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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE, Rainha do México e Imperatriz das Américas - 12 de dezembro


    Hoje, o site Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus traz uma publicação "diferente": a narrativa das aparições de Nossa Senhora, Virgem Mãe de Deus, ao índio Juan Diego (que foi depois canonizado e é Santo). Apesar do objetivo do site não ser a divulgação de histórias de aparições de Nossa Senhora, mas, como envolve o nome de um Santo (Juan Diego) e para a maior honra e glória de Deus, resolvi trazer o relato das aparições, infelizmente, desconhecido por muitos católicos. Todos sabemos que só existe uma única Nossa Senhora: Maria de Nazaré, Mãe de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiros, o Verbo que se se fez carne em seu ventre imaculado. Mas, a Virgem Maria possui muitos títulos, de acordo com os locais onde apareceu, com suas diversas virtudes, missões e fatos que aconteceram em sua vida terrena. Ela é, então, a mesma Nossa Senhora de Fátima, do Perpétuo Socorro, de Lourdes, de La Salette, das Graças, das Dores, da Conceição, e assim por diante. Não existem "várias Marias", mas apenas uma só, com seus múltiplos títulos. Espero que todos apreciem o belo relato abaixo e que se interessem em buscar em plataformas (como o YouTube, por exemplo), vídeos com documentários, inclusive, aqueles que tratam da inexplicável figura que se formou na "tilma" do vidente, São Juan Diego, que ainda hoje, com toda a tecnologia mais moderna, contina a ser um mistério, pois, essa figura, não feita por mãos humanas (pois nela não há tinta ou quaisquer pigmentos), contém, também, símbolos maravilhosos (que foram entendidos imediatamente pelos índios da época), bem como sinais da veracidade da imagem e do fato de ela ser, realmente, milagrosa (como, por exemplo, as figuras das pessoas presentes no local onde o índio São Juan Diego derramou as rosas que trazia em sua "tilma", presente como reflexos nos olhos da imagem: figuras essas que só podem ser vistas por microscópio). 


        A HISTÓRIA

A história de Guadalupe Em Tepeyac, no México, Nossa Senhora deu sua mensagem, a medianeira de todas as graças apareceu na América no século XVI, como mãe que deseja ardentemente a salvação de todas as gerações de seus filhos.

Num sábado, 9 de dezembro de 1531, um índio cristão chamado Juan Diego ia para a missão franciscana de Tlatetolco, para assistir à Missa em honra de Nossa Senhora. De repente, ao passar junto da colina do Tepeyac, chegaram-lhe aos ouvidos os acentos de uma música tão linda, como nunca antes tinha ouvido.

Procurando de onde viria a melodia, ele escutou uma voz: “Juanito, Juan Dieguito!”. Sem duvidar, caminhou direto para o cume da colina donde provinha a voz e lá deu com uma jovem senhora de radiante beleza, serenamente ereta, a acenar para ele. Ao aproximar-se dela, ficou tão penetrado de espiritual alegria, que nada mais conseguiu fazer do que cair de joelhos e sorrir para Ela.

A Senhora era de tanta beleza que deixou Juan Diego estático. As vestes da Senhora resplandeciam como uma luz esplendorosa e seu rosto, um rosto jovem de olhos maduros, um sorriso de compaixão e amor acolheu Juan Diego, quando acudiu a seu chamado:

 - “Juanito (Joãozinho), meu querido filho, para onde você está indo?

- Juan: "Senhora, vou a caminho da igreja, para estudar e aprender os divinos mistérios, que os padres nos ensinam".

- "Entenda, filho querido, que eu sou a sempre Virgem, Mãe do Deus verdadeiro, Criador e autor do céu e da terra, por quem se vive e existe.  É meu desejo que se construa um templo aqui em minha honra, onde Eu derramarei o meu amor, compaixão, socorro e proteção. Eu sou a vossa Mãe dadivosa, Mãe amorosa para com os vossos companheiros, que me amam e se confiam a Mim e procuram o meu auxílio. Prestarei ouvidos a seus lamentos e darei consolo em todas as suas tristezas e sofrimentos”. - "Para conseguir tudo o que meu amor pede, vá agora à casa do bispo no México e fale para ele que Eu o envio para manifestar o meu grande desejo 2 de ter um templo aqui, edificado em meu nome. Diga-lhe, exatamente, o que viu e ouviu. Saiba que Eu lhe serei agradecida e que o recompensarei. Agora, filhinho, você ouviu o meu desejo. Vá e faça-o como melhor puder".

- Juan: "Senhora muito querida, alegremente me ponho a caminho para fazer o que me pedis. Com vossa licença eu me despeço da Senhora”. 

E com a mesma presteza com que atendeu ao chamado da Senhora, desceu a encosta da colina, rumando para a cidade. “Chegando à residência do bispo (que então era Frei Juan de Zumárraga) ele teve uma longa espera, antes de ser atendido. Ajoelhando diante do bispo, ele disse vir a mando da Mãe de Deus, que lhe aparecera na colina de Tepeyac e lhe pedira que transmitisse os seus desejos ao bispo.

Descreveu para o bispo a música estranha, o esplendor das cores e a bela Senhora de voz suave que pedira que fosse ali erguido um templo em sua honra. O bispo ouviu-o com atenção. Manifestou simpatia para com aquele pobre índio; mas também, alguma desconfiança. Não seria aquilo mais uma história asteca a respeito da deusa da fertilidade, cujo templo se erguia também nos arredores do Tepeyac? O demônio costuma ser tão esperto para enganar os fiéis!… Por isso, respondeu para Juan Diego: “Eu vou pensar um pouco sobre tudo o que você me falou; volte daqui a alguns dias…

Juan, desanimado com a recusa do bispo, sentiu-se embaraçado para explicar à Senhora o que tinha acontecido. Voltou para a colina temendo que seu fracasso magoasse a Senhora. Talvez não fosse ele a pessoa mais indicada para transmitir a mensagem. Deveria escolher um outro mais capacitado que ele para levar a cabo aquela missão.

Subiu rápido à colina do Tepeyac e logo seus olhos encontraram a luz maravilhosa: lá estava a Senhora. Correu para Ela, ajoelhou e disse:

-Juan: “Minha querida Senhora, eu obedeci à vossa ordem e fui à casa do bispo. Ele me recebeu bondosamente e escutou com atenção, mas quando me respondeu, eu percebi que não acreditava em mim”.

-Juan: “Senhora muito querida, o bispo pensa que eu estou inventando tudo. Por favor, mande outro mensageiro mais considerado para transmitir vossa mensagem, a fim de ser acreditado. Eu sou apenas um simples índio; eles não acreditaram em mim!”

Nossa Senhora lhe disse: – "Filho muito querido, você precisa compreender que há muitos servos de categoria a quem Eu poderia confiar a minha mensagem; no entanto, Eu escolhi você para esta missão. Volte de novo ao bispo, amanhã; fale-lhe em meu nome e informe-o que é meu desejo que ele tome a seu cargo a ereção do templo que estou pedindo. Diga-lhe que sou Eu, em pessoa, Santa Maria, sempre Virgem, Mãe de Deus, que está enviando você”.

Juan sentiu renascer a coragem. Tranquilizado, falou assim a Nossa Senhora:

-Juan: "Minha querida Senhora, eu irei com prazer transmitir o vosso pedido ao bispo. Talvez ele não queira me ouvir ou mesmo não acredite em mim… Eu voltarei aqui, amanhã à tarde, para vos dizer qual a resposta do bispo. Com vossa licença eu me despeço de Vós, minha boa Senhora”.

Domingo, de manhã cedo, Juan Diego foi assistir à Missa em Tlatetolco. Depois, foi à residência do bispo. Chorando, ele relatou que conversara de novo com a Mãe de Deus e que Ela o conjurara a pedir ao bispo que edificasse um templo na colina de Tepeyac.

Quem o mandava, disse, era certamente a mãe de Jesus Cristo. Desta vez, o bispo se mostrou mais acessível e interrogou Juan minunciosamente. “Filho, disse-lhe, o seu recado me interessa; quem sabe, você poderia me trazer algum sinal de que é mesmo a Mãe de Deus que  deseja a construção de um templo na colina de Tepeyac?” E Juan prometeu trazer o sinal.

O bispo intrigado chamou dois membros de confiança de sua casa. Falando em castelhano para não ser compreendido por Juan, disse-lhes que seguissem a Juan até o ponto onde dissera ter ocorrido a visão. Deviam lhe trazer um relatório completo de quanto vissem e ouvissem. O bispo despediu a Juan. Os servos seguiam-no até um pequeno regato, onde ele desapareceu. Em vão o procuraram e, indignados, voltaram dizendo que não era digno de crédito.

Nesse intervalo, Juan subira à colina, onde a bela Senhora o esperava. Deu-lhe conta do pedido do bispo. Ela lhe disse: – “Muito bem, meu filho. Venha novamente amanhã de manhã e você obterá o pedido para o bispo. Amanhã, ao alvorecer, eu o esperarei aqui”.

Ao chegar em casa, encontrou seu tio Juan Bernardino, muito doente. Ficou preocupado com a saúde do tio a quem muito queria e no dia seguinte tratou da saúde dele. Não deu, portanto, para acudir a seu compromisso com a Senhora do Tepeyac. O tio piorou e temendo a iminência da morte, pediu que o levasse ao mosteiro de Santiago Tlatetolco, procurar um padre para os últimos sacramentos.

Na terça-feira, 12 de dezembro, Juan passava de novo perante a colina de Tepeyac. Então se lembrou de que tinha falhado ao seu compromisso para com a Santíssima Virgem Maria.

E eis que Nossa Senhora o deteve no caminho: – O que é que o preocupa, meu filho? Aonde é que está indo? Cheio de vergonha, Juan falou de sua urgente missão em favor do tio:

 -Juan disse: "Perdoai-me, Senhora; tende paciência comigo. Quando eu tiver cumprido a minha obrigação, voltarei a Vós e transmitirei o vosso recado".

Enquanto Juan falava, a Senhora olhava para ele com amor e compaixão. – Escute, meu filho, acrescentou Ela; não há nada que temer. Não tema a doença de seu tio. Não estou Eu aqui a seu lado? Eu sou a sua Mãe. Não o escolhi para Mim e o tomei aos meus cuidados? Que mais deseja do que isso? A doença do tio não é mortal; acredite agora mesmo que ele já está curado.

Aparição da Santíssima Virgem ao tio de São Juan Diego, 
Juan Bernardino, que estava muito doente. A Virgem lhe
aparece e o cura instantaneamente da doença, ficando
completamente restabelecido

Maria falou, ainda, para o índio: – Vá, meu filho, para o topo da colina, onde me viu pela primeira vez. Lá encontrará uma grande variedade de flores. Colha-as e as traga para mim.


 Juan subiu, colheu as flores e as colocou dentro de sua “tilma” (manto). E Nossa Senhora, logo depois, tomou as flores e as ajeitou dentro do manto do índio.

Filho querido, lhe disse, essas rosas são o sinal que você vai levar ao bispo. Diga-lhe em meu nome que, nessas rosas, ele verá minha vontade e a cumprirá. Você é o meu embaixador e merece a minha confiança. E continuou: – Quando chegar diante do bispo, desdobre a sua “tilma” e mostre o que carrega, porém, só na presença do bispo. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omitindo. Diga-lhe que Eu o mandei ao topo da colina e que você ali colheu estas flores. Repita a história toda, de sorte que o bispo acreditará e irá construir o templo pelo qual Eu me empenhei.



Nossa Senhora, então, despediu Juan que logo se dirigiu à residência episcopal. Os criados se mostraram muito grosseiros e não quiseram atender Juan quando chegou. Ele esperou várias horas. Os criados, curiosos, queriam ver o que Juan carregava na “tilma”, mas ele negou-se a desvendar-lhes o seu segredo.

Afinal, deixaram-no ir ter com o bispo. O índio tornou a referir a ordem da Virgem Santíssima, acrescentando que, agora, trazia o sinal que Sua Senhoria tinha pedido.

Ao descerrar a “tilma” atapetou-se o assoalho de flores. Estas jaziam-lhe aos pés, ainda cintilantes de orvalho, e a recender seu delicado perfume. e o milagre aconteceu… Juan com o coração a pulsar violento, contemplava a beleza das rosas. Mas, ergueu os olhos, ao ver o bispo cair de joelhos diante dele e orar.

Momento no qual São Juan Diego derrama as rosas que 
estavam em sua tilma. Imediatamente, aparece a bela imagem
milaculosa da Virgem Maria, conforme Ela lhe aparecera. 

Lágrimas semelhantes às gotas de orvalho das rosas, escorriam-lhe dos olhos. Tinha os olhos fitos, não nas rosas, mas no interior da “tilma”. Lá estava impressa a Imagem da Virgem Santíssima, tal qual a vira em Tepeyac. Os dois homens perderam a noção do tempo que levaram a contemplar o sinal milagroso. Afinal, o bispo tomou a “tilma” de Juan Diego e a colocou respeitosamente no seu oratório particular. E, chorando, deu graças a Deus e à sua Mãe Imaculada. Cheio de consideração para com Juan Diego, o bispo o reteve em casa todo aquele dia.

Na quarta-feira acompanhou o índio ao lugar onde a Mãe de Deus pedira para ter o seu templo.

-Juan disse: Aqui! (mostrando o lugar exato onde vira a Santíssima Virgem, Mãe de Deus). Finalmente, Juan pediu licença ao bispo para ver o tio que, segundo ele dizia, fora curado por Nossa Senhora. O bispo mandou que alguns criados o acompanhassem com instruções de trazer Juan Bernardino (o tio) à casa, se o encontrassem bem de saúde.

Quando viu aquele cortejo acompanhando Diego, o tio se impressionou. Juan Bernardino escutou o sobrinho contar como a Mãe Santíssima lhe assegurara sua cura milagrosa e ouvindo-o descrever a Senhora, o ancião concordava sorrindo.

-Juan disse: “Eu também a vi! Ela veio a esta casa e me falou. Era de beleza jamais vista e me falava com carinho, dizendo querer ser chamada “Tequathanouph”, isto é, que teve origem no cume da pedreira. (Esta palavra, moldada à língua espanhola, transformou-se em Guadalupe: Santa Maria de Guadalupe, embora não tenha falado por quê).

Comparando suas experiências, deram-se conta de que a aparição a Juan Bernardino acontecera na mesma hora em que a Senhora garantira a Juan Diego a cura do doente.

A fama do milagre se espalhou rapidamente por todo o território. Multidão de curiosos ocorreu à casa do bispo para venerar a Imagem. E o bispo transferiu a sagrada efígie para a catedral e a colocou em cima do altar-mor, para que todos a vissem.

Logo depois da aparição a Juan Diego e da aprovação do bispo, grande número de índios pôs mãos à obra da construção da Ermida em Tepeyac, conforme o pedido de Maria. Para a inauguração da Ermida, os índios infatigáveis, enfeitaram o trajeto de 6 km, que medeia entre a catedral e a Ermida com arcos de triunfo e flores.

De intervalo em intervalo havia conjuntos de música e danças executadas por grupos de índios adornados de vistosas plumas e trajes de festa. A maioria dos homens ostentando grande pompa guerreira, percorria a longa avenida para cima e para baixo, formando alas em homenagem a Nossa Senhora. A partir do dia em que a Imagem foi transferida para a Ermida, as peregrinações de indígenas começaram a visitar o Santuário todas as semanas e até todos os dias. A 12 de dezembro de 1794 se acharam presentes 24.000 índios, alguns deles vindos de 300 km de distância. Este costume como se mantém até os nossos dias.

É consolador vê-los dançar em direção à Basílica, arrastando-se sobre os joelhos e, ao chegar junto do altar, oferecer os filhinhos à Mãe de Deus.

 

 (Fonte: Pe. Fernando Maria Alvarez de Miranda, S. J. “Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira do Brasil…, porém, desconhecida”. Editora Padre Reus, Porto Alegre, 2001. P. 15-24)


Detalhe do rosto da Virgem Maria conforme apareceu no manto do índio. Nas pupilas desses olhos
é que, por lentes de aumento, são possíveis de serem vistos rostos e figuras de pessoas que estavam
presentes na sala do arcebispo no momento que Juan Diego derrama as rosas recolhidas em sua tilma.



Uma das imagens (rosto) que se encontram
nas pupilas da imagem. Só dá para ver em 
microscópio / lupa de grande aumento












Imagem milagrosa que apareceu na "tilma" (espécie de manto, eita de ayate um tecido rústico de fibras extraídas da planta de agave - um tipo de cacto) do índio São Juan Diego.
O material, por ser frágilse desmancha em 10 a 15 anos.
Já se passaram quase 500 anos eo material da tilma se encontra intacto, como se tivesse sido feitorecentemente. Não se deteriora. Não há explicação científica para isso. 


Reconstrução facial, feita por I.A. de como
seria o semblante de Nossa Senhora. Obviamente
sua beleza excedia em muito a essa representação.
Nossa Senhora aparece como "mestiça": traços
indígenas e espanhóis, manifestando seu desejo
de que os dois povos vivessem doravante em paz.


Alguns detalhes - e suas explicações - presentes na imagem
da Virgem de Guadalupe. Estão escritos em espanhol, mas, 
creio que dão para ser compreendidos... 




                                                      ********************




Texto extraído do Ofício das Leituras, segunda leitura, da Liturgia das Horas:


(“Nicán Mopohua”, 12ª edición, Buena

Prensa, México, D.F., 1971, p. 3-19.21)

(Séc. XVI)

Num sábado de mil e quinhentos e trinta e um, perto do mês de dezembro, um índio de nome Juan Diego, mal raiava a madrugada, ia do seu povoado a Tlatelolco, para participar do culto divino e escutar os mandamentos de Deus. Já amanhecia, quando chegou ao cerrito chamado Tepeyac e escutou que do alto o chamavam:

– Juanito! Juan Dieguito!

Subiu até o cimo e viu uma senhora de sobre-humana grandeza, cujo vestido brilhava como o sol, e que, com voz muito branda e suave, lhe disse:

– Juanito, menor dos meus filhos, fica sabendo que sou Maria sempre Virgem, Mãe do verdadeiro Deus, por quem vivemos. Desejo muito que se erga aqui um templo para mim, onde mostrarei e prodigalizarei todo o meu amor, compaixão, auxílio e proteção a todos os moradores desta terra e também a outros devotos que me invoquem confiantes. Vai ao Bispo do México e manifesta-lhe o que tanto desejo. Vai e põe nisto todo o teu empenho.

Chegando Juan Diego à presença do Bispo Dom Frei Juan de Zumárraga, frade de São Francisco, este pareceu não lhe dar crédito e respondeu:

– Vem outro dia, e te ouvirei com mais calma.

Juan Diego voltou ao cimo do cerro, onde a Senhora do céu o esperava, e lhe disse:

– Senhora, menorzinha de minhas filhas, minha menina, expus tua mensagem ao Bispo, mas parece que não acreditou. Assim, rogo-te que encarregues alguém mais importante de levar tua mensagem com mais crédito, porque não passo de um joão-ninguém.

Ela respondeu-lhe:

– Menor dos meus filhos, rogo-te encarecidamente que tornes a procurar o Bispo amanhã dizendo-lhe que eu própria, Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, é que te envio.

Porém no dia seguinte, domingo, o Bispo de novo não lhe deu crédito e disse ser indispensável algum sinal para poder-se acreditar que era Nossa Senhora mesma que o enviara. E o despediu sem mais aquela.

Segunda-feira, Juan Diego não voltou. Seu tio Juan Bernardino adoecera gravemente e à noite pediu-lhe que fosse a Tlatelolco de madrugada, para chamar um sacerdote que o ouvisse em confissão.

Juan Diego saiu na terça-feira, contornando o cerro e passando pelo outro lado, em direção ao Oriente, para chegar logo à Cidade do México, a fim de que Nossa Senhora não o detivesse. Porém ela veio a seu encontro e lhe disse:

– Ouve e entende bem uma coisa, tu que és o menorzinho dos meus filhos: o que agora te assusta e aflige não é nada. Não se perturbe o teu coração nem te inquiete coisa alguma. Não estou aqui, eu, tua mãe? Não estás sob a minha sombra? Não estás porventura sob a minha proteção? Não te aflija a doença do teu tio. Fica sabendo que ele já sarou. Sobe agora, meu filho, ao cimo do cerro, onde acharás um punhado de flores que deves colher e trazer-mo.

Quando Juan Diego chegou ao cimo, ficou assombrado com a quantidade de belas rosas de Castela que ali haviam brotado em pleno inverno; envolvendo-as em sua manta, levou-as para Nossa Senhora. Ela lhe disse:

– Meu filho, eis a prova, o sinal que apresentarás ao Bispo, para que nele veja a minha vontade. Tu és o meu embaixador, digno de toda a confiança.

Juan Diego pôs-se a caminho, agora contente e confiante em sair-se bem de sua missão. Ao chegar à presença do Bispo, lhe disse:

– Senhor, fiz o que me ordenaste. Nossa Senhora consentiu em atender o teu pedido. Despachou-me ao cimo do cerro, para colher ali várias rosas de Castela, trazê-las a ti, entregando-as pessoalmente. Assim o faço, para que reconheças o sinal que pediste e assim cumpras a sua vontade. Ei-las aqui: recebe-as.

Desdobrou em seguida a sua branca manta. À medida em que as várias rosas de Castela se espalhavam pelo chão desenhava-se no pano e aparecia de repente a preciosa imagem de Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, como até hoje se conserva no seu templo de Tepeyac.

A cidade inteira, em tumulto, vinha ver e admirar a sua santa imagem e dirigir-lhe suas preces. Obedecendo à ordem que a própria Nossa Senhora dera ao tio Juan Bernardino, quando lhe devolveu a saúde, ficou sendo chamada como ela queria: “Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe”.



quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

SÃO DÂMASO I, Papa - 11 de dezembro

São Dâmaso nasceu na Espanha por volta do ano 305 d.C. Fez parte do clero de Roma e foi ordenado bispo da Igreja Romana no ano de 366, em tempos muito difíceis.

O certo que que era um homem culto e instruído e que ocupou a cadeira papal entre os anos de 366 até 384. Era um firme defensor da fé e sua postura deu credibilidade ao papado.

Sua eleição não foi tranquila, mas, quando assumiu o governo da Igreja,  possibilitou o florescimento de ritos, orações e pregações durante seu mandato. Devem-se a ele, por exemplo, os estudos para a revisão dos textos da Bíblia e a nova versão em latim (a chamada "Vulgata") escrita por São Jerônimo, seu secretário.

Este Papa deu o melhor de si para manter viva a verdadeira religião católica, fazendo com que houvesse uma maior popularização dos ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo. Convocou vários sínodos contra os cismáticos e hereges

Dâmaso conviveu com grandes destaques do cristianismo, como os Santos Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona e Jerônimo. Era também um poeta inspirado pelas orações e cânticos antigos. Graças a ele as catacumbas foram recuperadas, com o próprio Papa percorrendo-as para identificar os túmulos dos mártires e dar-lhes as devidas honras. Começou a restaurar os túmulos onde estavam as relíquias dos mártires do cristianismo assim que o Império deixou de perseguir os cristãos. Foi, portanto, grande promotor do culto dos Mártires, em cujos sepulcros ornou não só com figuras religiosas, mas, até mesmo com seus versos.


Dâmaso escolheu pessoalmente o túmulo no qual gostaria que fossem depositados seus restos mortais. Na Cripta dos Papas, localizada nas Catacumbas de São Calisto, ao término dos seus escritos em honra deles, deixou registrado: "Aqui, eu, Dâmaso, gostaria que fossem depositados meus espólios. Mas temo perturbar as piedosas cinzas dos mártires" (dá testemunho, aqui, de sua grande humildade e pelo respeito e consideração que tinha pelos santos espólios dos Mártires).

Morreu em 384 d.C. com quase oitenta anos de idade.



terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Beato Contardo Ferrini, leigo franciscano secular, jurista e professor.

 

Contardo Ferrini nasceu em Milão em 1859. Um verdadeiro “garoto prodígio”, aos 17 anos se formou no colegial, aos 21 anos se formou em direito e, após um período de especialização em Berlim, aos 24 anos, já lecionava direito romano na Universidade de Pávia. Também ensinou em Messina e Modena e em 1894 voltou para Pavia, onde permaneceu até sua morte.

Estudioso, jurista e pesquisador estimado, cultivava uma forte espiritualidade, que lhe permitirá se destacar em um ambiente altamente anticlerical. Uma atitude que se tornará sua principal forma de evangelização: com esse "apostolado silencioso" e seu estilo de vida, poderá falar de Deus mesmo aos ateus distantes, indiferentes.

Envolvido em San Vincenzo e outras atividades de caridade, por quatro anos foi vereador em Milão, onde lutou para preservar o ensino religioso nas escolas primárias. Contardo Ferrini é um dos primeiros a apoiar o projeto de uma universidade católica na Itália. Contraiu tifo bebendo em uma fonte poluída e morre aos 43 anos, em 17 de outubro de 1902, durante um período de férias em Suna, no lago Maggiore. Pio XII o proclama bem-aventurado em 1947. (Avvenire)

Nascimento e primeiros anos

Em Milão, em meio a uma fúria patriótica e ventos de guerra, em 04 de abril de 1859 nasceu Contardo, filho de Rinaldo Ferrini e Luigia Buccellati. Em sua família, porém, havia um grande amor por Jesus e pela Igreja. Seus pais o educaram para a fé e a oração. O espírito intacto do pai, tecido de fé e ação, desde tenra idade, o levou ao topo, apesar de, nos primeiros anos, por causa de seu temperamento forte e indômito, ter sido um menino algo desobediente e traquinas. Tocado profundamente pela morte da avó materna, a quem muito amava, Contardo, com aproximadamente 09 anos, passou a sentir em si mesmo o desejo de amar somente o Senhor, em dedicação virginal, correspondendo ao seu amor com uma intensa vida interior de meditação e com frequente e regular confissão e comunhão eucarística (lembra um santo recentemente canonizado: São Carlo Acutis, que a partir de dua Primeira Comunhão, aos sete anos de idade, passou a ir à Santa Missa diariamente). 


Um garoto prodígio

Dotado de grande inteligência, iniciou seus estudos com grande lucro, obtendo seu diploma do ensino médio na faculdade das Ursulinas de Sant 'Ambrogio em 1876, com apenas 17 anos de idade. Na época do positivismo, uma ideologia negadora de Deus e do catolicismo, ele apareceu como um erudito maduro e um católico coerente, de rosto alto, com o nome de Jesus não apenas na mente, mas, também nos lábios.

Para continuar seus estudos, ele conseguiu um lugar livre no Colégio Borromeu de Pavia, onde se matriculou na Faculdade de Direito dessa famosa universidade. Os professores e colegas discípulos logo se viram atingidos por sua profissão de fé aberta e segura, e alguém começou a ridicularizá-lo, apelidando-o de "San Luigi" como um sinal de ridículo. Mas, Contardo respondeu com seu temperamento: culto, altamente preparado, sempre com resultados brilhantes nos exames, forte na fé e alegre em seu estilo de vida.

Delicado e gentil, ele amava a poesia, especialmente ao contemplar o grande livro da natureza, escalando os picos dos Alpes. Em 1880, aos 21 anos, batendo todos os recordes, ele se formou com uma tese sobre a contribuição que o estudo dos poemas de Homero e de Hesíodo deram à história do direito penal. A comissão do exame não confrontou um aluno, mas, já um professor, apesar de muito jovem. A partir desse dia, Contardo será um modelo de católico leigo, em sua fé vivida e em sua profunda preparação e competência profissional.

 


Professor ilustre

Contardo imediatamente descobriu sua vocação científica: o estudo do direito antigo, particularmente o direito romano. Depois de obter uma bolsa de estudos, ele se aperfeiçoou na Universidade de Berlim: ali se tornou amigo dos jovens católicos alemães, admirando sua preparação cultural, social e política, ações de caridade em meio à fé mais pobre e luminosa.

Em 1883 (com apenas 24 anos), o professor Ferrini obteve a livre docência em direito romano e começou seu ensino na Universidade de Pavia. À cadeira, ele trouxe sua seriedade como estudioso e a paixão do professor. Ao mostrar ciência e vida como o direito centrado na dignidade da pessoa à luz de Deus, contribui para a organização de uma sociedade que reflete a própria imagem de Deus. 

Muito habilidoso e amável, impôs-se à admiração de seus colegas e estudantes pela profundidade de sua cultura e pela clareza da exposição. Sua palavra era nobre e fluente, e o sorriso sempre bom e fraterno. Sua pessoa, com um rosto emoldurado por barba e cabelos loiros, respirava uma luz de superioridade intelectual e espiritual que fascinavam.  

Em 1887, ele ensinou em Messina, em 1890, em Modena, retornando a Pávia em 1894, onde permaneceu até sua morte, residindo com seus pais em Milão. No campo científico, seus escritos são muito importantes e ainda muito conhecidos; em particular, seu tratado sobre direito penal romano continuará sendo um texto fundamental para estudantes e acadêmicos. O professor mostrou seu conhecimento com grande humildade: em seus estudos, ele abrangeu do direito à filosofia, da glotologia à literatura italiana e estrangeira; em particular, ele era um apaixonado e especialista amante do pensamento humanista alemão. 

Para aqueles que perguntaram a ele: "Por que você não se casa?" e ofereceu-lhe acordos vantajosos, ele respondeu: "Casei-me com a ciência". Na verdade, Contardo havia se casado com a causa de Jesus e da Igreja como leigo consagrado no mundo, abrindo junto com outros leigos muito nobres (pense em seu colega professor Giulio Salvadori) o caminho para os consagrados dos institutos seculares do século XX.

Ele preferiu, portanto, permanecer celibatário, mas cultivou um alto conceito de casamento, tanto como sacramento quanto como instituição indispensável na sociedade civil. Jesus, o único em sua vida. Para ele e para sua glória, todo o comprometimento da cadeira que lhe rendeu duzentos escritos, que vão desde edições críticas de preciosos textos legais, até artigos para revistas especializadas e diversos itens para enciclopédias. Muitos escritos menores foram então coletados em cinco volumes.

Seus escritos (mistura de ciência e espiritualidade) são obras originais, tanto na exploração das fontes quanto na investigação de problemas ainda não resolvidos, marcando um progresso que leva Teodoro Mommsen a dizer que “o século XX para os estudos romanos receberia o nome do professor Ferrini "E isso" – continua – devido ao seu mérito, a primazia dos estudos romanos passou da Alemanha para a Itália ". Onde está então o obscurantismo de que o catolicismo ainda é acusado hoje, se você tem homens assim?

Contardo também nos deixou páginas ascéticas e místicas muito altas em sua correspondência com amigos e em seus diários pessoais. Como quando, ainda muito jovem, ele escreveu: “Eu não saberia conceber uma vida sem oração, acordar de manhã sem encontrar o sorriso de Deus; um reclinado da cabeça à noite, sem pensar em Deus.Esta vida deve se parecer com uma noite escura e árida devido a um terrível anátema de Deus ... como pode durar nesse estado é um mistério para mim. Peço ao Senhor que a oração nunca precise morrer nos meus lábios. Sim, porque naquele dia que manteria a oração em silêncio, isso significaria que Deus me abandonou ”. Em solo alemão, ele escreveu: “Poder Divino da Fé”.

"Ignorando as fronteiras nacionais e linguísticas, nos consideramos irmãos. A universalidade de Cristo é tão admirável; tanto que nele não há grego, nem bárbaro nem cita, mas todos nós estamos entrelaçados nele". 

E então aquela admirável página da Eucaristia: "É a assimilação do homem a Deus. Quem sabe dizer a que ponto de santidade a alma alcança que com freqüência, com devoção, afeto e com máxima reverência, se alimenta deste Pão mais puro?" , quem é Jesus Cristo, e incorpora e identifica em si o preço da redenção? Eis aqui o segredo da santidade: graças a Jesus, Pão da vida, viveremos e nunca morreremos ”. Nesse espírito, Contardo Ferrini se interessou pelos problemas sociais de seu tempo, juntando-se a atividades de caridade, como as Conferências de San Vincenzo e participando de competições cívicas eleitorais. Em 1895, ele foi eleito conselheiro municipal de Milão e, por quatro anos, trabalhou escrupulosamente e com competência como administrador público, defendendo e promovendo o ensino da religião nas escolas primárias. Ele era apaixonado pela relação entre ciência e fé que o materialismo predominante se dissolveu em ateísmo ou indiferença. Ele cultivou, entre os primeiros na Itália, o projeto de uma Universidade Católica. Ele não viu a Universidade Católica, nascida em Milão em 1921, porém a mesma o reconheceu como seu precursor e inspirador.

Contardo Ferrini, um jurista e professor leigo italiano, foi beatificado pelo Papa Pio XII em 13 de abril de 1947, após ter sido declarado Venerável, sendo um modelo de fé e ciência que unia vida acadêmica e serviço aos pobres, sendo hoje um patrono de faculdades de direito, como a da PUC-SP. 

Fonte (principal – traduzido do italiano para o português)

http://www.santiebeati.it/dettaglio/35050

 

 

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Segundo texto biográfico (mais resumido):

Professor da Terceira Ordem (1859-1902). Beatificado por Pio XII no dia 13 de abril de 1947.

Contardo Ferrini, chamado “astro de santidade e de ciência”, nasceu em Milão, no norte da Itália, a 5 de abril de 1859.

Contardo Ferrini tinha extrema inteligência. Filho de Rinaldo e Luiza, ambos, desde cedo, cuidaram para o integral desenvolvimento de sua potencialidade. Seu pai, um professor e engenheiro, incutiu-lhe o desejo de buscar o conhecimento nas fontes verdadeiras e uni-lo à fé. Esta última parte sempre foi muito desprezada pela maioria dos intelectuais.

Porém Contardo foi um dos juristas mais apreciados e um dos grandes romancistas do seu tempo. Um grande professor e intelectual, mas muito diferente e especial também. O que o tornava realmente destacado era sua dedicação religiosa, num tempo em que a Igreja atravessava profunda crise de fé e enfrentava grande oposição. Já era assim quando nasceu, no dia 5 de abril de 1859, em Milão, Itália. E continuaria sendo nas décadas seguintes.

No plano intelectual, foi brilhante. Com dezessete anos, já havia estudado hebraico, siríaco, sânscrito, copta e iniciava o curso de Direito na Universidade de Pávia. Especializou-se em direito romano e para isso, além de estudar latim, grego e alemão, paralelamente aprendeu espanhol, inglês e francês. Laureado em 1880, como prêmio a universidade deu-lhe uma bolsa de estudos, o que lhe proporcionou a oportunidade de estudar na Universidade de Berlim. Com vinte e quatro anos, já lecionava direito criminal e direito romano, viajando pelo exterior e realizando conferências e palestras.

No plano espiritual, foi exemplar. Mesmo depois de aguentar e sofrer com as gozações dos companheiros de universidade por causa da religiosidade, foi crescendo na fé. Fez voto de castidade em 1881, e assistia à missa diariamente. Humilde, seu amor aos mais pobres o fez participar das obras da Sociedade de São Vicente de Paulo. Simples, seu amor à natureza – praticava alpinismo – o fez tornar-se terciário franciscano em 1886.

Juntando os dois planos, foi um homem completo, amigo, solidário, lutador das causas contra o divórcio, dos excessos de materialismo e em defesa da infância abandonada. Especialmente, quando foi eleito conselheiro municipal de Milão. Vivia para os estudos, as aulas, a igreja e as orações solitárias em casa, mas estava sempre à disposição de todos os que o procuravam para pedir ajuda, conselhos e orientações pessoais.

Nas férias, sempre viajava para Suna, uma região montanhosa destinada à pratica do alpinismo. Lá, conheceu um religioso apreciador e praticante desse esporte, Achille Ratti, mais tarde Pio XI, promotor de sua beatificação. Foi lá que contraiu a doença que o levou à morte em 17 de outubro de 1902, o tifo.

Deixou um legado literário importante: os escritos jurídicos de Ferrini resultam nos cinco volumes conhecidos como “Obras de Contardo Ferrini”, os estudos espirituais chamados de “Escritos religiosos de Contardo Ferrini” e “A vida”.

O papa Pio XII beatificou-o em 1947. No mesmo ano, o bem-aventurado Contardo Ferrini foi proclamado patrono da Faculdade Paulista de Direito, da Pontifícia Universidade Católica, e a Sala de Reuniões da mesma homenageia o seu nome. A celebração litúrgica em sua memória ocorre no dia de sua morte

Tinha apenas quarenta e três anos de idade quando, aos 17 de outubro de 1902, descansou na paz do Senhor.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

 

domingo, 2 de novembro de 2025

O PURGATÓRIO: uma realidade pouco falada na Igreja hoje em dia... (02 de novembro de 2025)

  O Purgatório é uma realidade pouco falada na Igreja hoje em dia. Observem bem homilias no Dia de Finados: fala-se em: "eles estão em paz", "estão com Deus", "nossos familiares e entes queridos que já estão na páscoa definitiva", "nossos familiares e amigos que já se encontram na luz do paraíso", etc. Quase nenhum padre usa literalmente a palavra purgatório. Parece até um “tabu”.

Que pena! Ir para o Céu direto, meus irmãos, é para poucos, muito poucos! Somente os santos e santas, já completamente purificados de seus defeitos, que passaram pela noite escura e já gozavam em vida da plena união com Deus, bem como os mártires da fé, foram direto para o Céu. Todos os demais (até mesmo alguns santos e beatos), após a morte, possivelmente passaram algum tempo no purgatório, nem que sejam algumas "horas" ou "dias" (se bem que o tempo lá não é igual ao nosso).

Não podemos descuidar desse ato de caridade e boa obra: "rezar pelos vivos e falecidos". Mesmo que sua vovó, seu vovô, sua mãezinha, seu paizinho, um tio, uma tia, um amigo ou uma amiga, um irmão ou irmã de comunidade tenha sido muito virtuoso, pode ser que ainda esteja no purgatório, pois, como disse o próprio Jesus: "Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo" (Mateus 5, 26).

Lembrando que centavo é centavo, é pouquíssima coisa. A misericórdia divina é infinita e tudo perdoa? Sim! Claro! Porém, o pecado, mesmo perdoado, deixa uma "nódoa", um "defeito" na alma que precisa ser curado, que precisa ser apagado e reparado.



Quando somos perdoados por Deus, a culpa é extinta, no entanto, a alma fica com a "tendência a pecar de novo" renovada. Uma espécie de "cicatriz". Sem falar nas consequências do erro que cometemos, tanto em nós mesmos, quanto no próximo, em minha família, na sociedade, etc. No Céu só se entra livre de tudo isso!

Por mais que eu ame meu pai, minha mãe, minhas irmãs, meus filhos, minha esposa e demais parentes, Deus me livre que eu venha a passar a eternidade com eles convivendo com os mesmos defeitos que eles tinham ou tem na terra, por menores que sejam! E eu também: Deus me livre, que tenha na outra vida os mesmo defeitos que tenho agora! Por isso, graças à Misericórdia Divina, Deus "inventou" o purgatório: para que possamos ir para o Céu limpos, curados, sanados, aperfeiçoados e verdadeiramente santos, livres não somente do pecado, mas, também, dos efeitos e consequências que eles nos deixaram ou deixam em nossas almas.

Em assim sendo, apesar de ser um lugar onde, por justiça, são expiadas as consequências de nossos pecados, mesmos os perdoados, o Purgatório também é um lugar da misericórdia de divina. É um lugar de cura, de libertação e transformação. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5,8). Essa foi a condição imposta por Jesus nessa bem-aventurança. Somente os puros, isto é, os limpos de “coração” ou de alma, poderão ver a Deus.

Em Deus não há o menor traço de impureza ou pecado. É perfeitíssimo e santíssimo. A bem-aventurança eterna no Céu outra coisa não é do que estar “mergulhado plenamente em Deus”. O Céu é a contemplação, o gozo e a participação plenas da alma, dentro de suas capacidades, do Ser de Deus. Estar no Céu é estar com Deus e em Deus. Sendo assim, como podemos pensar que uma alma possa estar no Céu nem que seja com a menor mancha de pecado? Impossível!

Muitos, então, poderiam dizer: “mas, Deus nos purifica”. Sim, Deus nos purifica de todo pecado, pelo Sangue redentor de Jesus. Deus nos ama e nos perdoa, porém, o pecado não consiste apenas na “culpa”: todo pecado abrange dois aspectos: a culpa e o dano. Mesmo com o perdão de Deus, ainda permanecem as consequências do (s) pecado (s) cometido (s). O pecado é a doença da alma. Deus, em sua misericórdia, nos perdoa, no entanto, quando pecamos – e quanto mais o fazemos – nos tornamos cada vez mais doentes na alma. A culpa é apagada pelo perdão de Deus, por pura misericórdia de sua infinita bondade, no entanto, após o pecado, nossa alma fica como que mais “tendenciosa” a cair na mesma falha. Além disso, muitas vezes nossos pecados afetam a vida dos outros: de familiares, de amigos, de conhecidos ou mesmo de pessoas que nem conhecemos, prejudicando material ou espiritualmente. Tudo isso também é dano que precisa ser reparado, que precisa ser purificado.

Daí que graças a Deus existe o purgatório: para que as consequências do pecado ou o dano sejam reparados. Não seria justo ou correto que uma alma pudesse ir para a glória eterna do Céu com defeitos e pecados a serem ainda purificados ou reparados.




Como as almas são purificadas no Purgatório?

Existem dois meios ou formas básicos: o meio ordinário e o extraordinário (não significa aqui que seja raro):

O meio ordinário é através do fogo purificante do amor por Deus e do arrependimento. No momento do juízo particular, a alma conhece de forma perfeita e clara todos os pecados (os veniais e os graves perdoados), defeitos e danos que precisa ainda reparar. Quem se “condena” ao purgatório é a própria alma, não Deus. Deus é Amor, é Amor infinito. Não é Ele quem diz: “saia da minha frente e vá para o purgatório”. Não. Diante da Santidade infinita de Deus, diante do Amor puríssimo de Deus, que é perfeitíssimo, é a alma mesma quem diz para si: “não podes ainda ir para Deus”! Então, é ela mesma quem se lança ao purgatório, para ali expiar os pecados e danos que cometeu em vida.

No Purgatório, o fogo é de amor ardente. É um fogo purificante, que vai limpando a alma pouco a pouco, tornando-a cada vez mais apta a partir para o Céu. Quanto “tempo” leva isso? Depende da gravidade e número de pecados e danos que a alma precisa expiar. No Purgatório o “tempo” não é como o nosso. O que seria um “dia” lá pode parecer “100 anos”, dependendo do grau de sofrimento pelo qual a alma está passando.


O meio extraordinário e – graças a Deus que ele existe – comum é o efeito dos SUFRÁGIOS que a Igreja Militante oferece a Deus, bem como a INTERCESSÃO DOS SANTOS do Paraíso (Igreja Triunfante). Os Santos do Paraíso podem também, juntamente com as súplicas da Igreja Militante, oferecer a Jesus e Maria seus méritos e preces em favor das almas do Purgatório.

Mas, parece que o bom Deus, em sua Sabedoria e Providência quer que seja a Igreja Militante, com suas orações, especialmente o oferecimento dos méritos da Santa Missa, quem alcance para essas almas os sufrágios que tanto necessitam. Posso “arriscar” aqui uma explicação lógica para isso: dentro da chamada “Economia da Salvação”, o “lucro” que também nossas almas ganham a sufragarmos as benditas almas do Purgatório. Sim! As orações da Igreja Militante ou Peregrina, especialmente a Santa Missa, pelos méritos infinitos da Paixão e Morte de Jesus, purificam as almas do Purgatório, anulando ou diminuindo as penas temporais ali devidas.

Além do mais, há os méritos das orações dos fiéis da Igreja: terços, rosários, vias sacras, orações indulgenciadas, o mérito das boas obras, os sacrifícios, os jejuns, as renúncias e os oferecimentos de nossos sofrimentos e doenças, unidos aos méritos de Cristo e da Virgem Maria, podem também sufragar muitas almas do purgatório.

Deus, em sua Providência e Misericórdia, concede a quem reza ou faz rezar (mandar celebrar Missas, por exemplo) pelas almas do Purgatório, muitas indulgências e graças que beneficiarão a essas pessoas, quando estiverem também, um dia, naquele no lugar de expiação. Que coisa maravilhosa, não é? Os Santos e eleitos do Paraíso, apesar de se comprazerem em nova e acidental felicidade, em poderem sufragar almas, nada mais lucram com isso, pois, já estão “fixados” em seus respectivos graus de glória e de alegria no Céu, que não mais aumentarão e nem, claro, diminuirão. Já nós, pobres peregrinos neste “vale de lágrimas” (vide a oração da Salve Rainha), nos beneficiamos sim (e muito!) em termos atenção, consideração e caridade pelas almas do Purgatório e por elas oferecermos sufrágios e indulgências.



Por Giovani Carvalho Mendes (Ir. João Maria da Encarnação, OCDS)