Edviges d'Anjou foi rainha da Polônia a partir de
1384 e grã-duquesa da Lituânia a partir de 1386. Filha de Luís I, rei da
Hungria e da Polônia e de Isabel Kotromanic da Bósnia, sucedeu seu pai em 1382
na Polônia, enquanto sua irmã Maria herdou o trono da Hungria.
Embora seja chamada de "rainha",
Edviges foi de fato coroada como "Rei da Polônia" (Hedvigis Rex
Poloniæ e não Hedvigis Regina Poloniæ). O gênero masculino do seu título
significava que ela era monarca de pleno direito, enquanto que o título de
rainha era atribuído às esposas dos reis. Edviges pertencia à Casa Real dos
Piast, antiga dinastia nativa da Polônia, sendo bisneta de Ladislau I, que
reunificou o reino polonês, em 1320.
Como rainha, Edviges teve efetivamente
poderes limitados, mas foi muito ativa na gestão política do reino e na vida
diplomática e cultural de seu país.
No final do primeiro milênio, os apóstolos
de Nosso Senhor Jesus Cristo tinham ido à terra dos Piast. Naquela época
Mieszko I recebeu o Batismo, e isto constituiu ao mesmo tempo o Batismo da
Polônia. Séculos depois, os poloneses batizados contribuíram para a
evangelização e o Batismo dos seus vizinhos, graças à obra de Edviges.
Após consultas ao Arcebispo de Bodzanta,
ao Bispo de Cracóvia Jan Radlica, a outros nobres do reino polonês, e muita
oração diante do Crucifixo de Wawel, ficou estabelecido seu casamento com
Jogaila, Grão-Duque da Lituânia, o qual havia prometido receber o Batismo – bem
como toda sua Nação, último país pagão na Europa – e unir a Lituânia à Polônia.
As bodas se realizaram a 18 de fevereiro de 1386. Convertido ao Catolicismo, o
grão-duque foi batizado recebendo o nome de Ladislau II.
Consciente da missão de levar o Evangelho
aos irmãos lituanos, Edviges fê-lo juntamente com o seu esposo. Um novo país
cristão, renascido das águas do Batismo, surgiu no Báltico, como no século X a
mesma água fizera renascer os filhos da Nação polonesa. Uma vez aberta a
estrada para a cristianização da Lituânia, Edviges, coerente no agir, procurou assegurar
ao povo recém-batizado uma formação religiosa fundando em Praga um Colégio para
os futuros sacerdotes daquela Nação.
Edviges fora educada na leitura religiosa
clássica desde tenra infância. Lia a Sagrada Escritura, o Saltério, as Homilias
dos Padres da Igreja, as meditações e orações de São Bernardo, os Sermões e a
Vida dos Santos, etc. Algumas destas obras foram traduzidas para a língua
polonesa para ela e para seus súditos. A Rainha ordenou a execução de um
saltério em três versões linguísticas, chamado Saltério Floriano, o qual se
encontra hoje na Biblioteca Nacional de Varsóvia.
Ela doou as próprias joias para financiar
a recuperação da Academia de Cracóvia que, no século XIX, passou a se chamar
Universidade Jagelônica, em homenagem à Dinastia Jagelônica, sucessora dos
Piast. Nesta Universidade educaram-se e ensinaram pessoas que tornaram o nome
da Polônia, e daquela cidade, famosos no mundo inteiro. A fama desta
Universidade foi durante séculos um motivo de orgulho para a Igreja de Cracóvia.
Dela saíram estudiosos da qualidade de São João Kanty, que exerceram não pouca
influência no desenvolvimento do pensamento teológico da Igreja universal.
Visitando os hospitais medievais (Biecz,
Sandomierz, Sącz, Stradom) podemos admirar as numerosas obras fundadas pela
misericórdia da soberana.
A Santa Rainha tinha compreendido o
ensinamento de Nosso Senhor e dos Apóstolos. Muitas vezes ela se ajoelhara aos
pés do Crucifixo de Wawel para aprender dEle mesmo o amor generoso. E com Ele,
do Cristo de Wawel, este Crucifixo negro que os habitantes da Cracóvia visitam
em peregrinação na Sexta-Feira Santa, a Rainha Edviges aprendeu a dar a vida
pelos irmãos. A sua profunda sabedoria e a sua intensa atividade brotavam da
contemplação, do vínculo pessoal com o Crucificado.
Perita na arte da diplomacia, ela lançou
os fundamentos da grandeza da Polônia do século XV. Incentivou a cooperação
religiosa e cultural entre as nações, e enriqueceu a Polônia com um patrimônio
espiritual e cultural. Graças à profundidade da sua mente Cracóvia se tornou um
importante centro do pensamento na Europa, o berço da cultura polonesa e a
ponte entre o Ocidente e o Oriente cristãos.
A sua bondade e senso de justiça era fruto
de uma vida de muito sofrimento. Coroada aos dez anos, em 1384, aos doze deixou
seu país natal. Em 1387 perdeu sua mãe, em 1395 sua irmã. Era vítima de
calúnias difundidas no mundo europeu que tentavam criar animosidades entre seu
esposo bem mais velho e ela; enfrentou dificuldades políticas e humanas, sofreu
também com o fato de durante vários anos não poder dar um herdeiro ao trono.
Para aproximar os súditos poloneses,
lituanos e rutenos dos frutos espirituais da Igreja, pediu ao Papa Bonifácio IX
a graça de poder celebrar o Ano Santo de 1390 no próprio país. Seu pedido foi
motivado pelos grandes perigos políticos e sociais a que estariam expostos os
peregrinos numa viagem à Roma. O Papa atendeu seu pedido, enviando, em 1392, o
seu legado, João de Pontremoli, com a bula e as respectivas instruções.
A Santa Rainha fundou, em 1393, o Colégio
dos 16 Salmistas, para que noite e dia se louvasse a glória de Deus.
Finalmente a Santa Rainha recebeu a graça
de se tornar mãe, mas gozou por pouco tempo a alegria da maternidade física,
porque a herdeira do trono, Isabel Bonifácia, morreu pouco depois. Quatro dias
depois, em 17 de julho de 1399, Edviges falecia, em decorrência de complicações
do parto, aos 25 anos e cinco meses. A Dieta da Polônia elegeu Ladislau II para
sucedê-la. Este teve como sucessores os filhos havidos com sua última mulher,
Sofia de Halshany.
Apesar da veneração espontânea do povo
polonês que a considerava Santa, foram necessários seiscentos anos para que o
seu culto fosse reconhecido oficialmente pela canonização, o que ocorreu no dia
8 de junho de 1997, em Cracóvia, Polônia, durante a visita de São João Paulo II
àquela cidade.
Estátua mortuária sobre o túmulo da santa rainha. |
O
Crucifixo Negro e a Rainha Santa Edviges
O Crucifixo Negro foi trazido para a
Polônia por ela mesma em 1384. Santa Edviges passava horas rezando diante do
crucifixo e em várias ocasiões Nosso Senhor lhe falou por meio dele. Desde 1745
o Cristo Negro, de 13 pés de altura, ocupa a parte central do altar barroco da
Catedral. A Santa Sé declarou que ouvir a Santa Missa neste lugar obtém a graça
de livrar uma alma do Purgatório.
Quando a Rainha Edviges foi beatificada,
em 1987, suas relíquias foram transferidas para o altar do Crucifixo Negro.
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