Padre Manuel Gómez González
O Padre Manuel
Gómez González nasceu em São José de Ribarteme, Puenteareas, na província de
Pontevedra na Galícia, em território espanhol.
Os habitantes da
localidade dedicavam-se à agricultura, especialmente à cultura de videiras. A
população era pobre, habitando antigas casas de pedra, herdadas de seus
ancestrais. Não havia indústrias e o comércio também tinha pouca vitalidade e
parcos eram os meios de comunicação.
Ribarteme
distava muito das cidades maiores da região. A paróquia fazia parte da diocese
de Túy e sua população era igualmente pequena.
Seus pais, José
Gómez Rodrigues e Josefa González Duran, eram agricultores modestos. Seu primeiro
filho foi Manuel, que recebeu o batismo no dia seguinte ao do nascimento, a 30
de maio de 1877.
A família de
Manuel, segundo o testemunho do próprio pároco, era bem considerada por suas
virtudes morais, cívicas e religiosas. O espírito religioso da família
despertou no menino Manuel, a vocação para o sacerdócio.
Não é de
estranhar, quem num ambiente tão piedoso, surgisse uma vocação religiosa, como
foi a do jovem Manuel, que ainda criança foi crismado na igreja de Santiago de
Ribarteme, por Dom João Maria Babero, bispo de Túy.
Precocemente,
como decorrência do ambiente cristão em que vivia, Manuel sentiu o chamado da
vocação sacerdotal. Depois de sua primeira comunhão, ingressou no seminário
Diocesano de Túy.
O coroinha Adílio Daronch
A família de Adílio
Daronch veio da Itália na leva dos imigrantes italianos que ingressaram no
Brasil a partir de 1875. Eram seus avós Sebastiano Daronch e Francesca Schena,
que aqui chegaram em 1890. Pedro, o pai de Adílio também era italiano, nascido
em Agordo, terra natal de Albino Luciani, que viria a ser o papa João Paulo I,
em 05 de janeiro de 1883, portanto contava 07 anos quando veio para o Brasil.
A família
Daronch partiu do porto marítimo de Gênova, possivelmente embarcados no navio
Savoie, tendo chegado ao Rio de Janeiro em 01 de dezembro de 1890. No Rio
Grande do Sul, a família adquiriu o lote no 519, do Núcleo Soturno, em Linha
11, no atual município de Nova Palma, onde se dedicaram ao cultivo da terra e
criação de animais domésticos. Pedro, aos dezoito anos, deixou a casa paterna
como aprendiz de sapateiro e seleiro, casando-se a seguir com a senhorita
Judite Segabinazzi, a 15 de janeiro de 1905.
O casal foi
morar em Dona Francisca, então 5º distrito do município de Cachoeira do Sul.
Adílio nasceu ali, em 25 de outubro de 1908. Foi o terceiro filho do casal
Pedro e Judite. Foi batizado em 1º de novembro desse ano, pelo padre Germano
Schrör tendo sido seus padrinhos, o Sr. Alexandre Socal e a Sra. Rosa Martini.
Em 1912, a
família de Pedro Daronch transferiu-se para o município de Passo Fundo, onde
Pedro atuou como fotógrafo. Passados alguns anos, transferiu-se novamente e
agora para Nonoai, continuando como fotógrafo e mantendo uma loja e uma pequena
farmácia homeopática. Pedro gozada de bom conceito junto à comunidade de Nonoai
e Dona Judite era apreciada pela sua bondade.
A família
Daronch se destacava na prática da caridade e colaborava muito com o Padre
Manuel, ajudando-o nas missas e nas cerimônias litúrgicas e religiosas.
Desde cedo
Adílio manifestava predileção pelas coisas da igreja e gostava de servir o
padre como coroinha e ajudante em geral. Feita a primeira comunhão, começou a
auxiliar no serviço do altar. Por sua vez, o Padre Manuel era, com frequência,
hóspede da família Daronch e lá muitas vezes fazias suas refeições.
Adílio era um
menino alegre, embora de temperamento um tanto reservado, gostava de futebol e
desde pequeno se manifestava pela sua liderança inata, ponteando os jogos e
orientando os colegas na condução das diversões, porém, não descurava o serviço
de acólito por causa dos folguedos. Levava muito a sério sua missão. Com o
passar do tempo, acompanhava o Padre Manuel pelo interior, troteando em seu
burrinho, ao lado do seu protetor e mestre.
O pai do jovem
Adílio falecera em 05 de maio de 1923, traiçoeiramente assassinado, no
município de Marcelino Ramos, em disputas entre maragatos e chimancos, que a
partir de 1923 tomaram vulto e se alastraram por toda a parte, como integrante
nas fileiras dos combatentes, deixando a esposa com seus sete filhos, todos
menores.
Como não podia
deixar de ser, a viúva de Pedro e seus filhos, após o triste acontecimento,
tiveram o apoio decisivo do pastor e amigo Padre Manuel, que os confortou e
acompanhou nessa triste etapa de suas vidas.
Após a morte do
chefe da família Daronch, as dificuldades cresceram e o grupo familiar se
dispersou, cada qual seguindo seu caminho, em diversas direções e Dano Judite
mudou-se para o município de Dona Francisca, aonde veio a falecer, a 23 de
março de 1932.
O fim do
coroinha Adílio será considerado mais adiante, quando na companhia do Padre
Manuel, veio a sofrer o martírio de forma cruenta, em Três Passos.
O martírio dos servos de Deus
No exercício de
seu ministério sacerdotal e pastoral naquela região conflituosa, Pe. Manuel
sabia do perigo que enfrentava. Não foi nada fácil como ele próprio expressa
numa de suas cartas, datada há 11 de janeiro de 1916, a Dom Miguel Lima Verde,
bispo de Santa Maria: "Com bastante
dificuldade terei que lutar, mas tudo desaparecerá com a ajuda de Deus” (Carta
ao Bispo de Santa Maria, D. Miguel de Lima Valverde, datada de 11 de janeiro de
1916). Pe. Manuel refere-se ao contexto histórico da Revolução de 1923.
Enio Felipin e
Teresinha Derosso, em recente publicação, descrevem esse cenário com detalhes:
"O Rio Grande do Sul viu seu chão,
manchado pelo sangue de homens, tombados pela cruel Revolução de 1893, que teve
como marca a degola, dilacerando vidas e trazendo desgraça e tristeza para
muitas famílias. Essa Revolução deixou sentimentos de vingança e violência em
muitos corações, que teve quase continuidade na Revolução de 1923, ocorrendo
nesta, muito banditismo misturado às causas do combate. Homens violentos e
vingativos, sem seleção alguma, integravam os corpos provisórios da infantaria,
espalhando a morte e o terror por onde passavam... A região norte do Estado, o
Alto Uruguai, foi a primeira a sofrer pela revolução, por anos de sangue,
saques e baixas vinganças. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões
foram atacadas pelos caudilhos Mena Barreto e Leonel da Rocha. O general
Fermino de Paula defendeu Passo Fundo e o general Valzumiro Dutra defendeu
Palmeira. Eram maragatos e chimangos promovendo cenas de sangue, fazendo o povo
sofrer muito. Até o padre Manuel Roda, pároco de Palmeira, sofreu perseguições
pelos revolucionários, retirando-se para a Argentina" (DEROSSO,
Teresinha e FELIPIN, Enio. Mártires da Fé: Pe. Manuel Gómez Gonzalez e Coroinha
Adílio Daronch.Gráfica e Editora Pluma, 2003, pp. 22-23)
Em 1924, devido
à vacância da Paróquia de Palmeira das Missões, o Bispo de Santa Maria,
determinou ao Pe. Manuel para atender os cristãos do sertão do Alto Uruguai.
Lá foi ele com a
missão de batizar, celebrar casamentos e primeiras comunhões, e catequizar o
povo daquela vasta região, mas sabendo do perigo que devia enfrentar. Noutra
carta expressa sua angústia: "Devido
ao meu estado de saúde, a anormalidade deste município e não havendo garantias
de vida, por estar toda esta zona desde Nonohay até Palmeira em poder dos
revolucionários... e temendo ser agredido na estrada... ou ficar de a pé,
suplico a Vossa Excelência Reverendíssima, humildemente me dispense deste cargo
ao menos enquanto durar este estado anormal..." (Carta ao Bispo de Santa Maria, datada
há 08 de agosto de 1923).
Encorajado pela fé pôs-se à missão.
"Chão Sagrado" - Local do
Martírio
Foi a caminho
dessa missão e numa perseguição pelas comunidades de colonos, próximo de Três
Passos, distante 250km de Nonoai, sua paróquia, que Pe. Manuel e seu coroinha
Adílio caíram numa emboscada armada por soldados provisórios.
Nas proximidades
de um matagal em lugar ermo em que se encontravam, os facínoras os apearam de
suas montarias, os conduziram para o interior do mato, onde foram atados a
árvores. E a seguir mortos sumariamente, com tiros de armas de fogo: dois tiros
no sacerdote e três tiros no menino de 15 anos. Era dia 21 de maio de 1924
Perpetrada a
dupla criminosa chacina, os assassinos impiedosos roubaram das vítimas o que
puderam, inclusive suas montarias e voltaram para o Alto Uruguai.
A comunidade de
Três Passos aguardou ansiosa pela chegada do padre Manuel e do seu auxiliar
Adílio, durante horas, mas em vão, imaginando que o sacerdote tivera contratempos
ou que tivesse ido atender a algum chamado urgente de outra localidade
intermediária. No dia seguinte ao atentado macabro, começaram as buscas.
Informados pelo dono do bolicho onde haviam pernoitado, sobre o possível local
em que poderiam ser encontrados os dois viajantes, foram conduzidos ao capão de
mato, onde se depararam com a tétrica cena do massacre.
Releva
salientar, que apesar de terem percorrido tantas horas após a morte dos
mártires, os corpos ao serem encontrados, estavam preservados e não haviam sido
sequer tocados pelos animais da floresta, então densa e repleta de feras e não
apresentavam nenhum outro sinal de violência, além da perpetrada pelos vis
assassinos.
Manuel, homem de
fé, com bondade e paciência, soube exercer seu trabalho pastoral. Reativou o
apostolado, realizou um fecundo trabalho com as crianças, abrindo uma escola
gratuita. De espírito humanitário trabalhou pelo bem da cidade e do seu povo:
constrói uma olaria, hotel e, com a ajuda da comunidade, construiu casas para
os sem-teto de Nonoai. De preocupação inovadora, introduziu o cultivo de novos
produtos junto aos agricultores de sua região. Incansável propagador da paz fez
ecoar sua voz por todos os cantos: "Peço
a Deus que isto que se está dando em nosso Estado cesse quanto antes e venha
uma paz para ambos os partidos".(Carta ao Bispo de Santa Maria, D. Atico
Eusébio da Rocha, datada de 18 de julho de 1923).
Adílio,
testemunho leigo, deixou-se seduzir pelo Senhor e colocou-se a serviço de seu
Altar redentor. Vítima inocente de uma época de violências mostrou sua coragem
e sua fé. Um exemplo de zeloso cuidado com as coisas de Deus. Nele nossos
adolescentes e jovens devem buscar a inspiração para seus ideais.
E, por fim,
poderíamos dizer que "destruíram os
corpos, mas continua a seiva viva do testemunho a correr nas pessoas que
conheceram e que creem no projeto dos dois ‘mártires’".
Exéquias e fama de santidade dos mártires
Levados os
corpos dos mártires com sentida aflição e desconsolo dos amigos e fiéis, foram
sepultados com grande acompanhamento em Três Passos. No local do martírio, foi
construída uma capela, para onde começaram a acorrer em seguida e de forma
crescente, devotos, peregrinos e romeiros, com a finalidade de pedir favores e
agradecer pelas graças alcançadas.
O local do
sepultamento tornou-se então um centro devocional, atraindo pessoas de muitas
localidades e dando origem à romaria, que ora se realiza todos os anos, no
terceiro domingo de maio, em Nonoai, para onde foram transladados os restos
mortais dos dois mártires, sepultados ao lado do Santuário de Nossa Senhora da
Luz, num complexo de visitação de fiéis, que ali ocorrem, deixando seus
ex-votos em sala contígua, em razão das graças alcançadas.
Em Três Passos,
Terra Sagrada onde aconteceu o martírio, desde 1993, é realizado no último
domingo de maio a Romaria onde os fiéis saem em caminhada da frente da igreja
matriz Santa Inês, percorrendo 5 km até a localidade do Feijão Miúdo, local
onde aconteceu o martírio, hoje denominado Parque do Santuário dos Beatos
Mártires do Rio Grande do Sul.
Romaria ao Santuário
Crescendo a
devoção aos mártires da fé, que foram sacrificados no cumprimento do ministério
da evangelização e constatadas tantas graças alcançadas por seu intermédio, foi
encaminhado a Roma o processo de beatificação dos mártires rio-grandenses, em
setembro de 1988, por iniciativa do então bispo da diocese de Frederico
Westphalen, Dom Bruno Maldaner.
No dia 13 de
fevereiro de 2001, a Causa da Beatificação foi aprovada por unanimidade, pela
Comissão de Consultores Históricos, presidida pelo relator Geral, Frei Ambrogio
Eszer.
Missa de Beatificação
Em 21 de outubro
de 2007, na cidade de Frederico Westphalen, sede da diocese, foi realizada
missa de beatificação. Além de ser a primeira beatificação realizada no Rio
Grande do Sul, Adílio Daronch é o
primeiro gaúcho e o primeiro coroinha do mundo a ser beatificado.
Beatos Manuel e Adílio, rogai por nós e por toda a Igreja Católica no Brasil! Rogai pelos jovens e pelas famílias! |
Oração
Nas Tuas Santas
Mãos, ó Pai de Amor e de Misericórdia, colocamos a nossa vida. Nós te
suplicamos poder contemplar a cruz de Teu Filho como os Bem-aventurados Manuel e
Adílio o fizeram.
Que sejamos tuas
fiéis testemunhas até o fim. Que a fé em Ti nos encoraje a enfrentar todas as
dificuldades da vida e que um dia estejamos em comunhão contigo na Unidade do
Espírito Santo. Amém.
Oração pela Canonização
Ó Deus de
bondade, que Vos comprazeis de acudir às necessidades de vosso povo em atenção
aos méritos dos justos, concedei-nos, por intermédio de vossos Beatos Manuel e
Adílio, a graça que Vos pedimos, pois eles foram fiéis na terra, testemunhando
com o próprio sangue sua fé no Redentor.
Fazei que, para
vossa maior glória e proveito dos fiéis, sejam glorificados na terra com a
honra da canonização. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
Um comentário:
OBRIGADO SENHOR
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