Nasceu no ano de
924, mais provavelmente em Vieira do Minho. Era a filha mais nova de Avulfo,
Conde e Senhor de Vieira e de Basto, e de Da. Teresa, irmã do Conde Gonçalo
Soares. Chamou-se primeiro Domitila, mas o pai, regressando já viúvo de
guerras, começou a chamar à filha queridíssima sua senhorinha e este passou a
ser o seu nome.
Ficando órfã muito cedo, o pai confiou-a
a Da. Godinha, tia materna da Santa, abadessa no Mosteiro de S. João, de Vieira
do Minho, da Ordem de S. Bento.
Narram velhos códices que Senhorinha,
tão bem acompanhada, se exercitou desde a mais tenra idade em jejuns, cilícios
e disciplinas, consumindo o melhor do seu tempo na oração e em ouvir a palavra
de Deus. Resistiu com energia a um nobre pretendente para matrimônio, pessoa
que encontrava em Avulfo o melhor apoio. Mas o pai compreendeu esses desejos de
perfeição.
Ela professou aos 15 anos, segundo os
costumes monásticos peninsulares. E Avulfo doou à filha, para que se
sustentassem, ela e as companheiras que aparecessem, os direitos que possuía,
como padroeiro, nas igrejas de São João de Vieira, São Jorge de Basto e de
Atei. Assim parece ter-se originado o Mosteiro de Vieira.
Dizem-nos que a Santa lia assiduamente a
regra do Convento, os escritos de Santo Ambrósio, a Vida dos Santos e, muito
naturalmente, a Escritura Sagrada. Teve grandíssimos desejos de martírio, que a
tia lhe fez compreender estar na observância monástica. Mas Godinha não durou
muito e a sobrinha mandou dar-lhe honrosa sepultura na sua Igreja de São Jorge
de Basto.
E, para ocupar o seu lugar no governo do
mosteiro, foi eleita Senhorinha. Teria então uns 36 anos de idade e
aproximadamente 20 de professa. A partir desta data, falam os velhos textos de
numerosos milagres seus: fazer que aparecesse o pão necessário, transformar
água em vinho (ver os azulejos da Igreja de São Vítor em Braga, do séc. XVII),
e outros prodígios ainda.
Vivia então em Celanova (junto a Orense, na
Galiza), onde fundara um notabilíssimo mosteiro, o ex-bispo de Dume, São
Rosendo, primo de Santa Senhorinha. Era visitador e reformador dos mosteiros de
todo o Minho e Douro. Como tal vinha de vez em quando a Vieira.
Não se sabe porquê, Santa Senhorinha
transferiu-se, com as suas religiosas, para a terra que hoje tem o nome da
Santa, no município de Cabeceiras de Basto. Essa freguesia chamava-se então São
Jorge de Basto. Nela, ao lado da atual igreja paroquial seiscentista, ainda se
encontra o chamado campo da feira, em cujo subsolo se descobrem sinais do que
deve ter sido o mosteiro.
Gervásio, irmão da santa, levava vida
mundana e por orações da Santa converteu-se e santificou-se. Senhorinha,
segundo um testemunho igualmente antigo, teve conhecimento, ao rezar no coro,
da entrada de São Rosendo no céu. Estando também a orar, ela ouviu uma voz que
lhe dizia: "Vem, minha escolhida,
porque desejou o Rei a tua beleza". Percebeu logo de que se tratava,
pediu os sacramentos e exortou as religiosas a perseverarem no amor de Deus e
do próximo.
Deu a sua alma a Deus com 58 anos de
idade, a 22 de abril do ano 982. Ficou sepultada na igreja do mosteiro, entre
os túmulos da tia e do irmão: Santa Godinha e São Gervásio.
Havendo por ela muita devoção, o Arcebispo
de Braga, D. Paio Mendes (1118-1138), veio visitar o sepulcro da Santa em ordem
à canonização, pois se dizia que ela
estava na sepultura "inteirinha,
incorrupta, como que dormindo".
Deslocara-se pois até à igreja onde se
encontrava o venerado túmulo, e - diz a crônica - tendo convocado o povo, que
acorrera em massa, dispunha-se a exumar o corpo santo, sepultado em campa rasa,
junto do altar-mor, quando, inesperadamente, um homem cego de nascença começou
a bradar: "Vejo as mãos do Arcebispo e vejo o Arcebispo".
Grande alvoroço da multidão, espanto
enorme do Prelado; interroga-se o miraculado que responde: "Eu fui sempre
cego, desde o nascimento, senti uma mão que tocou nos meus olhos e agora vejo o
Arcebispo e a sepultura de Santa Senhorinha".
Desistiu então o Arcebispo de abrir a
sepultura, crendo piamente na santidade de Senhorinha e na verdade dos
milagres. Mas depois, no ano de 1130, mandou-o levantar da terra e apor-lhe uma
inscrição que fala da virgem consagrada, Senhorinha, e dos seus milagres
inumeráveis em vida e numerosos depois da morte.
Constituiu esta lápide uma verdadeira
canonização, que estava nessa altura nas atribuições dos bispos locais. Mais
tarde, o Papa Alexandre III (1159-1181) reservou as canonizações aos Papas.
Com a visita e o epitáfio de D. Paio
Mendes começou uma época de mais intensa devoção à Santa, com peregrinos de
Portugal inteiro, da Galiza, de Leão, etc.
D. Sancho I (1185-1211), vendo o filho e
herdeiro D. Afonso em perigo de morte, veio a Santa Senhorinha (nome do lugar
que sucedeu a S. Jorge de Basto) pedir a saúde dele e prometer, se obtivesse a
graça, constituir um refúgio à volta da igreja; obteve-a e andou a pé a indicar
o sítio dos marcos que D. Gonçalo Mendes, senhor da terra, mandou pôr.
O rei D. Pedro I firmou, a 15 de setembro
de 1360, a doação do padroado de Santa Maria de Basto, com os seus frutos e
rendas, à Igreja de Santa Senhorinha, sob a condição, entre outras, de que este
templo tivesse três lâmpadas com azeite, uma diante do crucifixo, outra diante
do corpo de Santa Senhorinha e a terceira na capela em que jaz o corpo de São
Gervásio. E explica o rei que esta capela foi mandada construir por D. Inês de
Castro - terá sido entre 1340 e 1357. Conclui-se que, por essa altura, o túmulo
de Santa Senhorinha estava no corpo da igreja.
Apesar de só no século XVIII ter entrado o
oficio litúrgico de Santa Senhorinha no Breviário Bracarense, deve datar do
século XIII a introdução da festa da mesma nos calendários da Igreja ou de
Ordens monásticas.
A festa de Santa Senhorinha foi
introduzida no Breviário Bracarense de D. Rodrigo de Moura Teles (1724). Temos
indícios de que desta Santa se rezava liturgicamente em todo o país a 22 de
abril até ao fim do século passado; assim em almanaques de 1854 e 1898. De
Santa Godinha, fora da Diocese de Braga, nada se encontra; de São Gervásio
rezou a Sé Patriarcal de Lisboa de 1322 até 1761, pelo menos.
Com solenidade, celebrou-se em Santa
Senhorinha de Basto o milenário da morte da Santa em 1982.
Fonte: blog Heroínas da Cristandade
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