A pedido de
nosso irmão Moisés da Cruz, ocds, membro da Comissão de Formação e responsável
pela Escola de Formação Santa Edith Stein e que é natural de Aracaju - SE, publico algumas matérias sobre o
Frei Michelângelo de Cíngoli (Michelângelo Serafini), mais conhecido como Frei Miguel Ângelo, frade
capuchinho italiano que viveu a maior parte de sua longa vida (faleceu com 104
anos) como missionário no Estado do Sergipe.
O religioso
faleceu com grande fama de santidade e estima pública. Portanto, já existe um
movimento dos confrades de sua Ordem e da Arquidiocese de Aracaju para
encaminhar sua causa de beatificação para o Vaticano. Lembro aos leitores do
blog que o processo diocesano (a primeira fase do processo de
beatificação/canonização de um candidato aos altares) somente pode começar após
pelo menos 05 anos da morte do candidato. Claro que isso não impede a grande veneração
do povo e o túmulo do futuro servo de Deus já é bastante visitado, no qual orações
são feitas a Deus para alcançar graças com a sua intercessão. Esperamos que em
breve sua causa seja aceita e que um dia seja mais uma estrela gloriosa a ornar
os nossos altares, pois, já orna o Trono do Altíssimo a quem tanto amou e tão
perfeitamente serviu na terra.
Notícia publicada no jornal em 31/10/2012, portanto, antes de
sua santa morte:
Frei Miguel Ângelo celebra 104 anos
com missa em Aracaju
Fiéis celebraram a data na Igreja dos
Capuchinhos no Bairro América. Religioso dedicou quase 80 anos de vida aos
trabalhos comunitários.
“A noite desta
terça-feira (30) na Igreja dos Capuchinhos, localizada no Bairro América, Zona
Oeste de Aracaju, foi de celebração e festa pelos 104 anos do Frei Miguel
Ângelo, que dedicou 77 anos da sua vida aos trabalhos comunitários na região.
Os fiéis católicos lotaram a missa festiva e cantaram os parabéns ao homenageado.
Mesmo com a
saúde um pouco abalada Frei Miguel assistiu toda a programação em uma cadeira
de roda. Para a estudante universitária Lucineide Gomes dos Santos, o
franciscano deu grandes contribuições à comunidade. ‘Ele fez uma verdadeira
revolução no Bairro América com seus trabalhos humanitários. Um verdadeiro
símbolo religioso’, comenta a universitária que faz referência a ajuda do padre
na construção da Igreja São Judas Tadeu.
Frei Florêncio
da ordem dos Capuchinhos de Aracaju também reafirma a opinião da estudante
Lucineide. ‘Padre Miguel é uma figura representativa da Igreja Católica em
Sergipe. Sempre atuou no trabalho apostólico aqui no bairro, além de já ter
liderado missas em várias outras partes do estado’, comenta.
77 anos de trabalho comunitário
Michelângelo
Serafini é italiano da cidade de Cíngoli, província de Macerata. Ingressou na
ordem dos capuchinhos em 1925 vindo ao Brasil como missionário após ter sido
ordenado em 1934. Aqui no país ficou conhecido popularmente como Frei Miguel.
Antes de se
estabelecer em Aracaju, trabalhou nas paróquias de Santa Rosa de Lima, Divina
Pastora, Rosário do Catete, Maruim e Santo Amaro. Quando chegou à capital
recebeu a missão de construir a primeira igreja capuchinha da cidade.
Com quase 80
anos de atuação dos trabalhos comunitários, hoje Frei Miguel é um exemplo de
vida para muitos seguidores.
‘Sou gaúcho, mas
conheci o Frei há 30 anos quando me casei nesta igreja de Aracaju. Sempre que
posso venho aqui e sou muito bem recebido por ele. Apesar da idade Frei Miguel
ainda está lúcido e tem energia. Esperamos que ele seja beatificado pelo Vaticano’,
acredita o militar Paulo Ademar”.
Testemunho de um confrade seu capuchinho:
Frei
Miguelângelo Serafini, acaba de completar 104 voltas ao redor do Sol, ele mesmo um raio de sol
para quem recebeu a graça de conhece-lo.
Quem olha
atentamente para esse homem de Deus - hoje com os estigmas da passagem do tempo
bem visíveis em seu corpo, mas sempre com o brilho das estrelas nos seus olhos
-não pode deixar de maravilhar-se com a
sua transparência. Frei Miguel é qual uma janela, uma window, aberta para o alhures e apontando para o site de Deus, onde
não entra nenhum tipo de vírus. Só leveza e amor.
Li, se não me
engano em Rubem Alves, que quem lê um livro de teologia não tem acesso a Deus,
mas ao coração do teólogo, que O desenha e pinta com traços e cores tirados de
dentro de si. Quem lê esse texto humano, que é Frei Miguel, tem acesso, quase
direto, ao coração de Deus. Ele torna Deus evidente. Por isso mesmo, as pessoas que dele se
acercam, querem tocá-lo. Porque dele continua saindo uma Força apaziguadora.
Comecei meu
noviciado em Aracaju, junto com três companheiros de sonho. O que nosso mestre, Frei Urbano, nos dizia
acerca de São Francisco (que era um irmão menor, cheio de bom senso, bom gosto
e bom humor), nós o encontrávamos, materializado, naquele frade de sorriso
maroto, de poucas palavras, com observações sempre concisas e certeiras, quase
no estilo dos koans dos mestres zen ou dos apotegmas dos Padres do Deserto.
Hoje – já se
passaram 40 anos –, quis a Providência divina que eu voltasse a compor aquela
Fraternidade. Quando Frei Rubival me comunicou que eu iria morar em Aracaju,
pensei logo na honra e na alegria que seria, para mim, morar perto de Frei Miguel.
E assim tem
sido. Do alto dos seus 104 anos, nosso Miguilim
(uma vez, venci a timidez e o chamei assim, e parece que ele gostou...)
continua irradiando a bondade e a beleza do Grande Mistério. Sempre magnânimo,
lembra um mahatma, um roshi, um discípulo de Jesus Cristo. Os sergipanos o
veneram. E ele, na medida do possível, os atende com a mão que diz a palavra
boa. Que abençoa. Com aquele sorriso, tímido e generoso, que é um dos sinais
que mais o distinguem.
Tanto poderia
testemunhar sobre Frei Miguel. Não podendo, entretanto, exceder o limite do que
me foi pedido, digo, last but no least,
que Frei Miguel não é apenas um irmão menor; ele é, como no-lo revelou São Francisco no seu
Testamento, o menor dos irmãos. O que para nós outros ainda é adjetivo e
utopia, em Frei Miguel já é, visivelmente, um substantivo, uma eutopia. Sendo
na prática o menor dos servos, ele nos desvela o maior segredo de Deus: Sua
alegria e Sua simplicidade. Seu amor.
Frei José
Edilson Bezerra OFMcap.
Notícia
da morte do Frei Miguel publicada em 09/01/2013
Morre aos 104
anos, Frei Miguel Ângelo. O Frei, devido à idade avançada, vinha enfrentando
problemas de saúde.
Foi em outubro
do ano passado que centenas de fiéis e admiradores do trabalho de Frei Miguel
Ângelo de Cíngoli, se reuniram na paróquia São Judas Tadeus, popularmente
conhecida como Igreja dos Capuchinhos, para comemorar os seus 104 anos. Nessa
quarta-feira (9), no entanto, os mesmos fiéis e admiradores se unem para a
despedida. Frei Miguel morreu por volta das 6h de hoje.
Em junho de
2012, o frei foi internado no Hospital São Lucas. Na ocasião, a informação era
que o frei estava sem querer se alimentar e precisou ser internado para
recuperar as forças. Segundo os médicos, ele não sofria de doença nenhuma, nem
diabetes, nem colesterol, não nada do tipo, apenas fraqueza por conta da idade.
Exéquias do Frei Miguel celebradas pelo Arcebispo de Aracaju, bispo auxiliar e vários representantes do clero, bem como pelos confrades. |
Autoridades civis, eclesiásticas e o povo em geral lotam a igreja onde seu corpo foi velado. |
O povo, com grande emoção, se despede do "frei santo", Frei Miguel Ângelo, o "Santo de Aracaju". |
Adorado, não só
pela comunidade em que se instalou na década de 60, o frei nasceu no ano de
1908, em Cíngoli, na Itália, e aprendeu desde cedo o espírito de sacrifício.
Entrou no Seminário dos Frades Menores Capuchinhos da Província das Marcas de
Ancona em 04 de outubro de 1926 e ordenou-se em 29 de julho de 1934 quando
recebeu o nome de Frei Miguelângelo de Cíngoli. Vindo para o Brasil no ano de 1935, fixou-se
na Bahia onde lecionou para seminaristas e noviços.
Exerceu
atividades missionárias também nos municípios baianos como Entre Rios, Rio
Real, Jandaíra e Redondezas. Frei Miguel chegou à Aracaju em 1963 por
designação da ordem e aqui exerceu o melhor da sua atividade pastoral e
missionária. São muitos anos de
trabalhos exercidos com amor e perseverança com a comunidade de todo o Estado
de Sergipe.
Na década de 70
e 80 o religioso foi vigário de Maruim, Santo Amaro, Rosário do Catete e
General Maynard. Mas foi em Aracaju, especificamente no bairro América, que
Frei Miguel marcou presença sempre paciente na hora de atender e ajudar a
população.
Seu venerável
corpo foi velado na Igreja dos Capuchinhos, no bairro América, em Aracaju.
Um comentário:
Frei Miguel foi um místico do nosso tempo. Vivendo o cotidiano religioso dos Frades Menores Capuchinhos, manteve constante o zelo pela vida evangélica de modo simples e cativante, a todos que o procurava afirmava:"Papai do Céu nos ama".
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