No povoado de
Cantalapiedra (Salamanca), na Espanha, nascia Maria Amparo em 30 de outubro de
1889. Era filha de Bernardino Delgado e Ângela García. Este casal cristão e
exemplar teve um total de oito filhos, cinco dos quais morreram em idade muito
precoce. Maria Amparo veio a unir-se, como um presente do céu, a suas duas
irmãs maiores: Ascensión e Amalia.
Desde muito
pequena, se manifestaram nela carismas extraordinários: via a Santíssima Virgem
e os anjos; era conduzida pelo Senhor a levar uma vida de intensa oração e de
austeridade, compatível com sua pouca idade.
Um marco
importante em sua vida foi o dia de sua Primeira Comunhão: 06 de janeiro de
1899. Em sua Autobiografia diz: “Creio que ainda que passassem muitos séculos
não poderia esquecer o momento de receber Jesus na Primeira Comunhão; foi um
momento divino que não posso recordar sem glorificar a Deus por tanta
misericórdia. Se introduziu na minha alma e tomou posse de todo meu ser, como
meu Senhor e Dono. Senti-me toda de Jesus e toda para sempre. Só fiquei com o
desejo e o pensamento de ser toda e exclusivamente de Jesus, e ser religiosa”.
Esse mesmo ano
1899 vai ser marcado por outro evento de todo singular na vida de Maria Amparo.
Na tarde de sábado, 11 de novembro, enquanto orava diante do Santíssimo
Sacramento, teve uma visão:

Mosteiro do Sagrado Coração de
Cantalapiedra
“Era uma casa
semelhante a um convento, mas estava fundado sobre um rio de graças […] Me
pareceu ver como chegavam as almas em figura de pombas a apagar a sede de
perfeição que o Senhor punha naquelas suas prediletas, mas não bebiam no rio
sobre o que estava edificava a casa, senão no próprio Coração de Jesus que lhes
acolhia com amor afetuosíssimo […] Me pareceu que Jesus me dizia: “Tu serás a mãe
casta desta geração também casta”.
A primeira pedra
espiritual do Mosteiro do Sagrado Coração tinha sido assentada no coração de
Maria Amparo. O tempo irá dispondo as demais.
A vida
espiritual se fez cada vez mais intensa, mais profunda: acudia a Missa
diariamente e dedicava longas horas a oração. Levava, igualmente, uma vida
muito austera e penitente.
Aos 19 anos
consegue realizar seu desejo de consagrar-se a Deus ingressando no Mosteiro de
Santa María la Real de Arévalo (Ávila), de monjas cistercienses. Mas, sua falta
de saúde a obrigou a abandoná-lo cinco meses mais tarde.
Outra data que
não pode passar despercebida na vida da jovem Maria Amparo é a de 15 de agosto
de 1912. Copiamos novamente de sua Autobiografia:
“Era dia da
Assunção da Santíssima Virgem do ano de 1912. Esta Mãe de minha alma, a quem
quero com todo meu coração, quis que neste seu dia perdesse eu minha própria
vida e começasse a viver a vida de seu divino Filho Jesus. Às três da tarde
aproximadamente fui para meu aposento com ânimo de fazer oração. Sentia-me
morta, morta completamente e sem ânimo nem forças para levantar os olhos ao
Céu. Virgem Santíssima – disse – se sou tão infeliz que não poderei amar a Deus
na eternidade, ajuda-me para que ao menos agora possa fazê-lo. Notei em seguida
que meu interior ia ficando em uma paz profunda e se fez uma serenidade tão
suave e tão divina, que me pareceu ressuscitar para uma nova vida. Senti depois
um fogo abrasador que penetrava todo meu ser e purificava minha alma deixando-a
como um cristal ou espelho puríssimo e transparente, onde parecia reverberava a
claridade do próprio Deus Uno e Trino. Pareceu-me ver este divino mistério em
minha alma com uma luz que não sei como era. Pareceu-me conhecer as Três
Divinas Pessoas na essência divina: ao Pai gerando o Filho, ao Vergo gerado do
Pai, e ao Espírito Santo expirado do Pai e do Filho, e entendi, por um modo
admirável, o que a fé nos ensina deste mistério incompreensível. Contemplava
estas coisas abismada em um mar imenso de felicidade e de doçura, e me pareceu
que toda a Santíssima Trindade ficava para sempre na minha alma, assegurando-me
isso com suavíssimas palavras e singular complacência”.
Eram os místicos
desposórios com que a Santíssima Trindade abraçava para sempre a alma de Maria
Amparo, e que ela rubricou reiterando seu voto de castidade e fazendo voto de
não cometer pecado venial deliberado, de obedecer ao diretor espiritual e de
fazer sempre o mais perfeito.
Decidida a
tentar de novo consagrar-se a Deus na vida religiosa, ingressa no Mosteiro do
Corpus Christi de Salamanca, de Irmãs Clarissas, em 19 de maio de 1913, onde
vestiu o hábito de Clarissa e realizou suas Profissões, Simples e Solene.

Vencidas todas
as dificuldades, em 31 de maio de 1920, partiam três irmãs do Mosteiro do
Corpus Christi rumo a Cantalapiedra, para iniciar a caminhada do novo Mosteiro
de Clarissas do Sagrado Coração. Dentro da espiritualidade franciscana nascia dito
Mosteiro, com o particular carisma de amor e reparação do Sagrado Coração de
Jesus, e com duas constantes muito fortes, virtudes franciscanas sólidas que
deviam reinar na Comunidade: a caridade e união entre todas, e uma pobreza e
minoridade bem enraizada.
O primeiro
convento foi habilitado em uma casa na praça do vilarejo; o novo e amplo
mosteiro foi inaugurado em 23 de fevereiro de 1929.
Outro momento
ápice da vida de Madre Maria Amparo foi sua plena configuração com Cristo ao
fazer-se visíveis nas mãos, pés e lado, os estigmas da Paixão do Senhor, em 05
de junho de 1931, ainda que anteriormente já sentisse as dores correspondentes
a ditos estigmas.
Madre Maria Amparo
falecia em 06 de julho de 1941, quando contava apenas 51 anos de idade,
deixando como continuadoras de sua missão, uma numerosa comunidade, formada por
cerca de cinquenta irmãs.
Suas virtudes e
carismas extraordinários atraíram a admiração de muitas pessoas: sacerdotes,
religiosas e leigos, que acudiam a ela em busca de conselho e orientação
espiritual. E esta fama seguiu estendendo-se depois de sua morte, de maneira
que em 20 de fevereiro de 1977, se abria, na igreja conventual, o Processo
diocesano de Beatificação da Serva de Deus, junto com a do Padre Arintero, seu
diretor espiritual e co-fundador do Mosteiro de Clarissas de Cantalapiedra. O dito processo alcançou uma meta importante em 02 de julho de 1994, ao assinar o
Papa São João Paulo II o decreto de heroicidade das virtudes da Madre Maria Amparo
do Sagrado Coração.
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