Chamado de “o
protetor de Nápoles”, eminentemente “franciscana”, Francisco Pontillo nasceu em
Taranto, na Puglia, em 16 de novembro de 1729, filho de Cataldo e de Grazia
Procaccio, em uma casa humilde, em uma das muitas vielas sinuosas da velha
cidade medieval.
Sua família era
composta de artesãos modestos, que apesar do penoso e extenuante trabalho,
tinham magros rendimentos. No santo batismo recebeu o nome de “Francisco
Antônio Pascoal”, grandes nomes da Ordem Seráfica, prenúncio de que no futuro a
abraçaria, na época de uma rígida reforma (franciscanos alcantarinos) promovida
por místicos. São Pedro de Alcântara, um dos primeiros em magnitude, foi sua
estrela. De São Francisco de Assis, foi grande imitador na pobreza. De Santo
Antônio, parecia imitador no tocante aos milagres e de São Pascoal Baylon
imitou o fervor eucarístico.
Desde a
infância, cresceu aumentando cada dia mais o fervor ao Santíssimo Sacramento, a
prática da comunhão frequente, as visitas diárias ao tabernáculo e a devoção a
Nossa Senhora, rezando devota e diariamente o Santo Rosário.
Provavelmente
nunca soube o que é uma escola. Desde menino, foi enviado a trabalhar em uma
loja como “serviços gerais”, para ganhar seu sustento. Também no trabalho,
mantinha sempre uma atitude devota. Antes do início da labuta, ia bem cedo à
igreja para assistir a Santa Missa. Cada tarefa que lhe ordenavam, iniciava
fazendo piedosamente o Sinal da Cruz. Seu mestre uma vez disse: “desde que
tenho comigo o Francisco que minha loja se tornou um oratório”.
Aos 18 anos, seu
amado pai faleceu. Superando a dor aguda, passou a ser o apoio para sua família
pobre, que incluía sua mãe e três irmãos mais novos. Deixou a antiga loja de
artesanato em cordas (era cordoeiro) e conseguiu trabalho em outra maior e mais
rentável. Após separar o suficiente para o sustento de sua família, uma parte
de seus ganhos, dava-os aos pobres, para não manter qualquer coisa para si.
Sua mãe contraiu
pela segunda vez o matrimônio, para grande desprazer de Francisco. Mas, os
desígnios de Deus tornaram-se bem claros e definidos. Seu padrasto o tirou de
seus deveres como arrimo de família, dando-lhe a disponibilidade de seus
ganhos, tornando assim mais fácil a implementação de seu sonho de se fazer
religioso – vocação que desde a adolescência havia florescido nele e que a
morte repentina de seu pai havia atrasado.
A 27 de
fevereiro de 1754, aos 24 anos, entrou para os Franciscanos Alcantarinos de
Taranto, onde foi recebido como irmão leigo. Em Galatone fez o noviciado,
mudando o nome para Frei Egídio da Mãe de Deus. Neste ambiente de treinamento e
de grande perfeição religiosa, sentiu-se bem à vontade, encantado com tanta
pobreza, tanto fervor e tanta paz interior, despertando assim a admiração e o
carinho de seus superiores e dos confrades.
No convento de
Santa Maria delle Grazie, em Galatone, após julgamento de seus superiores e
formadores, em 28 de fevereiro de 1755 fez a profissão solene, emitindo os
votos de pobreza, obediência e castidade. Na ocasião, seu nome religioso foi
modificado para Egídio Maria de São José.
Depois de um
período em Galatone, foi transferido para a comunidade de Squinzano. Em 1759, será
transferido pelo superior para o convento de São Pascoal, em Nápoles, o que
tornará a cidade ainda mais famosa e conhecida, com a santidade de sua vida.
A princípio,
tinha a atribuição de cozinheiro. Em seguida, trabalhou na confecção de lã do
mosteiro e, finalmente, o serviço de porteiro, ofício esse que, de acordo com
as regras dos “alcantarinos” era confiado apenas ao melhor dos irmãos leigos,
visto que o modo de se comportar dos porteiros – em relação a bem receber e a
bem lidar com os leigos que atendem – resulta na estima e no bom nome dos
frades.
As boas vindas,
a paciência, o amor que ele tinha para com os pobres, que naquela grande cidade
eram numerosos e reuniam-se diariamente à porta do convento, garantiu que o seu
nome e suas virtudes fossem exaltados por esses mesmos pobres e se espalhassem
por toda Nápoles.
Tudo isso
convenceu a seus superiores que Frei Egídio era uma lâmpada que não poderia ser
mantida escondida e, portanto, com as virtudes que dele emanavam e com o brilho
de suas palavras e comportamento, poderia ser mais útil para a glória de Deus,
trazendo almas para Sua misericórdia. Assim, confiaram-lhe a tarefa da
mendicância (trabalho muito valorizado naqueles tempos entre os frades
franciscanos, que ocupou durante 50 anos).
A partir daquele
momento, Egídio será sempre encontrado por todas as ruas, becos, praças,
bairros e casas de Nápoles, passando a maior parte do dia andando por esmolas
(para o convento e para ajudar os pobres). Mas, sua visita era muito mais uma
visita de caridade e de bom exemplo que a simples coleta de alimentos para sua
sacola.
Retornava de
suas andanças e visitas, devido a sua personalidade sensível e apaixonada pelas
almas, com o coração cheio de lágrimas e de dores. Assim, depois das orações no
coro, ia chorar à noite, diante da Madonna Del Pozzo (título mariano venerado
no convento), implorando saúde para os doentes, providência para as famílias
pobres e paz para os infelizes. Pedia também à Virgem Maria a graça do arrependimento
para os opressores do povo, para que fossem perdoados e também eles pudessem
ser salvos.
Sua presença era
muito desejada à cabeceira dos doentes e dos moribundos. A todos procurava
socorrer com suas orações, seus conselhos, palavras de exortação e de bom
ânimo. Ricos e pobres encontravam nele conforto e esperança em suas tribulações
e dificuldades da vida.
O humilde frade
tornou-se também famoso pelos muitos milagres que o Senhor se dignou realizar
por sua intercessão. Utilizava-se da relíquia de São Pascoal para realizar
grandes prodígios. Foram tão numerosos, bem documentados e descritos que foram
suficientes para formar muitas páginas no processo canônico para sua futura
beatificação e canonização.
Profecias,
previsões, curas repentinas, aparições de objetos, de frutas, de peixes,
ressurreições de mortos, multiplicações de alimentos, etc. Tudo isso o fizeram
muito popular em Nápoles, a tal ponto que, durante a ocupação francesa, as
autoridades temiam possíveis revoltas causadas pela grande multidão que muitas
vezes o seguiam caso seu livre trânsito fosse impedido.
Dentre muitas
histórias, cito aqui um episódio, um dos mais conhecidos e pitorescos. Os
frades de São Pascoal tinham um bezerro que andava pelas ruas de Nápoles e era
conhecido por todos, pois tinha uma placa de metal com o nome de “Catarinella”.
O bezerro, como foi dito, andava pela cidade e, no final do dia, retornava. Um
dia, porém, isso não aconteceu. Os irmãos, angustiados, reportaram-se a Egídio,
preocupados com o sumiço do bezerro.
Na manhã
seguinte, foi direto para uma área da cidade usada como matadouro chamado “Pignasecca”
e, sem preâmbulos, diz firmemente ao açougueiro: “pegue a chave e a lanterna e
siga-me para dentro da caverna. Lá encontraremos Catarinella”. A caverna era o “refrigerador”
daquele tempo. O açougueiro vilão foi tomado de tão grande medo que não se opôs
à ordem. Lá encontraram o bezerro morto, dissecado e sem pele. Frei Egídio
mandou esticar a pele, colocar dentro todas as partes e peças de acordo com sua
localização natural e costurou as bordas da pele em conjunto com as partes
dentro da mesma. Depois, para assombro dos que viram o prodígio, desenhando no
ar um grande sinal da cruz e disse: “em nome de Deus e de São Pascoal, suba,
Catarinella, para convento”! Houve um grande rugido, moveram-se todos os
membros e o bezerro saltou vivo e bem, como antes. O clamor era enorme! O bezerro
foi acompanhado em procissão a partir de Pignasecca até o convento de São
Pascoal.
Sofrendo já por
muito tempo de dor ciática severa, a irmã morte veio ao encontro do Santo.
Atingido também por sufocação por asma, logo em seguida foi acometido por uma “hidropisia”
no peito. Tudo suportou em paz, resignação e confiança em Deus.
Encomendando-se
a Maria, morreu em 07 de fevereiro de 1812, entre os gritos de dor de toda a
cidade de Nápoles, que lamentou a morte de seu Santo. Seu corpo foi sepultado
na igreja do Convento de São Pascoal.
Procissão com a imagem de Santo Egídio Maria de São José em Taranto, sua cidade natal. |
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