São João da Cruz pertence à gloriosa plêiade de grandes luminares da Igreja e é, possivelmente, um dos maiores Santos de sua história. Foi o primeiro carmelita descalço, um grande místico, exímio mestre da vida espiritual, príncipe dos poetas espanhóis, doutor da
Igreja (título de "o Doutor Místico"), o santo do despojamento e do desapego, "doutor do Tudo e Nada".
Leitura obrigatória para todos aqueles que desejam aprofundar a oração contemplativa e a vida mística, São João da Cruz é lido não somente por estudiosos católicos, mas, até mesmo por pessoas de religiões, graças à maravilhosa literatura por ele deixada: Subida do Monte Carmelo, Cântico Espiritual, Chama de Amor Viva e A Noite Escura da Alma, que são suas principais obras, além de alguns outros escritos.
Hoje, o Carmelo Descalço se alegra com a Solenidade deste Santo a quem frades, monjas e seculares chamam de "Santo Padre".
Peçamos a ele que, do Céu, interceda por todos nós, tão imperfeitos, para que possamos à semelhança dele, amar a Deus sobre todas as coisas e desapegar de tudo aquilo que não seja Deus. E, como ele mesmo disse em uma de suas obras: "quem quiser ter o Tudo, tem que não desejar nada. Quem quiser chegar ao Tudo, tem que não querer nada de nada"...
Pode-se com certeza afirmar que o que São Francisco de Assis foi em relação à virtude da pobreza, São João da Cruz foi em relação ao desapego total de si mesmo e de todas as criaturas.
Peçamos a ele que, do Céu, interceda por todos nós, tão imperfeitos, para que possamos à semelhança dele, amar a Deus sobre todas as coisas e desapegar de tudo aquilo que não seja Deus. E, como ele mesmo disse em uma de suas obras: "quem quiser ter o Tudo, tem que não desejar nada. Quem quiser chegar ao Tudo, tem que não querer nada de nada"...
Pode-se com certeza afirmar que o que São Francisco de Assis foi em relação à virtude da pobreza, São João da Cruz foi em relação ao desapego total de si mesmo e de todas as criaturas.
São João da Cruz nasceu em Fontíveros,
Castela, em 24 de junho de 1542. Era o filho mais novo de Gonzalo de Yepes e
Catalina Alvarez, pobres tecedores de seda de Toledo. Seu pai era de uma
família rica, mas foi deserdado por causa de seu casamento com uma mulher mais
pobre e morreu enquanto João era pequeno. Sua mãe, com a ajuda do filho mais
velho, não conseguia prover o mínimo para a casa. João foi então mandado para a
escola de pobres de Medina del Campo e era um estudante aplicado mas incapaz de
aprender um ofício artesanal. O chefe do hospital de Medina o chamou para
trabalhar e, por sete anos, ele se dividiu entre os cuidados com os mais pobres
e os estudos em uma escola jesuíta. Já nesta idade tratava seu corpo com
extremo rigor e por duas vezes foi salvo da morte pela intervenção de Nossa
Senhora.
Ansioso sobre seu
futuro, foi-lhe dito em oração que ele serviria a Deus em uma ordem de antiga
perfeição que ele ajudaria a florescer novamente. Os Carmelitas tinham fundado
uma casa em Medina, onde ele tomou o hábito em 24 de fevereiro de 1563 com o
nome de João de São Matias. Depois de sua profissão de fé, ele recebeu
autorização para seguir a regra Carmelita original. Ele foi enviado para
Salamanca para continuar seus estudos e foi ordenado padre em 1567; em sua
primeira missa ele teve confirmação de que deveria preservar sua inocência
batismal. Mas, se afastando das responsabilidades, resolveu seguir os Cartuxos.
No entanto, antes
de tomar qualquer decisão, ele conheceu Santa Teresa, que tinha vindo para
Medina para fundar um convento de freiras e o persuadiu a permanecer na Ordem
Carmelita para ajuda-la a fazer um mosteiro de frades seguidores da regra
primitiva. Ele a acompanhou a Valladolid para ter experiência prática na
maneira de viver das freiras reformadas. Tendo recebido uma pequena casa, São
João resolve tentar a nova forma de vida, embora Santa Teresa não acreditasse
que ninguém conseguiria enfrentar os desconfortos daquele lugar. Ele foi
seguido por dois companheiros, um ex-prior e um irmão leigo, com quem inaugurou
a reforma entre os frades em 28 de novembro de 1568. Santa Teresa deixou uma
descrição do modo de vida desses primeiros Carmelitas Descalços em seu
"Livro das Fundações".
João da Cruz, como
ele mesmo se chamava, se tornou mestre dos noviços e fez a fundação do edifício
espiritual que brevemente assumiria proporções majestosas. Ele teve várias
funções até Santa Teresa o chamar para Ávila como diretor e confessor do
convento da Encarnação, de onde ele era prioresa. Ele permaneceu em Ávila, com
poucas interrupções, por cinco anos. Durante este tempo, a reforma se espalhava
rapidamente e logo sua existência entrou em perigo. São João foi mandado de
volta para Medina e, por causa de sua recusa em obedecer, foi preso em 03 de
dezembro de 1577 e enviado para Toledo, onde sofreu por mais de nove meses
aprisionado em uma pequena cela. Em seu sofrimento foi visitado por consolações
celestes e algumas de suas melhores poesias datam deste período. Ele conseguiu
fugir em agosto de 1578. Nos anos seguintes ele se ocupou da fundação e governo
dos mosteiros de Baeza, Granada, Cordoba e Segóvia, mas não teve papel
proeminente nas negociações que levaram ao estabelecimento de um governo
separado para os Carmelitas Descalços.
Após a morte
de Santa Teresa em outubro de 1582, quando os partidos de Jerônimo Graciano e
Nicolau Doria brigavam pelo poder, ele apoiou o primeiro e compartilhou seu
destino. Durante algum tempo ele foi vigário provincial na Andaluzia, mas,
quando Doria mudou o governo da ordem, concentrando todo o poder nas mãos de um
comitê permanente, São João resistiu e, ajudando as freiras na tentativa de
obter aprovação papal para suas constituições, chamou para si o
descontentamento de seu superior, que o tirou de seus trabalhos e o mandou para
um dos mosteiros mais pobres, onde ele ficou gravemente doente. Um de seus
oponentes foi ao mosteiro para levantar acusações contra São João e tentar
expulsá-lo da ordem.
Ele foi enviado
para o mosteiro de Ubeda com o agravamento de sua doença e morreu em 14 de
dezembro de 1591. Com sua morte até seus adversários reconheceram sua santidade
e seu funeral foi ocasião de muito entusiasmo. Seu corpo, ainda incorrupto, foi
transferido para Segóvia e apenas uma parte ficou em Ubeda.
Um estranho
fenômeno, sem explicação satisfatória, foi observado em relação às relíquias de
São João: Francisco de Yepes, seu irmão, e depois muitas outras pessoas viram a
aparição nas suas relíquias de imagens de Cristo na Cruz, Nossa Senhora, Santo
Elias, São Francisco Xavier e outros santos. Sua beatificação foi em 25 de
janeiro de 1675, por Clemente X, a transladação de seu corpo foi em 21 de maio
do mesmo ano e a canonização foi em 27 de dezembro de 1726, pelo Papa Benedito
XIII. Pio XI proclamou-o Doutor Místico da Igreja em 24 de
agosto de 1926 e em 21 de março de 1952 foi proclamado padroeiro dos poetas
espanhóis.
São João da Cruz
deixou os seguintes trabalhos, que apareceram pela primeira vez em Barcelona em
1619: Subida ao Monte Carmelo, uma explicação de alguns versos começando com: Em uma noite escura com amor ansioso
inflamado; A Noite Escura da Alma, outra explicação dos mesmos versos.
Ambos os livros foram escritos após sua fuga da prisão e são um complemento um
do outro, formando um completo tratado de teologia mística; Chama de Amor Viva, um belíssimo poema que canta a
união da alma amante com seu Deus amado; uma explicação do Cântico Espiritual
(paráfrase do Cântico dos Cânticos), composto em parte durante sua prisão e
completado e comentado anos depois a pedido da Venerável Ana de Jesus; instruções
e precauções em assuntos espirituais;umas vinte cartas, principalmente para
seus penitentes (infelizmente grande parte de sua correspondência, incluindo as
cartas de e para Santa Teresa, foram destruídos, em parte pelo próprio São
João, durante as perseguições que sofreu); seus poemas; e uma Coleção de
Máximas Espirituais, retiradas de seus livros mas que, sozinha, já são um belo
trabalho espiritual.
*******
Um
resumo da doutrina de São João da Cruz:
São João da Cruz
fala de quatro "Noites", duas passivas e duas ativas; duas dos
sentidos e duas do espírito.
São elas:
- noite ativa dos sentidos;
- noite ativa do espírito;
- noite passiva dos sentidos;
- noite passiva do espírito.
As duas
primeiras são tratadas no livro "Subida do Monte Carmelo", e as duas
últimas no livro "Noite Escura". As "Noites" são o mesmo
que purificações. Noites "ativas" são aquelas purificações que a alma
opera pelo seu próprio esforço e luta; é a parte ascética. Noites
"passivas" são aquelas em que é Deus mesmo quem age e purifica; é a
mística.
A "noite
ativa dos sentidos", consiste em toda sorte de penitências e mortificações
dos sentidos, procurando não sentir gosto ou prazer em nada que venha dos
sentidos. João da Cruz resume essa etapa de mortificações dizendo que a alma
deve em tudo imitar Cristo, e deve em tudo tentar assemelhar-se a Ele, que não
buscou o que lhe agradava, que não tinha onde reclinar a cabeça, e que não tinha
melhor alimento que não fosse fazer a vontade do Pai.
A "noite
ativa do espírito" consiste numa purificação das três potências da alma:
inteligência, vontade e memória. Consiste numa espiritualização dessas três
faculdades, purificando-as por meio das três virtudes teologais. Assim, a fé
deve purificar e substituir a inteligência; a caridade deve purificar e
santificar a vontade; e a esperança deve purificar e espiritualizar a memória.
João da Cruz costuma de maneira especial usar o termo "Noite Escura",
para as "purificações passivas".
A "noite
passiva do sentido", consiste num estado místico, ou numa forma de oração
em que a alma nada sente, nada experimenta, nada prova. É um período de
deserto, trevas, aridez, desolação e noite. A alma sente-se abandonada por
Deus. Deus retira aquelas "doçuras" e "suavidades" que a
alma costumava encontrar na oração. No entanto a alma que está na "noite
passiva do sentido", está muito adiantada, e ela sente, as vezes, que
nunca esteve tão próxima de Deus e da verdade como agora que anda nas trevas,
na aridez e na escuridão. A "noite passiva do sentido" é a preparação
para a "vida mística". A "vida mística" ou "oração
mística", se caracteriza de maneira especial pela passividade. É quando a
alma não fala mais, não discursa mais, não tem mais palavras e permanece em
silêncio amoroso diante de Deus. O início da "oração mística",
consiste na "oração de simples olhar". É quando a alma apenas olha e
cala, mas tem a vontade firmemente fixa e presa no objeto do seu olhar. A
"noite passiva do sentido" é a entrada na "vida mística"; é
quando a alma entra em si mesma e só encontra trevas e vazio. No entanto, estas
trevas e vazio, são cheias de luz. Pois a alma compreende que está bastante
adiantada na vida espiritual, e também porque recebe muitas luzes e
compreensões a respeito de Deus. A noite passiva do sentido é a entrada na via
mística, pois prepara a passagem da meditação discursiva para a oração
contemplativa (mística).
São João da Cruz
nos dá três sinais sobre quando se está pronto para passar da oração
discursiva, para a oração contemplativa:
- O 1º sinal é
não poder meditar nem discorrer com a imaginação, nem gostar disso como antes;
ao contrário só acha secura no que até então o alimentava e lhe ocupava o
sentido.
- O 2º sinal é
não ter vontade alguma de pôr a imaginação nem o sentido em outras coisas
particulares, quer exteriores, quer interiores.
- O 3º sinal, e
o mais certo, é gostar a alma de estar a sós com atenção amorosa em Deus, sem
discorrer com o intelecto, em paz interior, quietação e descanso, sem atos e
exercícios intelectuais; mas apenas com a atenção e advertência geral e amorosa
em Deus.
No princípio,
entretanto, quando começa este estado, quase não se percebe essa notícia
amorosa. Primeiro, porque no começo, costuma ser a contemplação muito sutil e
delicada e quase insensível; segundo, porque tendo a alma se habituado à
meditação (discursiva), cujo exercício é totalmente sensível, com dificuldade
percebe esse novo alimento insensível e puramente espiritual. Em geral, a
passagem da oração discursiva (meditação) para a oração contemplativa ou
mística, se dá após um longo período da "noite passiva dos sentidos".
A "noite
passiva do espírito" consiste num tipo de sede ardente, ou de forte
saudades de Deus. A alma toma forte consciência de seus defeitos e imperfeições
e sente-se abrasada em uma imensa sede amorosa por Deus.
Essa é a última
das purificações, ou noites; após vêm um estágio denominado Desposório
Espiritual, e por fim o Matrimônio Espiritual, que é o estado mais elevado que
se pode atingir nesta terra, e que consiste numa plena união com Deus e numa
total divinização da alma.
![]() |
Em uma de suas visitas a Santa Teresa de Jesus, ambos entraram em profundo em êxtase e levitaram, ao falarem sobre o Amor de Deus... O fenômeno foi testemunhado por várias irmãs. |
![]() |
Preciosa urna onde repousam os restos mortais do Santo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário