A
confiança da jovem Teresa de Lisieux na misericórdia divina lhe dava a certeza
de que esse infeliz seria perdoado. Mas, pediu a Deus um sinal. E esse
sinal lhe foi dado!
Adotar
uma alma é sobrenatural: é de alma para alma. Quem sabe que no seu
processo de conversão você humildemente não foi adotado por
alguém? Adote uma alma!
Oração de Teresinha e a milagrosa conversão de Pranzini momentos antes de sua execução. |
Em
Henrique Pranzini, as qualidades naturais e os vícios disputavam a
primazia. Falava na perfeição vários idiomas e viajara por muitos
países. Aventureiro, alistara-se no Exército das Índias e foi
lutar no Afeganistão. Depois ofereceu seus serviços ao Império
russo para combater no Sudão.
Em 1887, ei-lo em Paris, onde se relacionou com a rica e tristemente célebre Regina de Montille. No intuito de, ao que consta, apoderar-se da fortuna dessa infeliz mulher, estrangulou-a a sangue frio, mais sua filha de doze anos e uma empregada.
Preso
por esse tríplice assassinato, proclamou com cínica empáfia sua
“inocência” e passou seus últimos dias lendo livros obscenos.
Em vão vários sacerdotes o visitaram na prisão: não dava sinal
algum de arrependimento e jactava-se de não temer a condenação
eterna.
O
fato repercutiu em toda a França e chegou ao conhecimento de uma
graciosa jovem de quatorze anos, residente na pequena cidade de
Lisieux: Teresa Martin, a futura Santa Teresinha.
Justamente
nesses dias, Teresa sentia em sua alma um premente apelo de Jesus,
que ela própria assim descreve: “Ele fez de mim uma pescadora de
almas. Senti um grande desejo de trabalhar pela conversão dos
pecadores. (…) Olhando uma fotografia de nosso Senhor crucificado,
comoveu-me ver o sangue que corria de uma de suas mãos divinas e
causou-me grande pena a consideração de que esse sangue caía por
terra sem que ninguém procurasse recolhê-lo, e resolvi manter-me em
espírito ao pé da Cruz para receber esse Divino Orvalho e
distribuí-lo às almas (…) Eu ardia do desejo de arrancar das
chamas do inferno as almas dos grandes pecadores”.
Henry Pranzini |
Assim
estava a santa “Pescadora de Almas” quando Pranzini foi condenado
à morte. E ela se pôs a campo para livrá-lo da eterna condenação:
rezou, fez sacrifícios e mandou celebrar uma Missa nessa intenção.
Sua
confiança na misericórdia divina lhe dava a certeza de que esse
infeliz seria perdoado, mesmo se ele não se confessasse nem sequer
se mostrasse arrependido. Entretanto, diz ela, “pedi a Jesus apenas
‘um sinal’ de arrependimento, simplesmente para minha
consolação”.
E
esse sinal lhe foi dado!
No
dia seguinte ao da execução, ela leu no jornal “La Croix” a
descrição detalhada dos derradeiros minutos de vida do criminoso:
“Às
cinco horas menos dois minutos, enquanto os pássaros silvam nas
árvores da praça e um murmúrio confuso se ergue da multidão (…)
abre-se a porta da prisão e assoma pálido o assassino. O capelão,
Pe. Faure, põe-se à sua frente, ele repele o padre e os carrascos.
Ei-lo diante da guilhotina para onde o carrasco Deibler o empurra. Um
ajudante, colocado do outro lado, agarra-lhe a cabeça, para mantê-la
presa pelo cabelo embaixo da lâmina prestes a cair. Antes, porém,
talvez um relâmpago de arrependimento tenha atravessado a
consciência do criminoso. Pranzini pediu ao capelão o crucifixo e
beijou-o duas vezes. Depois, o cutelo caiu, e quando um dos ajudantes
agarrou pelas orelhas a cabeça cortada, concluímos que, se a
justiça humana estava satisfeita, talvez este derradeiro ósculo
tenha satisfeito também a Justiça Divina, a qual pede, sobretudo, o
arrependimento”.
E
a futura Padroeira das Missões deu graças a Deus por esse seu
primeiro pecador convertido, “meu primeiro filho” – escreveu
ela, emocionada, nos Manuscritos Autobiográficos.
“Ouvi
falar de um grande criminoso que acabava de ser condenado à morte
por crimes horríveis. Tudo fazia crer que morreria impenitente.
Quis, a qualquer custo, impedi-lo de cair no inferno. Para conseguir,
usei de todos os meios imagináveis: sentindo que, de mim mesma, nada
poderia, ofereci a Deus os méritos infinitos de Nosso Senhor, os
tesouros da santa Igreja, enfim, pedi a Celina para mandar celebrar
uma missa nas minhas intenções, não ousando pedi-la eu mesma,
temendo ser obrigada a dizer que era para Pranzini, o grande
criminoso.
Não
queria, tampouco, dizê-lo a Celina, mas insistiu com tanta ternura
que lhe confiei meu segredo; longe de zombar de mim, pediu para
ajudar a converter meu pecador. Aceitei com gratidão, pois teria
desejado que todas as criaturas se unissem a mim para implorar a
graça para o culpado. No fundo do meu coração, tinha certeza de
que nossos desejos seriam atendidos. Mas, a fim de ter coragem para
continuar a rezar pelos pecadores, disse a Deus estar segura de que
Ele perdoaria o pobre infeliz Pranzini, que acreditaria mesmo que não
se confessasse e não desse sinal nenhum, de arrependimento, enorme
era minha confiança na misericórdia infinita de Jesus, mas lhe
pedia apenas um sinal de arrependimento, para meu próprio consolo.
Minha oração foi atendida ao pé da letra!
Apesar
da proibição de papai de lermos jornais, não pensava desobedecer
lendo as passagens que falavam de Pranzini. No dia seguinte à sua
execução, cai-me às mãos o jornal La Croix. Abro-o apressada e o
que vejo?… Ah! minhas lágrimas traíram minha emoção e fui
obrigada a me esconder. Pranzini não se confessou, subiu ao
cadafalso e preparava-se para colocar a cabeça no buraco lúgubre
quando, numa inspiração repentina, virou-se, apanhou um Crucifixo
que lhe apresentava o sacerdote e beijou por três vezes suas chagas
sagradas!… Sua alma foi receber a sentença misericordiosa Daquele
que declarou que no Céu haverá mais alegria por um só pecador
arrependido do que por 99 justos que não precisam de
arrependimento!…
Obtive
o “sinal” pedido, e esse sinal era a reprodução fiel de graças
que Jesus me fizera para atrair-me a rezar pelos pecadores. Não foi
diante das chagas de Jesus, vendo cair seu sangue divino, que a sede
de almas entrou em meu coração? Queria dar-lhes de beber esse
sangue imaculado que devia purificá-las das suas sujeiras, e os
lábios do “meu primeiro filho” foram colar-se às chagas
sagradas! Que resposta indizivelmente doce!… Ah! desde essa
graça única, meu desejo de salvar as almas cresceu a cada dia.
Parecia-me ouvir Jesus dizendo como para a samaritana: “Dê-me de
beber!” Era uma verdadeira troca de amor; às almas, eu dava o
sangue de Jesus; a Jesus, oferecia essas mesmas almas refrescadas
pelo seu divino orvalho. Dessa forma, eu parecia desalterá-lo e mais
lhe dava de beber, mais a sede da minha pequena alma aumentava e era
essa sede ardente que Ele me dava como a mais deliciosa bebida do seu
amor".
Cerca de 125
anos depois da execução de Pranzini, algumas pessoas afirmam ter
sido respondida depois de pedir a intercessão de Pranzini! Isto pode
parecer incrível, mas não impossível. Podemos nos referir à
história de Jacques Fesch (guilhotinado após o assassinato de um
policial durante um assalto), cuja beatificação está aberta.
Enquanto
Santa Teresinha permaneceu no século, utilizava o dinheiro que
ajuntara no seu cofrezinho para encomendar Missas pela alma de
Pranzini a cada dia 31 de agosto, aniversário da execução do
condenado. Hábito este que, com a devida licença da superiora,
conservou também no Carmelo.
A
santa de Lisieux não pleiteava por uma pena mais branda, nem pregava
que Pranzini era “vítima da sociedade”. Ela tinha somente a
clara noção de que era urgente lutar pela salvação das almas –
de todas elas. Mas depois de tudo o que fez, Pranzini terá sido
premiado com o Paraíso? É possível; mas não sem antes penar no
Purgatório, onde as almas são purificadas pelo sofrimento. Todos
pagam pelo mal que praticaram e por todo o bem que deixaram de fazer;
uns no fogo santo do Purgatório, outros no fogo eterno.
O
nosso dever, como cristãos, é orar e trabalhar pela nossa própria
santificação, e levar a Boa Nova a todos. A TODOS! Isso inclui
assassinos, traficantes e até ladrões, como São Dimas. É... Jesus
também “adotou” um bandido. Tanta gente boa pra prestigiar, e
Ele foi logo dar moral pra um meliante? Isso só pode indicar uma
coisa: tem algo muito errado com essa gente que vai à Missa todo o
domingo, mas não reconhece os criminosos como filhos de Deus, e quer
mais que todos eles vão queimar no inferno.
Capa de jornal britânico da época,
com fotos de Pranzini e desenhos da cena do crime
e do estado dos corpos das vítimas.
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Fonte:
http://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/espiritualidade/o-assassino-e-a-inocente-140838 (Revista Arautos do Evangelho, Jan/2007, n. 61, p. 32-33)
http://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/espiritualidade/o-assassino-e-a-inocente-140838 (Revista Arautos do Evangelho, Jan/2007, n. 61, p. 32-33)
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