Proveniente de
uma família nobre, Teresa nasceu no dia 4 de Setembro no Palácio da Anunciada,
na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa. Filha de João Maria do Sacramento
de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa e de Isabel Maria de Sousa
Botelho, terceiros condes de Rio Maior, foi batizada no dia seguinte ao seu
nascimento na Capela do Palácio da Anunciada e, em 1848, fez a Primeira
Comunhão no altar de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja dos Inglesinhos, em
Lisboa.
De estado de
saúde débil e preocupante Teresa tornou-se muito sensível, necessitando desde
cedo da permanente presença e dedicação da mãe. Em 1840, aos três anos, devido
à persistência de sua mãe, Teresa recuperou do estado de saúde debilitado e
aprendeu a ler (em 1842 já acompanhava as celebrações litúrgicas com o missal).
A mãe teve um
papel preponderante na sua orientação, primeiro na educacional ensinando-lhe
letras (português, história, francês, inglês e alemão), os princípios da música
e da arte e colaborando com professores particulares escolhidos por si, e na
religiosa iniciando-a na prática da misericórdia através da Associação de N. Senhora
Consoladora dos Aflitos que fundou em 1849 e que se dedicava ao socorro das
famílias que viviam na pobreza.
Em 1855, com
dezoito anos, ao pintar o Ecce Homo, Teresa sentiu o primeiro apelo místico e
fez voto de castidade e um ano mais tarde redigiu um escrito onde declarou
claramente a sua opção de exclusividade a Deus e ao serviço dos pobres.
Dirigiu o
Colégio de Santa Marta para Meninas Pobres, apoiado pelas Filhas da Caridade de
S. Vicente de Paulo que se encontravam em Portugal exercendo a sua missão de
atender aos pobres e desprotegidos. Em 1859, fundou, em Lisboa, com algumas
amigas e dirigiu durante toda a sua vida a Associação Protetora das Meninas
Pobres com Estatutos aprovados pela Santa Sé, a 21 de Abril de 1863. Esta
associação está na origem da fundação da Congregação. Dedicava-se à educação de
crianças pobres e à alfabetização e promoção de raparigas operárias através de
aulas externas. Em 1862, as religiosas francesas foram expulsas de Portugal e
Teresa, inconformada com a situação, lutou contra esta lacuna assistencial.
Em 1864 foi
submetida a uma intervenção cirúrgica e, durante a convalescença, refletiu
sobre a sua vida e sobre o rumo a seguir. Na sequência destes acontecimentos, e
numa tentativa de renovação religiosa do país apesar do ambiente
anticongregacionista em que se vivia, Teresa manifestou à sua mãe o desejo de
ser religiosa e à sua cunhada, a Marquesa de Rio Maior, a intenção de ingressar
nas Irmãs da Ordem Terceira de S. Domingos, em Stone/Inglaterra, para a qual já
estava aceite. Como o pai se opôs à sua saída para o estrangeiro e, vendo a
necessidade do seu país, sentiu que Deus a chamava a fundar em Portugal uma
congregação que se dedicasse ao serviço dos mais pobres e desfavorecidos da
sociedade, como a própria salientou:
"Vendo a necessidade de estabelecer na minha
Pátria uma ordem Religiosa ativa, que se pudesse ocupar da educação de crianças
pobres e ricas, pondo em prática todas as obras de misericórdia; que tratasse
dos pobres doentes, os visitasse nos seus domicílios, numa palavra, que
substituísse entre nós as Irmãs da Caridade.” (THIAUCOURT,
Madre Teresa de Saldanha. Vida e Obra, p. 27)
Em 1866, Teresa
tinha intenção de partir com as primeiras duas irmãs para fazer o Noviciado na
Irlanda num Convento de Dominicanas Contemplativas, mas foi impedida pelo pai.
Só em 1887 conseguiu realizar o seu sonho quando tomou o Hábito e iniciou o
Noviciado a 18 de Abril com o nome de Irmã Teresa Catarina Rosa Maria do
Santíssimo Sacramento. Fez a Profissão Religiosa a 2 de Outubro e foi nomeada a
primeira Superiora Geral da congregação a 9 de Novembro, com licença especial
de Breve de 21 de Dezembro de 1887 emitida pelo Papa Leão XIII. Estes
acontecimentos culminaram com a tomada de posse do cargo de Superiora Geral no
dia 15 de Janeiro de 1888 e, mais tarde, em 2 de Outubro de 1892, com a
Profissão Perpétua.
Teresa de
Saldanha distinguiu-se na pintura onde aprendeu com os mestres Mr. Leberthais
(carvão) e Tomás José da Anunciação (aquarela e óleo), revelando grande talento
para pintar paisagens, retrato ou motivos profanos e uma preferência pela
iconografia religiosa. Deixou obras de grande qualidade pictórica que foram
estudadas por alguns especialistas, como António Quadros numa conferência
proferida em 1988, nos 150 anos do seu nascimento, na Fundação Calouste
Gulbenkian, intitulada Romantismo e Misticismo na Pintura de Teresa de
Saldanha. Destacam-se nas suas obras: um autorretrato e vários retratos de
família (primeiros carvões, 1851), Ecce Homo (1855-1856), carvões, aquarelas e
óleos (1856), Painel do Sagrado Coração de Jesus e S. João Baptista (Goa,
1865), Santa Brígida (Convento das Inglesinhas, 1865), Nossa Senhora e o Menino
Jesus (Hospital de S. Luís das Irmãs da Caridade Francesas, 1865), Painel em
honra da Beata Maria dos Anjos (1865), as últimas produções pictóricas (1869),
a Mater Dolorosa e Santa Rosa de Viterbo.
Deixou também um
grande espólio literário de escritos pessoais e de circunstância, nomeadamente
notas autobiográficas e das suas memórias, orações, cartas, relatórios e
contas. Faleceu com fama de santidade numa pequena casa alugada na Rua Gomes
Freire, n.º 147, em Lisboa, no dia 8 de Janeiro de 1916 com setenta e oito
anos, completamente despojada dos seus bens que lhe tinham sido retirados com a
implantação da República. As exéquias foram realizadas na Igreja do Corpo
Santo, em Lisboa, e o seu corpo foi sepultado no jazigo da congregação no
Cemitério de Benfica, na mesma cidade, onde hoje repousa.
Teresa de
Saldanha foi a primeira mulher fundadora em Portugal após a extinção das ordens
religiosas. Tinha uma personalidade forte, determinada, organizada, uma notável
capacidade de liderança e era trabalhadora, culta e piedosa, valores que
imprimiu ao longo da sua vida em todas as ações que realizou, não esquecendo
jamais a sua grande paixão a Deus e aos pobres. Foi, sem dúvida, uma grande
figura feminina que se adiantou ao seu tempo, ao ocupar-se da educação
feminina, e que soube corresponder às necessidades impostas pela evolução da
sociedade. À data da sua morte fundara 27 casas: em Portugal 17, no Brasil 6,
na Bélgica 1, nos E.U.A. 2 e em Espanha 1.
A sua memória,
que continua viva nos corações tocados pela sua bondade e perseverança, serviu
ao longo dos anos de inspiração à realização de diversas comemorações
relacionadas com a sua vida e obra e com a congregação que fundou, através da
publicação de livros, biografias e artigos, fotografias, conferências,
exposições, peregrinações, programas de rádio e televisão, dramatizações,
autocolantes, postais, cartazes, desdobráveis, etc.
Em 1937, foi
comemorado o 1º Centenário do Nascimento de Teresa de Saldanha; em 1939, o 80º
Aniversário da Associação Protetora das Meninas Pobres; entre 1968 e 1969, o 1º
Centenário da Fundação da Congregação; em 1987, nos 150 anos do Nascimento de
Teresa de Saldanha, foi lançada pela Congregação uma coleção de selos com o
rosto da fundadora e, um ano mais tarde, foi atribuída à Rua Particular, à
Estrada da Póvoa, o topónimo "Rua Teresa de Saldanha"; em 1993,
1994-1995 e 2000 foram promovidos Encontros Internacionais sobre assuntos de
interesse da congregação; a Câmara Municipal de Lagoa, no Algarve atribuiu, em
1995, o seu nome a uma rua; em 2001, a Câmara Municipal de Rio Maior gratificou
o topónimo de "Madre Teresa de Saldanha" a uma rua da cidade.
Atualmente
decorre o seu Processo de Canonização que abriu em Portugal a 6 de Novembro de
1999 e encerrou a 17 de Novembro de 2001, entregue em Roma a 14 de Fevereiro de
2002.
Segundo texto
biográfico
Teresa
de Saldanha foi a primeira portuguesa a fundar uma congregação religiosa feminina,
a das irmãs dominicanas de Santa Catarina de Sena. Fê-lo em pleno século XIX,
quando a Igreja era perseguida e as ordens religiosas estavam proibidas no
país.
Filha de família abastada, dedicou a
sua vida aos mais pobres, doentes e desprotegidos, deixando uma obra que está
hoje espalhada por quatro continentes.
Faleceu no dia 8 de Janeiro de 1916, e
em Dezembro de 2016 o Papa Francisco reconheceu as suas “virtudes heroicas”,
passo fundamental para que venha a ser beatificada.
A decisão foi recebida com grande
alegria pelas irmãs dominicanas, conta Rita Maria Nicolau, a superiora geral da
Congregação: "Já sabemos que madre Teresa é santa, por isso pusemos o seu
processo. Mas este reconhecimento, pela Igreja, da heroicidade das suas virtudes,
deu-nos muita esperança e muita alegria, porque agora podemos ter um culto mais
alargado. É o primeiro passo para a sua beatificação e canonização.”.
"Teresa de Saldanha ainda não é
tão conhecida como devia ser, mas ela foi
uma figura fundamental na Igreja e na sociedade portuguesa do século XIX, em
Lisboa e em Portugal”, explica a irmã Rita. Ainda em vida já era
considerada santa: "Há jornais da época que falam dela dessa forma – a
'Santa Teresa de Saldanha', era ela ainda viva. E ela envergonhava-se disso,
dizia 'Não gosto que digam isso'.”.
Quando morreu, em 1916, houve uma
grande manifestação de apreço pela sua vida e obra. "Toda a gente queria
tocar no seu hábito, tirar pétalas do caixão, foi um funeral enorme para aquele
tempo", conta Rita. Vivia-se na I República, regime que a perseguiu e a
obrigou a deixar a casa de família e a viver refugiada no seu próprio país.
A sua fama de santidade nunca se apagou
e houve sempre muita gente devota de Teresa de Saldanha, "em Portugal e no
resto do mundo, como no Brasil, em Timor, na Albânia, em Angola e Moçambique.
Onde há dominicanas, ou tenha havido, há pessoas que se sentem marcadas pela
vida de madre Teresa", explica a irmã.
A curiosidade em torno de Teresa de
Saldanha aumentou com a recente decisão do Papa: “Recebi muitos e-mails de
pessoas de vários países que queriam saber mais sobre quem foi e o que fez esta
mulher”.
Um legado global
Cem anos depois da sua morte, a
congregação que fundou está espalhada por sete países de quatro continentes:
"Somos cerca de 300 irmãs", diz a provincial. E continuam com o mesmo
carisma sócio-caritivo: "Temos em Portugal diversas casas para raparigas
fragilizadas pela vida, maltratadas, a que chamamos 'órfãs de pais vivos'.
Temos comunidades de inserção e lares de terceira idade." No Convento dos
Cardaes, no Bairro Alto, acolhem jovens e adultas invisuais e com
multideficiência.
O centenário da sua morte é assinalado
nesta sexta-feira, 8 de Janeiro, em Lisboa, com uma escultura: "Vamos
inaugurar uma obra escultórica junto à casa onde ela morreu, na Gomes Freire,
147. A própria presidente da Junta de Arroios ficou encantada com a história
desta mulher, que não conhecia."
Jesus Ecce Homo, quadro pintado pela Madre Teresa Saldanha |
Os
"cristos vivos" pintados
A venerável, que além da fama de
santidade tinha dotes artísticos para a pintura, pintou muitos quadros. Teresa
de Saldanha, "além de ser uma pessoa com um cariz social e evangélico, de
obras de misericórdia, também foi uma artista, era uma grande pintora. Foi,
aliás, ao pintar o Jesus coroado de espinhos, o Ecce Homo, que se sentiu
chamada e pensou: 'Não posso passar a
vida a pintar quadros, tenho que ir para os quadros vivos, para os ‘cristos
vivos’ que andam nas ruas'" (sic).
Fontes:
http://www.dominicanas-scs.pt/fundadora/bio
http://rr.sapo.pt/noticia/43690/quem_foi_teresa_de_saldanha_a_portuguesa_que_morreu_com_fama_de_santa
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