No
século IV, depois das perseguições romanas, vários mosteiros rudimentares foram
construídos no Monte Sinai. Neste local os monges que se entregavam à vida de
oração e contemplação. Esses mosteiros tornaram-se famosos pela hospitalidade
para com os peregrinos e pelas bibliotecas que continham manuscritos preciosos.
Foi neste ambiente que viveu e atuou o maior dos monges do Monte Sinai, João
Clímaco.
João nasceu na
Síria, por volta do ano 580. De grande inteligência, formação literária e
religiosa, ainda muito jovem, aos dezesseis anos, optou pelo deserto e viajou
para o Monte Sinai, tornando-se discípulo em um dos mais renomados mosteiros.
Isso aconteceu depois de renunciar a fortuna da família e a uma posição social
promissora. Preferiu um cotidiano feito de oração, jejum continuado, trabalho
duro e estudos profundos. Só descia ao vale para recolher frutas e raízes. São
João Clímaco decidiu nunca mais comer carne, fosse ela vermelha ou branca.
Também passou a sair de sua cela apenas para participar da Eucaristia, aos
domingos.
O nome de São
João Clímaco é uma alusão à palavra "klímax', que em grego significa
escada. São João decidiu adotar este nome em virtude do livro escrito por ele mesmo,
intitulado Escada para o Paraíso.
A Escada é um
resumo da vida espiritual, concebida para os solitários e contemplativos. Para
Clímaco, a oração é a mais alta expressão da vida solitária; ela se desenvolve
pela eliminação das imagens e dos pensamentos. Daí a necessidade da 'monologia',
isto é, a invocação curta, de uma só palavra, incansavelmente repetida, que
paralisa a dispersão do espírito. Essa repetição deve assimilar-se com a
respiração.
«A Escada para o
Paraíso com seus 30 degraus, uma obra que influenciou a conduta de vários
religiosos, tanto no Ocidente quanto no Oriente.»
Nesta obra ele
explica que existem 30 degraus a serem galgados para que possamos atingir a
perfeição moral. Este livro foi um grande sucesso na época e chegou até mesmo a
influenciar monges e outros religiosos cm sua conduta particular, tanto no
Ocidente como no Oriente. A importância desta obra literária para a época pode
ser notada na utilização do símbolo escada na arte bizantina.
Sua fama se
espalhou e muitos peregrinos iam procurá-lo para aprender com seus ensinamentos
e conselhos. Inicialmente eram apenas os que desejavam seguir a vida monástica,
depois eram os fiéis que queriam uma benção do monge, já tido em vida como
santo. Aos sessenta anos João foi eleito por unanimidade abade geral de todos
os eremitas da serra do Monte Sinai.
Já com 70 anos
foi eleito bispo do Monte Sinai, muito embora preferisse continuar com sua vida
isolada. Nesta época construiu hospitais para a população mais pobre, ajudado
pelo papa Gregório Magno.
São João Clímaco
foi muito famoso como homem santo em toda a Palestina e Arábia. Viveu por volta
do ano 650 e morreu no Monte Sinai.
Os últimos
quatro anos de sua vida foram dedicados a viver como ermitão. Neste período de
total isolamento ele escreveu Escada para o Paraíso.
Pensamentos de São João Clímaco:
1. "O verdadeiro
monge: o olhar da alma, imóvel; o sentido corporal, inabalável... uma luz que
não se apaga aos olhos do coração".
2. "Que vossa
oração ignore toda multiplicidade: uma única palavra bastou ao Publicano e ao
filho pródigo para obter o perdão".
3. "A solidão
do corpo é a ciência e a paz da conduta e dos sentidos; a solidão da alma, a
ciência dos pensamentos e um espírito inviolável. O amigo da solidão é um
espírito de sentinela, valente e inflexível, sem sono, à porta do coração, para
derrubar e matar os que se aproximam".
4. “O monge tem
necessidade de grande vigilância e de um espírito isento de agitação. O
cenobita tem frequentemente o apoio de um irmão; o monge, o de um anjo”.
5. "Fechai a
porta da cela a vosso corpo, a porta dos lábios às palavras, a porta interior
aos sentido".
6. "A obra da
solidão (hesychia) é uma despreocupação total por todas as coisas, razoáveis ou
não".
7. "Basta um fio de cabelo para embaralhar a
vista; basta uma simples preocupação para dissipar a solidão (hesychia), pois a
solidão é despojamento dos pensamentos e renúncia às preocupações
razoáveis".
8. "Quem possui verdadeiramente a paz, não
se preocupa mais com o próprio corpo".
9. "Quem quer
apresentar a Deus um espírito purificado, e se deixa perturbar pelas
preocupações, assemelha-se a alguém que tivesse entravado fortemente as pernas
e pretendesse correr".
10.
"É grande a utilidade da leitura para
esclarecer e recolher o espírito".
11.
"Procurai vossas luzes sobre a ciência da
santidade, mais nos trabalhos do que nos livros".
12.
"Quem se sente diante de Deus, do fundo do
coração, será como uma coluna imóvel durante a oração".
13.
"O monge que vela é um pescador de pensamentos;
sabe distingui-los sem dificuldade, na calma da noite, e apanha-los".
14.
"Nada de rebuscamento nas palavras de vossa
oração: quantas vezes os balbucios simples e monótonos das crianças fazem o pai
ceder!"
15.
"Não vos entregueis a longos discursos, para
que vosso espírito não se dissipe na procura das palavras. Uma única palavra do
Publicano comoveu a misericórdia de Deus; uma única palavra cheia de fé salvou
o Ladrão".
16.
"A prolixidade na oração frequentemente enche o
espírito de imagens e o dissipa, enquanto muitas vezes o efeito de uma única
palavra (monologia) é recolhê-lo".
17.
“Senti-vos consolados e enternecidos por uma palavra
da oração? Parai nessa palavra; isso quer dizer que o nosso anjo da guarda então
ora conosco”.
18.
"Nada de segurança demais, mesmo tento
conseguido a pureza; mas, sim, uma grande humildade, e sentireis então maior
confiança".
19.
"Quando vos tiverdes revestido da doçura da
ausência de ira, não vos será mais muito custoso libertar vosso espírito do
cativeiro".
20.
"O primeiro degrau da oração consiste em
expulsar, por meio de um pensamento (ou uma palavra) simples e fixo
(monologicamente), as sugestões, no momento mesmo em que se manifestam. O
segundo, em conservar nosso pensamento unicamente no que dizemos e pensamos".
21.
"Ressuscitados do amor pelo mundo e pelos
prazeres, afastai as preocupações, despojai-vos dos pensamentos, renunciai ao
corpo, uma vez que a oração nada mais é que um exílio do mundo visível e
invisível".
22.
"Não se aprende a ver; é um efeito da natureza.
A beleza da oração também não se aprende através do ensinamento. Ela tem em si
própria o seu mestre; Deus 'que ensina ao homem o saber' (Sl 94,10) dá a oração
e abençoa os anos dos justos".
Alegoria sobre a "Escada do Paraíso" |
A ESCADA DO PARAÍSO (site padrepauloricardo)
Foi justamente por
insistência de um irmão vizinho do mosteiro de Raito que nasceu a sua
"Escada do Paraíso" ( Κλίμαξ, em grego) – de onde vem o seu nome,
Clímaco. Nessa obra, o santo compara o progresso na vida espiritual a uma
escada, com três partes: a primeira diz respeito ao abandono do mundo, a fim de
voltar ao estado da infância evangélica; a segunda é um importante subsídio
para o reconhecimento e a cura das chamadas "doenças espirituais"; a
terceira, por sua vez, é propriamente o caminho dos perfeitos.
Em toda a obra de
João Clímaco, porém, o seu foco não é outro senão o amor, como ele próprio
revela, ao associar o combate espiritual à figura do "fogo" e
concluir o seu tratado com as palavras de São Paulo: "Agora subsistem
estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior delas é a
caridade" ( 1 Cor 13, 13). A metáfora da escada para a vida espiritual é
muito conveniente e encontra amparo nas próprias Sagradas Escrituras (cf. Gn
28, 11-19). Pode, porém, passar a falsa impressão de algo fatigante e cansativo
e uma imagem de autossuficiência – como se fosse possível alguém ascender a
Deus pelas próprias forças.
Entretanto, se é
verdade que "é necessário passar por muitos sofrimentos para entrar no
Reino de Deus" ( At 14, 22), a "escada do Paraíso", antes de ser
subida pelos homens, foi descida pelo próprio Deus. Foi o Senhor quem se
inclinou ao homem e inclinou a escada dos céus, para que ele a pudesse subir
mais facilmente – Ele, que "humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte,
e morte de Cruz" (Fl 2, 8). De fato, antes que o homem desse o primeiro
passo em direção ao Altíssimo, Ele mesmo saiu dos altos céus e veio em seu
auxílio, com a Sua graça. Por isso, a resposta do homem a essa misericórdia de
Deus só pode ser o amor – o amor de quem sobe uma escada firmando os
"braços cansados" e "os joelhos vacilantes" (Is 35, 3), com
o coração ansioso em contemplar o Senhor e possui-Lo plenamente na eternidade.
Pode haver quem se
pergunte sobre a validade das lições de São João Clímaco para o homem de hoje.
O Papa Bento XVI, ao falar sobre esse importante místico da Igreja, se pergunta
se "o itinerário existencial de um homem que viveu sempre na montanha do
Sinai, numa época muito distante, pode ter alguma atualidade para nós". A
sua resposta é que "aquela vida monástica é apenas um grande símbolo da
vida batismal, da vida do cristão. Mostra, por assim dizer, com caracteres
grandes, o que nós escrevemos no dia-a-dia com caracteres pequenos".
Todos, pois, são chamados à santidade, como conclamou o Concílio
Vaticano II [3]. A "escada do Paraíso" é o itinerário para todos os
cristãos, chamados que são ao amor. Que São João Clímaco, do Céu, ajude o homem
do século XXI a atingir o clímax da caridade, como ele alcançou.
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