Primeiro Texto Biográfico:
As
notícias sobre a vida deste santo, popularíssimo na Europa centro-setentrional,
chegaram até nós por meio de uma biografia escrita cinco séculos depois de sua
morte, com os inevitáveis embelezamentos legendários.
Diz de fato um estudioso que em sua honra
foram erigidas nada menos que seiscentas igrejas e capelas, e seu nome se
encontra frequentemente na toponomástica e no folclore. O mesmo estudioso
acrescenta que ele “com especial devoção sacudiu a época das cruzadas e entre
os devotos sobressaiu o príncipe Boemundo de Antioquia, que, prisioneiro dos
infiéis no ano 1100, atribuiu a sua libertação em 1103 ao santo, e voltando à
Europa, doou ao santuário de são Leonardo de Noblac, como voto, corrente de
prata, parecida com as que o amarraram durante sua prisão”.
Leonardo, de
nobre estirpe franca, teve o rei Clóvis como padrinho. Com tal apoio teria
facilitada qualquer carreira, mas Leonardo preferiu militar sob o estandarte do
santo bispo Remígio.
Valeu-se de
qualquer modo da amizade do rei para ter um privilégio, do qual fez amplo uso, porque
inspirado na caridade — qual seja, o de poder conceder a liberdade a todos os
prisioneiros que encontrasse pelo caminho. É lastimável que Leonardo tenha
escolhido viver como eremita no meio de um denso bosque, no qual poucos
prisioneiros teriam transitado...
Mas a santidade
tem muitos outros recursos. Assim, espalhado o rumor sobre este santo eremita e
sobre suas capacidades taumatúrgicas, bastava aos prisioneiros (nota: que foram
presos injustamente, coisa muito comum naquela época) invocar seu nome para que
as correntes caíssem de seus pulsos e tornozelos.
Bem no meio da
floresta de Pavum, perto de Limoges, onde o eremita havia fixado a sua morada,
passou, em vez de prisioneiros, o casal real com todo o seu séquito de
cortesãos para uma partida de caça. Inútil perguntar o que foi fazer aí a
rainha no último mês de gravidez. Para lá foi ela, narra o autor da Vita Sancti Leonardi, por um desígnio
providencial. Com efeito, a nobre soberana, colhida pelas dores do parto, teve
a assistência do santo e, graças, sobretudo, às suas orações, o evento foi
verdadeiramente alegre.
O rei mostrou-se
reconhecido e prometeu doar-lhe o terreno para que construísse um mosteiro. Que
área? Toda aquela que ele conseguisse delimitar percorrendo-a no dorso de um
asno, em um só dia, obviamente. Leonardo, já rodeado de muito discípulos,
alguns dos quais tinham sido libertados das cadeias por sua intercessão,
construiu um primeiro oratório e aí escavou um poço; depois os devotos
estabeleceram-se ao lado do mosteiro com suas famílias, dando origem à aldeia
que leva seu nome: Saint-Leonard-de-Noblac. E o santuário continua ainda hoje a
ser lugar de peregrinações.
O santo é
invocado como padroeiro dos prisioneiros,
mas também dos fabricantes de cadeias, de cepos, de fechos e afins. É invocado
contra os bandidos, os quais, por sua vez, postos sob cadeias, poderiam
recorrer a seu generoso patrocínio. Mas o invocam sobretudo as parturientes para ter um parto indolor.
Segundo Texto Biográfico
O martirológio
romano assim se refere a São Leonardo: “Em
Limoges, na Aquitânia, S. Leonardo, confessor, discípulo do bem-aventurado
bispo Remígio. De nobre ascendência abraçou a vida solitária e distinguiu-se
pela sua santidade e milagres. Manifestava uma virtude toda particular na
libertação de cativos”. Apesar da grande popularidade deste santo e da
difusão do seu culto na Europa Central, com inúmeras igrejas, capelas e
localidades a ele dedicadas, os dados relativos à sua vida são escassos.
Leonardo nasceu
na Gália no tempo do imperador Anastácio (491-518), sendo seus pais, além de
nobres, amigos íntimos de Clóvis, o grande chefe dos francos. Tornando-se moço,
Leonardo não quis seguir a carreira das armas e preferiu colocar-se no
seguimento de S. Remígio, que se tornara bispo de Reims. Como S. Remígio,
aproveitando-se da sua amizade com o rei, tinha conseguido o privilégio de
conceder a liberdade a todos os prisioneiros com os quais se encontrasse,
também, Leonardo pediu e obteve um poder análogo, que exerceu frequentemente.
O rei sentiu-se
no direito de oferecer-lhe outra coisa: a dignidade episcopal. Mas Leonardo
preferiu retirar-se primeiramente para junto de São Maximino, em Miey, e depois
para as proximidades de Limoges, num bosque afastado. Lá, havia apenas uma casa
tosca e simples, que lhe servia de morada. O seu ermo virou ponto de visitação
de mais e mais pessoas que buscavam seus conselhos, orações e consolo.
Certo dia, sua
solidão foi interrompida de um modo especial. A chegada do rei Clóvis, que
praticava uma caçada, acompanhado da rainha Clotilde, então grávida, e que
nessa ocasião foi surpreendida pelas dores do parto. O rei, aflito, buscou os
cuidados de Leonardo, que eliminou as dores com suas orações e conduziu o
nascimento de um lindo menino horas depois. Como recompensa, o rei Clóvis doou
aquelas terras a Leonardo.
No local, que
ele chamou de “Nobiliacum”, para lembrar o gesto nobilíssimo do seu padrinho,
ergueu um altar a Nossa Senhora, que, aos poucos, tornou-se uma intensa e
fervorosa comunidade religiosa, culminando com a construção do Mosteiro de
Noblac.
Diz a tradição
que o monge Leonardo só deixava o mosteiro quando alguma missão o exigia,
especialmente quando se tratava de resgatar e converter os pagãos encarcerados.
E ainda, ele teria sido visto libertando nobres franceses que estavam
prisioneiros dos turcos muçulmanos invasores. O prodígio teria ocorrido por
volta do ano 1000, muitos séculos depois de sua morte, em 6 de novembro de 545.
O culto de são
Leonardo de Noblac, uma das devoções mais antigas dos fiéis franceses,
propagou-se em todo o mundo cristão e foi reconhecido pela Igreja. A festa
ocorre no dia 6 de novembro, considerado o dia de sua morte.
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