
Ildefonso, o mais
ilustre dos discípulos de Santo Isidoro de Sevilha, o mais popular dos santos
da Espanha, tinha nascido nesta mesma cidade de Toledo, no seio duma família —
na qual corria o sangue real —, a 8 de Dezembro de 606, dia que depois foi
consagrado à Imaculada Conceição da Virgem Maria, e foi pela intercessão de
Maria, que Estevão, seu pai, e Lúcia, a sua mãe obtiveram do céu esta criança
abençoada.
Recebeu,
primeiramente em Sevilha, durante doze anos, as sublimes educação e formação de
Santo Isidoro. Seguidamente tendo voltado ao lar, fez-se monge em Agali e aí
terminou os seus estudos. A morte dos seus pais deixou-lhe a livre disposição
dos seus bens, que ele consagrou à fundação de um mosteiro de religiosas.
Eugênio II, o
arcebispo de Toledo, tendo falecido (657), a voz unânime do clero e do povo
colocou Ildefonso sobre a sede metropolitana; e, então, fazendo o ofício de bom
pastor, iluminou, como um sol místico, todas as igrejas da Espanha tanto pela
sua ciência como pela sua virtude. Mas, o que lhe valeu o primeiro lugar no
amor e na memória do povo espanhol, foi sobretudo a sua ardente devoção para
com a Santíssima Virgem cuja virgindade defendeu contra o Helvídios. As visões
miraculosas que confirmam o reconhecimento de Maria pelos esforços do seu
zeloso defensor e as relíquias que deixou à igreja de Toledo, inflamaram
durante muito tempo a devoção dos Espanhóis para com o seu grande Santo
Ildefonso. Estas maravilhas insignes merecem ser conhecidas.
No dia da festa
de Santa Leocádia, esta ilustre e famosa mártir saiu do seu túmulo junto do
qual Ildefonso orava e descobriu-lhe o sítio onde se encontravam as suas relíquias,
durante muito tempo esquecidas, que o santo arcebispo desejava ardentemente
reencontrar. Seguidamente, tomando-o pela mão, disse-lhe perante toda a
assistência: “Ildefonso, por ti foi
defendida a minha Soberana que reina no alto dos céus”, querendo dizer-lhe
que tinha defendido a honra de Maria contra os hereges. Para ter uma prova
palpável desta visão, tomou a espada do rei que o acompanhava e cortou um
retalho do véu da Santa, antes que o túmulo se fechasse: esta parcela de véu
tornou-se uma relíquia muito venerada, conservada na igreja de Toledo.
Santo Ildefonso
estabeleceu, ou, pelo menos celebrou e propagou com zelo a festa da Expectação
do parto da Santíssima Virgem. Ora, antes de Matinas desse dia, Ildefonso
levantava-se à habitual para ir cantar os louvores de Maria.
A notável aparição da Virgem Maria a Santo Ildefonso
Estava
acompanhado dos seus clérigos e dum grande número de pessoas. Iam à frente
luminosas tochas de cera. Chegados à porta, as pessoas que compunham o cortejo
perceberam na igreja uma claridade que seus olhos não podiam suportar e
fugiram. Ildefonso mandou abrir e avançou para o altar acompanhado pelo diácono
e pelo subdiácono apenas. Prostrou-se e, nesse mesmo momento, apareceu-lhe a
Virgem a Maria sentada sobre o a cadeira episcopal, cercada de um grupo de
santas virgens que executavam sobre a terra cânticos do Paraíso. Maria fez
sinal ao seu defensor para que se aproximasse, e fixando sobre ele o seu olhar
disse-lhe: “Vós sois o meu capelão e o
meu fiel notário, recebei esta casula que o meu Filho tirou dos seus tesouros”.
Seguidamente, cobriu-o Ela mesma e ordenou-lhe de não se servir desta a não ser
por ocasião das festas celebradas na sua honra. Esta aparição foi tão certa e
real que um concílio de Toledo ordenou que para perpetuar a memória uma festa fosse
celebrada todos os anos, sob o título de “Aparição da Santíssima Virgem e do
seu Menino a santo Ildefonso”, e, coisa notável, esta mesma festa é solenizada
no Egito pelos Coptas.
Estes favores
com que Nosso Senhor e a sua Santa Mãe quiseram honrar o seu servo é um digno
prelúdio à felicidade eterna da qual, no dia 23 de Janeiro do ano 669, ele iria
gozar. Tinha então Ildefonso sessenta e três anos de idade e dez como bispo de
Toledo.
Santo Ildefonso
foi enterrado na igreja de Santa Leocádia e mais tarde, por causa dos mouros, o
seu corpo foi transladado para Zamora nas Astúrias onde se celebra ainda esta
translação de suas relíquias.
A casa onde Santo
Ildefonso nasceu foi dada aos Padres Jesuítas, depois de ter pertencido aos
condes de Orgas. Estes religiosos mandaram construir uma magnífica igreja no
lugar que esta casa ocupava e reavivaram a memória do Santo que os toledanos
tinham, pouco a pouco, esquecido.
FONTE : P. Giry
: Les petits Bollandistes : vies des saints. T. I. Source
http://gallica.bnf.fr/ Bibliothèque nationale de France. Tradução : Afonso
Rocha.
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