São Josafá, Bispo e Mártir |
São
Josafá: flagelo dos cismáticos, modelo de desassombro apostólico, bispo zeloso,
grande defensor do papado e da união com Roma, enfrentou heroicamente os
inimigos de Deus e de Sua Santa Igreja, o que lhe valeu a palma do martírio e a
glória eterna
Durante uma
viagem, o Santo é abordado por um velho que lhe pede esmola. "Eu lhe darei com muito boa vontade,
-- responde ele --, mas com a condição de
que se confesse". A essas palavras, o mendigo hesita e até balbucia
uma recusa. O Bispo o encoraja, e ouve a afirmação de que nunca o pedinte havia
se aproximado do confessionário. Lágrimas rolam pela face do pobre após essa
declaração. Eram elas sinal de sincero arrependimento. O velho confessa-se
então imediatamente com o próprio Prelado, morrendo logo depois na paz de Deus.
Tal fato inclina
São Josafá a tornar-se mais ardoroso em prestar socorro às almas com vistas à
salvação eterna. Que belo exemplo para eclesiásticos contemporâneos, que se
mostram preocupados em cuidar mais do corpo que da alma de seus fiéis!
* * *
João Kuncewicz nasceu em 1580, na cidade de
Wolodymyr, na atual Lituânia, mas,
então, pertencente à Polônia. Era filho de simples e respeitado comerciante,
segundo alguns, de nobreza empobrecida.
Ainda criança,
vendo o crucifixo, pergunta a sua mãe o que ele significa. Diante da
explicação, sente como uma centelha de fogo que caía sobre seu coração,
comunicando-lhe grande amor pelas cerimônias da Igreja. Foi o ponto de partida
de sua vida interior e de sua missão.
Sua infância
transcorre na mais perfeita inocência e piedade, que se refletem até em seus
divertimentos preferidos. Decora o Ofício divino para poder cantá-lo.
Enviado a
Vilnius para fazer carreira junto a rico comerciante, não perde o hábito da
oração, o que lhe acarreta injustos castigos corporais, pois o patrão deseja
vê-lo somente produzindo. Sua piedade, porém, cresce em meio às vicissitudes.
A capital da
Lituânia era então uma arena onde todos os erros se conjugavam para combater a
Santa Igreja. Cada tipo de heresia lá tinha seu templo, seu ministro e seus
defensores. Em uma mesma família ocorria o fato de ser o pai de uma, a mãe de
outra e os filhos de uma terceira religião.
Exposto aos
perigos próprios a tal ambiente, sem conselho, sem experiência, evitando as
pessoas ociosas, levianas e imorais, atravessou Josafá esse ambiente sem sujar
sequer a franja de suas vestes.
Grande polemista, confessor, auxílio dos
necessitados...
Quando a
população de Vilnius se lançou no cisma, Josafá rezou a Deus Nosso Senhor
suplicando-lhe que lhe indicasse o caminho que devia trilhar. "A partir desse momento -- narra o
próprio Santo -- votei tal ódio ao cisma,
que era forçado a repetir sem cessar a palavra do profeta: Eu odeio a sinagoga dos maus (Salmo 25)".
Desde então nasceu
nele o desejo ardente de ser o flagelo contra o cisma, o defensor da união com
Roma.
Espírito vivo e
sagaz, propenso a análises sólidas, dotado de memória fácil, considera o
comércio uma atividade insuportável. E nem mesmo a promessa de tornar-se herdeiro
do rico comerciante leva-o desistir de seguir sua vocação, que é a de tornar-se
monge basiliano. Assim, em 1605 ingressa na Ordem de São Basílio, nela
recebendo o nome de Josafá, segundo
o costume grego.
As leituras
sobre a vida e o holocausto dos mártires não somente o entretêm, mas
conferem-lhe ânimo para a luta de todos os dias.
A reputação de
suas virtudes chegou aos ouvidos de certa mulher de má vida, que o visita na
certeza de conseguir seduzí-lo. Indignado, ordena o Santo que ela se afaste.
Diante da negativa, arma-se com um bastão e à força de golpes obriga a infame
pecadora a fugir envergonhada. A notícia de tal ato de virtude logo circula
pela cidade, e em decorrência disso, todos querem ver Josafá e ter a honra de
merecer sua amizade.
Nota-se no
espírito do Santo simplicidade, retidão, amor de Deus extraordinários. Aos
poucos, forma-se em torno dele, pequena, mas, fervorosa comunidade religiosa.
Nela, Josafá exerce as funções de sacristão, corista, ecônomo: em uma palavra,
todas as atividades secundárias da casa.
Certa ocasião,
os cismáticos convidam-no para uma reunião, esperando atraí-lo para sua causa.
De volta ao mosteiro, Josafá comenta que estava chegando do inferno, onde
ouvira a voz de Satanás propondo-lhe que renunciasse à fé.
As agitações
crescem em torno de si, não podendo sair em público sem ser objeto de vaias e
maldições dos cismáticos. Chamam-no de traidor, hipócrita, trapaceiro,
ignorante, ímpio. Jogam-lhe até pedras e paus.
Durante tais
perturbações, em 1609, recebe a ordenação sacerdotal, completando, com tal sacramento,
o sacrifício de louvores a Deus que havia iniciado desde a infância.
Sempre grave e
recolhido, por inclinação natural, manifesta rara disposição para o estudo. Espírito
penetrante, tudo o que lê e entende fica gravado em sua mente. Explica-se,
pois, que discorra sobre os artigos da fé, nos pontos discutidos pelos
cismáticos, com clareza e encanto fulgurantes. À sua voz, uns abjuram a
heresia, outros o cisma e outros ainda renunciam a uma vida pecaminosa. A graça
de Deus transborda de seus lábios e triunfa sempre de seus adversários
fazendo-os retirarem-se confusos e estupefatos, perguntando-se donde lhe vinha
tanta sabedoria. Apelidaram-no o “arrebatador de almas”.
Sua atividade é
prodigiosa: vigário, administrador nos planos temporal e espiritual, ecônomo,
confessor, mestre de noviços, além de visitar hospitais e bairros pobres.
E quanto mais
rezava, mais se abrasava do desejo de se imolar por Deus.
Fogo! Fogo! Josafá está rezando...
Certa vez, dois
religiosos de seu mosteiro, ao passar junto a sua cela, viram-na em chamas. Dão
o alarme e todos acorrem. Quando vão arrombar a porta, o fogo desaparece: era
Josafá que estava prosternado, rezando com a face no solo e os braços em forma
de cruz! Seus companheiros compreendem o prodígio e afastam-se bendizendo a
Deus.
É lastimável não
terem procurado penetrar no tesouro de seu coração os que conviveram com o
Santo. Quantas ações heroicas, quantas exemplos preciosos, quantos favores
celestes ficaram esquecidos devido a essa negligência! Eles mesmos, mais tarde,
lamentaram-se pelo fato de, embora vendo-o, não o conheceram nem o imitaram.
Entretanto,
mesmo assim, aqueles que dele mais se aproximam crescem em virtude. Ao mesmo
tempo, aumenta em relação a eles o ódio de Satanás e dos cismáticos. Tal ódio
consiste num sinal evidente de que esses seus companheiros estão no bom
caminho. Por suas virtudes, seu zelo apostólico e sua atividade incansável,
empreende verdadeira reforma no Mosteiro da Santíssima Trindade, em Vilnius.
Muitas vezes
ocorre que uma multidão de demônios invade a igreja do mosteiro, à meia noite,
lá permanecendo até o clarear do dia em orgias, soltando uivos e latidos, o que
impede os monges de dormir. Em troca, São Josafá não os deixa em paz. Arma-se
com o Santíssimo Sacramento e, quando a tropa infernal chega, ordena-lhe que se
retire, perseguindo-as até no interior do cemitério, até o túmulo onde os
demônios se precipitam e desaparecem.
Quanto mais
avança em idade, mais alegria encontra na oração. Freqüentemente, vêem-se os
próprios Anjos ajudarem-no durante a Missa. E de uma imagem de Nossa Senhora
saem raios que o envolvem em luz, quando reza diante d’Ela.
Um bispo inflexível na defesa da Fé
Em 1617 foi
nomeado Bispo de Vitebsk, com direito à sucessão ao Arcebispado de Polock, o
que aconteceu em 1618. Sua autoridade estendendo-se então as duas cidades,
atualmente em território da Bielorússia. Naqueles anos a situação de confronto
entre católicos e cismáticos permanece relativamente calma.
A cerimônia de
sua posse em Polock é majestosa, com bastante pompa. O comissário real
apresenta-o à nobreza e aos governadores da cidade, dizendo: "Em nome e por ordem do Rei, apresento
à Igreja Católica, um arcebispo; à nobreza, um novo ornamento; à cidade, um
defensor e a todo rebanho, um pastor". Logo em seguida forma-se o
cortejo que segue rumo à catedral ao som de música, de tiros dos mosquetes, do
bimbalhar dos sinos, encerrando-se com uma salva de toda artilharia.
Em seu palácio
são recebidos tanto ricos como pobres. Um familiar seu também o procura para
pedir-lhe auxílio. Mas obtém como resposta que as rendas destinam-se à Igreja e
aos pobres. Seu parente então satisfaz suas necessidades com seu próprio
trabalho.
Amando sem
medidas a Deus e sua Lei, como conseqüência natural, o Santo detesta também sem
medidas a doutrina oposta a Deus. Seu ódio ao cisma e à heresia é, pois, fruto
do amor ao Criador e a Fé católica.
Diante das
pressões para estabelecer uma paz a todo custo com os cismáticos, Josafá
responde que a paz é um bem público, desde que seja aquela a que Nosso Senhor
se referiu dizendo "Eu vos deixo a minha paz". Não, porém, a outra
que Ele execra, dizendo que não veio trazer a paz, mas a espada (cfr. Mt
10,34). Que falsa paz seria essa, selada ao preço de grave ofensa a Deus?
Os cismáticos
agridem os católicos, e, ao mesmo tempo, choram apresentando-se como vítimas.
Tais artimanhas não são suficientes para demover o Santo de sua firme posição e
de seu zelo pela ortodoxia.
Com o passar do
tempo, a atitude dos cismáticos torna-se cada vez mais ameaçadora. Gritos
sinistros, injúrias e pedradas avolumam-se. Essa audácia só se explicava por um
encorajamento externo. Para eles, Josafá está fora da lei e uma tentativa de
assassiná-lo não constitui crime, apesar do castigo infligido pela Providência
a vários dos que atentaram contra sua vida.
Seus servidores
também compartilham tais sofrimentos, sendo insultados, agredidos com paus e
pedras quando saem à rua.
Martírio, milagres e glória eterna
Josafá ardia do
desejo de morrer por Nosso Senhor Jesus Cristo e participar de Sua glória
eterna.
Em novembro de
1623, encontra-se em Vitebsk, numa visita pastoral. Não foi possível fazê-lo
sair da cidade, onde abertamente se planeja sua morte, pois o fanatismo abafa
nas almas o horror ao crime.
No dia 12
daquele mês, um domingo, depois das orações matinais na igreja, é dado o sinal,
e todos conspiradores aglomeram-se à porta do templo para pegá-lo à saída. Ele
avança com passo firme através das fileiras cerradas da turba; gritos de morte,
armas que são brandidas sobre sua cabeça não o assustam. Sua presença altaneira
faz aos poucos cessar o tumulto. E assim pôde chegar a salvo ao Palácio
episcopal. Este então é invadido. Mas, à vista do Santo Bispo, os assassinos
recuam. Há um momento de indecisão. Dois celerados precipitam-se de uma sala ao
lado, e postulando sua morte, atiram-se sobre sua pessoa, ferindo-o e
pisando-o. Seu corpo, sobretudo a cabeça, deixa de apresentar a forma humana.
Cospem sobre o cadáver, arrancam-lhe a barba e os cabelos.
E apesar de Deus
sua ira manifestar cegando uma mulher que lhe arrancava a barba, cobrindo o
palácio com uma tenebrosa nuvem, da qual saía um raio de luz que ia pousar sobre
o corpo -, parece que todos estão entregues ao demônio.
Arrastam-no
pelas ruas da cidade. Sua cabeça bate num muro e deixa a silhueta incrustada,
de tal maneira que foi impossível apagá-la. Do alto da colina para onde foi
levado, o corpo é lançado no rio Dwina. Entretanto, nenhum osso se fratura.
Como se tudo
isso não bastasse, alguns dos revoltosos pegam o corpo e o conduzem a um lugar
do rio conhecido pela profundidade, a fim de que ali ele apodrecesse. Neste
momento uma coluna de luz indica o local onde o corpo se encontra. E apesar da
quantidade de pedras que nele foram atadas para que afundasse, o cadáver
reaparece em seguida, seguindo os assassinos. Estes tiveram que fazer grande
esforço para jogá-lo novamente no local mais fundo do rio.
No palácio,
alguns magistrados, que aparecem tardiamente, mandam transportar um cofre
contendo objetos de culto, que os golpes dos assassinos não conseguiram abrir.
Ao passar por uma mancha de sangue do Arcebispo, o cofre cai e se abre; um
cálice, que estava dentro, rola, tinge-se de sangue e volta para sua posição
normal, indicando que o sacrifício de Josafá havia se unido ao Sacrifício
eterno de Nosso Senhor.
Alguns dias
depois, uma luz milagrosa saindo das águas indica o lugar onde se encontram os
restos mortais do Mártir. O céu, que permanecera sombrio, retoma sua cor
normal. Entre os habitantes da cidade, o espanto cede lugar à dor.
Seu corpo é
resgatado. Apesar de ter ficado quase seis dias sob as águas, nenhum sinal de
decomposição existe nele. As feridas parecem ornatos que o embelezam.
Muitas vezes as
palavras não são suficientes na pregação para persuadir e converter. É
necessário falar mediante chagas, comover pelo sangue. Sua feridas
transfiguradas apresentavam uma eloqüência irresistível. à vista desse
espetáculo, um cismático converte-se e se dispõe a dar a vida pela Igreja
católica.
Era um santo, -- dizia o povo -- nunca ofendeu qualquer pessoa; malditos os
que o mataram!
-- Por que
adoras essas pedras? -- gritam para um cego cismáticos que ali se encontravam.
Mas eis que, confusos, ouvem eles a exclamação desconcertante: “vejo”!
Deus,
prodigalizando assim os milagres, chancela a conduta heróica e firme do
servidor fiel, que não dobrou os joelhos diante de seus inimigos.
Para satisfazer
a devoção popular, o cadáver precisa permanecer 10 dias exposto na catedral de
Polock, onde é sepultado. Em vez da dor, todos experimentam uma sensação de alegria
ao contemplar seu corpo.
Quando se
examina a lista de milagres, fica-se impressionado ao se verificar que todos os
amigos do Santo que lhe pediram favores, são invariavelmente atendidos.
São Josafá foi
beatificado em 1643, por Urbano VIII. E no dia 29 de junho de 1867, o canhão do
castelo de Santangelo e os sinos de todas as igrejas romanas saudaram o novo
Santo, canonizado por Pio IX, juntamente com São Pedro de Arbués e os mártires
de Gorcum.
(Fonte: site “Catolicismo”)
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