Creio que muitos devem conhecer a Venerável Serva de Deus Madre Maria de Ágreda, virgem da Ordem da Imaculada Conceição. Esta grande mística e, com certeza, grande "santa no Céu", colocou suas visões e revelações sobre as vidas de Maria e de Jesus em seu maravilhoso livro: "Mística Cidade de Deus", de leitura obrigatória a todos os filhos e devotos de Maria, se desejam conhecer detalhes sobre sua santíssima vida e pessoa. Hoje, quinta-feira da Semana Santa, trago aos leitores do blog o impressionante relato da Instituição da Eucaristia, que ocorreu na Santa Ceia, no Cenáculo, na véspera da Paixão do Senhor. São palavras de "fogo". Leiam com muita calma, saboreando cada palavra.
Instituição da Eucaristia.
Havendo
decorrido o que tenho dito Cristo, nosso Senhor, tomou em suas veneráveis mãos
o pão que estava no prato. Intencionalmente, pediu ao Altíssimo que, naquele
momento e depois na santa Igreja, estivesse real e verdadeiramente presente na
hóstia, em virtude das palavras que ia pronunciar. Em seguida, elevou os olhos
ao céu, com semblante de tanta majestade, que produziu aos anjos, aos apóstolos
e à mesma Virgem Mãe, novo temor reverencial.
Pronunciou as
palavras da consagração do pão, transformando-o, por transubstanciação, em seu
verdadeiro corpo Depois tomou o cálice e consagrou o vinho em seu verdadeiro
sangue.
No momento em
que Cristo terminou de pronunciar as palavras, disse o eterno Pai: Este é meu
Filho muito amado em quem tenho minha complacência e a terei até ao fim do
mundo; e Ele ficará com os homens, todo o tempo que durar seu desterro. O mesmo
foi confirmado pela pessoa do Espírito Santo.
A humanidade santíssima de Cristo, na pessoa do Verbo, fez profunda reverência à Divindade no Sacramento de seu corpo e sangue.
Em seu retiro, a
Virgem Mãe prostrou-se em terra e adorou seu Filho sacramentado, com
incomparável reverência. O mesmo fizeram seus anjos custódios, e todos os anjos
do céu. Depois deles, o adoraram Enoque e Elias respectivamente, por si e em
nome dos antigos Patriarcas e Profetas das leis naturais e escrita.
Primeiras adorações da Eucaristia.
Os apóstolos e
discípulos, exceto o traidor Judas, crendo o grande mistério, cheios de fé o
adoraram com profunda humildade e veneração, cada qual segundo a própria
disposição.
Nosso grande
Sacerdote Jesus Cristo, ergueu nas mãos seu próprio corpo e sangue consagrados,
para ser adorado por todos os que assistiam esta primeira missa.
A esta elevação,
receberam grande ilustração, sua Mãe puríssima, São João, Enoque e Elias (* a Venerável cita também a presença de dois santos patriarcas do Antigo Testamento: Enoque e Elias, que vieram do limbo, no qual estavam em corpo e alma, para assistirem à Santa Ceia e receberem, também eles, a Eucaristia).
Conheceram, por especial modo, como nas espécies de pão estava Cristo inteiro,
vivo e verdadeiro, pela inseparável união de sua alma santíssima com seu corpo
e sangue; que estava presente a Divindade, e na pessoa do Verbo a do Pai e a do
Espírito Santo; que, por estas uniões e inseparáveis concomitâncias
encontravam-se na Eucaristia as três Pessoas, com a
perfeita humanidade de Cristo, senhor nosso.
A divina Senhora
conheceu tudo com mais profundeza, e os outros videntes, no grau de que eram
capazes.
Conheceram
também a eficácia das palavras da consagração e seu divino poder. Pronunciadas,
com a intenção de Cristo, por qualquer sacerdote presente ou futuro,
converteriam a substância do pão em seu corpo e a do vinho em seu sangue,
permanecendo os acidentes sem sujeito e com novo modo de subsistir, sem
desaparecer. Tudo isto, com certeza tão infalível, que antes faltará o céu e a
terra do que a eficácia desta forma de consagrar, devidamente pronunciada pelo
ministro e sacerdote de Cristo.
A presença de Cristo na Eucaristia.
Nossa divina
Rainha conheceu, por especial visão, como se encontrava o sagrado corpo de
Cristo nosso Senhor oculto sob os acidentes do pão e do vinho, sem alterar
esses acidentes, nem estes ao corpo, porque nem o corpo pode ser sujeito deles,
nem eles podem ser forma do corpo.
Os acidentes
permanecem com a mesma extensão e qualidades, antes e depois da consagração,
ocupando o mesmo lugar que a hóstia. O corpo sagrado está de modo indivisível,
inteiro, sem confusão entre suas partes. Está todo em toda a hóstia, e todo em
qualquer parte dela, sem que a hóstia o amplie ou o reduza, nem o corpo faça o
mesmo à hóstia. A extensão, porém, do corpo não tem relação com a extensão das
espécies acidentais, nem a extensão destas com as do corpo santíssimo. Corpo e
espécies têm diferentes modos de existência, e o corpo penetra a quantidade dos
acidentes sem alterá-los.
Naturalmente
falando, pediria diferente lugar e espaço, a cabeça, as mãos, o peito e o mais.
Todavia, pelo poder divino, o corpo consagrado se põe, com sua extensão, num
mesmo lugar. Não se sujeita ao espaço que naturalmente ocupa, é independente
dessas leis naturais, pois sem elas poder ser corpo quantitativo. Também não
fica num só lugar e numa só hóstia, mas em muitas ao mesmo tempo, ainda que
sejam inumeráveis as hóstias consagradas.
O milagre da transubstanciação.
Maria santíssima
entendeu ainda que, embora o sagrado corpo não tivesse dependência natural dos
acidentes, no modo como expliquei, contudo não se conservaria neles
sacramentado, senão enquanto os acidentes de pão e vinho durassem sem se
corromper. Assim o ordenou a vontade santíssima de Cristo, autor dessas
maravilhas.
Esta
determinação foi como que uma dependência, voluntária e moral, da existência
milagrosa de seu corpo e sangue à existência incorrupta dos acidentes.
Quando eles se
corrompem e destroem pelas causas naturais que os podem alterar - como acontece
com o calor do estômago de quem recebe o Sacramento, ou por outras causas -
então Deus cria de novo outra substância, no último instante em que as espécies
estejam dispostas para receber essa transformação. Com esta nova substância,
faltando já a existência do corpo sagrado, opera-se a nutrição do corpo que
alimenta e se introduz a forma humana que é a alma.
Este prodígio de
criar nova substância que assuma os acidentes alterados e corrompidos é
consequente à determinação da vontade divina, de não permanecer o corpo sagrado
com a corrupção dos acidentes. É consequente também à natureza: só pode
aumentar com outra substância que se lhe acrescente, e os acidentes não podem
continuar-se nesta substância.
Maria supre a ingratidão humana.
Todos estes, e
outros milagres, a destra do Omnipotente reuniu neste augustíssimo sacramento
da Eucaristia. A todos a Senhora do céu e da terra entendeu e penetrou
profundamente.
São João, os
outros apóstolos e os Pais da antiga lei que ali se encontravam, também
compreenderam, segundo a própria capacidade.
Vendo que este
benefício tão grande era para todos, a Mãe puríssima conheceu também a
ingratidão que os mortais mostrariam por mistério tão inefável, instituído para
seu bem. Desde esse momento, encarregou-se de compensar e suprir, com todas as
suas forças, nossa dureza e ingratidão, dando Ela ao eterno Pai e a seu Filho
santíssimo, as graças por maravilha tão rara a favor do gênero humano.
Esta atenção lhe
durou toda a vida, e muitas vezes o fazia derramando lágrimas de sangue de seu
ardentíssimo coração, para reparar nosso repreensível e grosseiro esquecimento.
Cristo comungando a Si mesmo.
Maior admiração
me causa o que sucedeu ao mesmo Jesus, quando depois de elevar o santíssima
Sacramento para ser adorado pelos discípulos, partiu-o com suas sagradas mãos e
comungou-se a Si mesmo, antes de todos, como primeiro e sumo sacerdote.
Reconhecendo-se,
enquanto homem, inferior à Divindade que recebia em seu mesmo corpo e sangue
consagrados, humilhou-se, retraiu-se e comoveu-se na parte sensitiva,
manifestando duas coisas; a primeira, a reverência com que se devia receber o
seu sagrado corpo; segunda, a dor que sentia na previsão da temeridade e
audácia com que muitos chegariam a receber e tratar este altíssimo e eminente
Sacramento.
Os efeitos que a
Comunhão produziu no corpo de Cristo, nosso bem, foram divinos e admiráveis.
Por alguns momentos, n'Ele redundaram os dotes da glória da sua alma
santíssima, como no Tabor. Esta maravilha, porém, foi vista só por sua Mãe
puríssima, e um pouco por São João.
Este favor foi o
último, de repouso e gozo, que a humanidade santíssima recebeu em sua parte
inferior, até sua morte.
A Virgem Mãe
teve também especial visão de como Cristo recebeu-se sacramentado, e como
esteve em seu divino peito, o mesmo que se recebia. Esta visão produziu
grandioso efeitos em nossa Rainha e Senhora.
Ao comungar-se,
Cristo fez um cântico de louvor ao eterno Pai, oferecendo-se sacramentado pela
salvação humana. Separou uma partícula do pão consagrado e a entregou ao
arcanjo São Gabriel, para que a levasse a Maria santíssima.
Este favor
deixou os santos anjos como que satisfeitos e consolados, de que a dignidade
sacerdotal, tão excelente, tocasse aos homens e não a eles. Só por levar nas
mãos, em forma humana, o corpo sacramentado do seu verdadeiro Deus e Senhor,
causou grande e novo gozo a todos eles.
A grande Senhora
e Rainha esperava, entre muitas lágrimas, o favor da sagrada Comunhão, quando
chegou São Gabriel acompanhado de inúmeros anjos. Recebeu-a da mão do príncipe
celeste, sendo a primeira a comungar, depois de seu Filho santíssimo,
imitando-o na humildade, reverência e santo temor.
O santíssimo
Sacramento ficou depositado no peito de Maria santíssima sobre o coração,
legítimo sacrário e tabernáculo do Altíssimo. Ali permaneceu todo o tempo desde
aquela noite até depois da ressurreição, quando São Pedro consagrou na primeira
missa, como direi adiante.
O Senhor
todo-poderoso operou este prodígio, tanto para consolo da grande Rainha, como
para cumprir, antecipadamente, a promessa que depois faria à sua Igreja, de
estar com os homens até ao fim dos tempos (Mt 28, 20).
No prazo que
mediou entre sua morte e a consagração de seu corpo e sangue, sua humanidade
santíssima não poderia estar na Igreja, por outro modo. Permaneceu este
verdadeiro maná depositado em Maria santíssima, arca viva, juntamente com
toda a lei evangélica, conforme estava figurado na arca de Moisés (Heb 9, 4).
Durante esse
tempo, não se consumiram nem alteraram as espécies sacramentais no peito desta
Senhora e Rainha do céu, que agradeceu ao eterno Pai e a seu Filho santíssimo
com novos cânticos, imitando as ações de graças que o Verbo divino fizera.
Judas e a comunhão.
Durante a
comunhão dos apóstolos, aconteceu outro oculto milagre. O pérfido e traidor
Judas, vendo que seu divino Mestre ia dar a comunhão aos apóstolos, não tendo
fé, determinou não a receber. Se pudesse, esconderia o sagrado corpo para
mostrá-lo aos pontífices e fariseus, vituperando o Mestre que dizia ser aquele
pão o seu corpo. Isto poderia lhes servir de acusação contra Jesus. Caso não
pudesse fazer isso, tencionava algum outro ultraje ao divino Sacramento.
A Senhora e
Rainha do céu, por visão claríssima, via tudo o que se passava: a disposição
interior e exterior dos apóstolos ao receberem a sagrada Comunhão, seus efeitos
e afetos, e também os execráveis planos do obstinado Judas. Inflamou-se toda no
zelo da glória de seu Senhor, como Filha, Esposa e Mãe. Conhecendo que era sua
vontade que, naquela ocasião, usasse seu poder de Mãe e Rainha, mandou seus
anjos que, sucessivamente, tirassem da boca de Judas o pão e o vinho
consagrados, e o tornassem a colocar no prato e no cálice. Naquela ocasião,
incumbia-lhe defender a honra de seu Filho santíssimo, impedindo que Judas o
profanasse com a ignomínia que maquinava.
O anjos
obedeceram, e quando o péssimo Judas ia comungar, tiraram-lhe da boca, uma após
a outra, as espécies sacramentais. Purificando-as do contato daquele
imundíssimo lugar, colocaram-nas ocultamente entre as demais, e assim o Senhor
encobriu ainda a honra de seu inimigo e obstinado apóstolo. Estas espécies
foram depois recebidas pelos outros que comungaram depois de Judas, pela ordem
de antiguidade, pois ele não foi nem o primeiro nem o último que comungou, e o cato
dos santos anjos foi instantâneo.
Deu nosso
Salvador graças ao eterno Pai, e com isto terminou os mistérios das ceias legal
e sacramental, principiando os de sua paixão que descreverei nos capítulos
seguintes.
A Rainha dos
céus continuava atenta a todos, admirando-se, louvando e glorificando ao
altíssimo Senhor.
DOUTRINA
O tesouro da Eucaristia.
Ó, minha filha!
Se os que professam a santa fé católica abrissem os corações, pesados e
endurecidos, para receberem a verdadeira compreensão do sagrado mistério e dom
da Eucaristia! Ó, se desenvencilhados e abstraídos dos afetos terrenos e
controlando suas paixões, aplicassem a fé viva para entender, na divina luz, a
felicidade de ter consigo o Deus eterno sacramentado, podendo-o receber e
participar dos frutos deste divino maná celeste! Se, dignamente, conhecessem
esta grande dádiva! Se estimassem este tesouro! Se saboreassem sua doçura! Se
com ela participassem da virtude oculta de seu Deus omnipotente! Depois disso,
nada lhes restaria para desejar, nem temer em seu desterro!
Nos felizes
tempos da lei da graça, não se devem lamentar os mortais de que as paixões e
fragilidades os afligem, pois neste pão celeste têm à mão a saúde e a fortaleza.
Nem se queixem das tentações e perseguições do demónio, pois com o bom uso
deste inefável Sacramento o vencerão gloriosamente, se para isto dignamente o
frequentam.
Não atender a
este mistério e não se valer de sua virtude infinita para todas as necessidades
e trabalhos, é culpa dos fiéis, pois para seu remédio o ordenou meu Filho
santíssimo. Em verdade te digo, caríssima, que Lúcifer e seus demónios temem de
tal modo a Eucaristia, que aproximar-se de sua presença lhes causa maiores
tormentos do que estar no inferno.
Muito embora
entrem nos templos para tentar as almas, tem que se violentar e sofrer cruéis
penas a troco de derrubar uma alma, e incitá-la a cometer um pecado, ainda mais
nos lugares sagrados e na presença da Eucaristia. O ódio que nutrem contra Deus
e as almas, os compele a se exporem ao tormento de se aproximar de Cristo, meu
Filho, sacramentado.
Poder da Eucaristia.
Quando é levado
em procissão pelas ruas, ordinariamente fogem a toda a pressa. Não se
atreveriam a se aproximar dos acompanhantes, se não fora a esperança adquirida
por longa experiência, de que vencerão alguns, fazendo-os perder a reverência
pelo Senhor. Por isto, trabalham muito em tentar nos templos. Sabem quanta
injúria se faz ao Senhor ali sacramentado, a espera que os homens lhe correspondam
o amor que tão generosamente lhes demonstra.
Daqui entenderás
o poder que adquire sobre os demônios, quem dignamente recebe este sagrado pão
dos anjos. Se os homens o frequentassem com devoção e pureza, procurando
conservar-se nestas disposições, de uma a outra comunhão, seriam temidos pelos
demônios. Muito poucos, porém, têm este zelo, enquanto o inimigo fica alerta,
espreitando e trabalhando para que não se esqueçam, se esfriem e distraiam, e
não se valham contra eles de arma tão poderosa.
Grava esta
doutrina em teu coração. Sem mereceres, ordenou o Altíssimo, por meio de
obediência, que cada dia participes deste sagrado Sacramento, recebendo-o.
Esforça-te por permanecer no estado em que te pões para uma comunhão, até a
outra. É vontade do Senhor e minha, que traves com esta espada as guerras do
Altíssimo, em nome da santa Igreja. Combate seus inimigos invisíveis que, atualmente,
afligem e entristecem tanto à Senhora das nações, sem haver quem
a console, nem atentamente o considere. Chora por esta causa e parta-se o teu
coração de dor.
O onipotente e
justo Juiz acha-se indignado contra os católicos que irritam sua justiça, com
pecados tão frequentes e desmedidos, apesar da santa fé que professam. Não há
quem considere, pese e tema tão grande dano, nem recorra ao remédio
que poderiam solicitar, com o bom uso do divino sacramento da Eucaristia,
chegando-se a ele de coração contrito, humilhado e protegido por minha
intercessão.
Recompensa do amor à Eucaristia.
Nos filhos da Igreja
esta culpa é gravíssima, mas é ainda mais repreensível nos maus e indignos
sacerdotes. A irreverência com que eles tratam o santíssimo Sacramento no
altar, dá ocasião a diminuir os demais católicos a estima que lhe devem. Se o
povo visse os sacerdotes se aproximarem dos divinos mistérios com temor e
tremor reverencial, seriam levados a tratar e receber com igual devoção a seu
Deus sacramentado. Os que assim fazem, resplandecem no céu como o sol entre as
estrelas. Os que trataram e receberam meu Filho santíssimo com toda reverência,
gozarão especial luz e resplendor de glória, participação da mesma glória de
sua Humanidade santíssima. O mesmo não terão os que não frequentaram com
devoção a sagrada Eucaristia. Além disto, serão vistos nos corpos gloriosos
sinais ou divisas no peito, em testemunho de haverem sido dignos tabernáculos
do santíssimo Sacramento.
Isto lhes
servirá de grande gozo acidental, de júbilo e louvor para os anjos, e de
admiração para todos. Receberão ainda outro prêmio acidental: verão e
compreenderão, com especial inteligência, o modo como meu Filho santíssimo está
na Eucaristia, e todos os milagres nela encerrados. Será tão grande este gozo,
que só ele bastaria para alegrá-los eternamente, se não houvesse outro no céu.
Quanto à glória essencial dos que, com a devida pureza e devoção, receberam a
Eucaristia, igualará, e em muitos excederá, a alguns mártires que não a
receberam.
Humildade na recepção da Eucaristia.
Quero também,
minha filha que, de minha boca, ouças a apreciação que de Mim fazia quando, na
vida mortal, ia receber meu Filho e Senhor sacramentado. Para melhor o
entenderes, renova em tua memória tudo o que compreendeste sobre os dons,
graças, obras e merecimentos de minha vida, conforme tenho te mostrado para o
escreveres. Fui preservada em minha concepção, da culpa original, e naquele
instante tive conhecimento e visão da divindade, conforme disseste muitas
vezes. Recebi maior ciência do que todos os santos; no amor ultrapassei os
supremos serafins; jamais cometi culpa atual; sempre exercitei heroicamente
todas as virtudes, e a menor delas foi superior à suprema dos maiores santos,
no cume de sua santidade.
O alvo de todas
as minhas obras foi altíssimo; os hábitos e dons sem medida ou falha; imitei
meu Filho santíssimo com suma perfeição; trabalhei fielmente; sofri
corajosamente e cooperei nas obras do Redentor, na medida em que me tocava;
jamais cessei de amar e de merecer aumentos de graça e glória, em grau
eminentíssimo.
Julguei, no
entanto, que todos estes méritos ter-me-iam sido pagos dignamente, só com o
receber uma única vez seu sagrado corpo na Eucaristia, e ainda não me julgava
digna de tão alto favor. Considera, agora, minha filha, o que tu e os demais
filhos de Adão deveis pensar, quando se aproximam para receber este admirável
Sacramento. Se, para o maior dos santos seria prêmio superabundante uma só
comunhão, que devem fazer e sentir os sacerdotes e os fiéis que a frequentam?
Abre tu os olhos nas densas trevas e cegueira dos homens, e levanta-os para a
divina luz, para conhecer estes mistérios.
Julga tuas obras
insignificantes, teus méritos limitados, teus trabalhos levíssimos, e teu
agradecimento muito insuficiente, para tão raro benefício, como possuir a santa
Igreja, Cristo, meu Filho santíssimo sacramentado, desejoso de que todos o
recebam para enriquecê-los. Se não tens digna retribuição para lhe oferecer por
este bem e os outros que recebes, pelo menos te humilha e apega-te com o pó e
com toda a sinceridade do coração, confessa-te indigna dele. Enaltece ao
Altíssimo, bendize-o e louva-o, estando sempre preparada para recebê-lo com
fervorosos afetos, disposta a sofrer muitos martírios, para obter tão grande
bem.
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