São Paulo da Cruz, Presbítero e Fundador |
Papa Pio IX,
assinalado pelo honroso epíteto "Cruz da Cruz", teve a satisfação de inscrever
no catálogo dos santos a São Paulo da Cruz, o grande devoto da Sagrada Paixão
de Jesus, o benemérito fundador dos Passionistas.
Este santo nasceu em 1694 na Itália setentrional e recebeu no batismo o nome de Paulo
Francisco. Os piedosos pais souberam dar
a seu filho uma educação ótima cristã, e em suas instruções, muitas vezes
relataram-lhe fatos da vida de penitência que levaram os santos eremitas. Foi
neste ambiente de piedade e amor de Deus, que Paulo Francisco nasceu e cresceu.
Não podia, pois, faltar, que também ele fosse do mesmo espírito e, menino ainda
de poucos anos, se entregasse aos exercícios de oração e penitência também. Seu
lugar predileto era a igreja, ou para acolitar o sacerdote no altar ou para
visitar Nosso Senhor no SS. Sacramento.
Este terno amor a Maria Santíssima, teve-o recompensado uma vez com a
aparição de Nossa Senhora com o Menino Jesus, e outra vez pela salvação
miraculosa de um grande perigo de morte. Desde jovem que cultivava um espírito
de grande penitência e mortificação. Nas sextas-feiras se flagelava e seu
alimento era um pedaço de pão embebido em vinagre e fel.
Na juventude, a Virgem Maria aparece-lhe e o orienta a fundar uma congregação dedicada a honrar e divulgar a devoção à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. |
Fez estudos em
Cremolino, localidade vizinha. Não só revelou bonitos talentos, como entre os
condiscípulos se distinguiu pela pureza de costumes, que o fez ser por todos
respeitado e amado. Com alguns de seus companheiros
fez uma santa aliança, com o fim de se solidificarem no amor de Deus e se
familiarizarem com a meditação sobre a Sagrada Paixão e Morte do Salvador. Entrou com eles na Irmandade de Santo
Antônio, sendo ele nomeado seu chefe. Nesta qualidade, muitas vezes dirigia a palavra
à numerosa assistência dos Irmãos, que muito apreciavam suas alocuções, cheias
de sentimento e piedade.
O jovem padre escreve a Regra de sua futura Congregação religiosa |
Quis seu tio
sacerdote que, por interesse puramente materiais, tomasse estado, a que o
sobrinho teve esta bela resposta: "Meu
Salvador crucificado, eu vos asseguro, em que vós vejo o meu sumo Bem e que,
possuindo-vos a vós, me basta". Esta vitória sobre sua própria
natureza Deus lhe recompensou com um forte desejo, que lhe deu ao martírio.
Quis se alistar entre
os soldados de Veneza, para com eles ir combater com os turcos, mas Deus lhe
revelou, ser a sua vontade que fundasse uma Congregação de homens que, como
missionários, trabalhassem para a salvação das almas. Paulo confiou este
segredo ao bispo de Alexandria, o qual, após madura reflexão, aprovou o plano,
e em 22 de novembro de 1720, lhe deu o hábito preto com uma cruz branca sobre o
peito, encimada esta do Santo Nome de Jesus, e impôs-lhe o nome de Paulo da
Cruz. Na mesma ocasião, autorizou-o a ensinar a doutrina cristã ao povo de
Castelazzo.
Paulo obedeceu; com
o crucifixo na mão, andou pelas ruas da cidade, chamando o povo para dar
atenção às verdades divinas. Suas
prédicas sobre a Sagrada Paixão, causaram profunda impressão. Os ouvintes
choravam, velhas inimizades acabaram de vez; não mais se ouvia falar de orgias
no Carnaval e por toda a parte apareceram dignos frutos de penitência. Ali
mesmos, restringindo a sua alimentação a pão e água, escreveu a Regra da sua
futura Ordem, fez uma romaria a Roma, e com seu irmão João, se retirou para o
monte Argentano, perto de Orbitello. A fama do seu zelo apostólico, de sua vida
mortificada e santa, fizeram com que o bispo de Toja os chamasse para sua
diocese, lhes conferisse as ordens sacerdotais e do Papa Benedito XIII
alcançasse a licença para aceitar candidatos em seu noviciado.
Depois de alguns
anos de abençoada atividade, os Irmãos voltaram para o monte Argentano, para
proceder à fundação da Ordem. Em breve, aliaram-se-lhes discípulos. A cidade de
Orbitello se encarregou de dotá-los de grande convento, de que tomara posse em
1737.
São Paulo da Cruz, grande apóstolo da devoção à Sagrada Paixão e Morte de Jesus. |
A finalidade da
Ordem, fundada por São Paulo da Cruz é pela pregação de missões implantar e firmar,
nos corações, o amor de Deus por meio de meditação da Sagrada Paixão e Morte de
Jesus Cristo. Todos os seus religiosos,
aos três votos comuns, acrescentam o quarto, pelo qual se obrigam a trabalhar
pela propagação entre os fiéis da devoção à Sagrada Paixão.
A Ordem foi aprovada pelo Papa Bento XIV, em
1741. Deste mesmo Papa é o conceito: "Esta Ordem, que a nosso ver, devia
antes de todas ser a primeira, acaba de
ser aprovada por último". Paulo foi nomeado seu primeiro superior
geral.
Com o
estabelecimento oficial da Ordem, as suas obrigações começaram a vigorar. Não é
possível enumerar as Missões que foram
pregadas nas cidades e nas aldeias; e
muito menos haverá quem possa contar as
conversões nelas efetuadas. As
prédicas de São Paulo da Cruz sobre a Paixão de Cristo operaram milagres nas
almas dos mais empedernidos pecadores. "Padre, disse-lhe certa vez um oficial militar, eu
estive no tumulto da batalha; presenciei terrível canhoneio sem estremecer; mas
as suas práticas fazem-me tremer da cabeça aos pés". Paulo, pregando, parecia ser tomado todo do
amor divino; falando do amor de Jesus na
Eucaristia, dos tesouros insondáveis do sacrifício da Missa, ou tratando da
devoção da Mãe de Deus dolorosa, seu rosto se transfigurava, e o ardor com que
falava, se comunicava aos ouvintes.
A santa Missa
celebrada por ele, era um espetáculo de piedade e de concentração para todos, a
quem era dado lhe assistir.
Em um êxtase, Jesus Crucificado aparece-lhe, abraça-o e faz com que beba do Preciosíssimo Sangue que sai da Sagrada Chaga do Costado. |
Os seis Papas,
em cujo governo Paulo da Cruz viveu, tinham-no em alta consideração. Clemente XIV deu à sua Ordem o Convento de
São João e Paulo no monte Céio, onde tinham pregado as últimas Missões. Quando, muito doente, desenganado pelos
médicos, mandou ao Santo Padre pedir a bênção para a hora da morte, Pio VI deu
ao mensageiro esta resposta: "Não
queremos que o vosso Superior morra agora;
dizei-lhe que esperamos a sua
visita aqui, depois de três dias".
Paulo, ao receber esta ordem, apertou o crucifixo ao coração e disse, em
abafado gemido: "Oh, meu Senhor crucificado, quero obedecer ao vosso
representante". O perigo da morte
desapareceu imediatamente e três dias
depois esteve no Vaticano, cordialmente recebido pelo Papa.
Viveu mais três
anos, cheios de sofrimentos, mas sempre
unido a Jesus na Sagrada Paixão e a
Maria a Mãe dolorosa, de quem favores
especiais recebeu na hora da morte, em 18 de outubro de 1775. Paulo da Cruz despediu-se do mundo na idade
de 81 anos. Sua Ordem chamada a dos
"Passionistas", continua florescente, no vigor e no espírito do seu
fundador, espalhada em diversos
lugares do mundo. No Brasil, ela
se estabeleceu em 1911, com Casa Provincial em São Paulo.
Reflexões
A Ordem dos
Passionistas foi fundada no século dezoito, numa época em que a maçonaria
cantava vitórias sobre a Igreja Católica, das quais uma foi a supressão da
Companhia de Jesus, que sua nefanda política conseguiu extorquir do Papa
Clemente XIV. Na França ela preparou uma
revolução; as chamas da revolução subiram ao céu e toldavam os horizontes; na
Alemanha e na Áustria ela favoreceu o pernicioso Josefinismo, que muito
prejuízo trouxe ao Reino de Cristo naqueles países. Para tempos tão tristes,
não podia haver remédio melhor, senão a união mais estreita com Jesus
crucificado, e a meditação da sua Sagrada Paixão e Morte.
A importância
desta devoção ressalta da história da Igreja e do seu exemplo. Simão Pedro era um Apóstolo zeloso e não
menos privilegiado. Tinha ouvido as pregações de Jesus, presenciou todos os
milagres operados por seu Mestre, esteve presente na Transfiguração do monte
Tabor, recebeu da mão de Jesus a santa comunhão. Não obstante, deu sinais de fraqueza, já no
Horto das Oliveiras e mais tarde no pátio do palácio do sumo pontífice. Chegou
a negar seu divino Mestre, só para não dar a conhecer a uma empregada. Bastou, entretanto, um só olhar para Jesus,
ao vê-lo na sua humilhação e miséria, para romper em amargo pranto e se
converter.
Dimas, o bom
Ladrão, criminoso inveterado, e até a última hora impenitente, quando viu Nosso
Senhor na Cruz, um raio de luz penetrou sua alma e, arrependido dos seus
malfeitos e ao mesmo tempo confiante na misericórdia divina, a Jesus dirigiu
esta súplica: "Senhor, lembrai-vos de mim, ao entrardes no vosso
reino". Jesus recompensou imediatamente esta expressão da fé e da
comiseração, dizendo-lhe: "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso".
(Lc. 23)
O capitão romano
de que fala São Mateus, morava em Jerusalém. Pouco se lhe dava a doutrina e os
milagres de Jesus. Da boca de Pilatos tinha ouvido a declaração da inocência
deste, o que não interessou. Comandante da corte, deu suas ordens, assistiu
impassível à crucificação. Nada de compaixão, nada de sentimento superior em
sua alma movia. Mas quando fixou seu olhar "no homem das dores",
pregado na cruz, seu orgulho experimentou um choque irreprimível e em voz alta,
para todos ouvirem, declarou: "Verdadeiramente este era o Filho de
Deus", no que concordaram todos os que com ele estavam guardando a Jesus.
(Mt 27)
Glorificação de São Paulo da Cruz no Céu. |
A firmeza dos
Mártires, o heroísmo dos defensores da fé, não tiveram outra fonte, senão a
Santa Paixão e Morte de Jesus. Os grandes penitentes encontraram - todos eles -
a sua paz, a sua tranquilidade, a sua felicidade ao pé da cruz.
Por tudo isso é
que a Igreja não cessa de chamar os seus filhos para junto da Cruz do Filho de
Deus crucificado. Sem haver uma obra de interrupção, o santo sacrifício da
missa é celebrado no mundo inteiro. Todos os católicos são obrigados a assistir
este sacrifício nos domingos e dias santos.
A devoção à
Sagrada Paixão e Morte de Jesus é a garantia da salvação para quem a pratica
com fé e amor.
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