do inferno,
Ó cruz, foste a liberdade;
Aos males da humanidade
Desde o remédio mais terno.
Deu-nos, por ti, Deus Eterno
Alegria sem medida.
Sê bem-vinda, cruz querida.