São Cornélio, Papa, e São Cipriano de Cartago, Bispo. Mártires. |
São Cornélio, Papa e Mártir.
Cornélio nasceu em Roma.
Foi eleito para o pontificado, depois de um período vago na cátedra de São
Pedro, devido à violenta perseguição imposta pelo imperador Décio. O papa
Cornélio foi eleito quase por unanimidade, menos por Novaciano, que esperava
ser o sucessor, martirizado por aquele cruel tirano. Assim, Novaciano
consagrou-se bispo e proclamou-se papa, isto é, antipapa. Nessa condição,
criou-se o primeiro cisma da Igreja.
A Igreja debatia, internamente, para tentar uma solução definitiva quanto à conduta a ser adotada em relação a um dos seus maiores problemas da época, referente aos "lapsos", nome dado aos sacerdotes e fiéis que renegavam a fé e separavam-se da Igreja durante as perseguições que se impunham aos cristãos.
Segundo os partidários de Novaciano, Cornélio teria adotado um discurso e uma postura muito indulgente, boa e compreensiva para com os desertores da fé católica. Atitudes que lhe valeram grandes atribulações e incompreensões. Mas a toda essa oposição contou sempre com o apoio incondicional e fiel do bispo Cipriano de Cartago, Argélia, norte da África.
Entretanto o imperador Décio morreu em
combate, sendo sucedido por Galo, que voltou com as perseguições. Assim, o papa
Cornélio acabou preso e exilado para um lugar que hoje se chama Cività-Vecchia,
em Roma.
No exílio, o papa Cornélio passou os últimos dias da sua vida. Onde encontrava
um pouco de alegria era nas cartas que recebia do bispo Cipriano, seu admirador
e amigo de fé, muito preocupado em mandar-lhe algumas palavras de consolo.
Morreu em junho de 253, sendo sentenciado ao martírio por ordem daquele
imperador, por não aceitar prestar culto aos deuses pagãos. Foi sepultado no
Cemitério de São Calixto. A festa litúrgica do santo papa Cornélio foi
colocada, no calendário da Igreja, no dia 16 de setembro, junto com a de são
Cipriano, que depois também foi martirizado pela fé em Cristo.
São Cipriano de Cartago (†258) Bispo de Cartago e Mártir
Táscio Cecílio
Cipriano nasceu
no norte da África, provavelmente em Cartago, entre os anos 200 e 210 dC. Filho
de família abastada, recebeu formação superior, dedicando-se à oratória e
advocacia. Converteu-se ao Cristianismo, já adulto, por volta de 245. Três anos
depois foi eleito bispo de Cartago. Foi degolado nas imediações da cidade, na
presença de grande multidão de cristãos e pagãos, aos 14 de setembro de 258,
durante a perseguição de Valeriano.
A Igreja na época
de São Cipriano vivia intenso fervor. As sangrentas perseguições, que desde
Nero (ano 64 dC) a sacudiam, somente faziam aumentar o fervor, e os mártires
entregavam suas vidas com amor e fé.
Mesmo com todo
este fervor, surgiam grupinhos de hereges que, desejosos de 'autonomia',
pregavam uma doutrina diferente da dos Apóstolos e dos Bispos da Santa Igreja
de Cristo. Para combater estas heresias, Cipriano divulga por volta do outono
do ano de 251, como ele mesmo diz, um livrinho de conduta cristã denominado:
"Catholicae Ecclesiae Unitate" - "A Unidade da Igreja
Católica".
São maravilhosas
as palavras de São Cipriano. Ele demonstra uma clareza de idéias e um espírito
decidido na meta que almeja alcançar. Homem de Deus, baseou-se totalmente nas
escrituras para defender a unidade da Igreja Católica, o Primado de Pedro, e
outras Santas Doutrinas recebidas diretamente dos Apóstolos.
Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir
(Epist.
60,1-2.5:CSEL3,691-692.694-695)
(Séc.III)
Fé generosa e
firme
Cipriano a
Cornélio, seu irmão. Tive notícias, irmão caríssimo, dos gloriosos testemunhos
de vossa fé e fortaleza. Recebemos com tanta exultação a honra de vossa
confissão que também nos julgamos participantes e companheiros de vossos
merecidos louvores. Pois se em nós e na Igreja só há um modo de pensar e
indivisa concórdia, qual o sacerdote que não se rejubilaria como próprios com
os louvores dados a seu irmão no sacerdócio? Ou que fraternidade não se
alegraria com o júbilo de todos os irmãos? Impossível expressar como foi grande
esta exultação e alegria, quando fui informado de vossas vitórias e atos de
coragem. Nisto foste o primeiro, durante o interrogatório dos irmãos. O
testemunho do chefe ainda foi acrescido pela confissão dos irmãos. Enquanto
vais à frente na glória, fazes muitos companheiros nesta glória e estimulas o
povo a dar testemunho por estares preparado, primeiro que todos, a confessar em
nome de todos. Não sabemos o que primeiro elogiar em vós: se vossa fé decidida
e estável, se o indefectível amor fraterno. Aí se provou de público a virtude
do bispo indo à frente, e se revelou a união da fraternidade que o seguia. Já
que em vós só há um coração e uma só voz, foi toda a Igreja Romana que
testemunhou.
Tornou-se
evidente, irmão caríssimo, a fé que o Apóstolo já tinha louvado em vós. Já
então ele previa a virtude louvável e a firmeza da coragem, atestando com isso
vossos méritos futuros. O elogio aos pais era estímulo aos filhos. Por serdes
assim unânimes, assim fortes, destes exemplo de unanimidade e de fortaleza aos
outros irmãos. Sinais da providência do Senhor nos avisam, e palavras salutares
da divina misericórdia nos advertem de que já se aproxima o dia de nossa grande
luta. Por isto, como podemos irmão caríssimo, pela mútua caridade que nos une,
nós vos exortamos a não esmorecer. Nos jejuns, nas vigílias e orações com todo
o povo. São estas armas celestes que fazem ficar de pé e perseverar com denodo;
são estas as defesas espirituais, as lanças, que protegem. Lembremo-nos um do
outro, concordes e unânimes, mutuamente oremos sempre por nós, suavizando as
tribulações e angústias pela caridade recíproca.
Das Atas
Proconsulares sobre o martírio de São Cipriano, bispo (Acta, 3-6:
CSEL3,112-114)
(Séc. III)
Em causa tão
justa, não há que discutir
No dia décimo
oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo
de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo
no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado
este, o procônsul interrogou-o: “És tu Táscio Cipriano?” O bispo Cipriano
respondeu: “Sou”. O procônsul Galério Máximo: “Tu te apresentaste aos homens
como papa do sacrílego intento?” Respondeu o bispo Cipriano: “Sim”. O procônsul
Galério Máximo disse: “Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te
sujeites às cerimônias”. Cipriano respondeu: “Não faço”. Galério Máximo disse:
“Pensa bem!” O bispo Cipriano respondeu: “Cumpre o que te foi mandado; em causa
tão justa, não há que discutir”. Galério Máximo deliberou com o seu conselho e,
com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com estas palavras: “Viveste por
muito tempo nesta sacrílega idéia e agregaste muitos homens nesta ímpia
conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e
nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem
Valeriano, o nobilíssimo César, puderam te reconduzir à prática de seus ritos
religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes
execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em
teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina”. Dito isto, leu a
sentença: “Apraz que Táscio Cipriano seja degolado à espada”. O bispo Cipriano
respondeu: “Graças a Deus”!
Após a sentença, o
grupo dos irmãos dizia: “Sejamos também nós degolados com ele”. Por isto houve
tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi
conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se
em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e
ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que
os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de
Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vedar os olhos com as
próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o
subdiácono Juliano o fizeram. Deste modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu
corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à
noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado
ao cemitério de Macróbio Candidiano, administrador, existente na via
Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério
Máximo.
O mártir
santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro,
sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus
Cristo, a quem a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
FONTES:
Do livro
"Escola da Fé 1: Sagrada Tradição" pp. 68-70
Liturgia das
Horas: Ofício das Leituras da Memória dos Santos Cornélio, papa, e Cipriano,
bispo.
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