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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

segunda-feira, 23 de março de 2015

SÃO JERÔNIMO, Presbítero e Doutor da Igreja . A maravilhosa história do homem que traduziu as Sagradas Escrituras do hebraico e grego para o latim.


A Santa Igreja Católica reconheceu sempre a São Jerônimo como um homem eleito por Deus para explicar e fazer entender melhor a Bíblia Sagrada, por isso foi declarado Patrono de todos os que no mundo se dedicam a fazer entender e amar mais a Palavra de Deus gravada nas Escrituras Sagradas.
"E as portas do inferno não prevalecerão contra Ela"! Nas eras conturbadas para a Igreja é que aparecem os grandes guias. O período situado entre o final do século IV e meados do século V foi uma dessas eras. Erros e heresias pululavam no seio da Cristandade. Então, surgiram grandes luzeiros de santidade e ciência: Santo Hilário, de Poitiers, Santo Ambrósio, de Milão, o grande Santo Agostinho. Havia ainda um outro luminar que, com os anteriores, formou o conjunto dos "Santos Padres da Igreja": São Jerônimo, cuja festa celebra-se no dia 30 de setembro, o "mês da Bíblia".



Jerônimo de Stridon

Jeronimo nasceu no ano de 342. Era filho de Eusébio, da cidade de Stridon, já na divisa entre a Panomia e a Dalmácia, em terras não distantes de Aquileia, na Itália. Sua família era cristã, nobre e rica. Acompanhando o costume da época, foi batizado apenas aos 18 anos, contudo, teve uma educação cristã desde criança.

Seu pai percebeu logo as precoces aptidões que Jerônimo tinha para os estudos e apenas esperou que ele chegasse à adolescência para enviá-lo a estudar em Roma. Ali usando a pequena fortuna que seu pai lhe deu, procurou os melhores mestres. Tendo, porém, uma juventude um tanto livre.

No centro do mundo civilizado de então, o jovem dedicou-se com afinco aos estudos da gramática, da retórica e da filosofia. Estudou latim tendo como professor de línguas um famoso pagão chamado Donato.

Jerônimo tornou-se um grande latinista, sendo também muito bom conhecedor do grego e de outros idiomas mais.


Jerônimo e os clássicos romanos e gregos

Ele dedicava horas e horas de seus dias lendo, estudando e até decorando livros de grandes autores latinos: Cícero, Virgílio, Horácio, Tácito, E ainda encontrava disposição para conhecer autores gregos. Entre eles Homero e Platão. Tal era seu entusiasmo e admiração pelos escritores clássicos que logo formou uma biblioteca só com obras deles, chegando até a copiar a mão vários desses livros.

Dedicando tanto tempo a esses autores, quase nunca encontrava ocasião para as leituras cristãs. Totalmente posto nessa situação nada conveniente, ele, contudo, não tinha rompido com os princípios que conhecera na infância, não havia, de todo, cortado os laços com suas raízes cristãs.

Foi, certamente, sua inexperiência juvenil que o levou a mergulhar sem censuras no ambiente mundano e decadente da Roma de seu tempo. Mais que um extraviado exacerbado, ele foi uma vítima do modismo da época.

Tempos mais tarde, Jerônimo admitiu que essa sua atitude o tinha colocado fora do verdadeiro caminho. Apesar disso ele recordava também que Deus não o havia abandonado nunca e que o guiava constantemente. Foi por essa ocasião que ele tornou-se catecúmeno. Continuava seus estudos e preparava-se para ser batizado. Seus domingos em Roma consistiam em constantes visitas às catacumbas. Ali ele meditava sobre a fé dos mártires, admirava a atitude deles e venerava suas relíquias.



Jerônimo batizado

Jerônimo recebeu o santo batismo na idade adulta. Ele foi batizado pelo Papa Libério. Já como cristão batizado, ele fez uma viagem de estudos pelas Gálias. Para acompanhá-lo levou consigo seu irmão de leite Bonoso.

Nessa viagem, em Treveris, ele decidiu entregar-se ao serviço de Deus e, depois de conhecer ali uma das mais afamadas academias que existiam no Ocidente, ele continuou sua viagem. Foi primeiramente para a Grécia, depois visitou parte do Oriente Médio. Ali, numa região desértica perto de Antioquia, viveu alguns anos em plena solidão.

Por essa ocasião, ele já tinha começado a dirigir seus estudos para outros pontos do saber humano, fora dos clássicos. Então, ele aproveitou seu tempo para estudar hebreu com um judeu convertido. Sua intenção era poder estudar as Sagradas Escrituras em seu idioma original. Isso não foi fácil: só o fim a que agora destinava seus estudos e o seu constante desejo de conhecimento lhe mantiveram nesse intento.

Ele chega a afirmar que “as fadigas que isto me causou e os esforços que me custaram, só Deus sabe. Quantas vezes desanimei e quantas voltei atrás e tornei a começar pelo desejo de saber; sei-o eu que passei por isso, e sabem-no também os que viviam na minha companhia. Agora dou graças ao Senhor, pois que colho os saborosos frutos das raízes amargas dos estudos" (Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração, Braga, 1987, vol. III, p. 104. )


Jerônimo: tentações e consolo

Nesse período, as dificuldades e cansaços que estes estudos lhe traziam não eram todo o sofrimento pelo qual ele teve que passar. Para ele, foi necessário enfrentar um inimigo mais sutil, inteligente e mau.

Deus permitiu que o demônio o torturasse. A cada instante o maligno o assaltava com tentações e desejos imundos contra o sexto mandamento. Para combatê-los, Jerônimo entregava-se à oração e à penitência. Eram jejuns que, às vezes, duravam semanas inteiras. Mas Deus não o abandonava!

Em meio às tentações, o Senhor o consolava: “depois de chorar muito e contemplar o céu, sucedia-me, por vezes, ser introduzido dentro dos coros dos anjos. Louco de alegria, eu cantava”... (Pe. José Leite, Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração, Braga, 1987, vol. III, p. 105)




Cristão, não: Ciceroniano!
(A visão do “juízo particular” de São Jerônimo)

Jerônimo quis visitar Jerusalém. Queria caminhar pela Terra Santa, venerar os lugares que foram santificados pela presença de Nosso Senhor. Aproveitou a ocasião de sua estada em Jerusalém para aprofundar seus conhecimentos da língua hebraica, ele desejava ter um meio a mais para conhecer melhor as Sagradas Escrituras. Assim, poderia ter mais segurança nas respostas às questões que o Papa São Dâmaso lhe fazia constantemente a respeito de passagens difíceis dos Livros Sagrados.

No entanto, ler a Sagrada Escritura não lhe trazia prazer. Para Jerônimo, o texto bíblico era simples demais e não tinha ornato... Ele tinha sido formado na leitura dos clássicos latinos e gregos e se acostumara com a "eloquência" e "elegância" da literatura de estilo pagão. Ele sentia muita aridez na leitura da Bíblia. Apesar de ser um sábio para o mundo, um conhecedor com ampla visão das ciências de então, continuava cego para as coisas mais elevadas, as coisas divinas.

Para que ele mudasse de vida, foi necessário que o próprio Deus chamasse sua atenção. Jerônimo, anos mais tarde, contou em carta a uma de suas discípulas, Santa Eustóquia, o que foi que se passou com ele:

Era o ano 374, ele estava na Antiópia e fazia austeras penitencias. Estando em oração, Jerônimo teve uma visão. Ele tinha sido arrebatado aos céus, e se via diante do Juízo de Deus. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo presidia o Tribunal e perguntava sobre seu estado de alma e sua Fé.

- Sou cristão. Responde Jerônimo.  Ao que o Juiz lhe replicou com severidade:

- Mentira!... Você não é cristão, mas ciceroniano...

Isso seria o mesmo que dizer: “Não sois de Cristo, sois de Cícero”.

O Juiz mandou que ele fosse açoitado. Os assistentes pediram clemência argumentando que ele ainda era jovem e poderia corrigir-se, arrepender-se e salvar-se. Diante do que lhe acontecia, Jerônimo reconheceu o estado de alma em que se encontrava e nessa situação tomou a única atitude que lhe seria conveniente: reconheceu seu erro, pediu perdão.

É certo que ele percebeu que tinha sido perdoado, então, naquele instante, ele fez o firme propósito de emendar-se, saindo do arrebatamento cheio de compunção e muito arrependido e pleno do amor de Deus.

"Desde aquela hora eu me entreguei com tanta diligência e atenção a ler as coisas divinas, como jamais havia tido nas humanas", conclui o Santo em sua carta a Santa Eustóquia. (Pe. Ribadaneira, in La Leyenda de Oro, op. cit., p. 644)



Jerônimo convive com Santos

Ele foi, então, para Chalcis, no deserto da Síria e lá passou quatro anos. Tinha uma vida de monge e aproveitou o tempo para aprofundar seus conhecimentos de hebreu e estudar os escritos de São Paulo de Tebas. Jerônimo deixou o ambiente monacal e dirigiu-se a Constantinopla. Ele queria ver e ouvir São Gregório Nanzianzeno. Devido a sua oratória e erudição, esse Santo era conhecido como sendo "o Teólogo".

Durante três anos ele ali permaneceu estudando com São Gregório. Foi ele quem lhe abriu o espírito ao amor pela exegese das Sagradas Escrituras. Foi nessa ocasião também que Jerônimo teve oportunidade de fazer uma grande e profunda amizade com dois outros luzeiros que brilhavam na Igreja do Oriente: São Basílio e seu irmão São Gregório de Nissa.




Jerônimo Sacerdote

Ele esteve algum tempo também na Antioquia da Síria. Ali prestou serviços ao Bispo Paulino que o incentivou a receber o sacramento da Ordem.

Estava com mais de trinta anos quando tornou-se sacerdote. Ele obteve condições especiais de vida sacerdotal. Poderia continuar sua vida como monge e não estar sujeito à jurisdição de nenhuma diocese. Quase nunca exerceu o ministério sacerdotal. Tornou-se um monge para quem o isolamento monacal seria ocasião para dedicação total ao estudo, à reflexão, à oração, tendo em vista a difusão do cristianismo.

Ele pôde nessa ocasião, com muita dificuldade, estudar hebraico e aperfeiçoar seus conhecimentos do grego tendo em vista poder compreender melhor as escrituras em suas línguas originais.

Jerônimo pensou em ir para o deserto a fim de penitenciar-se de seus pecados. Ele pensava especialmente sacrificar-se para afastar de si as fortes tendências e os grandes desejos que o impeliam para a sensualidade. Naquele lugar de silencio e isolamento ele rezava. Jejuava muito e passava noites sem dormir, em oração e sacrifícios. Ali, porém, ele não encontrou a paz. Deus reservava para ele o encontro com uma descoberta: sua missão não era viver na solidão. Jerônimo voltou para Roma.


Jerônimo secretário do Papa

Por causa do modo de ser e da mentalidade dos povos orientais, na Igreja do Oriente havia vários ambientes onde os erros doutrinários encontravam terreno propício para germinarem. As heresias se difundiam e causavam confusão em todo o corpo social.

Era tal a situação que tornou-se necessária uma reação da autoridade espiritual e da temporal. Elas tinham que se unir para defender-se dos erros que ali pululavam.  Para isso o Imperador Teodósio e o Papa São Dâmaso resolveram convocar um sínodo em Roma.

O secretário do evento deveria ser Santo Ambrósio, porém, o culto e famoso bispo de Milão adoeceu gravemente. Para substituí-lo, o Papa convidou Jerônimo. Ele desempenhou esse cargo com muita eficiência e sabedoria. Reconhecendo em São Jerônimo seus dotes extraordinários e seu grande saber, o Papa São Dâmaso quis tê-lo junto de si e o nomeou como seu secretário, assim que terminou o sínodo.

Como secretário Jerônimo tornou-se o encarregado de redigir as cartas enviadas pelo Pontífice. Era dele uma outra atribuição muito importante dentro do governo da Igreja: "responder a todas as questões que se referissem à religião, de esclarecer as dificuldades das Igrejas particulares [dioceses], das assembleias sinodais, de prescrever àqueles que voltavam das heresias o que eles deveriam crer ou não, e de estabelecer, para isso, regras e fórmulas" (Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'après le Père Giry, par Mgr. Paul Guérin, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo XI, p. 565)



Jerônimo e as Escrituras Sagradas

O Papa desejava ter uma tradução da Bíblia que fosse o mais fiel possível aos textos originais.

Os textos bíblicos até então existentes tinham imperfeições de linguagem e imprecisões de traduções. O Papa percebia a necessidade de uma tradução que pudesse servir de texto único e uniforme para servir de base para na liturgia, nos estudos e orações dos fiéis, já que as versões populares eram imperfeitas e passiveis de criar confusão entre os fiéis.

Foi então que o Papa São Dâmaso encarregou São Jerônimo de verter o texto das Escrituras Sagradas para o latim. O Papa sabia que seu secretário teria condições para levar a cabo esse importante projeto. Ele já tinha provas do profundo conhecimento que Jerônimo tinha dos textos bíblicos. Sua fama de latinista erudito e poliglota consumado era sabida por todos. Além do latim, ele conhecia bem o grego e o hebraico, e ainda entendia bem o aramaico; línguas muito ligadas aos textos Sagrados.

O trabalho de São Jerônimo abrangeu praticamente sua vida toda. Ele escrevia com elegância clássica o latim e traduziu a Bíblia inteira. Daí foi que surgiu a texto da Bíblia conhecido como "Vulgata", que significa "de uso comum". Essa tradução foi usada largamente em quase quinze séculos. Seu texto tornou-se oficial com o Concílio de Trento e só cedeu o lugar nos últimos tempos, depois de estudos linguísticos exegéticos mais recentes.

No trabalho deixado por São Jerônimo, ele mostra seu agudo senso crítico, um amor extraordinário à Palavra de Deus e uma grande riqueza de informações sobre tempos, usos e lugares relativos à Bíblia Sagrada. O Papa Clemente VIII afirmou que São Jerônimo, nesse trabalho de suma importância, foi assistido e inspirado pelo Espírito Santo.

A dedicação extraordinária que São Jerônimo teve na tradução das Escrituras Sagradas só pode ter, de fato, um motivo de origem sobrenatural. E é o que se confirma ao ver as explicações que ele mesmo deu ao justificar seu empenho nesse importantíssimo trabalho: "Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo que diz: ‘Examinai as Escrituras e procurai e encontrareis' para que não tenhais de ouvir o que foi dito aos judeus: ‘Estais enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus'. Se, de fato, como diz o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as Escrituras não conhece o poder de Deus nem a sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo". (Pe. José Leite, op. Cit., p. 106.)



Jerônimo perseguido em Roma

Até a morte de São Dâmaso, em 384, Jerônimo permaneceu em Roma. "Todos acorriam a ele, e cada qual procurava ganhar-lhe a vontade: uns louvavam sua santidade, outros a doutrina, outros sua doçura e trato suave e benigno, e finalmente todos tinham postos os olhos nele como em um espelho de toda virtude, de penitência, e oráculo de sabedoria" .(Pe. Ribadaneira, op. cit. p. 645.)

Em Roma, criou-se em torno de Jerônimo amplo círculo de amizades, sobretudo de matronas da alta sociedade que o ajudavam com seus recursos para custear seus trabalhos e que lhe orientava nos ásperos caminhos da santidade de cunho monástico.

Porém, os altos cargos que exercia, a dureza com a qual tinha que corrigir os defeitos existentes no seio da alta classe social lhe trouxeram também todo tipo de invejas. Em Roma, onde não aceitavam seu modo enérgico de correção, Jerônimo sentia-se incompreendido e caluniado. Após a morte do Papa São Damaso, os inimigos de São Jerônimo iniciaram uma verdadeira campanha de difamação e perseguição contra ele.




Jerônimo troca Roma por Belém

Tal era o ambiente que se criou em Roma contra Jerônimo que ele decidiu afastar-se da Cidade Eterna indo, definitivamente, para a Terra Santa. Estabeleceu-se em Belém onde ficou com Santo Eustáquio, Santa Paula e sua filha Eudóxia e outros mais seguidores pregando na Palestina e no Egito.

Várias das ricas senhoras romanas que haviam se convertido através de seus ensinamentos e conselhos o acompanharam e foram morar junto à Gruta do Presépio, sob sua orientação espiritual Fundaram, sob a direção do Santo, um mosteiro masculino e um feminino, este dirigido por Santa Paula. Estas senhoras haviam vendido tudo que tinham em Roma. Com o dinheiro obtido ajudaram São Jerônimo na construção de um convento para homens e três para mulheres, além de construir uma casa para atender peregrinos que chegavam de todas as partes do mundo para visitar o lugar onde havia nascido Jesus.

São Jerônimo, porém, levava vida como monge de penitencias rígidas. Seus últimos 35 anos ele os passou em uma grande cova, próxima à Gruta do Presépio. Ali continuou, até a morte, seus estudos e trabalhos bíblicos e com muita energia ainda escrevia contra os hereges que se atreviam a negar as verdades da Santa Igreja Católica, entre eles Helvídio e Joviano.



São Jerônimo e Santo Agostinho

Houve um princípio de polêmica entre os dois grandes Doutores da Igreja, Santo Agostinho e São Jerônimo. Tudo porém foi explicado: tratava-se de um mal-entendido entre esses dois luminares do cristianismo. Tudo foi explicado, as coisas se puseram em seu devido lugar e uma amizade que nunca havia se rompido, continuou cheia de respeito. Eles continuaram unidos até a morte, melhor seria dizer até no Céu.

São Jerônimo dizia que Santo Agostinho era "seu filho em idade, e seu pai em dignidade", uma vez que era Bispo. Por seu lado, o Bispo de Hipona escreveu-lhe: "Li dois escritos vossos que me caíram nas mãos, e achei-os tão ricos e plenos que não quereria, para aproveitar em meus estudos, senão poder estar sempre a vosso lado". (7 - Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1955, tomo V, p. 307.)

No dia 30 do mês de setembro do ano 420, falece São Jerônimo. Estava avançado em idade e crescido em virtude faleceu. No mesmo dia, em visão, ele aparecia a Santo Agostinho e descrevia como era o estado das almas bem-aventuradas no Céu...



* * * * * * * * *

O Leão de São Jerônimo
(uma história maravilhosa)

Numa certa tarde, como faziam todos os dias nas horas canônicas, os monges estavam reunidos ouvindo as lições do dia durante. São Jerônimo estava entre eles e ouvia atento. De repente, todos perceberam que um leão se aproximava. Foi uma correria geral. São Jerônimo manteve a calma: foi o único. Ele levantou-se e foi encontrar-se com aquele hospede não convidado...

Era um animal enorme que usava somente três patas para caminhar. A quarta pata ele a trazia levantada. Claro que o leão não poderia falar, mas dava a impressão de querer comunicar alguma coisa e ofereceu a Jerônimo a pata que trazia levantada. O monge a examinou e percebeu que o animal estava gravemente ferido.

Jerônimo chamou o menos medroso dos monges para ajudá-lo a limpar e cuidar do ferimento que estava em carne viva, infeccionado e ainda cheio de espinhos. Jerônimo tratou do animal, retirou-lhe os espinhos e o medicou com unguentos. O animal sarou.

Os cuidados oferecidos ao animal amansaram a "besta fera". O leão passou, então a caminhar pacificamente pelo mosteiro. Onde estivesse São Jerônimo, junto estava o animal que se comportava como um animal doméstico.

Jerônimo mostrou aos monges uma primeira lição do episódio: "Pensem sobre isto e vocês poderão encontrar lições de vida. Eu creio que não foi tanto para a cura de sua pata que Deus o enviou até nós, pois, o leão se curaria sem a nossa ajuda. Deus nos enviou esse leão para mostrar quanto a Providencia estava ansiosa para nos prover do que necessitamos para nosso bem."




O jumento foi roubado ou comido pelo leão?

Os monges sugeriram então que o leão fosse usado para acompanhar e proteger o jumento que carregava a lenha para o mosteiro. E, por muito tempo, assim foi: o leão guardava o jumento enquanto este trabalhava.

Um dia, porém, o leão dormiu enquanto o jumento pastava e alguns mercadores que por ali passavam roubaram o jumento. O leão acordou e passou a procurar o jumento. Procurou todo o dia, sem encontrá-lo. Voltou para o mosteiro e ficou diante do portão. Parecia ter consciência de sua culpa: não tinha mais o andar imponente que parecia quando andava ao lado do burrico.

Alguns monges concluíram que o leão tinha comido o jumento. E se recusaram a alimentá-lo, enviando de volta para comece o resto de sua vítima. Será que havia sido o leão que dera cabo do jumento? Jerônimo mandou que procurassem a carcaça do jumento. Eles não encontraram nada e não viram sinais de violência.

Ao saber disso, São Jerônimo disse: "Eu fico triste com a perda do asno, mas não façam isto com o leão. Tratem dele como antes, deem comida para ele. Ele fará o serviço do jumento: deverá trazer em seu lombo a lenha que necessitamos". E assim aconteceu.



Um Leão que cumpre a vontade de Deus

O leão regularmente fazia a sua tarefa, mas continuava a procurar o seu velho companheiro. Um dia do alto de uma colina e viu na estrada homens montados em camelos e um deles montando um jumento.

O leão foi ao encontro a eles. Aproximando-se, reconheceu o seu amigo e começou a rugir. Os mercadores assustados correram deixando para trás o jumento, os camelos e a carga que traziam.  Como faria um cão pastor, o leão conduziu os animais para o mosteiro.

Quando os monges viram aquele desfile inusitado correram até São Jerônimo. E foi até os portões e os abriu dizendo: "Tirem a carga dos camelos e do jumento, lavem suas patas e deem comida para eles. Esperemos para ver o que Deus queria mostrar a este seu servo quando nos deu o leão".



Confie na sua Ovelha

Os monges seguiram as instruções de Jerônimo. O leão começou a rugir de novo e a balançar sua cauda, alegremente. Pesarosos por causa do que pensaram sobre o Leão, relembraram um pensamento conhecido na região: "Irmão, confie na sua ovelha, mesmo que se por um tempo ela pareça um ganancioso rufião. Deus fará um milagre para curar o seu caráter".

Jerônimo, sabendo o que iria acontecer disse: "Meus irmãos, preparem boa água, refrescos e frutas pois, chegarão novos hóspedes que deverão ser bem tratados'. Tudo aconteceu como o Santo pediu. E logo um grupo de mercadores estava diante do portão. Embora tivessem sido bem recebidos pelos monges, correram até São Jerônimo e prostraram-se a seus pés, pedindo perdão e agradecendo o acolhimento.

Jerônimo ainda disse aos monges: "deem os refrescos a eles e deixem partir com os seu camelos e suas cargas". Através do Leão, Deus supre as necessidades do mosteiro.

Os mercadores, como retribuição e gratidão, ofereceram metade do óleo que os seus camelos carregavam para que fosse usado nas lâmpadas do mosteiro e ainda deixaram alimentos para os monges. Então, o chefe dos mercadores ainda disse: “Nós daremos todo óleo que vocês precisarem durante todo ano e nossos filhos e netos serão instruídos de também seguirem esta ordem: nada de sua propriedade será jamais tocada por qualquer de nós”.

São Jerônimo aceitou a oferta e os mercadores de sua parte aceitaram os refrescos e partiram com a benção do Santo, voltaram alegres para o seu povo.

São Jerônimo, tirando uma lição de toda essa história, respondeu a pergunta que ele mesmo havia feito anteriormente: "vejam meus irmãos o que Deus tinha em mente quando nos mandou o seu leão”!

Esta narração foi adaptada por nós. Ela procura dar uma breve explicação do porque a iconografia costuma apresentar São Jerônimo com um leão junto dele.

No livro "Vita Divi Hieronymi" (Migne. P.L., XXII, c. 209ff.) traduzido para o Inglês por Helen Waddell em "Beasts and Saints" (NY: Henry Holtand Co., 1934), é onde podemos encontrar essa narração por inteiro. (JSG)
Fontes:
http://www.acidigital.com/santos/santo.php?n=96
http://www.franciscanos.org.br/carisma/artigos/saojeronimo.php
http://evangelizacaoefe.blogspot.com/2009/10/vida-de-sao-jeronimo.html


domingo, 22 de março de 2015

SANTA EUFRÁSIA DE NICOMÉDIA, Virgem e Mártir (303 d.C)



Uma jovem cristã que coroou sua fidelidade à Cristo com o martírio no início do século IV, sob o império de Diocleciano, Santa Eufrásia é mencionada em alguns martirológios, entre os quais o Martirológio Romano, no dia 13 de março.
Eufrásia nasceu em Nicomédia (Bitínia, atual Turquia) em uma família ilustre, condenada a sofrer os maiores ultrajes. Era cristã muito piedosa e de rara beleza.
Durante a perseguição de Maximiano contra os cristãos, foi capturada e, diante da recusa de sacrificar aos deuses, foi espancada e dada a um gladiador para que este a violasse antes de executar a pena de morte a que ela havia sido condenada.
A Santa rogou ao Senhor que a preservasse, preferindo perder a própria vida que a sua castidade. Deus ouviu sua oração e a inspirou a fazer o que os hagiógrafos chamam “estratagema da virgem” e que foi usado por algumas outras santas. Para desviar o agressor de seu propósito, Eufrásia sugeriu que se ele não a profanasse ela lhe daria uma erva especial que o tornaria protegido das armas inimigas e contra a morte. Ela explicou que esta erva só possuía sua energia quando estava nas mãos de uma virgem e não de uma mulher.
O soldado acreditou em Eufrásia e foi com ela ao jardim. A santa virgem escolheu a erva, depois se ofereceu para demonstrar sua energia. Ela colocou a erva em seu pescoço e disse ao homem que a golpeasse com sua espada. Com um golpe poderoso ele cortou sua cabeça. Assim, seus rogos foram recompensados e a virgem ofereceu sua alma a Deus no ano 303, salvaguardando a pureza de seu corpo.
O episódio, colocado no tempo do bispo Santo Autimio, é mencionado na “História Eclesiástica” de Niceforo Calisto.


Etimologia: Eufrásia deriva do grego Eyphrasia e significa “Alegria”.

sábado, 21 de março de 2015

SANTA ROSA VENERINI, Virgem e Fundadora (das Mestras Pias Venerini).



Santa Rosa Venerini
Nascida em Viterbo, Itália, no dia 09 de fevereiro de 1656. Dotada de inteligência e sensibilidade não comuns, Rosa tinha diante de si as escolhas possíveis à mulher do seu tempo: o matrimônio ou a clausura. Contudo, ela privilegiava as escolhas corajosas, para além dos modelos tradicionais, e na sua interioridade sentia a necessidade de uma alternativa que fosse vantajosa para a sociedade e para a Igreja, mas não conseguia identificá-la
Porém, Deus permitiu que Rosa Venerini vivesse um conflito, bem humano: um jovem apaixonado queria desposá-la, mas o seu desejo era consagrar-se a Deus. 
No Outono de 1676 entrou como externa no Mosteiro Dominicano de Santa Catarina, para conhecer a vida claustral. Em virtude de tristes acontecimentos na família (morte do rapaz pretendente a desposá-la e de seus pais) ocorridos entre 1677 e 1680, teve que regressar a casa.
Tendo ficado sozinha em casa com o irmão Horácio, começou a convidar as jovens e as senhoras da vizinhança para a recitação do Rosário; deu-se conta da pobreza espiritual e cultural difundida na população e compreendeu a necessidade de uma missão mais elevada, ou seja, a urgência de dedicar-se à instrução e à formação cristã das jovens, com uma verdadeira escola. 
Um padre jesuíta, Ventuar Bandinelli, percebendo a sua vocação natural para a religiosidade e para o ensino, abre-lhe as portas da vida religiosa. Rosa não perdeu a oportunidade e deu o primeiro passo, indo viver em comunidade. A 30 de Agosto de 1685, com a aprovação do Bispo de Viterbo, Card. Urbano Sacchetti, junto de mais duas amigas mestras (professoras), cria a primeira escola pública primária para crianças na Itália em 1685. Estava iniciada a sua grande obra.

Porém, as oposições não tardaram a aparecer. Alguns padre acharam que a obra de Rosa agredia a sua autoridade no ensino religioso. Os nobres se posicionavam contra o ensino gratuito dos pobres. Rosa enfrentava uma batalha em nome de Deus e de um ideal. Felizmente, o bispode Montefiascone intervém e a convida para fundar em sua diocese uma nova escola. Para lá Rosa Venerini se dirige, junto de uma colaboradora muito especial: a futura Santa Lúcia Filippini. 
As escolas, então, se expandem e chegam a muitas cidade, inclusive a Roma. Mas os problemas apareceriam novamente. Rosa tem de enfrentar discussões dolorosas, ambições e divisões dentro de sua própria instituição, problemas provocados pela inveja e ganância as pessoas. 
Em 1714 escreveu e publicou um livro intitulado Relazione degli Esercizi que si pratticano in Viterbo nelle Scuole destinate per istruire le Fanciulle nella Dottrina Cristiana, com a finalidade de obter das Autoridades Eclesiásticas a aprovação do seu método educativo.
Em 1716, uma visita do Papa Clemente XI foi o reconhecimento do valor de sua obra. O apoio do Papa foi um fator importante para o desenvolvimento de sua instituição, que na época não era uma congregação, e, agora, é chamada: "Mestras Pias Venerini". 
O fim de sua vida foi marcado por uma doença que a consumiu por quatro anos. Rosa veio a falecer no dia 07 de maio de 1728, com grande fama de santidade, depois de ter fundado cinquenta escolas.  Em 1909, é fundada a primeira Casa nos Estados Unidos. O reconhecimento canônico para essas professoras chegou apenas em 1941, quando, finalmente, se tornam uma Congregação. 
O Papa Pio XII, de venerável memória, bem-aventurada Rosa Venerini em 1952, quando a congregação já operava em muitos países do mundo todo. Suas relíquias estão guardadas na capela da Casa Mãe da Congregação em Roma. 
Em 15 de outubro de 2006, o Papa Bento XVI, na Praça de São Pedro, canoniza Rosa Venerini. 

Beato Mariano de Roccacasale, irmão franciscano.


Nasce no 14 de julho de 1778 em Roccacasale, Áquila, Itália. Batizado com o nome de Domingos, filho de Gabriel De Nicolantonio e Santa De Arcângelo, agricultores e pastores profundamente de fé. Depois de se casaram seus irmãos, permaneceu com seus pais, cuidando do rebanho. A solidão dos campos e montanhas formaram o temperamento do jovem Domingos para a reflexão e o silêncio, fazendo ressonar nele a voz do Senhor: compreendeu que o mundo não era para ele. Tinha então 23 anos. Não podia resistir a esta força interior e decidiu dedicar-se com mais radicalidade ao seguimento de Cristo.
Tomou o hábito franciscano a 02 de setembro de 1802 no convento de Arisquia, com o nome de Frei Mariano de Roccacasale. Feita a profissão religiosa permaneceu aí doze anos. Sua vida se pode resumir em duas palavras: oração e trabalho; eram como duas cordas que vibravam sua existência. Cumpria escrupulosamente os múltiplos encargos que se lhe cofiavam: carpinteiro hábil e valioso, hortelão, cozinheiro, porteiro. Mas sua aspiração à santidade não encontrava em Arisquia o ambiente favorável, não por culpa dos companheiros, ou dos superiores, mas porque aquela época não era propícia para a vida religiosa e os conventos. Com o regresso do Papa a Roma em 1814, a vida conventual pôde renovar-se lentamente em meio de dificuldades sem número. Foram precisos vários anos para que todos os religiosos regressassem aos conventos e a vida de oração e de apostolado voltasse a florescer com regularidade nos claustros.
Nesse momento chegou aos ouvidos de Frei Mariano o nome do Retiro de São Francisco em Bellegra, onde santos religiosos pretendiam instaurar uma vida regular e austera. Pediu aos superiores para ser enviado para lá. Tinha a idade de 37 anos. Pouco depois foi encarregado da portaria, que desempenhou por mais de quarenta anos e que se converteu em seu meio de santidade.
Abre a porta a muitos pobres, peregrinos e viandantes, e converte muitos corações, fechados até então à graça divina. Para todos tinha um sorriso, que acompanhava sempre com a saudação franciscana: “Paz e Bem”; beijava-lhes os pés, os instruía nas verdades da fé e rezava com eles três ave-marias. Depois se ocupava dos corpos: lhes lavava os pés; se fazia frio acendia o fogo e lhes distribuía a sopa, enquanto lhes dava conselhos. Nunca se lamentava do trabalho nem dava sinais de cansaço; sempre afável, sorridente. A fonte de tanta virtude era, sem dúvida, a oração. Todo o tempo livre que lhe sobrava de suas ocupações o dedicava a adoração Eucarística e a participação na Missa. Era também muito devoto da paixão do Senhor. Falece a 31 de maio de 1866, festa de Corpus Christi.






Na sua beatificação, São João Paulo II assim definiu o beato:
“No que se refere à vida e à espiritualidade do Beato Mariano de Roccacasale, religioso franciscano, pode-se dizer que elas se resumem emblematicamente nos votos do Apóstolo Paulo à comunidade cristã dos Filipenses: “O Deus da paz estará convosco!” (4, 9). A sua vida pobre e humilde, vivida nas pegadas de Francisco e de Clara de Assis, foi constantemente dedicada ao próximo, com o desejo de ouvir e partilhar os sofrimentos de todos, para depois os apresentar ao Senhor nas longas horas transcorridas em adoração diante da Eucaristia.
O Beato Mariano levou a toda a parte a paz, que é dom de Deus. O seu exemplo e a sua intercessão nos ajudem a redescobrir o valor fundamental do amor de Deus e o dever de o testemunhar na solidariedade para com os pobres. Ele é para nós exemplo, sobretudo no exercício da hospitalidade, tão importante no atual contexto histórico e social e principalmente significativo na perspectiva do Grande Jubileu do Ano 2000.
A mesma espiritualidade franciscana, centrada numa vida evangelicamente pobre e simples, distingue Frei Diego Oddi, que hoje contemplamos no coro dos Beatos. Na escola de São Francisco, ele aprendeu que nada pertence ao homem a não ser os vícios e os pecados e que tudo o que a pessoa humana possui, na realidade é dom de Deus (cf. Regra não selada XVII, em Fontes Franciscanas, 48). Desta forma aprendeu a não se angustiar inutilmente, mas a expor a Deus “orações, súplicas e agradecimentos” por todas as necessidades, como escutámos do apóstolo Paulo na segunda Leitura (cf. Fl 4, 6).
Durante o seu longo serviço de esmoleiro, foi autêntico anjo de paz e bem para todas as pessoas que o encontravam, sobretudo porque sabia ir ao encontro das necessidades dos mais pobres e provados. Com o seu testemunho jubiloso e sereno, com a sua fé genuína e convicta, com a sua oração e o seu incansável trabalho o Beato Diego indica as virtudes evangélicas, que são a via-mestra para alcançar a paz”.



sexta-feira, 20 de março de 2015

Beata Marta Amada Le Bouteiller, Virgem da Congregação das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia.


Amada Adélia Le Bouteiller nasceu ano dia 02 de dezembro de 1816 em Percy (França), terceira de quatro filhos de André e Maria Francisca Le Bouteiller Morel, pequenos proprietários e tecelões.
Na escola teve como educadora a terciária carmelitana Irmã Maria Farcy, professora há 48 anos, que muito influenciava na formação das jovens da paróquia e certamente inspirou a vocação religiosa de Amada Adélia.
Em 1º de setembro de 1827 o pai morreu com apenas 39 anos de idade. Infelizmente, na época, uma ocorrência comum. A mãe ficou sozinha com quatro filhos, teve de criá-los e apoiá-los ajudada pelos filhos mais velhos; Amada, que tinha quase onze anos, continuou seus estudos e ao mesmo tempo tinha que cuidar da casa.
Em 1837, seus dois irmãos se casaram e Amada, com 20 anos, começou a trabalhar como empregada doméstica para ganhar a vida.
Com a Irmã Farcy, organizadora da paróquia, ela ia todos os anos em peregrinação a Chapelle-sur-Vire, a cerca de 15 km de Percy, e nesta localidade entrou em contato com a Congregação das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia, fundado em 1804 por Santa Maria Madalena Postel (1756-1846), para a educação da juventude.
Atraída pela sua espiritualidade, aos 25 anos, em 19 de marco de 1841, ela decidiu dar-se totalmente a Deus e entrou na Abadia de Saint Sauveur-le-Vicomte, aceita pela fundadora de oitenta e quatro anos, que apesar de sua idade era de grande vitalidade e com dons carismáticos.
Amada teve como mestra de noviças a Beata Plácida Viel (1815-1877), que após a morte da Fundadora, levou a Congregação a um desenvolvimento incrível.
Quando Amada ingressou, as cinquenta freiras estavam envolvidas na construção da igreja da abadia e dos prédios antigos, que foram encontrados em ruínas quando elas entraram. A vida era austera, levando em conta os anos de fome que se vivia, mas isto não assustou Amada, acostumada com as dificuldades que sua família sofreu após a morte prematura de seu pai.
A 14 de setembro de 1842, ela recebeu o hábito religioso com o nome de Irmã Marta. No inverno seguinte, sendo ainda noviça, Madre Postel mandou-a para a Casa de La Chapelle-sur-Vire, que Irmã Marta conhecia bem, para ajudar nos serviços materiais da comunidade.
Um dia, ao lavar a roupa nas águas geladas do Rio Marquerand, escorregou de sua mão um lençol puxado pela correnteza; em uma tentativa de pegá-lo ela deslizou na água gelada o que causou um início da paralisia das pernas, por isso foi mandada de volta para a Abadia.
Ali ela teve um colóquio com Madre Madalena Postel que assegurou que ela não seria enviada para casa, apoiando as mãos sobre seus joelhos, ela prometeu rezar por ela; curada pouco depois, Irmã Marta atribuiu sua recuperação à Madre.
Em 07 de setembro de 1843 ela fez sua primeira profissão na Abadia Casa Mãe da Congregação. Irmã Marta foi designada para a cozinha, para trabalhar nos campos e, em seguida, tornou-se a economa de confiança da Madre Fundadora, uma tarefa que ocupou por quase 40 anos até sua morte; fez tudo em espírito de obediência, ela fez de maneira grande as coisas pequenas.
Sua vida religiosa transcorreu no serviço de Deus e das irmãs, sempre simples e jovial na execução dos serviços mais humildes; dedicada à oração e à meditação, alimentou a sua espiritualidade lendo autores da chamada "Escola Francesa de Espiritualidade".
Cuidava dos domésticos e dos trabalhadores que prestavam serviço à Abadia, também dos hospedes de passagem; distribuiu o vinho para 250 pessoas por dia e durante a guerra chegou a 500 pessoas.
Diz-se que, durante a guerra entre a França e a Alemanha, quando os estoques da abadia exauriram pavorosamente, Irmã Marta pendurando na parede uma imagem de Madre Madalena, morta há algum tempo, rezou intensamente e a partir desse momento os estoques de 'cidra’ (vinho) e outros alimentos não acabaram.
No inverno de 1875-1876, Irmã Marta, agora em seus sessenta anos, caiu e fraturou a perna; a longa convalescença, somando-se a morte de sua mãe e da amada Irmã Plácida, sua confidente, foram suas grandes provações. Ela suportou-as sem deixar de atender os interesses da despensa, apoiando-se a um bastão, mas o seu declínio era evidente.
Em 18 de março de 1883, Domingo de Ramos, enquanto ela pretendia levar as garrafas para a cozinha depois do jantar, caiu uma vez e, em seguida, uma segunda vez, tarde da noite, atingida por um acidente vascular cerebral; morreu depois de receber os Sacramentos aos 67 anos.
Ela foi enterrada no cemitério da Abadia de St. Sauveur-le-Vicomte; a causa de beatificação começou em 1933, e em 4 de novembro de 1990 o Papa João Paulo II a beatificou.
Fonte: blog Heroínas da Cristandade e site www.santiebeati.it


SANTO ALESSANDRO SAULI, Bispo Barnabita.


No século XVI surgiram grandes santos, como Santo Alexandre Sauli, Superior Geral dos Barnabitas, Bispo de Aléria, na Córsega, e de Pavia, na Itália, que levaram avante a Contra Reforma. Eles não só combateram os erros de Lutero e seus sequazes, mas empreenderam uma autêntica reforma na vida da Igreja.

Alexandre nasceu em 1530, em Milão, oriundo de uma das mais ilustres famílias genovesas que enriqueceram a Igreja com Cardeais e Bispos notáveis por seus talentos e piedade. O brasão de sua família existia até há pouco em fachadas de hospitais e igrejas que a ela deviam sua existência.

 Para cultivar sua inteligência e piedade precoces, seus pais deram-lhe hábeis preceptores e depois o enviaram a Pavia, para os estudos humanísticos (línguas e outros).

Voltando a Milão aos 17 anos, Alexandre foi nomeado pajem do Imperador Carlos V, o que lhe abria as portas de um futuro brilhante na Corte Imperial.

Mas as cogitações de Alexandre eram outras, e pediu para ser admitido na Congregação dos Barnabitas, fundada pouco antes, por Santo Antônio Maria Zaccaria, na igreja de São Barnabé, em Milão. Ora, um jovem nobre, pajem do Imperador, brilhante nos estudos, tinha que comprovar sua vocação religiosa antes de ser aceito. E a prova que deram foi muito dura para o descendente de ilustre família: na festa de Pentecostes de 1551, quando a cidade estava cheia de gente, deveria ele, com as ricas vestes de pajem imperial, percorrer suas principais ruas com uma enorme cruz às costas. A isso se prestou Alexandre. Chegando à famosa Piazza dei Mercanti, vizinha à catedral de Milão, havia um palco improvisado no qual um grupo de comediantes apresentava uma peça teatral. O jovem Alexandre interrompeu a representação e fez sair do palco os atores. Pronunciou, então, comovente sermão sobre o serviço que o homem deve prestar a Deus.

Aceito então pelos Barnabitas, foi enviado para terminar seus estudos em seu colégio em Pavia.

Ardoroso apóstolo no púlpito e no confessionário

Apenas ordenado, entregou-se à pregação e ao ministério da confissão, com um dom especial para tocar as almas e converter os pecadores.

Seus talentos levaram seus superiores a nomeá-lo, apesar de muito jovem, professor de Filosofia e de Teologia na Universidade de Pavia. Fundou aí, antecipando-se aos tempos, uma Academia congregando os universitários católicos.

Mesmo com os encargos do magistério, Alexandre continuou seu apostolado no púlpito e no confessionário. O jovem professor adquiriu tanta fama por seu dom de conduzir almas, que várias comunidades de religiosos puseram-se sob sua direção.

São Carlos Borromeu convidou-o a pregar em Milão e o escolheu para confessor e conselheiro.

Uma luz tão brilhante não podia deixar de atrair a atenção daqueles que lhe eram mais próximos. Por isso, foi ele eleito Superior Geral de sua congregação antes de completar 33 anos de idade.

Como Superior, Alexandre Sauli “não só vigiou para manter intacta a observância da regra, mas tinha um cuidado todo especial na formação dos jovens recrutas para que fossem dignamente formados na doutrina e na santidade do ministério ao qual foram chamados” (1).

Sua capacidade como administrador e como diretor de almas deu novo brilho à sua jovem congregação e o tornou ainda mais conhecido no mundo católico. O que levou o Papa São Pio V, tendo em conta seu zelo missionário e espírito apostólico, a escolhê-lo para Bispo da quase extinta diocese de Aleria, na ilha de Córsega.

De Superior Geral a Bispo da Córsega

Essa ilha fora evangelizada no tempo de São Gregório Magno, mas havia mais de 70 anos que estava sem Bispo, e reduzida ao estado mais deplorável. Seu parco clero era ignorante - não conhecia bem nem sequer o rito da Missa - e sem zelo. Seus habitantes - que viviam dispersos nas florestas e montanhas - quase selvagens, não sabiam nem mesmo os primeiros rudimentos de Religião. Havia poucas povoações e quase nenhuma igreja.

 Santo Alexandre, sendo bispo na Córsega, promulgou os decretos do Concílio de Trento O novo Prelado partiu para sua diocese levando três membros escolhidos de sua congregação como auxiliares e entregou-se ao labor apostólico. Era preciso fundar igrejas, reedificar as que estavam em ruínas, restabelecer de modo decente o culto divino. De sua catedral, em Aleria, só restavam escombros. Sem igreja e mesmo sem casa, Santo Alexandre fixou-se primeiro em Corte. Lá convocou um Sínodo nos moldes dos que São Carlos Borromeu realizava em Milão, para fazer um balanço da situação da ilha, corrigir os abusos mais salientes e elaborar um plano de ação a seguir. No dito Sínodo, promulgou os decretos do Concílio de Trento, e fundou, segundo suas diretrizes, um seminário para a formação do clero. Estabeleceu também escolas para a instrução das crianças, a fim de que estas pudessem aprender o catecismo e preparar-se para receber mais condignamente os Sacramentos. Ensinava seu clero, pregava o catecismo ao povo, visitava os doentes, pacificava os ódios e as lutas entre as famílias, tão comuns naquela ilha.

Começou a visitar cidades e vilarejos, localizados mesmo nos lugares mais inacessíveis, pregando a palavra divina. E o fazia com tanta unção e eloquência, que as populações vinham cair a seus pés, ávidas de maior aprofundamento na Religião.

O zeloso Pastor e seus auxiliares entregaram-se ao labor com grande empenho. Em pouco tempo, os três missionários que o Santo trouxera consigo morreram de fadiga. Santo Alexandre continuou sozinho as pregações, acrescentando a elas esmolas, jejuns e rigorosa abstinência para obter maior fruto.

Sua oração obtém o afogamento dos corsários. Vigoroso polemista: conversão de hereges e judeus

Tendo que se mudar continuamente por causa dos ataques dos corsários, Alexandre Sauli acabou por fixar-se no centro da ilha, em Cervione, para onde transportou também seu seminário e construiu sua catedral. A esta dotou de um capítulo de cônegos. Nessa época ocorreu um estrondoso milagre operado pelo Santo. Vinte galeras de piratas aproximaram-se da Córsega a fim de pilhá-la. O povo foi tomado de pânico e muitos fugiram para o centro da ilha. Pediram ao Bispo que também fugisse, fornecendo-lhe um cavalo. Mas ele respondeu que deviam antes ter confiança em Deus. Retirou-se então para uma capela onde se pôs em oração. Depois saiu e dirigiu-se com os fiéis para a praia, e rezou. Nesse instante levantou-se uma tormenta que levou todos os agressores ao fundo do mar.

Para uso de seu clero, Santo Alexandre compôs as Advertências, onde mostrava como os sacerdotes deviam portar-se e como dirigir as almas a eles confiadas. Compôs também os Entretenimentos, obra na qual explicava a doutrina da Igreja para uso do clero, com tanta clareza e ortodoxia, que São Francisco de Sales dizia que, com essa obra, Santo Alexandre esgotava a matéria tratada.

Grande controversista, Alexandre Sauli converteu um discípulo de Calvino que fora de Genebra à Córsega tentar infectar a ilha com os erros de sua seita.

 Por amor à Cátedra de Pedro e à Sé Apostólica, de tempos em tempos Santo Alexandre dirigia-se a Roma, onde frequentemente era convidado a pregar. O Papa Gregório XIII ficava encantado com suas palavras, e São Felipe de Neri venerava-o por causa de seus talentos e piedade. Num sermão, em Roma, converteu à verdadeira Fé quatro judeus dos mais radicais. Pregou também com grande fruto em Gênova e Milão, onde foram dados vários testemunhos de sua santidade.

Gênova e Tortone quiseram-no como Pastor, mas Gregório XIV nomeou-o Bispo de Pavia, em 1591. Tinha ele aplicado mais de vinte anos de energia, zelo e saúde entre os corsos.

Em sua nova diocese, o Apóstolo da Córsega empreendeu logo no início a visita pastoral com o mesmo zelo e abnegação que empregara em sua primeira diocese, voltando a Pavia para as festas solenes.

Estando em Calozzo, no condado de Asti, o santo Prelado foi atacado pela doença que o levaria à morte, a 11 de outubro de 1592. Como muitos milagres foram obtidos por sua intercessão, Bento XIV beatificou-o em 1741. Foi o grande São Pio X quem o canonizou em 1904. Seu corpo é venerado na catedral de Pavia (2).




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Notas
1 - Celestino Testore, Enciclopedia Cattolica, Città del Vaticano, Casa Editrice G. C. Sansoni, Firenze, vol. I, p. 809, verbete Alessandro Sauli.
2 - Outras obras consultadas:
Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Librairies-Éditeurs, Paris, 1882, tomo IV, pp. 640 e ss.

Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, 3a. edição corrigida e aumentada, Editorial Apostolado da Oração, Braga, 1987, vol. III, pp. 160 e ss.