“Rezemos para que fiquemos livres do
medo e da intimidação, mas principalmente do desejo de vingança e violência.”
Pe. Popieluszko
Em
seu processo de beatificação lemos esta bela declaração: “a morte dele abre-nos os olhos: os olhos do nosso coração, do nosso
entendimento e da nossa fé. Mesmo depois de morto, o Padre Jerzy Popieluszko
fala às consciências”.
Considerado
um dos mártires do movimento pela democratização da Polônia, o sacerdote Jerzy
(George, em português) Popieluszko, morto pelo governo comunista em 1984, foi
alguém que “somente com as armas
espirituais da verdade, da justiça e da caridade, procurou reivindicar a
liberdade de consciência dos cidadãos e dos sacerdotes”, disse o prefeito
da Congregação para a Causa dos Santos, Dom Ângelo Amato, que presidiu sua
beatificação, por indicação do Papa Bento XVI.
O Padre Jerzy (George,
em português) nasceu em 14 de setembro de 1947, na aldeia Okopy da região de
Białystok. Seus pais, Mariana e Vladislau, trabalhavam na agricultura. As
condições de vida eram difíceis, mas os pais criaram os filhos com muito
cuidado. Em primeiro lugar estava o Senhor Deus, a Santa Missa e a oração da
família reunida. A decisão sobre a escolha do sacerdócio foi tomada após a
graduação no segundo grau. Em 1965, ingressou no Seminário Arquidiocesano, em
Varsóvia. Foi ordenado sacerdote em 28 de maio de 1972.
Durante o seu
ministério sacerdotal executou muitas tarefas. Em fevereiro de 1979, recebeu a
função de pastor do grupo médico em Varsóvia. Dedicou muita atenção às questões
da defesa da vida dos nascituros e da necessidade de prestação de assistência
concreta às mulheres grávidas, que se encontravam em situações difíceis.
No domingo
memorável de 31 de agosto de 1980, quando o país inteiro estava tomado por uma
onda de greves, os trabalhadores dos estaleiros de Huta que estavam protestando
em Varsóvia, estavam à procura de um sacerdote que pudesse celebrar as santas
missas em suas instalações. O Cardeal Wyszyński enviou o seu capelão. Sem
qualquer plano prévio, o Cardeal parou em frente à Igreja de São Estanislau
Kostka. Lá descobriu que apenas o padre Popiełuszko poderia ir. Desta forma,
pareceria um acaso, mas começou a grande aventura do ministério espiritual para
o povo trabalhador. Após a missa o padre Jerzy permaneceu no estaleiro até a
noite e desde então vinha várias vezes por semana.
Desde o início
da guerra, o Pe. Popiełuszko foi “alvo” do Serviço Secreto da República Popular
da Polônia (Służba Bezpieczeństwa PRL). Os oficiais invadiram o presbitério.
Foi por milagre que escapou da prisão. Ao ficar em liberdade ocupou-se, com
devoção, à organização de ajuda aos presos, às suas famílias e todos que se
encontravam em situação difícil.
O Pe.
Popiełuszko simplesmente gostava das pessoas. Sem imposição e obsessão podia
realmente interessar-se com profundidade pelo homem, sua vida, sua perspectiva,
seus problemas. Atraía-as para si porque sentiam a sua bondade. Era mestre em
fazer contatos, construir relacionamentos, criar ligações. Era um patrono para
todos aqueles que individualmente estavam em busca de realizações, sofrendo de
isolamento e mesmo com tratamentos caros em psicoterapeutas não eram capazes de
superá-lo. Sem contar com os empecilhos, interferia por aqueles que eram os
mais oprimidos. Era defensor de sua dignidade humana. Como escreveu João Paulo
II na Encíclica Veritas Splendor os mártires são os guardiões “da fronteira
entre a verdade e a mentira”. O Pe. Popiełuszko defendeu durante toda a sua
vida uma fronteira clara entre a verdade e a mentira. Falava do valor da
verdade e da mediocridade das mentiras apoiadas em muitas palavras que, mesmo
assim, desvanecem rapidamente.
Em seus sermões,
falou muito sobre a liberdade. Ressaltava que a liberdade não significa
anarquia, isto é, fazer toda e qualquer coisa que o homem deseje e o que é
viável, mas que seja pela livre busca do bem. Vencer o mal com o bem.
Permanecer livre do ódio, da repressão e da vingança. O Pe. Popiełuszko levava
café quente para os policiais gelados, que durante o inverno em plena lei
marcial vigiavam sua casa.
Desde fevereiro
de 1982, assumiu a celebração de Santas Missas pela Polônia. Elas eram celebradas
regularmente no último domingo do mês, e logo começou a reunir multidões de
fiéis. Ouviam-no os trabalhadores e professores, opositores e até mesmo aqueles
pertencentes ao partido da oposição. As pessoas vinham de toda a Polônia, de
mês a mês vinham mais e mais pessoas. Não é de admirar que logo por parte das
autoridades aparecessem provocações e tentativas de intimidação.
Nas Santas
Missas pela Pátria ocorriam muitas conversões, muitos voltaram para a Igreja
depois de muitos anos ou até depois de dezenas de anos, e muitos pediam para
ser batizados. Os trabalhadores se opunham ao comunismo sem portar armamentos
além do Santo Rosário em suas mãos e com imagens da Virgem e do Papa polaco
João Paulo II.
Tomou
solidariamente parte nos processos penais contra os dirigentes do Sindicato
Solidariedade, assegurou a proteção dos seus filhos e suas famílias, organizou
para eles assistência jurídica e médica, provendo o necessário aos que eram
expulsos de seus postos de trabalho, vítimas da repressão. Sua casa se
converteu em um lugar de encontro e de reunião para os obreiros perseguidos,
para os que sofriam, para os que eram vítimas da repressão comunista, reuniu
homens de todas as gerações e classes sociais. Fazia exposições da Doutrina
Social da Igreja, citava as Encíclicas Sociais e os Discursos do Papa João
Paulo II.
Mês após mês, a
atmosfera em torno Pe. Popiełuszko tornava-se cada vez mais tensa. Sempre era
seguido, sabia que sua moradia era vigiada e o telefone gravado. Não escapou de
artigos difamatórios na imprensa e muitas horas de oitivas no posto policial.
Em setembro de
1983, junto com Lech Walesa organizou a primeira peregrinação de trabalhadores
para Jasna Góra (para o santuário de Częstochowa – e esta ideia mantêm-se até
hoje). Um ano mais tarde recebia telefonemas anônimos: “Se fores novamente para
Jasna Góra – vais morrer”.
Os lugares
associados com o martírio do padre Jerzy Popiełuszko tornaram-se, de modo
muito rápido, alvo de peregrinações. Milhares de pessoas rezavam, depositavam
flores e ascendiam velas no local do rapto do padre George. Em 6 de Novembro de
1984, no local do sequestro do padre George Popiełuszko foi construída uma cruz
fundada pelos paroquianos de Bydgoszcz. Durante vários meses depois do funeral
vinham multidões de peregrinos que, em fila até o túmulo, tinham que esperar
várias horas.
Muitas pessoas
oram por intercessão do Padre George e muitos recebem uma graça especial. No
túmulo do padre George as pessoas redescobrem a fé, retornando à Igreja, e
depois de muitos anos se confessam.
Entre seus
diversos ofícios, destacou-se também na pastoral da saúde, sobretudo, como
capelão dos médicos católicos. Merece destaque também na breve vida deste jovem
sacerdote, o seu trabalho na preparação das duas visitas do Papa João Paulo II
em sua terra natal.
Gravemente
enfermo e com a saúde comprometida, foi lhe dada como residência em 1980 a
Igreja de Santo Estanislau Kostka na periferia de Varsóvia em um lugar chamado
Zoliborz. Ali não era nem pároco, nem capelão; porém ajudava nas confissões e
na assistência aos doentes. Contudo neste período, a pedido do Cardeal, foi
trabalhar com os operários, por quem doou o melhor de suas forças espirituais e
físicas. Organizava a cada mês a chamada “Missa pela Pátria”, onde reunia
milhares de pessoas. O conceito e a realidade da solidariedade cristã e da
esperança eram quase sempre o núcleo de suas inspiradas homilias que em muito
incomodavam o sistema comunista, que por diversas vezes, através de suas
autoridades, começaram a fazer diversos protestos a Cúria acusando o sacerdote
de atividade antiestatal, e portanto, um perigoso perturbador da ordem pública.
Em dezembro de
1983 o Padre foi chamado a juízo diante das autoridades polonesas. Magistrados
começaram a acusá-lo de criminoso. Os meios de comunicação também começaram a
denunciá-lo como revolucionário. As autoridades eclesiásticas o defenderam
sempre, mas sem sucesso. No dia 13 de outubro de 1984, três oficiais do serviço
secreto causaram-lhe um acidente automobilístico. Providencialmente, dele o
padre sobreviveu. Alguns dias depois, afirmaria: “A vida deve ser vivida com
dignidade, porque temos apenas uma. Peçamos que sejamos libertos do medo, do
terror, mas sobretudo, do desejo de vingança. Devemos vencer o mal com o bem,
mantendo intacta a nossa dignidade de homens, e por isso não podemos fazer uso
da violência”.
No mesmo dia em
que dissera estas palavras acima foi sequestrado por aqueles mesmos três
homens. Pronunciamentos a favor de sua libertação foram feitos por bispos e
sacerdotes. Até mesmo João Paulo II a favor dele se pronunciou na Audiência do
dia 24 e no Angelus do dia 28.
Finalmente, no
dia 30, seu corpo foi encontrado. Uma morte desumana: Espancado por mais de 14
vezes, com chutes na cabeça. Enforcado e afogado, e ainda enterrado vivo.
O corpo do mártir é encontrado em estado deplorável. Sofreu morte cruel por sua fidelidade à Igreja e à Pátria polonesa. |
Mas a
consciência não morre. O seu enterro transforma-se numa manifestação. Milhares
de pessoas, incluindo os pais, participam profundamente desgostosos. Para todos
é evidente: o Padre Jerzy sacrificou a sua vida pela verdade.
A notícia de seu
sequestro e assassinato, aos 37 anos, deu a volta ao mundo. Seu funeral foi em 03
de novembro de 1984, e atraiu cerca de 600 a 800 mil pessoas de todo o país. Já
dois dias depois chegaram à Cúria de Varsóvia os primeiros pedidos de sua beatificação.
Em 06 de junho
de 2010, na praça Piłsudski em Varsóvia, ocorreram as cerimônias de colocar nos
altares uma foto do padre. Jerzy Popiełuszko, capelão do movimento
Solidariedade e pastor dos funcionários da saúde, assassinado pelo Serviço
Secreto, em 19 de outubro de 1984.
Estavam também
presentes à cerimônia de beatificação em Varsóvia a mãe do beatificado,
Marianna Popieluszko, que comemorou recentemente 100 anos, seus irmãos e irmãs.
“Deus lhe concedeu a graça de estar presente em 1984 no funeral de seu filho e
agora poder se alegrar com a sua subida à glória dos altares”, afirmou, ao fim
da cerimônia, o arcebispo da capital polonesa, Dom Kazimierz Nycz.
Entre milhões de
peregrinos que veneraram a memória do mártir, houve alguém muito especial que
visitou o túmulo do Pe. Jerzy no dia 14 de Junho de 1987. Era do conhecimento
geral que João Paulo II desejava rezar junto do túmulo do Pe. Popieluszko
durante a sua visita à Polónia. Inúmeras referências aos ensinamentos e exemplo
do Pe. Popieluszko, presentes nas homilias do Santo Padre, não deixam dúvidas
acerca da sua estima pelo sacerdote martirizado.
A beatificação
está associada com a decisão de autêntica santidade cristã, cujas virtudes
praticadas em grau heroico ou martírio foram confirmadas por meio de um
processo. A morte de padre Jerzy Popiełuszko foi claramente reconhecida, no
entendimento teológico, como martírio autêntico. Foi uma morte causada pela fé
e o ódio contra a fé. O padre foi considerado perseguidor do regime comunista,
com todos os seus fatores determinantes que afetam os autores diretos dos
crimes. Este, de modo inerente, era um sistema hostil à Igreja e à fé, sobre o
que escreveu, em 1937, o Papa Pio XI na encíclica Divini Redemptoris (carta
encíclica sobre o comunismo ateu).
O Papa Bento o
apresentou, no último Angelus do Ano Sacerdotal, como modelo para os sacerdotes
no dia 13 de junho de 2010, ocasião que encerrava uma longa série de
ensinamentos a respeito do Ano Sacerdotal afirmou: “Padre Jerzy Popieluszko,
Servo da Verdade e do Perdão”.
A ele, o Papa
Bento dedicou dois Angelus. O primeiro, no dia de sua beatificação, assim
dizia: “Dirijo cordial saudação a Igreja
na Polônia, que hoje rejubila com a elevação aos altares do presbítero Jerzy
Popieluszko. O seu serviço zeloso e o martírio são sinais particulares da
vitória do bem sobre o mal. O seu exemplo e a sua intercessão façam aumentar o
zelo dos sacerdotes e inflamem de amor os fieis leigos”.
Palavras da Sra. Marianna Popieluszko, mãe do Pe.
Popieluszko:
“Ofereci meu
Filho a Deus.”
“Havia pedido a
Deus a graça de ter um filho sacerdote. Quando estava grávida dele o ofereci a
Deus.”
“Pouco antes de
nascer o ofereci a Virgem Maria.”
Meu filho dizia:
“Vence o mal com o bem”. Se pusermos em prática estas palavras, seria o melhor
e se nós estamos melhores o mundo também estará melhor.
“Meu filho
recebeu a primeira lição de oração em casa.”
“Em qualquer
estação, em qualquer clima, se levantava as cinco da manhã todos os dias para
ir a Igreja e caminhava quatro quilômetros cruzando o Bosque desde Okopy até
Suchowola. Mesmo pequenino nunca perdia a Santa Missa, nem mesmo uma vez. Nunca
se queixava de estar cansado, nunca o fez, ele era assim.”
“Desde pequeno
se manifestou como ele era. Por exemplo, amava as pessoas, o atraía o próximo.”
“Ele sempre
visitava uma anciã que morava ao lado de nossa casa, mesmo quando já estava no
Seminário e vinha nos visitar, a acompanhava para conversar com ela, quando
levava suas vacas para pastar. Ele dizia: ‘O amor a Deus e ao próximo é o que
conduz ao Céu’.”
“Ele era um
estudante muito aplicado.”
“Jerzy passava
muito tempo rezando o Rosário na Igreja, depois da escola ia para a Igreja e
rezava o Santo Rosário todos os dias.”
“Foi ao
Seminário de Varsóvia para entregar seus documentos. Naquela ocasião subiu em
um trem pela primeira vez, mas não se perdeu. No local do Seminário cujo nome
significa povo da Imaculada Conceição, onde o Padre Maximiliano Kolbe
estabeleceu uma importante Comunidade Franciscana, estava profundamente ligado
a este local, porque quando esteve um tempo com sua avó encontrou muitas revistas
do Cavaleiro da Imaculada. Falava muito do padre Kolbe, o considerava como um
exemplo. Quando vinha para casa, trazia imagens do Padre Maximiliano, mostrava
a todas as pessoas da aldeia que se reunião em nossa casa para esta ocasião.
Contou-nos a vida do Pe. Kolbe e se emocionou quando falou de sua prisão e
martírio no campo de concentração. Meu filho era muito sensível.”
“Lamentavelmente
era propenso a se enfermar, em particular porque tinha sido operado de
tireóides depois do serviço militar, sua saúde havia piorado no Exército.
Sofreu muitas injustiças, nunca nos contou nada, nunca se queixou. Ele era
assim. Depois de sua morte, seus companheiros, os soldados, nos contaram do
abuso que havia sofrido. Um dia foi forçado a permanecer descalço na neve
porque havia se negado a entregar seu Rosário.”
“Um dia me
disse: ‘Mamãe, terei que dar contas a Deus de meus filhos (Espirituais).”
“A última vez
que veio em casa me deixou sua batina dizendo: ‘A levarei da próxima vez. Do
contrário terá uma recordação minha’. A tenho conservado até agora.”
“Era valente,
era forte, ainda que fisicamente débil. Sabia que havia eleito a Deus e lhe
seria fiel até o fim.”
Beato Jerzy Popieluszko, herói da Pátria e da Igreja Católica na Polônia. (painel de sua beatificação) |
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