Ana Maria
Tauscher, que se tornaria Madre Maria Teresa de São José, nasceu em Sandow, uma
pequena cidade cerca de 100 km sudeste de Berlim (atualmente Polônia). O pai de
Ana Maria, Herman Traugott Tauscher, um pastor protestante de alto cargo,
exercia a profissão que era a mesma de seus antepassados desde a época de
Martinho Lutero.
No entanto,
desde a idade de 15 anos, Ana Maria aspirava a uma verdade ainda mais profunda
que aquela que lhe tinha sido transmitida através da sua educação luterana. Aos
22 anos, ela começou a ler quotidianamente a Sagrada Escritura e a Imitação de
Cristo. Um dia, frente a alguns colegas de seu pai, ela defendeu mesmo a
doutrina da infalibilidade pontifícia. Ela também acreditava na virgindade de
Maria, sem nunca ter estado em contato com católicos, nem ter lido obras católicas.
Aos 22 anos, Ana
Maria teve a intuição de que Deus a chamaria para seu serviço quando tivesse 30
anos. Porém, não sabia nem onde, nem como isso ia acontecer. Ela tudo entregava
nas mãos da Divina Providência.
Em fevereiro de
1886, estando ela em Berlim na casa de amigos, Ana Maria leu num jornal de
Colônia um anúncio propondo um trabalho de enfermeira chefe num hospital
psiquiátrico. Seria este o sacrifício, o tal serviço que ela esteve esperando
durante oito anos? No dia 6 de Março de 1886, Ana Maria deixou Berlim para
começar a trabalhar na clínica de Lindenburg.
Ela não tinha
nenhuma experiência de enfermeira, mas sua entrega e seu amor quase maternal
logo transformaram o asilo num autêntico Lar. À exceção do diretor, todas as
pessoas da clínica de Lindenburg eram católicas. Um dos sacerdotes que vinha
visitar os doentes ofereceu-lhe um catecismo da Igreja Católica. Nele, ela
encontrou o que até então ela chamava de “sua
religião pessoal”. E assim começou rapidamente a preparar, em segredo, a
sua conversão.
Foto da Ana Maria Tauscher, antes de se tornar religiosa. |
Desaprovada pelo
seu pai, despedida de Lindenburg, Ana Maria colocou toda a sua confiança em
Deus. Apesar de se ter proposto para vários empregos, ela não conseguia outro
trabalho, porque seu diretor tinha feito uma carta de recomendação pouco
favorável. A partir de então, ela se viu sem trabalho e sem casa. Graças à
ajuda de amigos católicos, Ana Maria foi recebida num convento, onde também se
cuidava de pessoas de idade.
Todas as tardes
e todas as noites, Ana Maria vinha junto ao Senhor, frente ao altar do
Santíssimo Sacramento, fortalecendo assim os laços que a uniam ao seu Divino
Esposo. Continuava, no entanto, a sua séria procura de trabalho.
“Senhor, segundo a Vossa vontade, mandai-me a
trabalhar para a salvação das almas aonde quiserdes. Escutai o ardente desejo
da minha alma de poder demonstrar o meu amor e a minha gratidão. (...) meu
Deus, se for possível, não me mandeis para Berlim, seja, porém, feita a Vossa
vontade e não a minha.” (A.p.71)
Era deste modo
que Ana Maria rezava todos os dias. Desejava entrar numa ordem religiosa, mas
tinha constantemente aquilo a que chamava “tentações do orgulho” de fundar a
sua própria Congregação. Ela não podia partilhar com ninguém esta sua ideia.
Esperava que entrando numa comunidade, esta provação desaparecesse. Os seus
confessores sabiam que Deus a chamava para o seu serviço, mas aconselharam-na
de não entrar numa ordem já existente. Passados 10 meses, ela recebeu então uma
carta da Condessa de Savigny, uma católica fervorosa que vivia em Berlim, e que
lhe propunha trabalho de dama de companhia. Apesar da sua tristeza à ideia de
deixar Colônia, Ana Maria aceitou.
Acompanhando a
Condessa de Savigny nas suas viagens, Ana Maria começou a ler A Vida de Santa
Teresa de Jesus, uma santa que tinha reformado o Carmelo no século XVI. A
humildade de Teresa, o seu amor por Deus, o seu desejo ardente de salvar almas
e o seu heroísmo correspondiam perfeitamente a Ana Maria. Desde então ela
queria uma só coisa: entrar no Carmelo. Mas, uma vez mais o seu confessor a
dissuadiu, e ela continuou a resistir à “sua tentação”. Quando o seu confessor
partiu para as missões, Ana Maria procurou o conselho de outro padre. As
palavras dele foram libertadoras: “Pare de resistir à graça!”(A.p.98).
Ana Maria
começou desde logo a trabalhar naquilo para que se sentia chamada. Em Berlim,
ela tinha presenciado o grande desespero das crianças sem casa. Colocou-se em
contato com o Delegado Episcopal de Berlim, e, obteve autorização para abrir um
Lar para crianças. Com 500 marcos, que a Condessa lhe tinha dado em sinal de
agradecimento, Ana Maria abriu o primeiro Lar São José, a 02 de Agosto de 1891.
Começou por instalar três crianças, uma educadora e uma empregada doméstica, em
alguns quartos de um prédio antigo, situado em “Pappelallee.” As crianças a
chamavam “Mãe” e muito rapidamente passou a ser conhecida como “Mãe da
Pappelallee”. Mas ainda faltava algo: a presença eucarística. Ana Maria não se
cansava de rezar: “Senhor, se virdes, eu
venho também.” (A.p.111), e estava
firmemente decidida a só se instalar no Lar São José, quando o Santíssimo
Sacramento aí estivesse presente.
A Eucaristia se
tinha tornado o centro da vida e do trabalho de Madre Maria Teresa de São José.
Na capela de Colônia, passou horas e horas rezando silenciosamente a Jesus, “o Amado da sua alma”. Frente ao
Sacrário, na sua união pessoal com Cristo, Madre Teresa de São José encontrava
alegria, paz, e o mais profundo amor que um coração humano pode experimentar.
“Deus inflamou o meu coração com tanta veemência de
amor, que todo o sofrimento que a graça de Deus mais tarde me mandou ou
permitiu que caísse sobre mim, não me parecia mais que uma gota de água que cai
em cima de um ferro incandescente”. (A.p.65)
Com Jesus e por
seu amor, ela estava pronta para tudo suportar, mas a sua ausência era para ela
uma verdadeira tortura.
“Coração de Jesus, ninguém pode compreender como
anseio por Vós. Ninguém é capaz de contar as lágrimas de desejo que chorei por
Vós. Senhor, se virdes, eu venho também!” (A.p.)
Era esta a sua
oração constante. Era a fonte que alimentava todas as suas atividades
apostólicas.
O Amor nunca é
estéril. A sua força criativa expande-se. Madre Maria Teresa desejava reunir
outras pessoas à volta da Fonte de Amor que ela tinha encontrado. Só assim,
bebendo constantemente desta fonte, é que ela própria e as outras jovens que se
tinham juntado a ela, poderiam se tornar
instrumentos de Deus.
A 8 de Dezembro
de 1891, Cristo veio morar na “Pappelallee”. Para Ana Maria foi “o dia mais feliz da sua vida”.
“As nossas almas ganham vida nova na
grande fonte de amor que é o SS. Sacramento e todos os dias se reacendem no
fogo do Divino Amor que nunca descansa, mas que espalha ao redor de si as suas
centelhas que são as obras de caridade em que Ele se consume.” (A.p.402).
Em
1897, mais de quarenta jovens se tinham já associado à obra de Madre Teresa
servindo nos Lares São José. Para além dos dois Lares de crianças em Berlim,
havia ainda mais dois em Boêmia e um outro em Oldenburg. Em Berlim, ela abriu
também um centro para os padres que trabalhavam ou estudavam nesta cidade. No
entanto, Madre Maria Teresa não fundava os Lares São José para serem somente
instituições sociais. Em 1891, contemplando a beleza de um pôr-do-sol, ela
compreendeu a razão de ser das suas fundações: “A consagração das Servas do Divino Coração de Jesus a: I – expiação
dos pecados, II – Santificação pessoal, III – Salvação das almas” (A.p.99).
Ela tinha conhecido o Carmelo através de santa Teresa de Jesus, e tinha
encontrado no zelo e nas orações dos santos do Carmelo, que tinham oferecido
suas vidas como vítimas de Amor pela salvação das almas e glória da Igreja, uma
fonte de inspiração para a sua própria vocação. A sua Congregação deveria
seguir a espiritualidade carmelita. Santa Teresa tinha aberto o caminho.
A
partir de Novembro de 1896, Madre Maria Teresa e a sua comunidade cuidam das
crianças e fazem missão nos domicílios, observando ao mesmo tempo a regra
Primitiva da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Tal
como a sua mãe espiritual, Santa Teresa de Jesus , a maior alegria da Madre Maria Teresa era a de ser
filha da Igreja . A sua humildade era imensa ao se aperceber que Deus a tinha
chamado a si, “uma filha do deserto”, para fundar uma comunidade religiosa, e
para guiar outras mulheres já nascidas no seio da Igreja. Como uma verdadeira
filha da Igreja, sempre se mostrou fiel e obedeceu aos bispos e aos
ensinamentos da Igreja. A “voz do Bispo” representava para ela a “voz de Deus”, mesmo quando se tratava de
encerrar um convento ou um Lar.
Madre
Maria Teresa viu a Igreja ser perseguida e devendo fazer face a inúmeros
entraves. Em profunda união com o Sagrado Coração de Jesus, os sofrimentos e a
glória do Corpo Místico de Cristo – a Igreja – tornam-se seus próprios sofrimentos
e sua glória.
Em
1897, Madre Maria Teresa esperava obter do Cardeal Kopp, Bispo de Breslau (de
que Berlim dependia nessa altura), o reconhecimento da sua fundação como
Congregação religiosa. Apesar de financiar o trabalho das Irmãs, o prelado
continuou inflexível e recusou a aprovação canônica da Congregação. Seguindo os
conselhos de um padre, Madre Maria Teresa decidiu ir procurar ajuda a Roma. Lá,
encontrou o Padre Geral da Ordem do Carmelo, e expôs-lhe o seu desejo de reunir
numa mesma espiritualidade os dois aspectos do espírito do Carmelo – oração contemplativa
e zelo apostólico - para responder às necessidades da época. Esta iniciativa
entusiasmou de tal maneira o Superior Geral que ele abençoou o seu escapulário
e a ajudou a obter uma carta de recomendação do Cardeal Parocchi, protetor da
Ordem do Carmelo.
Contudo,
devido a situação tensa que se vivia na Igreja da Alemanha, o Cardeal Kopp
continuou a recusar considerar como religiosas as irmãs que trabalhavam nos
Lares São José. Madre Maria Teresa começou a procura de um bispo que aceitasse
receber as suas noviças e criar uma Casa Mãe em sua diocese. Durante seis anos,
viajou desde a Baviera até à Holanda, passando pela Inglaterra e pela Itália.
Por duas vezes obteve autorização de fundar uma Casa Mãe, mas circunstâncias
adversas a obrigaram a deixar essas dioceses, fechando os noviciados antes
mesmo que as irmãs pudessem pronunciar os seus votos.
Finalmente,
em 1904, em Rocca di Papa, Itália, surge a Casa Mãe. Aí se manteve durante 18
anos, tendo sido transferida para Sittard depois da primeira Guerra Mundial.
Em
Berlim, um grande número de padres e outros católicos criticaram severamente
Madre Maria Teresa no seu desejo de criar uma nova Congregação religiosa. As
jovens, que tinham intenção de entrar para a comunidade, ou ajudá-la eram
constantemente dissuadidas. A calúnia e a difamação dos opositores pareciam vir
de todo o lado, onde quer que Madre Maria Teresa se instalasse. Mas nunca ela
retorquiu dizendo mal deles. Durante todos esses anos, teve que enfrentar a
solidão, o afastamento da sua família, a doença e a pobreza.
O
sofrimento tinha-se tornado para Madre Maria Teresa uma fonte de alegria
profunda, pois era um meio que ela utilizava para unir sua alma a Deus, e para,
com o Salvador, participar na redenção do mundo.
Ao
fundar as Carmelitas do Divino Coração de Jesus, Madre Maria Teresa entregou-se
inteiramente a Deus como vítima do seu amor. Passou a sua vida servindo os
pobres e rezando, trabalhando e sofrendo pela salvação das almas e pela
liberdade da Igreja. Em 1930, o trabalho e o sacrifício de Madre Maria Teresa
foram coroados pela aprovação de sua Congregação pelo Papa Pio XI.
Madre
Maria Teresa percorreu a Europa e os Estados Unidos para fundar os Lares para
as crianças, e mais tarde os Lares para os idosos. Os últimos anos de sua vida,
passou-os em Sittard (Países Baixos), dirigindo a Congregação a partir da Casa
Mãe, aí estabelecida desde 1922.
Apesar
de muito enfraquecida fisicamente e quase cega, passava largas horas em oração,
de joelhos, frente ao Santíssimo Sacramente, e continuou sempre meiga e
atenciosa para com as suas Irmãs.
Antes
de morrer, a 29 de Setembro de 1938, deixou às suas Irmãs, como sendo sua
última vontade e testamento, uma linda declaração:
“Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja sempre
louvado e exaltado o Senhor” (A.P.445).
Na noite em que
morreu, madre Maria Teresa pediu que lhe trouxessem a relíquia, o crucifixo que
a tinha acompanhado durante todas as suas viagens. Desde esse momento e até seu
último suspiro não mais a largou. Então, de repente, ritmando as sílabas com o
dedo, foi dizendo o que seria suas últimas palavras à Comunidade: “Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja
sempre louvado e exaltado o Senhor!” (A.p.445).
Foi como um
último raio de sol de um fim de tarde, esta sua exortação final antes de deixar
a terra. Durante toda a noite, só teve uma oração: “Tenho de voltar à casa do pai! Deixem-me ir para a casa!”
(A.p.445).
ORAÇÃO
Deus, nosso
pai, a Bem-aventurada Maria Teresa de São José, dedicou sua vida pela expansão
do Vosso Reino.
Nós Vos agradecemos, porque sempre de novo existem
pessoas, que querem seguir Vosso Filho de maneira incondicional tanto quanto
possível, ainda que com isso suas vidas se tornem uma Via Sacra. Madre Maria
Teresa foi instrumento em Vossa mão. Ela queria dar proteção às crianças que
não tinham Lar, aos solitários queria dar calor e amor, a todos os sofredores
consolo e ajuda.
Antes de sua morte ela expressou o desejo: “Do alto
dos céus poder ainda enxugar lágrimas, curar as feridas das almas”. Por sua
intercessão nós Vos pedimos, Pai todo-poderoso e amoroso, que nos ajudeis em
nossa necessidade..... Aceitai nossa oração e dai-nos a grande graça, de nos
deixarmos guiar por Vós, durante toda a nossa vida. Isso Vos pedimos por Jesus
Cristo, nosso Senhor. Amém.
As graças recebidas por intercessão da
Beata Madre Maria Teresa de São José devem ser comunicadas na casa provincial
do Brasil:
Casa Nossa
Senhora do Carmo - Rua Gaspar Gomes da Costa, nº 683
B. Cidade Nova
Jacareí, Jacareí - SP - CEP: 12 300 – 970 – Cx postal 11
Tel: (12)
3956-1080
E-mails:
carmelojacarei@uol.com.br -
vocarmo@ig.com.br
3 comentários:
Belíssimo relato... Adorei!!! :)
Muito linda e emocionante a trajetória de Madre Maria Teresa! Me senti tocada com o relato!
Que linda História! É também uma inspiração para quem está deixando o protestantismo e se convertendo à igreja Verdadeira(estou nessa situação e peço que orem por mim e minha família)!
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