"Eu não me importo muito com o que os homens dizem de mim, desde que Deus me aprove."
São Thomas More
São
Thomas More era chanceler (primeiro ministro) do rei da Inglaterra, Henrique VIII. Quando
o papa se recusou a aprovar o divórcio do rei e a reconhecer como
legítimo o seu casamento com Ana Bolena, Henrique VIII se separou de
Roma e elegeu a si mesmo como chefe supremo da igreja na Inglaterra.
Por
se recusar a assinar o juramento de fidelidade ao novo “chefe da
Igreja”, São Thomas More foi preso em 1532 e decapitado em 1535.
São
Thomas More deixou vários escritos, e o mais famoso é Utopia (sim,
e é daí mesmo que vem a palavra que usamos hoje), uma obra de
ficção que imagina um modelo de sociedade alternativa, que se
contrapõe de forma extrema ao modelo da sociedade europeia da época.
A organização da vida na ilha de Utopia tem aspectos positivos e
negativos.
Do
ponto de vista cristão, podemos citar entre os aspectos negativos da
ilha de Utopia:
é
proibido ter propriedade privada;
o
Estado administra toda a produção;
o
divórcio é admitido e um novo casamento é visto como aceitável;
o
suicídio é aprovado nos casos de doença incurável;
a
maioria das pessoas acreditam em um Ser Supremo (deísmo), mas não
creem em nenhuma religião divinamente revelada.
Conhecendo
a vida de Thomas More e seus escritos, vemos que ele não aprovava
nada disso. Especificamente sobre o ponto do divórcio, ele penou
três anos na cadeia, longe de sua família, e perdeu a vida por não
compactuar com o divórcio do rei.
Ok...
Aí vem um protestante e insiste que Thomas More era um precursor do
comunismo, sim, pois em sua Utopia há diversos trechos que condenam
a propriedade privada, como este:
“Assim
sendo, estou plenamente convencido de que, a menos que a propriedade
privada seja completamente abolida, não é possível haver
distribuição justa de bens e nem a humanidade pode ser governada
adequadamente.”
Como
explicar isso? Simples: essa fala não é propriamente um discurso de
Thomas More, mas sim de Rafael Hitlodeu, personagem com o qual ele
conversa no livro. Nesse diálogo imaginário, em vários momentos
More discorda de Hitlodeu. Tanto isso é verdade que, em resposta à
fala de Hitlodeu contra a propriedade privada, More argumenta:
“Quanto
a mim, não vejo as coisas desse modo. Parece-me que os homens,
possivelmente, não poderão viver bem num lugar onde a posse de
todas as coisas seja comum. Como pode haver abundância de bens onde
os homens param de trabalhar? O desejo de ganho não os estimulará e
todos passarão a esperar que outros trabalhem e produzam o que com
eles dividirão e, assim, tornar-se-ão preguiçosos”.
Bem
mais adiante, na conclusão da história, More também escreve:
"Quando
Rafael terminou sua história, várias das leis e dos costumes dos
utopienses descritos por ele me pareceram um tanto absurdos. Seus
métodos de fazer guerra, suas cerimônias religiosas e seus costumes
sociais eram alguns deles; contudo, a minha principal objeção
referia-se à base de todo o sistema, ou seja, a sua vida comunal e a
sua economia sem moeda".
Esse
pensamento está de acordo com o que o Santo escreveu em sua última
grande obra, Consolo na Tribulação:
“É
absolutamente necessário que haja homens dotados de posses; em caso
contrário, existirão mais mendigos do que já existem...”
Há
também vários fatores positivos na sociedade utopiana. Por isso
More conclui Utopia dizendo:
“...embora
Rafael seja um homem de grande erudição e grande conhecedor das
coisas deste mundo, não posso concordar com tudo o que ele disse.
Contudo, devo confessar que há muita coisa na República de Utopia
que eu desejaria ver imitada em nossas cidades – coisa que mais
desejo do que espero.”
O Santo não tinha a intenção de apresentar a vida em Utopia como um
modelo a ser seguido à risca, em todos os seus aspectos. Isso é
confirmado por Fátima Vieira, professora da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, especializada em estudos sobre a Utopia:
“A
intenção de More é não apresentar as ideias de Hitlodeu e a
sociedade utopiana como modelares, esperando que o leitor seja capaz
de um exercício de reflexão crítica sobre os aspectos positivos e
negativos dessa sociedade”.
Mas
será que Hitlodeu não era um porta-voz de More? Fátima Vieira nega
essa possibilidade:
“Essa
ideia da ausência de propriedade privada de que Rafael Hitlodeu fala
ao descrever a ilha da Utopia não é necessariamente uma proposta
defendida por Thomas More”.
Mônica
Dias, docente do Instituto de Estudos Políticos da Universidade
Católica Portuguesa, rejeita comparações entre o socialismo
científico de Marx e Engels e o texto de Thomas More:
“O
socialismo científico do século XIX, de Karl Marx e Friedrich
Engels, aponta para uma sociedade perfeita num fim da História –
onde a utopia já não seria necessária — e por isso apela a algo
mais drástico, uma revolução – uma alteração total do sistema
social —, que não é o que More queria.”
Ou
seja, quem está espalhando que São Thomas More defende o comunismo,
ou qualquer dos aspectos negativos em Utopia, não sabe ler ou é
desonesto mesmo. Não faz sentido nenhum pegar uma obra de ficção,
selecionar frases avulsas e ficar alardeando conclusões.
***
Dica de Filme sobre São Thomas More: O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA:Link para assistir:
https://www.youtube.com/watch?v=dbkRNzqxltc
Fonte:
https://ocatequista.com.br/catequese-sem-sono/vidas-de-santos/item/18188-sao-thomas-more-era-comunista-nao-voce-nao-leu-utopia-direito
https://ocatequista.com.br/catequese-sem-sono/vidas-de-santos/item/18188-sao-thomas-more-era-comunista-nao-voce-nao-leu-utopia-direito
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