“Contemplativo
e ativo; temperamento de chefe e pobre homem; extraordinário em certas graças e
ordinário no cotidiano; determinado a caminhar e paciente; impregnado de vida
sobrenatural e atento aos mínimos detalhes da vida material (desde o corte da vinha
até a construção de edifícios importantes); pai espiritual e filho de Deus;
forte e fraco; exigente e cheio de bondade paterna; inspirador, às vezes, de
temor e atraente por seus fortes carismas; ávido de solidão e apóstolo
percorrendo o mundo; escritor prolixo e fundador profético; batalhador e calmo;
camponês e teólogo; mortificado e livre de tudo; pregador incansável e ávido de
oração; sofrendo e se entusiasmando sempre; místico e apreciador do rir,
herdeiro da grande Tradição católica e aberto ao mundo moderno”.
(Guy Gaucher)
FAMÍLIA
Nasceu em 02 de
dezembro de 1894 no Gua, cidadezinha situada na região de Aveyron no sul da
França e foi batizado no dia 13 de dezembro do mesmo ano. Frei Maria Eugênio do
Menino Jesus, no século, Henrique
Grialou, era o terceiro de uma família de 05 irmãos. Seu pai, Augusto
Grialou, trabalhava numa mina de carvão e sua mãe, Maria, em um pequeno
restaurante que ela mesma havia aberto em sua casa e que ela irá abandonar em
seguida para melhor cuidar dos seus filhos. Muito cristãos e com poucos
recursos, foram Augusto e Maria que construíram com as próprias mãos, a casa da
família onde todos viviam numa atmosfera de pobreza, ternura e fé católica.
Em agosto de
1904, atingido por uma pneumonia, Augusto morre deixando os filhos: Mário, o
mais velho com 15 anos, Ângela com 11 anos, Henrique com 10 anos, Fernanda com três
anos e Berta ainda bebê com apenas um ano. O próprio Henrique será o padrinho
de batismo desta última.
Sem o marido,
Maria vai trabalhar dobrado para sustentar a família. Muitas vezes, como
lavadeira de roupas, ela deverá quebrar o gelo do reservatório de água que o
frio congelara, antes de começar o trabalho ao ar livre como se fazia na época.
CHAMADO AO
SACERDÓCIO
Ainda jovem, o
menino Henrique sente o chamado para o sacerdócio e vai tomar as iniciativas
necessárias para levar a termo o “sim” que ele dará a Deus antes de seus 11
anos.
Ciente da
vocação de Henrique, o padre da sua paróquia quer que ele estude no seminário
de Graves, mas as condições financeiras da família não lhe permitem. Henrique,
que tem apenas 11 anos, vai aproveitar a visita de um sacerdote da Congregação
do Espírito Santo que passa pela região para aceitar o convite de fazer seus
estudos fora da França, pois os religiosos tinham sido expulsos pela República
Francesa.
Em 1905, ele
tomará sozinho o trem para Susa na Itália e aí ficará cerca de três anos sem
poder rever a família. No entanto, ele perceberá que esta congregação não
corresponde à sua vocação e ele voltará então, à sua cidade natal.
Em 1908,
Henrique descobre o livro da vida de uma carmelita que se tornará para ele, uma
grande amiga e que o acompanhará para sempre: a Irmã Teresinha do Menino Jesus,
ainda em processo de beatificação .
No dia 2 de outubro de 1911, graças à sua mãe Maria que, muito batalhadora, decide pagar os seus estudos, ele entrará para o seminário de Rodez, não muito longe do Gua e começará uma etapa de discernimento buscando a vontade de Deus para a sua vida.
Henrique será
tido como um seminarista exemplar, cheio de ardor espiritual mas também muito
generoso e preocupado com os outros.
Reconhecendo a
importância deste período de formação ele dirá:
“Durante o seminário é preciso reservar força e
coragem; acender em nossos corações uma brasa de amor que nada possa apagar”[1].
PRIMEIRA GUERRA
Em 1913,
Henrique deverá interromper seus estudos de teologia para se preparar para
partir para a guerra como cabo de infantaria, no dia 3 de agosto de 1914.
Poucos dias
depois, ele será atingido por uma bala no rosto que não lhe causará graves
problemas. Ele atribui a sua sobrevivência nesta e em todas as outras situações
de perigo à proteção da Irmã Teresinha do Menino Jesus:
“A Irmã Teresa
afasta as balas!”
Ele se oferecerá
para voltar para a frente de combate e substituir um soldado, pai de quatro
filhos.
Corajoso, ele
será nomeado tenente e conquistará a admiração de seus soldados. Ele vigiará
sobre as condições alimentares de cada um e criará atividades extras para
ocupá-los no tempo livre e evitar que eles se entreguem a atitudes imorais
bastante comuns naquelas condições de guerra.
Depois de 04
anos, ele voltará da guerra condecorado por sua coragem e intrepidez.
SEMINÁRIO
Em outubro de
1919, Henrique Grialou pôde finalmente retomar os estudos no seminário de
Rodez. Ele que já conhecia muito bem a Irmã Teresinha do Menino Jesus, vai aí aprofundar
a sua amizade com o Carmelo através das leituras de São João da Cruz e de Santa
Teresa de Jesus.
Em seu retiro
para o subdiaconato, ele se sentirá extremamente tocado pela leitura de uma
pequena biografia de São João da Cruz e decidirá de mediato a entrar para a
Ordem do Carmelo respondendo ao chamado de uma entrega absoluta que já habitava
o seu coração.
Depois da
decisão tomada, será preciso enfrentar duas provações principais que ameaçavam
a realização dos projetos de Deus na vocação de Henrique: uma forte resistência
do seu diretor espiritual, o Padre Belmon que não queria ouvir falar em Carmelo
para ele; e a grande oposição de sua mãe que ameaçava de se suicidar caso o seu
filho se fechasse em uma congregação de clausura. Ela imaginava que se Henrique
fosse padre diocesano, ela poderia participar mais de perto da sua vida mas, se
ele entrasse para o Carmelo, ela seria privada definitivamente desta
proximidade.
No dia 04 de
fevereiro de 1922 ele será ordenado sacerdote e apesar das grandes
contradições, experimenta uma profunda alegria:
“Eu sou Padre! Padre por toda a eternidade! Eu
repito essas palavras hoje sem me cansar experimentando a cada vez, uma alegria
nova… E amanhã, (dia em que presidirá sua primeira missa), à minha voz, tu
virás, eu te segurarei em minhas mãos e te darei…Jesus, tu serás meu amanhã e
todos os dias da minha vida. E a ti, oh Virgem Maria, eu devo tudo, pois tu és
minha mãe e enquanto eu for padre eu quero continuar sendo teu filho”[2].
Pela sua
paciência e obediência, ele obteve a permissão do diretor espiritual para
entrar na Ordem do Carmelo. Quanto à sua mãe, procurava consolá-la e
fortalecê-la através de cartas muito carinhosas e espirituais, mas só depois de
muito tempo, com a ajuda de Berta, sua irmã mais nova, dona Maria recobrou a
confiança.
O CARMELO
O dia de sua
chegada será marcado por uma reflexão profunda sobre as palavras de Jesus a
Nicodemos: “Em verdade vos digo, ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer
de novo”[3]. Ele as tomará para si e dirá: “Essas
palavras são luminosas para mim hoje. Eu preciso renascer completamente em uma
vida nova[4]”.
Como religioso
carmelita, ele recebe o nome de Frei
Maria Eugênio do Menino Jesus, fato que será para ele, uma prova de que
mais que uma amiga, Santa Teresinha agora é sua irmã.
Sacerdote, homem
maduro, ex-tenente de guerra, ele tem 28 anos e começa a sua primeira etapa de
formação no Carmelo.
Ele viverá o seu
noviciado completamente entregue à vida de oração e através dela, ele
aprofundará a sua amizade com Deus segundo os ensinamentos dos santos do
Carmelo.
“A oração é de uma certa maneira, o sol e o centro
de todas as atividades do dia. Todas as noites, temos a impressão de ter feito
somente isso de importante[5]”.
Adepto à penitência e à mortificação, ele colocará
sua saúde em risco e será obrigado por seus superiores a abandonar tamanha
austeridade. Ele confessará mais tarde, ter chegado ao extremo de suas forças.
Foi com a descoberta da pequena via da irmã Teresinha do Menino Jesus, que o
Frei Maria Eugênio compreende que “não se
deve matar as forças da natureza – como dizia o seu mestre de noviço – mas, purificá-las a serviço do amor”.
Este período
onde ele se alimentará particularmente
da doutrina dos santos do Carmelo, coincidirá com três momentos importantes
para a Ordem e para a Igreja: a beatificação da irmã Teresinha do Menino Jesus
(29 abril 1923) e sua canonização (17 março 1925); e o doutorado de São João da
Cruz (24 agosto 1926).
Entre 1924 e
1928 ele vai morar no convento de Lille (capital do Norte da França) e já com
maturidade e experiência suficientes, ele fará muitas conferências sobre os
santos do Carmelo em vários conventos, igrejas e monastérios colocando a
serviço de Deus o seu dom de pregador.
Aí, ele estabelecerá muitos contatos com filósofos, intelectuais e até
industriais da região.
Em 1925, ele
será nomeado diretor da revista “Carmelo”
onde ele mesmo escreverá alguns artigos dignos da admiração dos mais
entendidos. Ele utilizará, com sucesso, a divulgação desta revista nos Carmelos
da França para favorecer a união entre os carmelos feminino e masculino que
viviam uma espécie de separação desde o século XVII na França.
No dia 11 de março de 1926, ele fará sua profissão solene acompanhado por Berta que, no dia seguinte, entrará
para a Ordem Terceira do Carmelo recebendo o nome de “Maria Eugênio”.
Para Frei Maria Eugênio, a doutrina do Carmelo é um
“tesouro” e não deve se limitar aos religiosos. Ele tem sede
de divulgá-la ao mundo para que todas as pessoas possam conhecer o Deus de amor
que está vivo, presente em cada pessoa pela graça do batismo e com quem se pode
estabelecer um contato de amizade de maneira muito simples, particularmente
através da oração.
No dia 14 agosto
de 1928 ele é nomeado superior de um seminário menor dos carmelitas, o Petit
Castelet, situado em pleno campo, perto da pequena cidade de Tarascon. Ele
aceitará a nomeação com dor, mas, também com espírito de fé e grande confiança
nos desígnios de Deus.
Com efeito, em
1929, ele receberá a visita de 03 moças, professoras e responsáveis de uma
escola em Marselha que desejam entregar suas vidas a Deus e receber a ciência
da oração carmelitana.
Frei Maria
Eugênio verá nesta visita, uma resposta às suas intuições interiores.
Ele espera com
paciência o momento oportuno de colocar em prática seus projetos e atende ao
pedido de estabelecer em Marselha, cursos de oração para um público de
filósofos e professores da Universidade de Aix-Marseille apaixonados pela
espiritualidade do Carmelo.
A FUNDAÇÃO DO INSTITUTO NOSSA SENHORA DA VIDA
Em 1931, uma
senhora de sobrenome Lemaire, oferece ao Carmelo, um terreno localizado em meio
às colinas e á floresta do vale de Venasque, cidadezinha do território de
Vaucluse, evangelizada por São Sifrein no século VI.
Com a doação do
terreno, a senhora Lemaire doará também, o santuário de Nossa Senhora da Vida
aí presente também desde o século VI aonde muitos peregrinos vinham realizar as
suas devoções à Virgem Maria consagrando os seus filhos a ela, ou pedindo por
eles a cura em situação grave de saúde.
Certo dia, as 03
professoras que haviam visitado o padre no Petit Castelet procuraram-no para
realizar uma atitude de dom de si mesmas mais concreta: “Nós vos oferecemos tudo o que temos. Diga-nos o que devemos fazer , e
nós o faremos[6]”.
A providência
mostrava assim que a intuição do Frei Maria Eugênio correspondia à vontade de
Deus e o Instituto Nossa Senhora da Vida começava a dar seus primeiros passos
com a aprovação da Igreja através do arcebispo de Avignon.
Fundado em 1932,
sem muitos recursos materiais nem regras precisas, a única certeza do fundador
era de fazer a vontade de Deus. As regras e constituições virão com o passar do
tempo e a experiência dos primeiros anos.
As três
pioneiras serão: Germaine Romieu, Joana Grousset e Maria Pila que será o braço direito do frei Maria Eugênio e co-fundadora
do Instituto.
As três vão
começar por abandonar o trabalho durante um ano e retirar-se em Nossa Senhora
da Vida para um período de formação e recolhimento. Elas o farão, cada uma em
um ano diferente, permitindo que a escola em Marselha continue a funcionar.
Assim, o
Instituto começa a se modelar segundo os desejos do padre Maria Eugênio de
formar “apóstolos contemplativos”, ou seja,
homens e mulheres que, abastecidos pelo Espirito Santo através da oração
cotidiana, testemunham no seu trabalho e em todos os lugares, a existência de
Deus e o Seu amor por todos os homens.
Beato Maria-Eugênio e Maria Pila, sua grande colaboradora, verdadeiro braço direito, na fundação do Instituto. |
AS MUITAS
FUNÇÕES NO CARMELO: TRABALHANDO PELA IGREJA
Apesar da sua
fundação (o Instituto Nossa Senhora da Vida), Frei Maria Eugênio não abandonará
suas atividades na Ordem do Carmelo, mas, ao contrário, ele passará toda a sua
vida servindo-a não obstante todas as dificuldades. Isso exigirá dele, trabalho
dobrado, pois ele deverá atender às muitas solicitações dos Carmelos da França
e no exterior e também, dar atenção e uma formação sólida aos membros do seu
Instituto. Em 1932 ele será prior do Noviciado de Agen e confessor das
carmelitas de Avignon e de Carpentras, duas cidades próximas de Venasque.
Este ministério,
o acompanhará até o fim da sua vida, o que o permitirá adquirir uma vasta
experiência como diretor espiritual. Herdeiro da sabedoria da santa Madre
Teresa de Jesus, ele tinha facilidade para conduzir as almas, o que fará uma
carmelita (irmã Maria do Salvador) acompanhada por ele durante 40 anos dizer
que: “ele tinha: um julgamento esclarecido por seus profundos conhecimentos psicológicos”.
(Un maître
Spirituel. Le Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus)
Ainda jovem ele
será conhecido como o “alma de fogo”[7] tal era o seu entusiasmo pelas coisas
de Deus; mas também será tido como um homem muito concreto, com os pés no chão,
capaz de discutir sobre as necessidades materiais dos Carmelos e dos
religiosos.
Com um forte
sotaque de Aveyron, ele será por vezes desprezado pelos intelectuais da época.
No entanto, Frei Maria Eugênio os surpreenderá com a sua simplicidade e
inteligência mostradas em suas conferências que, aliás, eram cheias de ardor e
com uma pitada de bom humor bem dosada para divertir o público. Ele gostava de
rir e de contar histórias para ajudar na compreensão dos assuntos espirituais e
para isso, fazia referência a objetos ou aos elementos da natureza:
“A fé é uma antena, ela toca Deus que reage mas nós
não sentimos nada. A fé é obscura. Nós temos vocação de coruja.” (Regue M. R
Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo )
No ano de 1936
ele será nomeado prior do Convento de Estudos de Monte-Carlo e também dará
aulas de Direito Canônico e de História da Filosofia.
Em 1937, grande
alegria para o Frei Maria Eugênio: depois
de cinco anos de fundação, a Igreja reconhece oficialmente o Instituto Nossa
Senhora da Vida como Fraternidade Secular da Ordem Terceira de Nossa Senhora do
Monte Carmelo e de Santa Teresa.
No dia 17 de
abril de 1937, aos 43 anos, Frei
Maria Eugênio do Menino Jesus será nomeado Definidor
Geral da Ordem e ele manterá esta função até o ano de 1955.
Este período foi
marcado por muitos acontecimentos importantes.
Em novembro de
1937 morre a sua mãe Maria Grialou.
Em 1939, Berta
Grialou, antes muito indecisa, resolve entrar para o Instituto Nossa Senhora da
Vida. Irmã do fundador, os dois manterão uma grande discrição a este respeito
para não provocar ciúmes aos outros membros da comunidade.
Neste mesmo ano,
a II Guerra Mundial intervirá novamente na vida do Frei Maria Eugênio.
Tenente durante
a I Guerra, ele agora é convocado como capitão.
Suas funções
como Definidor deverão esperá-lo até o ano de 1940 quando ele será liberado da
guerra.
Suas principais
preocupações agora são, mais uma vez, os soldados tratados por ele com
exigência e paternidade. Um exemplo concreto é o “Lar do Soldado”, espaço
criado pelo Frei onde eles podiam assistir às peças de teatro, filmes, ler bons
livros e também encontrar uma boa comida. Um deles dirá: “Para mim Grialou é o Bom Deus”[8].
Liberado da
guerra ele pode retomar suas atividades no Carmelo mas, tudo não está
resolvido; a guerra não terminou e quase não há trens para ir a Roma. Obrigado
a ficar na França, Frei Maria Eugênio não perderá tempo. Aproveitará para
visitar os Carmelos não destruídos, confortando os religiosos e religiosas e
somente no ano de 1941, ele pregará em cerca de 21 retiros.
Em 1945 a guerra
termina e em 1946 ele retornará a Roma.
Março de 1947: o Instituto Notre Dame de Vie será
agregado a Ordem do Carmelo. Futuramente, Frei Maria Eugênio dirá:
“Para separar o Instituto Nossa Senhora da Vida do
espírito do Carmelo, seria preciso queimar a sua Regra”[9].
A experiência do
Frei (viagens, conferências, conversações e estudos) lhe ajudará a entender
que, independente da nacionalidade ou da cultura, todas as pessoas têm sede de
Deus. Assim, apesar de todas as suas responsabilidades e do cansaço devido às
viagens, ele publicará a 1ᵃ parte do livro “Eu Quero Ver a Deus” em 1949 e
acrescentará a 2ᵃ parte “Eu sou Filha da Igreja” em 1951. As
duas partes formarão uma só resposta ao desejo do homem de buscar o seu Criador
caminhando progressivamente até chegar a um “mundo novo”[10] onde se encontra a
perfeição do amor.
Em 1951 o Papa
Pio XII quer que as carmelitas consagrem uma hora por dia para o catecismo,
pois ele acredita que, com a sua boa formação, elas poderiam ajudar os
sacerdotes indo ao encontro dos catecúmenos.
Definidor da
Ordem, carmelita fiel até as entranhas, Frei Maria Eugênio reage. A vida contemplativa
do Carmelo está ameaçada. Ele não deseja contrariar o Santo Padre; “se fosse preciso escolher entre o Carmelo e
a Igreja, eu escolheria a Igreja” [11], disse ele certa vez; mas, quer
ajudar o Papa no discernimento desta decisão importantíssima para o Carmelo e a
Igreja. Ele tratará da questão com sofrimento e submissão e finalmente, o
Carmelo conservará a clausura.
Em 1954, morre o
Vigário Geral do Carmelo e é Frei Maria Eugênio então I Definidor da Ordem quem
irá substituí-lo.
Será em uma de
suas viagens como Vigário Geral que ele visitará as Filipinas e que Nossa
Senhora da Vida começará a se difundir pelo mundo por aí começando. O Instituto
se instalará em seguida, na Alemanha e no México chegando progressivamente ao
número de mais de 20 países até os dias atuais.
Em 1955, o
Capítulo Geral da Ordem não reelegerá Frei Maria Eugênio como Vigário Geral
provavelmente por causa da sua personalidade exigente e sua fidelidade ao
espírito do Carmelo. Assim, ele voltará ao Petit Castelet na França e, como um
simples religioso, ele participará das recreações com os outros, ajudará nos
serviços de limpeza do monastério, será leitor durante as refeições, etc.…
Ritmo de vida a qual ele se adaptará facilmente, mas que durará apenas seis
meses pois ele será eleito prior.
Homem espiritual
e pragmático, ele se preocupa até mesmo com a preparação dos retiros realizados
no Petit Castelet. Para ele, existe uma estratégia de sucesso: dormir e comer
bem, garantem um êxito de 75%.
Em 1957 ele será
nomeado Provincial dos carmelitas de Avignon-Aquitaine.
No dia 2 de
janeiro de 1958, mais um momento de sofrimento para o Frei Maria Eugênio,
causado pela morte de sua irmã Berta, vítima de uma crise cardíaca. Ele mesmo
testemunhará a seu respeito: “Eu ensinei
e ela realizou” e falando de seus próprios sentimentos:
“A paternidade espiritual, assim como a maternidade
espiritual, encontra a sua fecundidade nas feridas do coração…A fecundidade
jorra dessas feridas”[12].
Em 1961 ele
conseguirá uma autorização para morar em Nossa Senhora da Vida.
ÚLTIMOS ANOS
Em 1965, uma
pneumonia grave o fará pensar que o fim de seus dias se aproxima e ele chamará
toda a comunidade de Nossa Senhora da Vida para revelar-lhe alguns segredos
profundos do seu coração e deixar-lhe o seu testamento espiritual:
“Vocês
perceberam provavelmente que quando eu falo do Espírito Santo, eu me inflamo
muito facilmente. Eu O chamo meu Amigo e creio ter razões para isto…Eu quero
pedir para vocês o Espírito Santo. Este é o testamento que eu vos deixo! Que
Ele desça sobre vocês e que vocês possam dizer o mais rápido possível que o
Espírito Santo é vosso amigo, vossa luz e vosso mestre. Esta é a oração que eu
vou continuar a fazer nesta terra enquanto o Bom Deus me deixar aqui e que eu
continuarei certamente durante a eternidade”[13].
Esta pneumonia
não tirará sua vida nem o impedirá de trabalhar pela Igreja durante o tempo que
lhe resta e apesar do cansaço, enquanto Provincial, ele continuará a visitar os
Carmelos, a fazer conferências, ademais, ele continuará a acompanhar de perto o
grupo e Nossa Senhora da Vida que agora está bem estruturado com suas três ramificações, sendo duas para leigos (homens e mulheres) consagrados e a terceira para sacerdotes diocesanos. Todos comprometidos com
uma vida de oração intensa e a serem testemunhos de Deus para todos, guardando
o duplo espírito de “ação e contemplação bem unidas” como o dizia o fundador.
Em 1967 atingido
por um câncer de próstata que ele chamará de “um pequeno acontecimento [14]”, Frei Maria Eugênio deverá deixar
suas atividades definitivamente, mas continuará a responder a algumas cartas e
a concelebrar as missas.
Neste período,
ele contará ter passado por vários combates contra o demônio. No entanto, a sua
amizade com a Santíssima Trindade é cada vez mais forte:
“Ontem durante os exames eu rezei todo o tempo em
cima da mesa. Perguntaram-me se eu tinha dores…Claro que sim, na coluna
vertebral, em todo o corpo…Mas isso não importa. Eu estava com a Santíssima
Trindade”[15].
Ele passará o
Tríduo Pascal em grande agonia e no dia
27 de março (segunda-feira de Páscoa) de
1967 aos 73 anos, Frei Maria Eugênio entra na vida eterna.
Misteriosa “coincidência”, as segundas-feiras de Páscoa eram
festejadas no Instituto como o dia de Nossa Senhora da Vida. Data escolhida
pelo próprio Frei.
EXTENSÃO
Seria impossível
descrever todas as obras realizadas pelo Frei Maria Eugênio e aquelas criadas
depois da sua morte, extensão do seu amor pela Igreja e pelas almas. As citadas
aqui são as obras principais ou aquelas que contribuem ao conhecimento da
personalidade do Frei Maria Eugênio.
Sem dúvida, o
Instituto Nossa Senhora da Vida será a sua maior obra e a “mãe” de uma série de
outras obras que contarão com o trabalho e oração dos seus membros.
É interessante
citar a escola “Chênes” pertencente à cidade de Carpentras, fruto de uma
preocupação do Frei pelo nível social das jovens daquela época (1943), que lhe
parecia inferior ao dos rapazes. Frei Maria Eugênio queria dar uma formação a
essas moças do meio rural para capacitá-las ao trabalho e às exigências
impostas às mães de família na época.
Atualmente, a
escola continua o seu trabalho, abrangendo também a formação de rapazes.
No domínio da
educação, certo número de escolas na França e no mundo será estabelecido,
oferecendo além do ensino habitual desde o primário até o colégio, uma formação
cristã sólida, sobretudo através das preparações para a primeira comunhão e
para a crisma.
Outra obra
importante e atualmente em crescimento deve ser mencionada:
Preocupado com a
formação e santificação dos padres, Frei Maria Eugênio falava em “escola de
teologia mística” [16]. Realização que ele verá do céu através da criação do
Studium de Nossa Senhora da Vida, instituto de formação teológica e espiritual
agregado à Faculdade de Teologia do Teresianum (Roma), o Studium propõe um
ensinamento teológico universitário e inseparavelmente uma formação enraizada
na vida espiritual.
PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO/CANONIZAÇÃO
Aberto no dia 07
abril 1985, o processo de canonização do Frei Maria Eugênio caminha lentamente
e enfrenta as dificuldades comuns encontradas nesses trabalhos tão complexos e
exigentes. No dia 19 de dezembro de 2011 o Santo Padre Bento XVI assinou o
decreto que reconhece as virtudes heroicas do servo de Deus, passando a ser
chamado de Venerável Maria-Eugênio do Menino Jesus.
Aprovado o
milagre para sua beatificação, o Venerável Servo de Deus, por decreto do Papa
Francisco, foi solenemente proclamado BEATO em cerimônia presidida pelo
Arcebispo de Avignon, França, no dia 19 de novembro de 2017.
CONCLUSÃO
Terminemos esta
pequena biografia do Frei Maria Eugênio deixando além da história, um retrato
completo da sua personalidade marcada por muitas oposições e indo ao encontro
do que ele mesmo dizia: “O mundo espiritual é cheio de aparentes contradições.” (Guy Gaucher ).
BIBLIOGRAFIA
[1] GAUCHER G.
La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel,
2011. 368p.
[2] GAUCHER G.
La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel,
2011. 368p.
[3] Jn 3.1-8
[4] GAUCHER G.
La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel,
2011. 368p.
[5] Ibid
[6] ESCALLIER C. Marie Pila, Une puissance d’amour
non-asservie. Editions du Carmel. 1996. 191p.
[7] Revue du Carmel. Un maître Spirituel. Editions du
Carmel. 1988. N°51. 360p.
[8] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant
Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[9] Ibid
[10] Marie
Eugène de l’Enfant Jésus. Je veux voir Dieu. Editions du Carmel, 1998. 1150p.
[11] HUBER M.-Th. Les sommets de l’amour, Éd. Fayard, Le Sarment, Paris, 1991, 168 p.
[12] REGUE R.
Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo:
Edições Carmelo. 140p.
[13] GAUCHER G.
La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel,
2011. 368p.
[14] Ibid
[15] Ibid
[16] Lettre 20- Cause Canonisation
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