Um
santo para nossos dias: utilizando os progressos técnicos a serviço da Fé,
montou um portentoso apostolado pela imprensa para difundir a devoção a Maria.
E ainda morreu mártir da caridade, como sempre desejou.
Sobre a trágica morte de São Maximiliano Kolbe
no campo de extermínio de Auschwitz, muito se sabe e se comenta. Menos
conhecida, entretanto, é sua existência cheia de inteligentes e ousados
empreendimentos apostólicos, fruto de um espírito de grandes horizontes
iluminado por entranhada devoção à Virgem Santíssima.
“Talis vita, finis ita”, diz um conhecido
adágio romano. Se Maximiliano teve, no fim da sua existência, o heroico gesto
que o conduziria ao martírio, foi porque Maria Imaculada o inspirou. E ele soube
corresponder inteiramente, já desde menino, a tão bela e elevada vocação.
Nascido na era do progresso
A Polônia dos
anos finais do século XIX e iniciais do XX, como toda a Europa e a América,
achava-se em plena prosperidade material. A sociedade de então se deliciava na
euforia e no esplendor da Belle Époque, na fartura e no conforto, mais
preocupada com o gozo da vida do que com o que se relacionava com a Religião. O
laicismo dominava as mentes e os costumes.
Nesse contexto
histórico, nasceu Raimundo Kolbe, em 8 de janeiro de 1894, na cidade polonesa
de Zdunska Wola, recebendo no mesmo dia as águas batismais. Seus pais, Júlio
Kolbe e Maria Dabrowska, eram lídimos cristãos e devotíssimos da Virgem Maria.
De seus cinco filhos, dois faleceram quando ainda crianças, e os outros três
abraçaram a vida religiosa.
Uma visão que deu rumo à sua vida
Criança muito
viva e travessa, Raimundo recebeu certo dia uma repreensão de sua mãe que lhe
marcou a vida:
- Se aos dez
anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?
Essas palavras
calaram fundo na alma do pequeno. Ficou aflito e pensativo. Queria mudar de
vida e recorreu a Nossa Senhora. Ajoelhado aos pés de uma bela imagem da igreja
paroquial, perguntou-Lhe:
- Que
vai acontecer comigo?
Qual não foi sua
surpresa, quando lhe apareceu a Mãe de Deus, trazendo em Suas mãos duas coroas,
uma branca e outra vermelha. Sorrindo maternalmente, perguntou-lhe qual
escolhia. A branca significava que perseveraria na castidade e a vermelha, que
seria mártir. Grande alma, ele escolheu as duas.
A vocação religiosa
Nasceu-lhe,
então, por graça da Imaculada, a vocação religiosa. Decidiu ser capuchinho
franciscano, e aos 14 anos começou os estudos em Lwóv, no seminário menor dos
frades conventuais, junto com seu irmão Francisco.
Aos 16 anos, foi
admitido no noviciado, escolhendo o nome de Maximiliano, em honra do grande
mártir africano. Quiçá pensasse já em seu futuro...
No ano seguinte,
pronunciou os votos simples. Por sua privilegiada inteligência, decidiram os
superiores mandá-lo para a Cidade Eterna, a fim de continuar os estudos no
Colégio Seráfico Internacional, dos franciscanos, e em seguida cursar filosofia
na famosa Universidade Gregoriana.
Ouvindo falar
das especiais dificuldades que havia para se manter a pureza na Roma de então,
o jovem frade pediu para não ir. Mas, em nome da santa obediência, partiu para
a Capital da Cristandade onde, além de completar seus estudos, fez sua
profissão solene a 1 de novembro de 1914, acrescentando ao seu nome religioso o
de Maria, a Virgem Imaculada.
Começam os anos de luta
Em Roma,
Maximiliano chocou-se com a insolência com que os inimigos da Igreja a
atacavam, sem a proporcionada reação dos católicos. Resolveu então entrar na
luta antes mesmo de receber a ordenação presbiteral. Reunindo em torno de si
seis condiscípulos, fundou em 1917 a associação apostólica Milícia de Maria
Imaculada, cujos estatutos começavam por declarar seus objetivos: a conversão
dos pecadores, inclusive dos inimigos da Igreja, e a santificação de todos os
seus membros, sob a proteção de Maria Imaculada. Nela aceitou apenas jovens
destemidos e verdadeiramente dispostos a acompanhá-lo nessa empresa, com o título
de Cavaleiros de Vanguarda.
Sua sede de
almas ficou gravada nas atas de sua ordenação sacerdotal, que se deu em 28 de
abril de 1918. Na manhã seguinte, quis celebrar sua primeira Missa no altar da
Madonna del Miraccolo, na igreja de Sant'Andrea delle Fratte, porque aí se dera
o célebre episódio com Afonso Maria Ratisbonne: ante a aparição da Santíssima
Virgem, ajoelhara-se judeu e levantara católico, numa conversão miraculosa e
instantânea, em 1842. E na agenda das Missas de seus primeiros dias de
sacerdote, o padre Kolbe escreveu que queria celebrar o Santo Sacrifício para "impetrar a conversão dos pecadores e a
graça de ser apóstolo e mártir".
Progresso a serviço da Fé
Voltando à
Polônia em 1919, esteve internado em um sanatório devido a sérios problemas de
saúde. Tão logo se restabeleceu, fundou o jornal mensal da sua associação -
Cavaleiro da Imaculada - pondo o progresso técnico do seu tempo em matéria
gráfica, a serviço da Fé.
Na véspera do
lançamento, reuniu os operários, colaboradores e redatores - ao todo 327
pessoas -, e passaram o dia em jejum e oração. Nessa noite, foi organizada uma
grande vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento e de oração à Santíssima
Virgem, para que abençoassem esse empreendimento. Na noite seguinte, as
rotativas imprimiram o primeiro número do jornal, "filho" dessas
orações. Um grande impulso à sua obra ocorreu em 1927, quando o príncipe João
Drucko-Lubecki cedeu ao padre Maximiliano um terreno situado a 40 quilômetros
de Varsóvia. Aí, homem de grandes horizontes, começou ele a construir uma
Niepokalanów - Cidade de Maria. Planejava a edificação de um enorme convento e
novas instalações de sua obra de imprensa. Com que dinheiro? "Maria proverá - dizia o santo varão - este é um negócio dEla e de seu Filho!".
E não foi
defraudado em sua confiança. Em 1939, o jornal tinha já a surpreendente tiragem
de um milhão de exemplares, e a ele se haviam juntado outros dezessete
periódicos de menor porte, além de uma emissora de rádio. A Cidade de Maria
contava então com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos
leigos, 122 seminaristas menores e 82 candidatos ao sacerdócio. Nela habitavam
também médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores,
impressores, jardineiros e cozinheiros, além de um corpo de bombeiros.
O que alimentava
o dinamismo de sua obra apostólica era a sólida piedade incutida por ele nos
seus discípulos. Sua mola propulsora era o amor entusiasta e militante a Maria
Imaculada, da qual ele se sentia, mais do que um escravo, uma simples
propriedade. E na Eucaristia estava a fonte da fecundidade de seus
empreendimentos. Instituiu a Adoração Perpétua em Niepokalanów, e ele mesmo
iniciava todos os seus trabalhos com um ato de Adoração ao Santíssimo
Sacramento.
São Maximiliano com seminaristas japoneses. Aprendeu com perfeição a língua para poder evangelizar esse povo que tando amava. |
Incursão pelo Oriente
Em seu anelo de
expandir por todo o orbe sua obra evangelizadora, decidiu fazer uma incursão
pelo Oriente, pois queria editar sua revista nos mais diversos idiomas para
atingir milhões de almas em todo o globo. Aspirava ter uma Cidade de Maria em
cada país.
De início,
conseguiu fundar uma em Nagasaki, no Japão. Em 1930, a Niepokalanów japonesa
dispunha já de uma tipografia onde foram impressos os primeiros dez mil
exemplares de Cavaleiro da Imaculada no idioma dos samurais. Até os dias de
hoje, mantém-se ali sua obra apostólica, com trabalhadores nativos e numerosos
sacerdotes.
Mais tarde,
antes dos trágicos acontecimentos da Guerra, contou a seus religiosos uma graça
mística que recebera em terras nipônicas. Graça quiçá decisiva para sua
fortaleza nas atribulações pelas quais teve de passar. No refeitório da Cidade
de Maria, depois de um jantar, disse-lhes: "Eu vou morrer e vocês vão
ficar. Antes de me despedir deste mundo, quero deixar- lhes uma lembrança
[...], contando- lhes algo, pois minha alma está transbordando de alegria: o
Céu me foi prometido com toda segurança, quando estava no Japão. [...]
Lembrem-se disso e aprendam a estar prontos para os maiores sofrimentos".
A Segunda Guerra Mundial
Quando estourou
a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Cidade de Maria ficou muito exposta a
riscos, pois se situava nas imediações da estrada de Potsdam a Varsóvia, rota
provável de uma eventual invasão das tropas nazistas. Motivo pelo qual a
prefeitura de Varsóvia ordenou sua pronta evacuação. Padre Maximiliano
conseguiu lugar seguro para todos os irmãos, mas permaneceu ali, com cinquenta
de seus colaboradores mais imediatos.
Em setembro, as
tropas invasoras levaram-nos presos para Amtitz. Mas na festa da Imaculada, dia
8 de dezembro, foram todos libertados e voltaram para sua Niepokalanów,
transformando-a em refúgio e hospital para feridos de guerra, prófugos e
judeus.
Retomaram também
o labor apostólico, pois os invasores permitiram ao padre Kolbe continuar com
suas publicações, à espera de um pretexto para acabar com seu apostolado. Com
grande coragem, escreveu ele no último número de Cavaleiro da Imaculada, as
seguintes palavras, de admirável honestidade intelectual e integridade de
convicções: "Ninguém no mundo pode
mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos
encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos
exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois
inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o
pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos
derrotados no mais profundo de nossas almas?".
A propósito
disso, em fevereiro de 1941, a Gestapo irrompeu na Cidade de Maria e levou
presos o padre Kolbe e outros quatro frades, os mais anciãos. Na prisão de
Pawiak, em Varsóvia, foi submetido a injúrias e vexações, e depois trasladado
para o campo de extermínio de Auschwitz.
Foto de São Maximiliano Kolbe no dia que foi preso pelos nazistas. Observem a seriedade e serenidade no olhar do santo. |
No campo de Auschwitz
Começaram para o
santo mártir as estações de sua Via-Crucis. Passou a primeira noite numa sala
com outros 320 prisioneiros. Na manhã seguinte, foram todos desnudados, lavados
com jatos de água gelada e recebendo cada qual uma jaqueta com um número.
Coube-lhe o 16.670. Quando o oficial viu seu hábito religioso, ficou irritado.
Arrancando com violência o Crucifixo de seu pescoço, gritou-lhe:
- E tu acreditas
nisto?
Ante a
categórica resposta afirmativa, deu-lhe uma "valente" bofetada! Por
três vezes repetiu a pergunta e por três vezes o santo religioso confessou sua
Fé, recebendo o mesmo bestial ultraje. A exemplo dos Apóstolos, São Maximiliano
dava graças a Deus por ser digno de sofrer por Cristo: "Eles saíram da
sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de
sofrer afrontas pelo nome de Jesus" (At 5, 41). Maria não o abandonou um
instante sequer.
Ao entrar no campo
de concentração, os guardas faziam uma revista minuciosa em todos os
prisioneiros e lhes tiravam todos os objetos pessoais. Entretanto, o soldado
que revistou o padre Kolbe devolveu-lhe o Rosário, dizendo:
- Tome seu
Rosário. E vá lá para dentro! - Era um sorriso de Nossa Senhora, como a
dizer-lhe que estaria com ele a cada momento.
Martírio no "‘bunker' da morte"
São bem
conhecidos os demais episódios que se deram no campo de Auschwitz: o
comportamento do santo sacerdote franciscano, sua incansável atividade
apostólica, em cada bloco para onde era mandado, etc.
No final de
julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14, cujos prisioneiros faziam
trabalhos agrícolas. Tendo um deles conseguido fugir, dez outros, escolhidos
por sorteio, foram condenados ao "bunker da morte": um subterrâneo
onde eles eram jogados desnudos, e permaneciam sem bebida nem alimento, à
espera da morte.
Corajosamente, Padre Maximiliano oferece-se para morrer no lugar do preso desesperado. |
Ante o desespero
daqueles infelizes, São Maximiliano ofereceu-se para ficar em lugar de um deles,
pai de família, e foi aceito por ser sacerdote. O ódio dos esbirros ao
religioso era notório, mas ficaram estupefatos ao verificar até onde pode
chegar a coragem, a fortaleza e o heroísmo de um padre católico, em cuja
fisionomia se revelava um varão na força do termo. Sem dúvida, movia-o uma
autêntica caridade para com seu conterrâneo, entretanto, outra razão também
elevada o levou a tomar essa decisão: o desejo de ajudar aqueles condenados a
terem uma boa morte, salvando suas almas.
Cela onde morreu São Maximiliano. |
Fechado o
bunker, estava para sempre encerrado para eles o contato com o mundo exterior.
Naquelas terríveis horas sem outra expectativa que a da morte, tratava-se de
cada qual pôr em ordem sua consciência. Pode-se imaginar qual seria o medo da
morte, do Juízo, do sofrimento, a tentação de desespero... Em tal situação, que
privilégio poder ter por companheiro um sacerdote santo! Graças a ele, o bunker
da morte se converteu em capela de oração e de cânticos... com vozes cada dia
mais débeis. Três semanas depois, restavam vivos apenas quatro. Julgando que
aquela situação se prolongava demasiado, decidiram as autoridades aplicar-lhes
uma injeção letal de ácido muriático.
Padre Kolbe foi
o último a morrer naquele pavoroso subterrâneo. Estendeu espontaneamente o
braço para a injeção. Alguns momentos depois, um funcionário do campo o
encontrou morto "com os olhos
abertos e a cabeça inclinada. Seu rosto, sereno e belo, estava radiante".
Cumprira sua
última missão: salvara a si próprio e aos demais. Era o dia 14 de agosto de
1941, véspera da Assunção de Maria.
A inspiração de sua vida foi a Imaculada
E no dia 10 de
outubro de 1982, na Praça de São Pedro, uma multidão de mais de duzentas mil
pessoas ouvia um Papa, também polonês, declarar mártir esse sacerdote exemplar
que não só morreu para salvar uma vida, mas, sobretudo, viveu para salvar
muitas almas. Ele que jamais se cansava de dizer: "Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos
igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa
santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos
e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade".
Pois, como
afirmou João Paulo II ao canonizá-lo, "a inspiração de toda a sua vida foi
a Imaculada, a quem confiava seu amor a Cristo e seu desejo de martírio".
(Fonte:
Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2009, n. 92, p. 34 à 37)
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Segundo texto biográfico
Grande
devoto de Maria Imaculada e seu ardoroso apóstolo, Frei Maximiliano foi
encarcerado pelos nazistas num campo de concentração, onde deu a vida para
ajudar outros a bem morrer.
São Maximiliano
Kolbe nasceu no dia 8 de janeiro de 1894 em Zdunska Wola (Polônia). Seus pais,
Júlio e Mariana Dabrowska, eram pobres artesãos mas lídimos cristãos,
devotíssimos da Virgem Maria. No batismo recebeu o nome de Raimundo. Teve
quatro irmãos, dois falecidos muito novos.
O pequeno
Raimundo era muito vivo e arteiro. Um dia em que a mãe o repreendeu mais
veementemente por alguma falta, resolveu mudar de vida. Contará depois:
"Nessa noite eu perguntei à Mãe de Deus o que seria de mim. Então Ela
apareceu-me com duas coroas, uma branca, outra vermelha. Perguntou-me qual das
duas eu escolheria. A branca significava que eu deveria preservar a pureza; e a
vermelha, que me tornaria mártir. Escolhi as duas. A partir de então, profunda
mudança operou-se em minha vida”.
Em 1907, ele e
seu irmão mais velho, Francisco, entraram para o seminário menor dos
franciscanos em Lwow, onde recebeu o nome de Maximiliano. Foi depois enviado
para o Colégio Seráfico Internacional, em Roma, cursando filosofia na
Universidade Gregoriana.
Ao emitir os
votos perpétuos em 1914, Maximiliano acrescentou ao seu o nome de Maria.
Milícia da Imaculada: converter os pecadores
No ano de 1917,
a maçonaria mundial celebrava o segundo centenário de sua fundação, mediante
comemorações principalmente em Roma. Grupos de exaltados carbonários desfilavam
pelas ruas da Cidade Eterna, empunhando bandeiras negras com a figura de
satanás em atitude de esmagar São Miguel Arcanjo. Isso provocou a mais profunda
indignação em Frei Maximiliano que, em contrapartida, fundou com seis de seus
condiscípulos uma associação, a Milícia da Imaculada, com o fim de “converter
pecadores, hereges e cismáticos, particularmente franco-maçons, e trazer todos
os homens ao amor de Maria Imaculada”.
Em abril de 1918
ele foi ordenado, e no ano seguinte, com uma bênção de Bento XV para a Milícia
da Imaculada, voltou para a Polônia.
Em Cracóvia
lecionou História Eclesiástica no seminário maior dos franciscanos. Em janeiro
de 1922, começou a publicar o mensário “Rycerz Niepokalanej” (Cavaleiro da
Imaculada). Era seu objetivo “iluminar a verdade e mostrar o verdadeiro caminho
para a felicidade”.
Nesse mesmo ano
transferiu-se para Grodno, onde recebeu candidatos, na qualidade de irmãos
leigos, para se dedicarem à boa imprensa.
A grandiosa obra Cidade de Maria
Em 1927 o
Príncipe João Drucko-Lubecki cedeu-lhe um terreno perto de Varsóvia, onde os
frades começaram a construir o que seria a Cidade da Imaculada. Essa obra
gigantesca ,Frei Maximiliano a levou avante sem dinheiro, confiando somente em
Nossa Senhora: “Dinheiro? Virá de um modo ou de outro. Maria proverá. Este é um
negócio d'Ela e de seu Filho”. E não foi decepcionado. Nas novas instalações, a
tiragem do “Cavaleiro da Imaculada” passaria de 5 mil exemplares mensais à
impressionante cifra de 750 mil. Em 1935, iniciou também a publicação de um
diário católico, “O Pequeno Diário”, com tiragem de 137 mil exemplares,
ampliada para 225 mil nos domingos e feriados. No dia 8 de dezembro de 1938,
instalou na Cidade de Maria uma estação de rádio.
Mas não parou
aí. Em 1939, a referida “cidade” contaria com 762 habitantes, sendo 13
sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 rapazes no seminário menor e 82
candidatos ao sacerdócio. Figuravam entre seus habitantes médicos, dentistas,
agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros,
cozinheiros, e mesmo um corpo de bombeiros. Era inteiramente autossuficiente.
O bem que fez
toda essa organização foi enorme. Vigários de todas as partes do país
constataram intenso reafervoramento da piedade na Polônia antes da Segunda
Guerra Mundial, atribuída à literatura produzida por Frei Kolbe. Uma campanha
contra o aborto, em 1938, pareceu despertar a consciência da nação. Mais de um
milhão de pessoas alinharam-se então junto aos estandartes de Maria Imaculada.
Frei Maximiliano
fundou também uma Cidade de Maria no Japão e publicou o “Cavaleiro da
Imaculada” na língua do país. Tentou igualmente fundar outra na Índia, mas seus
superiores chamaram-no de volta à Polônia antes de poder concretizar seu plano.
De volta ao seu país, continuou suas atividades na Cidade de Maria.
Depois da segunda
guerra mundial, os bispos da Polônia enviaram carta oficial à Santa Sé,
afirmando que a revista de Frei Maximiliano Kolbe havia preparado a nação
polonesa para suportar aquele conflito internacional e sobreviver aos seus
horrores.
Sob o terror da ocupação nazista
No dia 13 de
setembro de 1939, a Cidade de Maria foi ocupada pelos invasores alemães, e a
maior parte de seus habitantes, entre eles Frei Maximiliano, foram deportados
para a Alemanha, sendo libertos no fim desse ano.
Começou então a
organizar abrigo para 3 mil refugiados de guerra. Os frades dividiam com eles
tudo o que possuíam.
Na única edição
do “Cavaleiro da Imaculada” que lhe foi permitido publicar durante a ocupação
alemã, Frei Maximiliano afirmou: “Ninguém
no mundo pode mudar a verdade. O que podemos e devemos fazer é procurá-la e
servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito
interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de exterminação,
há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal,
o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos
derrotados no mais profundo de nossas almas?”
Isso provocou
sua prisão, em fevereiro de 1941, sendo enviado ao cárcere de Pawiak, em
Varsóvia, onde sofreu inúmeras injúrias.
O
governador-substituto da prisão, Conrado Henlein, respondendo à pergunta de por
que os alemães estavam exterminando o clero polonês, fez diante dos bispos
poloneses esta afirmação: “Vocês,
poloneses, têm esta mentalidade: a Igreja e a nação formam uma só coisa. Nós
temos que acabar com isso. E é por essa razão que golpeamos uma vez a Igreja e
outra vez o povo, para vos exterminar”.
Em maio desse
ano, Frei Maximiliano foi deportado para o campo de concentração de Óswiecim,
cujo comandante Fritzsch, saudou sarcasticamente os recém-chegados, dizendo:
“Aviso-vos que viestes não para um sanatório, mas para um campo de concentração
alemão, do qual a única saída é o forno crematório”.
Frei Maximiliano
aproveitava todas as oportunidades para dar assistência religiosa aos seus
compatriotas. Dizia-lhes: “Tende confiança na Imaculada. Ela vos há de ajudar a
perseverar”.
O verdadeiro amor: dar a vida por seu amigo
Em fins de julho
de 1941, fugiu um prisioneiro do bloco em que estava Frei Maximiliano. Em
punição, o comandante Fritzsch condenou à morte dez prisioneiros.
Um dos dez,
Francisco Gajowniczek, começou a chorar desesperado: “Oh, minha pobre mulher, meus pobres filhos, eu não os verei mais!”
Frei Maximiliano saiu da formação e se dirigiu ao comandante do campo,
seguindo-se este diálogo:
— O que você
quer? – perguntou o alemão.
— Quero morrer
no lugar de um dos condenados.
— Por quê?
— Porque sou
solteiro, e este homem tem esposa e filhos.
— Qual a sua
profissão?
— Sou padre
católico.
— Aprovado.
Mas a razão dada
por Frei Kolbe não era a única, ou talvez nem a principal que o levou a esse
ato heroico de caridade. Queria assistir na terrível morte os outros nove
prisioneiros. E foi o que fez.
Ele caminhou
para o “bunker da fome” entoando sua prece preferida: “Permiti que eu vos louve, ó Virgem Sagrada. [...] Permiti que para Vós e só para Vós eu viva,
trabalhe, sofra, me sacrifique e morra. Permiti que eu contribua, cada vez mais
e ainda muito mais, para a vossa exaltação”.
Na prisão
subterrânea, onde faltava ar, alimento e água, ouviam-se orações, cânticos
religiosos, o rosário recitado, o que contagiava os prisioneiros das celas
vizinhas. Bruno Borgowiec, prisioneiro que servia de intérprete e auxiliar aos
alemães, e que foi testemunha ocular dessa terrível agonia, declarou: “Eu tinha a impressão de estar numa igreja”.
À medida que os
prisioneiros se tornavam mais fracos, a oração passava a ser quase murmurada.
Entrementes, um após outro iam morrendo, até que ficou só Frei Kolbe. Ele tinha
um olhar vivo e penetrante, que seus verdugos não podiam suportar, de maneira
que vociferavam: “Olha para o chão, não para nós”. Quinze dias após seu
internamento naquele bunker de horror, Frei Kolbe ainda continuava vivo.
Foi-lhe então aplicada uma injeção de ácido carbólico na veia, que o matou.
Depois da
guerra, jornais de todo o mundo trouxeram artigos sobre o “santo de nossos
tempos”, o “gigante na santidade”. Biografias foram escritas, e por toda parte
houve testemunhos de curas obtidas por sua intercessão. O que levou à sua
beatificação em 1971 e subsequente canonização em 1982.
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E-mail do autor:
pmsolimeo@catolicismo.com.br
Obras
consultadas:
– Frei Juventino
Mlodozeniec, Conheci o bem-aventurado Maximiliano Maria Kolbe –– exemplar
mimeografado no Jardim da Imaculada, Missão Católica de São Maximiliano Kolbe,
Cidade Ocidental, Goiás, 1980.
– Pe. José
Leite, S.J., S. Maximiliano Maria Kolbe, in Santos de Cada Dia, Editorial A.
O., Braga, 1994, vol. II.
Um comentário:
Adorei lêr a vida do santo Frei, grata pela excelente explicação ! Avé Maria!
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