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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

São Thomas More era comunista?


"Eu não me importo muito com o que os homens dizem de mim, desde que Deus me aprove."
São Thomas More


São Thomas More era chanceler (primeiro ministro) do rei da Inglaterra, Henrique VIII. Quando o papa se recusou a aprovar o divórcio do rei e a reconhecer como legítimo o seu casamento com Ana Bolena, Henrique VIII se separou de Roma e elegeu a si mesmo como chefe supremo da igreja na Inglaterra.
Por se recusar a assinar o juramento de fidelidade ao novo “chefe da Igreja”, São Thomas More foi preso em 1532 e decapitado em 1535.
São Thomas More deixou vários escritos, e o mais famoso é Utopia (sim, e é daí mesmo que vem a palavra que usamos hoje), uma obra de ficção que imagina um modelo de sociedade alternativa, que se contrapõe de forma extrema ao modelo da sociedade europeia da época. A organização da vida na ilha de Utopia tem aspectos positivos e negativos.
Do ponto de vista cristão, podemos citar entre os aspectos negativos da ilha de Utopia:
é proibido ter propriedade privada;
o Estado administra toda a produção;
o divórcio é admitido e um novo casamento é visto como aceitável;
o suicídio é aprovado nos casos de doença incurável;
a maioria das pessoas acreditam em um Ser Supremo (deísmo), mas não creem em nenhuma religião divinamente revelada.
Conhecendo a vida de Thomas More e seus escritos, vemos que ele não aprovava nada disso. Especificamente sobre o ponto do divórcio, ele penou três anos na cadeia, longe de sua família, e perdeu a vida por não compactuar com o divórcio do rei.


Ok... Aí vem um protestante e insiste que Thomas More era um precursor do comunismo, sim, pois em sua Utopia há diversos trechos que condenam a propriedade privada, como este:
Assim sendo, estou plenamente convencido de que, a menos que a propriedade privada seja completamente abolida, não é possível haver distribuição justa de bens e nem a humanidade pode ser governada adequadamente.”
Como explicar isso? Simples: essa fala não é propriamente um discurso de Thomas More, mas sim de Rafael Hitlodeu, personagem com o qual ele conversa no livro. Nesse diálogo imaginário, em vários momentos More discorda de Hitlodeu. Tanto isso é verdade que, em resposta à fala de Hitlodeu contra a propriedade privada, More argumenta:
Quanto a mim, não vejo as coisas desse modo. Parece-me que os homens, possivelmente, não poderão viver bem num lugar onde a posse de todas as coisas seja comum. Como pode haver abundância de bens onde os homens param de trabalhar? O desejo de ganho não os estimulará e todos passarão a esperar que outros trabalhem e produzam o que com eles dividirão e, assim, tornar-se-ão preguiçosos”. 

Bem mais adiante, na conclusão da história, More também escreve:
"Quando Rafael terminou sua história, várias das leis e dos costumes dos utopienses descritos por ele me pareceram um tanto absurdos. Seus métodos de fazer guerra, suas cerimônias religiosas e seus costumes sociais eram alguns deles; contudo, a minha principal objeção referia-se à base de todo o sistema, ou seja, a sua vida comunal e a sua economia sem moeda". 
Esse pensamento está de acordo com o que o Santo escreveu em sua última grande obra, Consolo na Tribulação:
É absolutamente necessário que haja homens dotados de posses; em caso contrário, existirão mais mendigos do que já existem...”
Há também vários fatores positivos na sociedade utopiana. Por isso More conclui Utopia dizendo:
...embora Rafael seja um homem de grande erudição e grande conhecedor das coisas deste mundo, não posso concordar com tudo o que ele disse. Contudo, devo confessar que há muita coisa na República de Utopia que eu desejaria ver imitada em nossas cidades – coisa que mais desejo do que espero.”
O Santo não tinha a intenção de apresentar a vida em Utopia como um modelo a ser seguido à risca, em todos os seus aspectos. Isso é confirmado por Fátima Vieira, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, especializada em estudos sobre a Utopia:
A intenção de More é não apresentar as ideias de Hitlodeu e a sociedade utopiana como modelares, esperando que o leitor seja capaz de um exercício de reflexão crítica sobre os aspectos positivos e negativos dessa sociedade”. 


Mas será que Hitlodeu não era um porta-voz de More? Fátima Vieira nega essa possibilidade:
Essa ideia da ausência de propriedade privada de que Rafael Hitlodeu fala ao descrever a ilha da Utopia não é necessariamente uma proposta defendida por Thomas More”.

Mônica Dias, docente do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, rejeita comparações entre o socialismo científico de Marx e Engels e o texto de Thomas More:


O socialismo científico do século XIX, de Karl Marx e Friedrich Engels, aponta para uma sociedade perfeita num fim da História – onde a utopia já não seria necessária — e por isso apela a algo mais drástico, uma revolução – uma alteração total do sistema social —, que não é o que More queria.”

Ou seja, quem está espalhando que São Thomas More defende o comunismo, ou qualquer dos aspectos negativos em Utopia, não sabe ler ou é desonesto mesmo. Não faz sentido nenhum pegar uma obra de ficção, selecionar frases avulsas e ficar alardeando conclusões.



***
Dica de Filme sobre São Thomas More: O HOMEM QUE NÃO VENDEU SUA ALMA:

Link para assistir: 
https://www.youtube.com/watch?v=dbkRNzqxltc


Fonte:
https://ocatequista.com.br/catequese-sem-sono/vidas-de-santos/item/18188-sao-thomas-more-era-comunista-nao-voce-nao-leu-utopia-direito


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